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Museu virtual conta história do conjunto de favelas da Maré

Repro­dução: © Asso­ci­ação Rio Memórias/Divulgação

Lançamento da galeria será na terça-feira (3), às 17h


Pub­li­ca­do em 01/10/2023 — 16:23 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

O museu vir­tu­al Rio Memórias lança na terça-feira (3) sua mais nova gale­ria, denom­i­na­da Rio de Marés, que con­ta a história do con­jun­to de fave­las da Maré, situ­a­do na zona norte do Rio de Janeiro. O lança­men­to ocor­rerá às 17h, no Galpão Rit­ma, no Par­que Maré, em parce­ria com a orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal (ONG) local Redes da Maré. A exposição vir­tu­al já pode ser aces­sa­da no site do museu. O even­to de lança­men­to con­tará com a pre­sença de Eliana Sousa Sil­va, fun­dado­ra e dire­to­ra da Redes da Maré, e com a ide­al­izado­ra do Rio Memórias, Livia de Sá Baião.

A curado­ria é do his­to­ri­ador Mario Brum, pro­fes­sor da Uni­ver­si­dade do Esta­do do Rio de Janeiro (Uerj). “Na gale­ria, a gente ten­ta mostrar que a Maré tam­bém faz parte do Rio de Janeiro, desta­can­do que é um ter­ritório que os moradores con­struíram, muitas vezes sem aju­da do Esta­do ou até con­tra o Esta­do, assim como eles con­struíram a cidade do Rio de Janeiro”, disse Brum à Agên­cia Brasil.

A gale­ria reg­is­tra que o ter­ritório onde o con­jun­to de 16 fave­las da Maré se situa pas­sou por várias trans­for­mações ao lon­go do tem­po. “Mas é um ter­ritório em que os moradores exercem papel fun­da­men­tal na con­strução do local onde habitam e na con­strução de sua iden­ti­dade tam­bém, como iden­ti­dade de pes­soas que lutam pelos dire­itos mais bási­cos: à mora­dia, à saúde, edu­cação, ao dire­ito de serem recon­heci­dos como parte da cidade. A gale­ria foca ness­es dois ele­men­tos: con­strução do ter­ritório e con­strução da iden­ti­dade deles”, expli­cou o curador.

Historicidade

Mario Brum infor­mou que um dos obje­tivos da gale­ria é tra­bal­har com a his­to­ri­ci­dade da Maré, porque as pes­soas estão muito acos­tu­madas a ver a Maré como uma coisa úni­ca, sem saber que as 16 fave­las que a com­põem têm histórias e tra­jetórias difer­entes e que o ter­ritório atu­al está muito asso­ci­a­do à história de fave­las. A Maré, ofi­cial­mente, é um bair­ro da cidade do Rio, des­de 1994.

“A gente mostra, na gale­ria, que aque­le ter­ritório teve vários perío­dos difer­entes”. Segun­do o curador, grande parte do ter­ritório era Pra­ia de Inhaú­ma e Pra­ia de Maria Angu. No iní­cio, ele foi for­ma­do por aldeias de pescadores que vivi­am em palafi­tas. “Não era um ter­ritório pen­sa­do como favela. A par­tir dos anos de 1950, prin­ci­pal­mente, o vol­ume de palafi­tas se tor­na muito grande, a Aveni­da Brasil foi aber­ta e começam a sur­gir os bar­ra­cos. É quan­do a ideia de fave­las da Maré surge. A própria ideia de favela da Maré para a cidade não era muito lóg­i­ca”, expli­cou Brum. Não havia reg­istro. A favela não fazia parte da cidade e, por isso, não havia pre­ocu­pação em designá-la.

No gov­er­no João Figueire­do, últi­mo da ditadu­ra mil­i­tar, o então min­istro do Inte­ri­or, Mário Andreaz­za, anun­ciou um plano de errad­i­cação das fave­las, que seria o Pro­morar. Brum con­ta que os moradores da Maré, assus­ta­dos porque, anos antes, o gov­er­no fed­er­al tin­ha removi­do out­ras fave­las para locais dis­tantes, como a Pra­ia do Pin­to e a favela da Cat­acum­ba, decidi­ram se orga­ni­zar e cri­ar um comitê de defe­sa da Maré. É nesse momen­to, segun­do o his­to­ri­ador, que se pode ter uma ideia do con­jun­to de fave­las da Maré. “Os moradores se orga­ni­zam, reivin­dicam que não sejam tira­dos de suas casas e con­seguem trans­for­mar o pro­je­to de remoção em pro­je­to de urban­iza­ção”. Figueire­do e Andreaz­za inau­gu­raram pos­te­ri­or­mente, na Maré, a Vila do João e o Con­jun­to Pin­heiro, que surgem a par­tir do Pro­je­to Rio.

Importância

Para Mario Brum, a Maré tem grande importân­cia para o Rio. “É um ter­ritório com uma história muito grande, que, emb­o­ra seja muito apre­sen­ta­do pela crim­i­nal­i­dade, ain­da mais quan­do se anun­cia uma ocu­pação sem tem­po definido para ele, é um ter­ritório que pro­duz muito saber.” Na pesquisa fei­ta para a nova gale­ria do museu vir­tu­al Rio Memórias, Brum con­tou com aju­da de três jovens estu­dantes da Uerj, que são seus alunos e moram na Maré (Tainara Amor­im, Aris­te­nio Gomes, Daniele Figueire­do), além do jor­nal­ista Hélio Euclides, do Maré de Notí­cias, e da equipe da ONG Redes da Maré. “Ess­es jovens par­tic­i­pam de cur­sos pré-vestibu­lar, se mobi­lizaram na pan­demia da covid-19 para uso da más­cara e pela vaci­na. A Maré tem um dos índices de vaci­nação mais altos, graças ao esforço dess­es jovens ativis­tas e das lid­er­anças comu­nitárias”, afir­mou.

Brum desta­ca a luta da Maré con­tra diver­sos tipos de pre­con­ceitos. O ter­ritório abri­ga a primeira casa de acol­hi­da a pes­soas LGBTQIA+ em fave­las. “É um órgão públi­co”, desta­cou. O curador reafir­mou que se tra­ta de um ter­ritório onde moram pes­soas que pro­duzi­ram muito pela cidade de diver­sas for­mas, des­de a obra da Aveni­da Brasil, a con­strução dos pré­dios, a tra­bal­har na Ilha do Fundão, onde está o cam­pus da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), e para os quais a cidade devolve muito pouco.

Naque­la área, existe um pas­si­vo ambi­en­tal muito forte, salien­tou o curador. “Todas as obras de con­strução da Lin­ha Ver­mel­ha, de ater­ro da Ilha do Fundão, causaram um dano ambi­en­tal àquele ter­ritório, onde moram pes­soas que, na sua maio­r­ia, são pes­soas que tra­bal­ham, estu­dam, lev­am sua vida com dig­nidade e recebem muito pouco do Esta­do, muitas vezes, emb­o­ra o Esta­do, nas últi­mas décadas, graças tam­bém ao esforço dess­es moradores, ten­ha entra­do com mais saúde, mais edu­cação. São 50 esco­las públi­cas den­tro do ter­ritório e no entorno, mas é um local de mui­ta luta tam­bém”. Brum defend­eu que o Esta­do dev­e­ria olhar para o bair­ro da Maré com mais car­in­ho e mais gratidão.

Rio Memórias

A Asso­ci­ação Rio Memórias é uma orga­ni­za­ção sem fins lucra­tivos que visa à pro­moção da cul­tura, defe­sa e con­ser­vação do patrimônio históri­co e artís­ti­co, medi­ante a difusão da história e cul­tura da cidade do Rio de Janeiro, bem como a pro­moção de pro­je­tos e ativi­dades rela­cionadas à edu­cação.

Além da Rio de Marés, o museu vir­tu­al Rio Memórias abri­ga as gale­rias Rio de Sons; Rio Desa­pare­ci­do; Rio de Con­fli­tos; Rio em Movi­men­to; Rio, Cidade em Trans­for­mação; Rio, Cidade Febril; Rio Cinéti­co; Rio Cul­tur­al; Rio Literário; Rio Reli­gioso; Rio na Inde­pendên­cia; Rio Sub­ur­bano; Rio das Artes e Rio Operário.

Edição: Juliana Andrade

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