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“Não dá para viver no Líbano”, diz homem que trouxe família ao Brasil

Sexto voo da Operação Raízes do Cedro trouxe 212 passageiros

Bruno Boc­chi­ni – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 19/10/2024 — 15:16
São Paulo
Guarulhos (SP) 19/10/2024 Brasileiros que estavam no Líbano, desembarcam do avião KC-30 da FAB,na Base Aérea de São Paulo na Operação “Raizes do Cedro” em Guarulhos. Ahmad com a filha Farah e familia.Foto Paulo Pinto/Agencia Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

O libanês Ahmad Nazar tin­ha 6 anos quan­do seu pai, Has­san, foi mor­to em 1986 em um bom­bardeio israe­lense na cidade de Arab­sal­im, na região Sul do Líbano, a menos de 100 quilômet­ros da cap­i­tal Beirute.

Has­san esta­va em um pos­to de com­bustív­el abaste­cen­do seu car­ro, quan­do foi atingi­do por uma bom­ba. A morte foi instan­tânea.

Ahmad, que hoje vive no Brasil, reen­con­trou neste sába­do (19), parte da sua família (imagem em destaque) na Base Aérea de Guarul­hos, após um voo de mais de 15 horas, saí­do de Beirute, que trouxe sua esposa Zeinab, e seus três fil­hos: Lamis, de 12 anos, Sajed, de dez, e Farah, de um ano e meio – a úni­ca de suas cri­anças que nasceu no Líbano, os demais são brasileiros.

Eles vier­am no sex­to voo da Oper­ação Raízes do Cedro, coor­de­na­da pelo gov­er­no fed­er­al e exe­cu­ta­da pela Força Aérea Brasileira (FAB), oper­ação que está res­gatan­do brasileiros que vivem no Líbano.

A esposa e os fil­hos estavam na cidade libane­sa de Arab­sal­im, a mes­ma em que o pai de Ahmad foi mor­to, quan­do se inten­si­ficaram, nas últi­mas sem­anas, os ataques israe­lens­es no ter­ritório libanês.

“Não dá mais para viv­er no Líbano. Não tem mais nen­hu­ma região segu­ra. Antes era ape­nas a região Sul que esta­va perigosa, ago­ra não”, con­ta Ahmad, que mora em São Paulo des­de 2007.

Ahmad e Zeinab havi­am plane­ja­do que os fil­hos iri­am ser edu­ca­dos no Líbano e o pai, que tra­bal­ha em São Paulo, iria vis­itá-los fre­quente­mente. A guer­ra fez os planos mudarem. A decisão então foi traz­er esposa e fil­hos de vol­ta ao Brasil.

A aeron­ave KC-30, do Esquadrão Corsário da Força Aérea, pousou às 07h28 em uma das pis­tas do Aero­por­to Inter­na­cional de Guarul­hos trazen­do, além da família Nazar, e mais 208 pas­sageiros e um gato.

“Min­ha mãe está lá e somos sete irmãos. Eles estão viven­do lá. Mas está muito perigoso. A casa viz­in­ha da min­ha família foi destruí­da em um bom­bardeio. Um só mís­sil é capaz de destru­ir um pré­dio. Eles saíram da cidade e foram para locais mais seguros. Oito dias depois, a casa da min­ha família foi destruí­da”, con­ta Ahmad mostran­do em seu celu­lar fotos e vídeos dos escom­bros do local onde vivi­am seus famil­iares.

A Oper­ação Raízes do Cedro repa­tri­ou até ago­ra, no total, 1.317 pas­sageiros, sendo 242 cri­anças, 40 bebês, 138 idosos, 12 ges­tantes, 101 pes­soas com algu­ma com­pli­cação de saúde e 12 pes­soas com defi­ciên­cia, além de 15 ani­mais domés­ti­cos.

Leila Hadi, que tam­bém veio no mes­mo voo da FAB, lamen­ta­va o fato de não ter con­segui­do traz­er, jun­to com ela, ao menos uma de suas duas irmãs que moram no Líbano. Ela esta­va, há dois anos, viven­do na região do Vale do Bekaa. “

Eu pre­cisa­va ter trazi­do ao menos uma irmã comi­go. Está muito assus­ta­dor lá”.

Guarulhos (SP) 19/10/2024 Brasileiros que estavam no Líbano, desembarcam do avião KC-30 da FAB,na Base Aérea de São Paulo na Operação “Raizes do Cedro” em Guarulhos. Leila retornado ao país. Foto Paulo Pinto/Agencia Brasil
Repro­dução: Leila Hadi desem­bar­cou hoje do avião KC-30 da FAB, na Base Aérea de São Paulo — Paulo Pinto/Agência Brasil

Leila con­ta que qual­quer ruí­do mais forte a faz lem­brar dos bom­bardeios israe­lens­es. “Ago­ra mes­mo, com o barul­ho do avião aqui na pista eu me assustei. Ago­ra é assim, a gente leva sus­to dia e noite lem­bran­do dos bom­bardeios”.

Out­ro repa­tri­a­do, Mohamed Elgan­dur, tem família no Brasil e no Líbano e alter­na sua mora­dia entre os dois país­es. Ele esta­va no Líbano e decid­iu retornar ao Brasil, mas está pre­ocu­pa­do com os famil­iares que ficaram.

“Eu moro lá e moro aqui. Ten­ho fil­hos aqui e netos aqui. A esposa não pode vir dev­i­do à saúde. A gente esta­va no [Vale do] Bekaa, na fron­teira onde estavam ocor­ren­do os bom­bardeiros, ouvia avião e bom­bardeio dire­to. Diz­er que não dava medo é men­ti­ra. A maior pre­ocu­pação é com a família”.

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