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No Norte e Nordeste, mulheres pedem igualdade e fim da violência

Repro­dução: © MST MA/Divulgação

Trabalhadoras rurais e urbanas foram às ruas em várias cidades


Publicado em 08/03/2024 — 17:00 Por Luciano Nascimento — Repórter da Agência Brasil — São Luís

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No Norte e Nordeste do país, as man­i­fes­tações pelo Dia Inter­na­cional da Mul­her, nes­ta sex­ta-feira (8), foram mar­cadas pela cobrança por igual­dade, pela redução da pobreza, con­tra a vio­lên­cia domés­ti­ca e o machis­mo e por mais par­tic­i­pação fem­i­ni­na na políti­ca. Os atos começaram pela man­hã e se esten­dem ao lon­go do dia com cam­in­hadas, inter­venções artís­ti­cas, feiras fem­i­nistas, ocu­pações e ações solidárias para chamar a atenção para as graves desigual­dades entre home­ns e mul­heres.

Maranhão

No Maran­hão, as mobi­liza­ções de rua ini­cia­ram às 7h, na cap­i­tal São Luís. Cer­ca de 300 mul­heres cam­pone­sas se reuni­ram em frente ao Palá­cio dos Leões, sede do gov­er­no do Esta­do. Elas denun­cia­ram a vio­lên­cia no cam­po, com destaque para as alter­ações na Lei de Ter­ras do esta­do. A man­i­fes­tação, entre­tan­to, foi bar­ra­da pela Polí­cia Mil­i­tar.

“Não viemos aqui nego­ciar com a polí­cia. Nós viemos nego­ciar com o gov­er­no do Esta­do, que no ano pas­sa­do nos rece­beu com flo­res, mas não aten­deu nen­hu­ma de suas promes­sas. Não podemos mais sobre­viv­er com veneno sobre nos­sas cabeças e na mira de pis­toleiros nos nos­sos ter­ritórios”, disse Inez Pin­heiro, inte­grante do Movi­men­to dos Tra­bal­hadores e Tra­bal­hado­ras Rurais Sem Ter­ra (MST).

Mulheres de todo o país saíram às ruas neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, pela igualdade, pela redução da pobreza, contra a violência contra as mulheres, o machismo e por mais participação na política. As manifestações, no Norte e Nordeste do país começaram pela manhã e se estendem ao longo do dia: caminhadas, intervenções artísticas, feiras feministas, ocupações, ações solidárias chamaram a atenção da sociedade para as graves desigualdades entre homens e mulheres. Foto: MST MA/Divulgação
Repro­dução: Ato pelo Dia Inter­na­cional da Mul­her em São Luís — Foto: MST MA/Divulgação

As mul­heres afir­mam que as mudanças na leg­is­lação favore­cem a gri­lagem de ter­ras e a expul­são dos tra­bal­hadores do cam­po. O grupo tam­bém cobrou inves­ti­men­tos na agri­cul­tura famil­iar, mel­hores condições de ensi­no nas esco­las rurais e de fer­ra­men­tas de com­bate à vio­lên­cia con­tra as mul­heres.

“Essa casa é do povo maran­hense, essa casa é nos­sa e vamos voltar quan­tas vezes for pre­ciso, mobi­lizadas e em luta. Não aceita­mos uma lei imoral como a Lei da Gri­lagem e esta­mos tam­bém no Tri­bunal da Justiça para pro­to­co­lar o nos­so repú­dio, respal­dadas pela Con­sti­tu­ição e com a garan­tia de que esta lei é incon­sti­tu­cional”, disse Julia Iara, da coor­de­nação nacional do MST.

Ao final do ato, foi pro­to­co­la­da uma car­ta ao Tri­bunal de Justiça do Maran­hão em que o grupo solici­ta medi­das urgentes em relação à lei.

Agên­cia Brasil entrou em con­ta­to com o gov­er­no estad­ual sobre as críti­cas à leg­is­lação e não teve retorno até a pub­li­cação da reportagem.

Amazonas

No Ama­zonas, o Fórum Per­ma­nente das Mul­heres de Man­aus fez um even­to na Praça da Igre­ja da Matriz, no cen­tro anti­go de Man­aus, em que lem­braram o assas­si­na­to da artista venezue­lana Juli­eta Inés Mar­tinez, 38 anos, mor­ta por asfix­ia e encon­tra­da den­tro de uma cova rasa no dia 8 de janeiro deste ano, em Pres­i­dente Figueire­do, municí­pio ama­zo­nense.

“O medo não vai nos parar! Com esse tema, esper­amos trans­mi­tir a ideia de que não deve­mos deixar o medo nos par­al­is­ar e nos impedir de lutar por aqui­lo em que acred­i­ta­mos. O ato de hoje, no 8 de março, Dia Inter­na­cional da Mul­her, nós bus­camos enco­ra­jar as mul­heres e pes­soas que não con­cor­dam com a vio­lên­cia con­tra as mul­heres, demon­stran­do cor­agem, força e deter­mi­nação. E com esse tema, nós esper­amos mod­i­ficar. Mobi­lizar a sociedade em prol da nos­sa causa”, disse à Agên­cia Brasil a dire­to­ra do Movi­men­to das Mul­heres Negras da Flo­res­ta ‑Dan­dara e uma das coor­de­nado­ras do Fórum Per­ma­nente de Mul­heres de Man­aus, Fran­cy Júnior.

A ativista tam­bém pediu maior par­tic­i­pação das mul­heres nos espaços de poder e punição para quem prat­i­ca o fem­i­nicí­dio.

“Que a gente ten­ha, de fato, mul­heres nos espaços de poder. Nós esta­mos falan­do do Leg­isla­ti­vo, esta­mos falan­do do Exec­u­ti­vo que ten­ha ness­es espaços mul­heres que rep­re­sen­tem a causa das mul­heres. Tam­bém as nos­sas reivin­di­cações vêm na lin­ha da edu­cação, da saúde, das questões ambi­en­tais, como, por exem­p­lo, sanea­men­to bási­co nas comu­nidades per­iféri­c­as, assim como no cen­tro das cidades. Tam­bém nós temos como reivin­di­cações que os crimes con­tra as mul­heres, seja fem­i­nicí­dio, seja assé­dio sex­u­al. Isso seja punido na nos­sa sociedade, que isso não seja vis­to como sim­ples­mente mais um crime, assim como o racis­mo e o racis­mo ambi­en­tal”, defend­eu.

Ceará

Em For­t­aleza, a data teve como tema “Por sobera­nia e democ­ra­cia! Mul­heres vivas do Brasil a Palesti­na” e tam­bém reivin­di­ca a ampli­ação da par­tic­i­pação de mais mul­heres na políti­ca e autono­mia finan­ceira.

Uma das inte­grantes da coor­de­nação do ato e da Casa de Cul­tura e Defe­sa da Mul­her Chiquin­ha Gon­za­ga, Maria Eliane Almei­da, disse que even­to tem debates fem­i­nistas e será encer­ra­do com uma grande ciran­da das mul­heres “para o com­bate ao fem­i­nicí­dio, o com­bate ao machis­mo, o com­bate à mis­oginia”.

“Neste dia, a nos­sa prin­ci­pal luta, é a luta no com­bate à vio­lên­cia con­tra a mul­her que está assus­ta­do­ra­mente alta no Brasil e no esta­do do Ceará. Só no Ceará, em 2022, foram 704 mul­heres assas­si­nadas. Em 2023, foram 722, e até ago­ra, até o mês de janeiro deste ano, foram 30 mul­heres assas­si­nadas. A nos­sa prin­ci­pal luta é a luta na defe­sa das mul­heres con­tra o fem­i­nicí­dio. Tam­bém nós esta­mos com o nos­so mote: Mul­heres vivas, do Brasil à Palesti­na, pela prisão do Bol­sonaro, de todos os golpis­tas, pela democ­ra­cia, pelo fim do fas­cis­mo. Por mais mul­heres na políti­ca, autono­mia econômi­ca e justiça socioam­bi­en­tal. Essa é a nos­sa luta”, disse.

Bahia

Cen­te­nas de mul­heres de cole­tivos e movi­men­tos soci­ais e pop­u­lares ocu­param uma das prin­ci­pais vias de Sal­vador para denun­ciar e protes­tar con­tra a vio­lên­cia no cam­po e na cidade, como o assas­si­na­to da yalorixá Mãe Bernadete, mor­ta com mais de 20 tiros no Quilom­bo Pitan­ga dos Pal­mares, em 18 de agos­to do ano pas­sa­do, em Simões Fil­ho (BA).

“O ato tin­ha por obje­ti­vo dialog­ar com a sociedade baiana sobre esse con­tex­to do aumen­to das vio­lên­cias no cam­po, o aumen­to do fem­i­nicí­dio. Estive­mos por dois dias fazen­do um proces­so de luta, de orga­ni­za­ção, de for­mação com as mul­heres dess­es movi­men­tos e no dia de hoje, um dia que é um dia que as mul­heres real­izam a jor­na­da de luta. A gente não pode­ria encer­rar sem realizar um ato onde a gente reafir­ma esse caráter de denún­cia. A gente pre­cisa cada vez mais denun­ciar esse con­tex­to da vio­lên­cia no cam­po, na cidade e tam­bém afir­mar o papel das mul­heres”, disse a agricul­to­ra Saiane San­tos, da Direção Nacional do Movi­men­to de Pequenos Agricul­tores (MPA).

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Amapá

No Amapá, a man­i­fes­tação teve como foco os dire­itos aos cor­pos e aos ter­ritórios. A coor­de­nado­ra Nacional do Elo Mul­heres em Rede no esta­do e inte­grante da coor­de­nação do Dia Inter­na­cional da Mul­her no Amapá, Mary Cruz, disse que a man­i­fes­tação mobi­li­zou as mul­heres das águas, da flo­res­ta, indí­ge­nas, da per­ife­ria, pre­tas, trans com o obje­ti­vo de dar voz a todas pela igual­dade salar­i­al, con­tra a degradação ambi­en­tal e a vio­lên­cia.

“Quan­do se fala de tragé­dias ambi­en­tais, nós mul­heres somos grande parte da pop­u­lação que sus­ten­ta os nos­sos fil­hos. A gente vê que tem mui­ta coisa que a gente pre­cisa comem­o­rar, mas a gente vê, fun­da­men­tal­mente, que a gente pre­cisa lutar no cam­in­ho da igual­dade, porque a gente não quer, a nos­sa luta jamais foi para super­ar home­ns, para super­ar ninguém, a nos­sa luta é para que a gente este­ja ao lado dos com­pan­heiros, que enten­dem que é pre­ciso mudar o mun­do para mel­hor”, disse Mary Cruz à Agên­cia Brasil.

Rio Grande do Norte

Cam­pone­sas saíram da sede do Insti­tu­to Nacional de Col­o­niza­ção e Refor­ma Agrária (Incra), onde estavam acam­padas des­de quin­ta-feira (7), e ocu­param a sede do gov­er­no estad­ual, em Natal. Sob o lema “Lutare­mos! Por nos­sos cor­pos e ter­ritórios, nen­hu­ma a menos!, elas reivin­dicam a retoma­da do orça­men­to des­ti­na­do à refor­ma agrária. Elas tam­bém cobraram a ampli­ação dos recur­sos para o Pro­gra­ma Nacional de Edu­cação na Refor­ma Agrária (Pronera) e de crédi­to fundiário para as famílias.

“Esta­mos dan­do con­tinuidade à nos­sa jor­na­da de lutas das mul­heres sem ter­ra. Hoje, as sem-ter­ra do Rio Grande do Norte estão ocu­pan­do a gov­er­nado­ria para reivin­dicar nos­sa pau­ta. Não é uma pau­ta nova, é uma pau­ta anti­ga. Esta­mos aqui aguardan­do a gov­er­nado­ra [Fáti­ma Bez­er­ra] para nego­ciar nos­sa pau­ta e só saire­mos daqui com a nos­sa nego­ci­ação fei­ta”, disse Williana Soares, inte­grante da coor­de­nação nacional do MST no Rio Grande do Norte.

Durante a tarde, o grupo foi rece­bido pela gov­er­nado­ra Fáti­ma Bez­er­ra para tratar de pau­tas lig­adas ao movi­men­to.

Alagoas

Em Alagoas, mul­heres realizaram um ato na cap­i­tal Maceió para pedir o fim de todas as for­mas de vio­lên­cia con­tra a mul­her, pelos dire­itos das mul­heres e igual­dade de opor­tu­nidades. Orga­ni­za­do pelo Lev­ante Fem­i­nista de Alagoas, a artic­u­lação reúne diver­sas orga­ni­za­ções como sindi­catos, movi­men­tos pop­u­lares, uni­ver­si­dades. A orga­ni­za­ção esti­ma a par­tic­i­pação de 5 mil mul­heres, sendo mil de tra­bal­hado­ras rurais que vier­am do inte­ri­or do esta­do para par­tic­i­par da mar­cha.

Mulheres realizam ato pelo Dia Internacional da Mulher em Maceió (AL)
Repro­dução: Mul­heres real­izam ato pelo Dia Inter­na­cional da Mul­her em Maceió (AL) — Divul­gação/MST-AL

A inte­grante do MST em Alagoas, Déb­o­ra Nunes, disse à Agên­cia Brasil que o ato é para cobrar por ações e pro­ced­i­men­tos para punir de fato quem agride mul­heres e mecan­is­mos efi­cientes de acol­hi­men­to às mul­heres.

“As mul­heres foram para a rua jus­ta­mente para poder denun­ciar isso, para diz­er que nós quer­e­mos estar vivas, quer­e­mos viv­er, mas que para isso é necessário que acon­teça de fato o enfrenta­men­to a todas as for­mas de vio­lên­cia, a todas as for­mas de opressão. Nós com­preen­demos que a impunidade impul­siona a vio­lên­cia, ela for­t­alece a per­spec­ti­va da vio­lên­cia. Quan­do as pes­soas matam, quan­do as pes­soas agri­dem, quan­do as pes­soas vio­len­tam e não pagam por isso, cria-se um cli­ma na sociedade de impunidade, deixan­do as mul­heres na vul­ner­a­bil­i­dade”, afir­mou.

Tocantins

Em Pal­mas, cap­i­tal do Tocan­tins, as ativi­dades se con­cen­traram no Par­que dos Povos Indí­ge­nas, com uma feira para mostrar a pro­dução agrí­co­la de mul­heres. Out­ra deman­da é o acol­hi­men­to à mul­her víti­ma de vio­lên­cia.

“É uma questão de for­t­alec­i­men­to dos nos­sos ter­ritórios, enquan­to mul­heres sem ter­ra. Tam­bém tem a pau­ta da vio­lên­cia, que a gente traz como foco; a questão do aluguel social, já que quan­do uma mul­her sofre uma vio­lên­cia, e mais especí­fi­co, a vio­lên­cia domés­ti­ca, ela aca­ba não ten­do para onde ir, e então essa pau­ta vem para a sociedade”, disse a inte­grante da coor­de­nação nacional do MST no Tocan­tins, Maria das Graças.

Um car­ta foi entregue ao gov­er­no estad­ual solic­i­tante o paga­men­to do aluguel social.

Paraíba

O Movi­men­to de Mul­heres Fem­i­nistas da Paraí­ba pro­moveu um ato políti­co cul­tur­al no cen­tro de João Pes­soa para pedir ações de com­bate ao fem­i­nicí­dio no esta­do; De acor­do com um man­i­festo do grupo, o esta­do tem a pior taxa de fem­i­nicí­dios do Nordeste, com taxa de 0,85 casos por 100 mil habi­tantes. Entre 2022 e 2023, o número de casos cresceu 34,6%.

O doc­u­men­to apon­ta ain­da que as mul­heres negras são as que mais sofrem vio­lên­cia, “demon­stran­do caráter racista da vio­lên­cia con­tra, nós mul­heres, e a neces­si­dade de ade­quar as políti­cas públi­cas para mul­heres que enfrentem a questão do racis­mo em nos­so país”.

“Dessa maneira, denun­ci­amos a sociedade machista, racista e patri­ar­cal, esse cap­i­tal­is­mo desumano que vive­mos e, ao mes­mo tem­po reivin­dicamos o aumen­to de políti­cas públi­cas que nos pro­te­jam da vio­lên­cia e nos garan­tem ter vez e voz nos espaços de poder e decisão para que pos­samos con­stru­ir as leis que garan­tirão o dire­ito de per­manecer­mos vivas e ser­mos livres. Por isso, quer­e­mos mais mul­heres eleitas, neste ano de 2024, que é um ano eleitoral. Pre­cisamos defend­er e for­t­ale­cer a Democ­ra­cia para que nos­sa voz pos­sa ser ouvi­da e efe­ti­va­da nas casas leg­isla­ti­vas e nos car­gos exec­u­tivos”, diz o man­i­festo.

As mul­heres protes­taram por con­cessão de finan­cia­men­to e rene­go­ci­ação de dívi­das das agricul­toras. “Uma das pau­tas prin­ci­pais unifi­cadas foi rela­ciona­da à lib­er­ação de crédi­tos para a mul­her, a rene­go­ci­ação de dívi­das para as com­pan­heiras que estão endi­vi­dadas poderem aces­sar os crédi­tos e a questão da obtenção de ter­ra de algu­mas áreas pri­or­itárias dos nos­sos acam­pa­men­tos”, disse a inte­grante do MST em Alagoas, Eva Vil­ma.

Edição: Car­oli­na Pimentel

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