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No Rio, Museu de Imagens do Inconsciente completa 70 anos

Repro­dução: © Dagob­er­to Marques/Divulgação

Acervo do museu é considerado patrimônio pela Unesco


Pub­li­ca­do em 10/09/2022 — 08:27 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Cri­a­do pela psiquia­tra Nise da Sil­veira, em 1952, para ser um cen­tro de estu­do e pesquisa, o Museu de Ima­gens do Incon­sciente (MII) comem­o­ra 70 anos de existên­cia com a inau­gu­ração, neste sába­do (10), de duas novas exposições simultâneas e gra­tu­itas, que mar­cam o retorno das ativi­dades do equipa­men­to.

Às 11h, será aber­ta a exposição Ocu­pação Nise da Sil­veira, parce­ria com o Itaú Cul­tur­al, que esta­va em São Paulo e chega ago­ra ao Rio de Janeiro. A mostra pres­ta hom­e­nagem à tra­jetória da psiquia­tra que enx­er­gou novas for­mas de trata­men­to da saúde men­tal no Brasil, apre­sen­tan­do os méto­dos, as refer­ên­cias e os prin­ci­pais con­ceitos ado­ta­dos por ela.

A out­ra mostra, denom­i­na­da Do asi­lo ao par­que: 70 anos de história, reúne pin­turas, desen­hos e escul­turas pro­duzi­dos pelos usuários de saúde men­tal em toda a história do Museu de Ima­gens do Incon­sciente, des­de a déca­da de 40 até os dias atu­ais. As obras foram sele­cionadas pela curado­ria a par­tir da temáti­ca de trans­for­mação do espaço do insti­tu­to no Par­que Urbano Nise da Sil­veira. A vis­i­tação pode ser fei­ta de terça a sába­do, das 10h às 16h.

Desconstrução

A dire­to­ra do Insti­tu­to Munic­i­pal Nise da Sil­veira, Éri­ka Pontes, afir­mou que as duas exposições são impor­tantes, prin­ci­pal­mente por traz­erem arte e cul­tura à zona norte do Rio de Janeiro, região que tem carên­cia de aces­so a ess­es bens. “O Insti­tu­to Munic­i­pal Nise da Sil­veira está se tor­nan­do um polo cul­tur­al, lig­a­do à saúde men­tal”.

Segun­do Éri­ka, o insti­tu­to man­tém as por­tas aber­tas, mes­mo depois do fim dos leitos de inter­nação psiquiátri­ca. “No dia 26 de out­ubro de 2021, o últi­mo paciente inter­na­do em lon­ga per­manên­cia no Insti­tu­to voltou para a cidade. Foi morar em uma residên­cia ter­apêu­ti­ca, um serviço res­i­den­cial ter­apêu­ti­co”.

Ness­es locais, há cuidadores e equipe per­ma­nente de assistên­cia. Nos últi­mos dez anos, 310 pacientes saíram da inter­nação psiquiátri­ca e retornaram ao con­vívio social. Para cada um deles, foi feito um tra­bal­ho indi­vid­ual de adap­tação. Os ex-inter­nos fazem trata­men­to nos cen­tros de Atenção Psi­cos­so­cial (CAPs), que têm psiquia­tra, assis­tente social, psicól­o­go.

“Com isso, a gente con­seguiu con­cretizar a descon­strução do hos­pi­tal psiquiátri­co. O insti­tu­to deixa de ser um hos­pi­tal psiquiátri­co e pas­sa a ser um insti­tu­to em que a arte, cul­tura, laz­er, esporte pas­sam a ser os nos­sos instru­men­tos de trata­men­to e de cuida­do”.

O atendi­men­to ambu­la­to­r­i­al per­manece sendo feito e inclui ofic­i­nas de arte, ger­ação de ren­da, esporte, dança, um giná­sio de lutas mar­ci­ais, um tra­bal­ho com ani­mais que assumem um papel ter­apêu­ti­co no trata­men­to.

Acervo

O acer­vo do Museu Ima­gens do Incon­sciente (MII) é con­sid­er­a­do patrimônio pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas para a Edu­cação, a Ciên­cia e a Cul­tura (Unesco). Ele reúne 400 mil obras cat­a­lo­gadas e arquiv­adas. Suas coleções são tombadas como patrimônio nacional pelo Insti­tu­to do Patrimônio Históri­co e Artís­ti­co Nacional (Iphan). Os ateliês ter­apêu­ti­cos per­manecem em fun­ciona­men­to, de for­ma que a coleção do museu é diari­a­mente acresci­da de novos itens. O MII cos­tu­ma rece­ber pesquisadores, estu­dantes, artis­tas do mun­do inteiro para con­hecer suas obras.

“E a gente espera que a pop­u­lação em ger­al pos­sa ter aces­so a isso. Os muros do anti­go hos­pí­cio foram der­ruba­dos. A gente abriu o insti­tu­to para a pop­u­lação”, indi­cou a dire­to­ra.

Éri­ka comen­tou que, ape­sar de bati­zar o insti­tu­to, o nome de Nise da Sil­veira tem mais vis­i­bil­i­dade no exte­ri­or. A médi­ca nat­ur­al de Alagoas é respon­sáv­el por uma trans­for­mação da psiquia­tria no Brasil e foi con­sid­er­a­da, recen­te­mente, uma heroí­na da Pátria pelo tra­bal­ho que desen­volveu com os doentes men­tais e pelo lega­do que deixou. Nise da Sil­veira é con­sid­er­a­da pio­neira na uti­liza­ção de trata­men­tos human­iza­dos para pacientes com transtornos men­tais.

Outras atividades

O Espaço Trav­es­sia, que tam­bém faz parte do Insti­tu­to Munic­i­pal Nise da Sil­veira, apre­sen­ta até o próx­i­mo dia 20 a ocu­pação artís­ti­ca “Brasil Deliv­ery [a gente só não pre­cariza o son­ho]”, que reúne obras de cer­ca de 90 artis­tas con­vi­da­dos do sub­úr­bio, da Baix­a­da Flu­mi­nense e da Améri­ca Lati­na, além de usuários e profis­sion­ais da saúde men­tal. A exposição ocorre nos anti­gos quar­tos de enfer­marias e está aber­ta à vis­i­tação de segun­da a sex­ta-feira, das 10h às 17h.

No Pon­to de Cul­tura Lou­cu­ra Sub­ur­bana: Engen­ho, Arte e Folia, que tam­bém é a sede do Blo­co Car­navale­sco Lou­cu­ra Sub­ur­bana, há a exposição per­ma­nente de fotos: Fis­sura no Real, com ima­gens de des­file da agremi­ação e dos Bonecos do Ger­mano, que são bonecos gigantes de um blo­co típi­co do Engen­ho de Den­tro que exis­tiu durante décadas e que mobi­liza­va moradores da região. A mostra fun­ciona de segun­da a sex­ta-feira, das 9h às 17h.

O Memo­r­i­al da Lou­cu­ra do Engen­ho de Den­tro foi inau­gu­ra­do em 2021, soman­do-se aos demais espaços de pro­dução e preser­vação da memória do Insti­tu­to Nise da Sil­veira. O local pos­sui uma exposição per­ma­nente cujo acer­vo rev­ela as práti­cas da psiquia­tria até a chega­da das mudanças que começaram a ser implan­tadas por Nise da Sil­veira, com peças, doc­u­men­tos e instru­men­tos sobre a história do Insti­tu­to. O fun­ciona­men­to é de segun­da a sex­ta-feira, das 9h às 17h.

Instituto

O Insti­tu­to Munic­i­pal Nise da Sil­veira faz parte da rede munic­i­pal de saúde do Rio de Janeiro. A insti­tu­ição segue os pre­ceitos da refor­ma psiquiátri­ca brasileira. Nas últi­mas três décadas, o tra­bal­ho esteve foca­do na descon­strução do apara­to man­i­co­mi­al, ten­do como base as ações de desin­sti­tu­cional­iza­ção e o incre­men­to e incen­ti­vo às ativi­dades cul­tur­ais.

Edição: Lílian Beral­do

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