...
sábado ,18 janeiro 2025
Home / Saúde / Novo plano para combater câncer de colo tem foco em rastreio e vacina

Novo plano para combater câncer de colo tem foco em rastreio e vacina

Doença é a quarta maior causa de morte no país

Tâmara Freire — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 06/12/2024 — 07:02
Rio de Janeiro
Ver­são em áudio
Brasília - Alunas do Centro de Ensino Fundamental 25, em Ceilândia, são vacinadas contra o papiloma vírus humano - HPV (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil
https://tts-app.ebc.com.br/media/tts/231507.mp3
Em 20 anos, o câncer de colo de útero pode se tornar doença resid­ual no Brasil, se o país seguir um novo plano de com­bate à doença, que pre­vê avanços no ras­treio, trata­men­to e, prin­ci­pal­mente, na vaci­nação con­tra o HPV. Hoje, esse é o ter­ceiro tipo mais preva­lente de tumor entre as mul­heres brasileiras e a quar­ta maior causa de morte, com cer­ca de 17 mil novos casos por ano, e aprox­i­mada­mente 7 mil mortes. Quase 100% dos casos são decor­rentes da infecção pelo Papi­lo­mavírus Humano, ou HPV, um vírus com mais de 200 tipos, dos quais ape­nas dois — o 16 e o 18 — são respon­sáveis por 70% dos casos.Quase 65% das pacientes só desco­brem a doença em está­gio já avança­do. Por isso, uma das prin­ci­pais novi­dades do novo Plano Nacional para a Elim­i­nação do Câncer de Colo de Útero é a intenção de imple­men­tar no Sis­tema Úni­co de Saúde um novo tipo de teste, do tipo mol­e­c­u­lar, para diag­nós­ti­co do HPV, em sub­sti­tu­ição ao exame citopa­tológi­co feito atual­mente, con­heci­do pop­u­lar­mente como pre­ven­ti­vo ou papan­i­co­lau. “É um teste que te per­mite saber a per­sistên­cia ou não do vírus. As pes­soas se con­t­a­m­i­nam com o HPV com mui­ta fre­quên­cia, em idade pre­coce, provavel­mente 90% da pop­u­lação. Nor­mal­mente, esse vírus desa­parece, mas quan­do ele per­siste, tem pos­si­bil­i­dade maior de desen­volver doenças asso­ci­adas, levan­do a lesões pre­cur­so­ras e ao próprio câncer de colo uteri­no”, expli­ca o dire­tor-ger­al do Insti­tu­to Nacional do Câncer (Inca), Rober­to Gil.De acor­do com Gil, no momen­to, os testes disponíveis estão sendo val­i­da­dos para a escol­ha da mel­hor opção. Mas resul­ta­dos de testes-mod­e­lo feitos pela Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) mostram que eles podem reduzir em 46% os casos de câncer e em 51% a mor­tal­i­dade pela doença, índices supe­ri­ores aos do exame citopa­tológi­co.  O públi­co-alvo é com­pos­to por todas as mul­heres, ou pes­soas com útero, de 25 a 64 anos, prin­ci­pal­mente aque­las que nun­ca fiz­er­am exame preventivo.Associado ao novo diag­nós­ti­co, os serviços públi­cos tam­bém devem imple­men­tar um sis­tema de auto­co­le­ta, em que a própria paciente poderá extrair o mate­r­i­al para a análise, sem a neces­si­dade de uma con­sul­ta ginecológ­i­ca. “Um gar­ga­lo que a gente tem pra faz­er o ras­trea­men­to é que muitas mul­heres não vão ao pos­to ou se sen­tem intim­i­dadas, prin­ci­pal­mente se for um homem fazen­do o exame. Como esse exame mol­e­c­u­lar é mais sim­ples de ser col­hi­do, começamos a tra­bal­har tam­bém com a auto­co­le­ta”, com­ple­men­ta o dire­tor-ger­al do Inca. O méto­do já está sendo tes­ta­do em cidades de Per­nam­bu­co e São Paulo e, a par­tir do iní­cio do ano que vem, deve ser ado­ta­do de for­ma escalon­a­da, em lugares sele­ciona­dos, prin­ci­pal­mente nas regiões Norte e Nordeste, que apre­sen­tam as maiores taxas de mor­tal­i­dade pela doença.

Além do ras­treio tar­dio, as pacientes sofrem com a demo­ra até o iní­cio do trata­men­to. Ape­sar da lei brasileira deter­mi­nar que ele deve começar em até 60 dias, cer­ca de metade delas só recebe algum trata­men­to depois desse pra­zo nas regiões Sud­este, Nordeste e Cen­tro-Oeste. O Sul é a úni­ca região onde a situ­ação mais fre­quente é que as pes­soas diag­nos­ti­cadas come­cem a se tratar em até 30 dias, o que ocorre com 44% dos pacientes. No Norte, em 65% dos casos, o trata­men­to só começa após os dois meses. Essa demo­ra tam­bém impacta a pro­porção de óbitos, que pas­sa dos 15% na região, bem aci­ma da média brasileira, que é de 6%.

A meta da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde é o ras­trea­men­to de pelo menos 70% das mul­heres, com testes de alta per­for­mance. A par­tir dis­so, 90% dos casos pos­i­tivos para HPV devem ser trata­dos rap­i­da­mente. O dire­tor do Inca expli­ca qual o per­cur­so ide­al, a par­tir do diag­nós­ti­co: “Se você fez o teste e detec­tou o vírus, o ide­al é que faça um exame de col­po­scopia, para avaliar se tem algu­ma lesão e faz­er a bióp­sia quan­do necessário. Se for iden­ti­fi­ca­da lesão pre­cur­so­ra, já faz­er a excisão e se tiv­er o diag­nós­ti­co da doença, com um ade­no­car­ci­no­ma já insta­l­a­do, a paciente deve ser encam­in­ha­da a um serviço de alta com­plex­i­dade para tratar o câncer de colo.” Para alcançar a meta da OMS, o Brasil pre­cisa aumen­tar em pelo menos 56% o número de col­po­scopias e em mais de 600% a quan­ti­dade de bióp­sias.

Vacinação

A elim­i­nação do câncer de colo do útero, no entan­to, só será pos­sív­el se novas infecções pelo HPV deixarem de ocor­rer, o que depende da vaci­nação. A meta é alcançar 90% do públi­co-alvo, hoje com­pos­to por meni­nas e meni­nos de 9 a 14 anos. A vaci­nação pelo Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) tam­bém está disponív­el para pes­soas imun­ode­prim­i­das, víti­mas de vio­lên­cia sex­u­al e usuários de Prep, a Pro­fi­lax­ia Pré-Exposição ao HIV, com até 45 anos. Além dis­so, o Min­istério da Saúde lançou uma estraté­gia de res­gate de jovens com até 19 anos que não ten­ham se vaci­na­do na idade ade­qua­da.

O dire­tor do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções, Eder Gat­ti, expli­ca porque esse é o esque­ma ado­ta­do pelo SUS: “Esse é o públi­co que ain­da não entrou na vida sex­u­al, ou seja, ain­da não se expôs ao vírus. É o públi­co que tem o maior risco e, ao mes­mo tem­po, a mel­hor opor­tu­nidade de se pro­te­ger. Por uma questão de dire­ciona­men­to dos esforços, con­sideran­do que o PNI é uma ação pro­gramáti­ca e pre­ven­ti­va, escol­he­mos esse grupo alvo de 9 a 14 anos. Quan­to mais tem­po pas­sa na vida da pes­soa, maior o risco de ela já ter vivi­do situ­ações de exposição ao HPV, que é um vírus muito comum. Então, em ter­mos de resul­ta­do, aca­ba sendo mel­hor dire­cionar para os ado­les­centes.”

A vaci­nação con­tra o HPV no Brasil com­ple­ta dez anos em 2014 e foi incluin­do públi­co-alvo maior de lá para cá. Os números mais atu­al­iza­dos mostram que até o ano pas­sa­do, o Brasil alcançou uma cober­tu­ra vaci­nal média entre as meni­nas de 81,1%, que pas­sou de 96% no Paraná, mas não chegou a 43% no Acre. A vaci­nação dos meni­nos é mais pre­ocu­pante, com cober­tu­ra média de 56,9% no Brasil e de ape­nas 25% no esta­do da Região Norte.

Nes­ta sex­ta-feira (6), o PNI deve lançar nova fer­ra­men­ta de acom­pan­hamen­to da apli­cação da vaci­na, com as taxas de cober­tu­ra divi­di­das por cada uma das idades do públi­co-alvo. Ela mostra que a cober­tu­ra entre as cri­anças de 9 anos ficou abaixo de 69% no ano pas­sa­do, mas entre os ado­les­centes com13 anos, já tin­ha alcança­do 100%.

Des­de abril, o PNI ado­ta o esque­ma vaci­nal de ape­nas uma dose, sub­sti­tuin­do as duas que eram necessárias ante­ri­or­mente. A mudança é recomen­da­da pela OMS, por evi­tar que o ado­les­cente pre­cise retornar ao pos­to de saúde para tomar a dose de reforço e só assim ficar com­ple­ta­mente imu­niza­do. Este ano, mais de 6 mil­hões de dos­es da vaci­na foram dis­tribuí­das aos esta­dos e municí­pios. De acor­do com o dire­tor do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções Eder Gat­ti, a pri­or­i­dade para o ano que vem é aumen­tar o alcance nos municí­pios que ain­da estão com cober­tu­ra baixa, espe­cial­mente entre os meni­nos.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Entenda o que é o vírus respiratório responsável por surto na China

hMPV causa infecção do trato respiratório superior, o resfriado comum Paula Labois­sière – Repórter da …