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Novos casos de hanseníase aumentaram 5% de janeiro a novembro de 2023

Repro­dução: © SMS de Mesqui­ta / RJ

Mês de janeiro é dedicado à campanha de combate à doença


Pub­li­ca­do em 11/01/2024 — 07:00 Por Alex Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Entre janeiro e novem­bro de 2023, o Brasil diag­nos­ti­cou ao menos 19.219 novos casos de hanseníase. Mes­mo que pre­lim­i­nar, o resul­ta­do já é 5% supe­ri­or ao total de noti­fi­cações reg­istradas no mes­mo perío­do de 2022.

Segun­do as infor­mações do Painel de Mon­i­tora­men­to de Indi­cadores da Hanseníase, do Min­istério da Saúde, o esta­do de Mato Grosso segue lid­eran­do o rank­ing das unidades fed­er­a­ti­vas com maiores taxas de detecção da doença.

Até o fim de novem­bro, o total de 3.927 novos casos no esta­do já super­a­va em 76% as 2.229 ocor­rên­cias do mes­mo perío­do de 2022. Em segui­da vem o Maran­hão, com 2.028 noti­fi­cações, resul­ta­do quase 8% infe­ri­or aos 2.196 reg­istros ante­ri­ores.

Con­sul­ta­da pela Agên­cia Brasil, a Sec­re­taria de Saúde de Mato Grosso infor­mou que nos últi­mos anos os diag­nós­ti­cos da doença vêm aumen­tan­do grad­ual­mente, resul­ta­do de uma “políti­ca ati­va de detecção” que, entre out­ras medi­das, inclui a “capac­i­tação dos profis­sion­ais da saúde”.

A exem­p­lo do Mato Grosso, out­ras unidades fed­er­a­ti­vas seguem abaste­cen­do o cadas­tro nacional com infor­mações ante­ri­ores a novem­bro, o que sig­nifi­ca que o per­centu­al de 5% tende a aumen­tar ain­da mais.

A pas­ta tam­bém atu­al­i­zou os dados estad­u­ais. Soma­dos os diag­nós­ti­cos de dezem­bro e out­ros ain­da não repor­ta­dos ao Sis­tema de Infor­mação de Agravos de Noti­fi­cação (Sinan), o total de novos casos noti­fi­ca­dos em 2023 já chega a 4.212.

“Para nós, o aumen­to [dos diag­nós­ti­cos] nacional do últi­mo ano não é novi­dade, pois há uma grande sub­no­ti­fi­cação de casos no país”, disse o coor­de­nador Nacional do Movi­men­to de Rein­te­gração das Pes­soas Atingi­das pela Hanseníase (Morhan), Fausti­no Pin­to, expli­can­do que, para­doxal­mente, o aumen­to de diag­nós­ti­cos é, em um primeiro momen­to, algo pos­i­ti­vo.

De acor­do com Fausti­no, até 2019, o número de novos casos iden­ti­fi­ca­dos vin­ha aumen­tan­do ano a ano, sem, com isso, rep­re­sen­tar a real gravi­dade da situ­ação. “Como há muitos anos não há uma cam­pan­ha nacional de esclarec­i­men­to e estí­mu­lo para as pes­soas procu­rarem o serviço de saúde em caso de sus­pei­ta da doença, os diag­nós­ti­cos são resul­ta­do de uma bus­ca espon­tânea. As pes­soas procu­raram o serviço de saúde por ini­cia­ti­va própria, bus­can­do as causas de uma man­cha na pele; área dor­mente ou dores nos ner­vos”, expli­cou Pin­to, acres­cen­tan­do que a situ­ação piorou de 2020 a 2021, dev­i­do à pan­demia da covid-19.

A Sec­re­taria de Vig­ilân­cia em Saúde, do Min­istério da Saúde, no bole­tim epi­demi­ológi­co divul­ga­do em janeiro de 2023, com os dados da doença rel­a­tivos a 2022, admite que a pan­demia impôs um desafio extra, exigin­do estraté­gias dire­cionadas ao for­t­alec­i­men­to das ações de con­t­role da hanseníase.

“A pan­demia de covid-19 criou difi­cul­dades para novos diag­nós­ti­cos e para o trata­men­to de pacientes com hanseníase, con­tribuin­do para a sub­no­ti­fi­cação e o pior prognós­ti­co dos casos”, disse a sec­re­taria ao demon­strar que, de 2019 a 2020, o total de casos diag­nos­ti­ca­dos caiu de 27.864 para 17.979. Além dis­so, em 2021, 11,2% dos 18.318 novos pacientes iden­ti­fi­ca­dos já apre­sen­tavam lesões graves nos olhos, mãos e pés quan­do foram diag­nos­ti­ca­dos.

Novos casos de hanseníase aumentaram 5% de janeiro a novembro de 2023. Fonte: Sinan/SVS/MS
Repro­dução: Fonte: Sinan/SVS/MS

“Ou seja, hoje não retor­namos sequer aos números pré-pan­demia, quan­do já acusá­va­mos a sub­no­ti­fi­cação. O que sig­nifi­ca que a situ­ação atu­al é ain­da mais grave, porque se esta­mos iden­ti­f­i­can­do ape­nas os pacientes que chegam por deman­da espon­tânea, muitas pes­soas estão deixan­do de ser tratadas a tem­po de evi­tar seque­las neu­rológ­i­cas. Tam­bém esta­mos fal­han­do nos esforços para inter­romper o ciclo de trans­mis­são da doença”, comen­tou Pin­to, desta­can­do que, uma vez ini­ci­a­do o trata­men­to, a pes­soa infec­ta­da deixa de trans­mi­tir a bac­téria cau­sado­ra da hanseníase para out­ras pes­soas sus­cep­tíveis a desen­volver a doença.

Janeiro Roxo

Con­sid­er­a­da uma das mais anti­gas doenças a afli­gir o ser humano, a hanseníase é uma doença infec­ciosa e con­ta­giosa que atinge a pele, mucosas e o sis­tema ner­voso per­iféri­co, ou seja, ner­vos e gânglios. Emb­o­ra ten­ha cura, pode causar lesões e danos neu­rais irre­ver­síveis se não for diag­nos­ti­ca­da a tem­po e trata­da de for­ma ade­qua­da.

Entre os sinais e sin­tomas mais fre­quentes estão o aparec­i­men­to de man­chas, que podem ser bran­cas, aver­mel­hadas, acas­tan­hadas ou amar­ronzadas, e/ou áreas da pele com alter­ação da sen­si­bil­i­dade e o com­pro­me­ti­men­to dos ner­vos per­iféri­cos, geral­mente com engrossa­men­to da pele, asso­ci­a­do a alter­ações sen­si­ti­vas, motoras e/ou autonômi­cas.

Tam­bém podem ser indí­cios da doença o surg­i­men­to de áreas com diminuição dos pelos e do suor; sen­sação de formiga­men­to e/ou fis­gadas, prin­ci­pal­mente em mãos e pés; diminuição ou per­da da sen­si­bil­i­dade e/ou da força mus­cu­lar na face, e/ou nas mãos e/ou nos pés, bem como a ocor­rên­cia de caroços (nódu­los) no cor­po, em alguns casos aver­mel­ha­dos e dolorosos.

A maio­r­ia das pes­soas expostas à bac­téria Mycobac­teri­um lep­rae não desen­volve a doença.

De acor­do com o Min­istério da Saúde, a hanseníase é iden­ti­fi­ca­da por meio de exame físi­co ger­al, der­ma­tológi­co e neu­rológi­co. Real­iza­do com o uso de medica­men­tos antimi­cro­bianos, o trata­men­to é feito gra­tuita­mente, no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), não exigin­do inter­nação. A duração do trata­men­to varia con­forme a for­ma clíni­ca da doença

Casos onde haja sus­pei­ta de com­pro­me­ti­men­to neur­al, mas sem lesão cutânea, e aque­les que apre­sen­tam área com alter­ação sen­si­ti­va e/ou autonômi­ca duvi­dosa e sem lesão cutânea evi­dente, devem ser encam­in­hados para unidades de saúde de maior com­plex­i­dade aptas a avaliar o quadro ger­al do paciente. Em cri­anças, o diag­nós­ti­co exige uma avali­ação mais cri­te­riosa, dev­i­do à difi­cul­dade de apli­cação e inter­pre­tação dos testes de sen­si­bil­i­dade. Além dis­so, é bom estar aten­to, pois casos infan­tis são indi­cadores de trans­mis­são ati­va da doença, espe­cial­mente entre par­entes. Pes­soas que con­vivem com quem tem a hanseníase trans­mis­sív­el têm três vezes mais risco de desen­volver a doença, dev­i­do ao con­ta­to próx­i­mo e pro­lon­ga­do.

Para con­sci­en­ti­zar a pop­u­lação em ger­al e as autori­dades públi­cas em par­tic­u­lar sobre a importân­cia do diag­nós­ti­co pre­coce e do enfrenta­men­to ao pre­con­ceito con­tra a hanseníase, no Brasil, des­de 2016, o mês de janeiro é ded­i­ca­do à cam­pan­ha Janeiro Roxo. Ofi­cial­iza­da pelo Min­istério da Saúde, a ini­cia­ti­va bus­ca dis­sem­i­nar infor­mações sobre os prin­ci­pais sinais, sin­tomas, trata­men­to e pre­venção da doença.

Emb­o­ra con­ste do cal­endário do Min­istério da Saúde, a ini­cia­ti­va, na práti­ca, é real­iza­da por esta­dos e municí­pios. A Sec­re­taria de Saúde do Pará (Ses­pa), por exem­p­lo, anun­ciou que, durante todo o mês, realizará um ciclo de capac­i­tações para servi­dores estad­u­ais e munic­i­pais.

“Vamos abranger 13 cen­tros region­ais e os 144 municí­pios, já preparan­do para um tra­bal­ho em que os municí­pios pro­tag­oni­zarão o com­bate à hanseníase durante todo o ano de 2024 e não ape­nas em janeiro. Pos­te­ri­or­mente, vamos incen­ti­var os municí­pios a tra­bal­har a sua própria cam­pan­ha, porque eles são execu­tores e lidam dire­ta­mente com a pop­u­lação”, infor­mou em nota o coor­de­nador do Pro­gra­ma de Con­t­role de Hanseníase da Ses­pa, Luís Augus­to Cos­ta de Oliveira.

De acor­do com ele, em 2023, o esta­do reg­istrou 1.349 novos casos da doença,  100 a mais do que as noti­fi­cações já lançadas no sis­tema do Min­istério da Saúde. Do total, 92 casos envolvem cri­anças e ado­les­centes com menos de 15 anos de idade.

“A cada mês de janeiro vemos ini­cia­ti­vas como esta. A meu ver, são tími­das e não sim­bolizam uma cam­pan­ha nacional que, se ocor­resse, resul­taria na noti­fi­cação de muitos mais casos do que os que temos vis­to todos os anos. Hou­vesse bus­ca ati­va [de pes­soas infec­tadas], em vez de 20 mil casos, teríamos 30 mil. Trin­ta mil pes­soas diag­nos­ti­cadas, tratadas e curadas, com a dev­i­da inter­rupção da trans­mis­são. Só com isso poderíamos, daqui a alguns anos, pen­sar em reduzir e até quem sabe erradicar a doença”, disse o coor­de­nador do Morhan, Fausti­no Pin­to.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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