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O que é o sal-gema e por que sua extração gerou problemas em Maceió?

Repro­dução: © Tawatchai/Frepik

Produto é usado na produção de soda cáustica e bicarbonato de sódio


Pub­li­ca­do em 03/12/2023 — 15:38 Por Léo Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Parte dos moradores de Maceió vivem dias de ten­são. Na últi­ma quar­ta-feira (29), a prefeitu­ra da cap­i­tal alagoana decre­tou situ­ação de emergên­cia diante do imi­nente colap­so em uma das minas de sal-gema explo­radas pela petro­quími­ca Braskem no bair­ro do Mus­tange. É mais um capí­tu­lo de uma história que se arras­ta des­de 2018, quan­do foram reg­istra­dos afun­da­men­tos em cin­co bair­ros. Esti­ma-se que cer­ca de 60 mil res­i­dentes tiver­am que se mudar do local e deixar para trás os seus imóveis.

O risco de colap­so em uma das 35 minas de respon­s­abil­i­dade da Braskem vem sendo mon­i­tora­do pela Defe­sa Civ­il de Maceió e foi detec­ta­do dev­i­do ao avanço no afun­da­men­to. A petro­quími­ca con­fir­ma que pode ocor­rer um grande desaba­men­to da área, mas afir­ma que existe tam­bém a pos­si­bil­i­dade de que o solo se aco­mode. Um even­tu­al colap­so ger­aria um tremor de ter­ra e tem poten­cial para abrir uma crat­era maior que o está­dio do Mara­canã. As con­se­quên­cias, no entan­to, ain­da são incer­tas. O gov­er­no fed­er­al tam­bém acom­pan­ha a situ­ação.

Mas o que é o sal-gema? Difer­ente do sal que geral­mente usamos na coz­in­ha, que é obti­do do mar, o sal-gema é encon­tra­do em jazi­das sub­ter­râneas for­madas há mil­hares de anos a par­tir da evap­o­ração de porções do oceano. Por esta razão, o clore­to de sódio é acom­pan­hado de uma var­iedade de min­erais.

Des­ig­na­do tam­bém por hali­ta, o sal-gema é com­er­cial­iza­do para uso na coz­in­ha. Muito comum nos super­me­r­ca­dos, o sal extraí­do no Himala­ia, que pos­sui uma tonal­i­dade rosa dev­i­do às car­ac­terís­ti­cas locais, é um sal-gema.

No entan­to, o sal-gema é tam­bém uma matéria-pri­ma ver­sátil para a indús­tria quími­ca. É empre­ga­do, por exem­p­lo, na pro­dução de soda cáus­ti­ca, áci­do clorí­dri­co, bicar­bon­a­to de sódio, sabão, deter­gente e pas­ta de dente, enfim, na fab­ri­cação de pro­du­tos de limpeza e de higiene e em pro­du­tos far­ma­cêu­ti­cos.

Indústria

Ini­cial­mente, a explo­ração em Maceió se voltou para a pro­dução de dicloroetano, sub­stân­cia empre­ga­da na fab­ri­cação de PVC. Não por aca­so, des­de que inau­gurou em 2012 uma unidade indus­tri­al na cidade de Marechal Deodoro, viz­in­ha a Maceió, a Braskem se tornou a maior pro­du­to­ra de PVC do con­ti­nente amer­i­cano. Out­ras indús­trias, como a de celu­lose e de vidro, tam­bém empregam o sal-gema em seus proces­sos.

A explo­ração de sal-gema, como out­ros min­erais, depende de licen­ci­a­men­to ambi­en­tal. A explo­ração é fis­cal­iza­da pela Agên­cia Nacional de Min­er­ação (ANM). No mer­ca­do inter­na­cional, o Brasil é um ator rel­e­vante. Segun­do dados da ANM, foram 7 mil­hões de toneladas em 2002. O rank­ing do ano pas­sa­do, no entan­to, mostra que os três líderes mundi­ais têm pro­dução muito mais robus­ta que todos os demais: Chi­na (64 mil­hões de toneladas), Índia (45 mil­hões) e Esta­dos Unidos (42 mil­hões).

Em Maceió, a explo­ração das minas teve iní­cio em 1976 pela empre­sa Sal­ge­ma Indús­trias Quími­cas, que logo foi esta­ti­za­da e mais tarde nova­mente pri­va­ti­za­da. Em 1996, mudou de nome para Trikem e, em 2002, funde-se com out­ras empre­sas menores tor­nan­do-se final­mente Braskem, com con­t­role majoritário do Grupo Novonor, anti­go Grupo Ode­brecht. A Petro­bras tam­bém pos­sui par­tic­i­pação acionária na empre­sa, com 47% das ações, dividin­do o con­t­role acionário com a Novonor. Atual­mente, a Braskem desen­volve ativi­dades não ape­nas no Brasil, como tam­bém em out­ros país­es como Esta­dos Unidos, Méx­i­co e Ale­man­ha.

Escavação

A explo­ração em Maceió envolvia a escav­ação de poços até a cama­da de sal, que pode estar há mais de mil met­ros de pro­fun­di­dade. Então, inje­ta­va-se água para dis­solver o sal-gema e for­mar uma salmoura. Em segui­da, usan­do um sis­tema de pressão, a solução era trazi­da até a super­fí­cie. Ao fim da extração, ess­es poços pre­cisam ser preenchi­dos com uma solução líqui­da para man­ter a esta­bil­i­dade do solo.

O prob­le­ma em Maceió ocor­reu por vaza­men­to dessa solução líqui­da, deixan­do bura­cos na cama­da de sal. Uma hipótese já lev­an­ta­da por pesquisadores é de que a ocor­rên­cia ten­ha relação com fal­has geológ­i­cas na região. Con­se­quente­mente, a insta­bil­i­dade no solo lev­ou a um tremor de ter­ra sen­ti­do em março de 2018. O even­to cau­sou os afun­da­men­tos nos cin­co bair­ros: Pin­heiro, Mus­tange, Bebedouro, Bom Par­to e Farol.

Com novos tremores e o surg­i­men­to de rachaduras em casas e ruas, a Braskem anun­ciou o fim da explo­ração das minas em maio de 2019. A petro­quími­ca diz que já foi pago R$ 3,7 bil­hões em ind­eniza­ções e auxílios finan­ceiros para moradores e com­er­ciantes dess­es bair­ros. Uma parcela dos atingi­dos bus­ca reparação através de proces­sos judi­ci­ais. O caso tam­bém é dis­cu­ti­do em ações movi­das pelo Min­istério Públi­co Fed­er­al (MPF).

Edição: Aline Leal

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