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Obras de Raul Seixas uniram estilos em seus 26 anos de carreira

Cantor e compositor completaria 80 anos neste sábado

Flávia Albu­querque — repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 28/06/2025 — 09:23
São Paulo
Rio de Janeiro (RJ), 27/06/2025 - Cantor Raul Seixas. Foto: Acervo Discogs
Repro­dução: © Acer­vo Discogs

Com uma obra musi­cal com­pos­ta por 17 dis­cos e mais de 300 músi­cas, lança­dos durante 26 anos de car­reira, Raul Seixas com­ple­taria neste sába­do (28) 80 anos de vida. Con­sid­er­a­do pai do rock brasileiro e cul­tua­do por suces­si­vas ger­ações, o soteropoli­tano era um ado­les­cente quan­do o rock surgiu no cenário musi­cal, nos anos 50, e chegou ao Brasil. Influ­en­ci­a­do e fasci­na­do por toda a efer­vescên­cia cul­tur­al da época, o artista criou um esti­lo próprio, com­bi­nan­do o rit­mo ao baião, com refer­ên­cias a Elvis Pres­ley. 

A lista de canções mem­o­ráveis de Raul Seixas é lon­ga, com letras con­tes­ta­do­ras val­orizam a críti­ca social e a liber­dade indi­vid­ual: Malu­co BelezaMeta­mor­fose Ambu­lanteOuro de ToloEu nasci há 10 mil anos atrásSociedade Alter­na­ti­vaGitaCow­boy fora-da-leiTente out­ra VezMedo da Chu­vaO trem das 7Capim GuinéComo vovô já diziaCarim­bador malu­coAl CaponeMosca na sopaMeu ami­go PedroO dia em que a Ter­ra parouS.O.S.Alu­ga-seEu tam­bém vou recla­mar.

Segun­do o pesquisador de músi­ca pop­u­lar e cul­tura e pro­fes­sor na Uni­ver­si­dade Macken­zie, Herom Var­gas, o suces­so de Raul Seixas demor­ou a acon­te­cer. Ain­da em Sal­vador, for­mou sua primeira ban­da, os Pan­teras, na época da Jovem Guar­da, no final dos anos 1960. O grupo con­heceu o can­tor Jer­ry Adri­ani, que os con­vi­dou para ir ao Rio de Janeiro. Reba­ti­za­da de Raulz­i­to e os Pan­teras, a ban­da gravou então seu primeiro dis­co. O pesquisador con­ta que essa foi a primeira ten­ta­ti­va de atin­gir um públi­co mais amp­lo e nacional.

“É claro que, em Sal­vador, ele já era con­heci­do, mas, no Rio e no resto do Brasil, ain­da não. Só que o dis­co não fez suces­so, e uma parte da ban­da voltou para Sal­vador, enquan­to ele con­tin­u­ou no Rio, sem nen­hum din­heiro. Aqui­lo que ele fala na músi­ca Ouro de Tolo é ver­dade. Ele pas­sou um per­rengue no Rio de Janeiro”, expli­cou Var­gas.

Em segui­da, Raul foi pro­du­tor na gravado­ra CBS, e esse perío­do durou até sur­gir uma nova opor­tu­nidade para que se unisse a mais três can­tores: Miri­am Batu­ca­da, Sér­gio Sam­paio e Edy Star. “E ess­es qua­tro fiz­er­am um dis­co chama­do Sociedade da Grã Ordem Kav­ernista apre­sen­ta Sessão das 10. É um dis­co de 71. Um dis­co exper­i­men­tal, difí­cil de de ouvir, que obvi­a­mente não fez suces­so. Essa foi a segun­da ten­ta­ti­va”.

Raul Seixas con­tin­u­ou tra­bal­han­do, e em 1972, se inscreveu no Fes­ti­val Inter­na­cional da Canção, com a a músi­ca Let Me Sing, Let Me Sing. Ele não gan­hou o fes­ti­val, mas a músi­ca teve algu­ma reper­cussão, abrindo as por­tas de out­ra gravado­ra, a Philips Records, na qual lançou um com­pacto com Ouro de Tolo. Logo depois, veio seu primeiro dis­co solo, o Krig-ha, Ban­do­lo!, de 1973.

“Esse é um dis­co clás­si­co que, ain­da hoje em dia, é um dos que sem­pre apare­cem nas lis­tas dos mel­hores dis­cos da músi­ca brasileira. Tem Mosca na SopaRock­ixeAs minas do Rei Salomão e uma série de de músi­cas bem legais do Raul. Foi aí que ele ficou con­heci­do nacional­mente. Batal­han­do des­de 66, 67, só chegou no grande públi­co em 73. É uma história bem inter­es­sante esse iní­cio de car­reira, os per­rengues todos, e as idas e vin­das de um com­pos­i­tor e de um can­tor. Ain­da bem que deu cer­to”, disse Var­gas.

O com­pos­i­tor tam­bém explor­ou temas como mist­i­cis­mo, filosofia e con­tra­cul­tura, expres­sos em sua parce­ria com Paulo Coel­ho, prin­ci­pal­mente no iní­cio da déca­da de 1970. Já Cláu­dio Rober­to foi o par­ceiro mais fre­quente de Raul depois da fase com Paulo Coel­ho, com a com­posição de mais de 50 músi­cas ─ com 31 delas gravadas entre 1975 e 1988. Raul ain­da teve como par­ceiros Marce­lo Mot­ta, em canções como A Maçã e Se Ain­da Existe Amor; e Marce­lo Nova, no álbum A Pan­ela do Dia­bo, em 1989, mar­can­do uma parce­ria impor­tante no final da car­reira de Raul.

Ocultismo e misticismo

Ao con­trário do que muitos pen­sam, Raul Seixas nun­ca teve um vín­cu­lo pro­pri­a­mente dito com o mist­i­cis­mo ou com o ocultismo, sendo ape­nas um estu­dioso dess­es temas, disse o fã e ami­go Sylvio Pas­sos.

“Com o ocultismo, ele tin­ha lá suas reser­vas e olha­va sem­pre com um olhar mais filosó­fi­co do que pro­pri­a­mente devo­to, ocultista ou qual­quer coisa desse sen­ti­do. O ocultista, na ver­dade, era o Paulo Coel­ho, que sem­pre foi um cara lig­a­do mais a questões reli­giosas, metafísi­cas e tal. O Raul, não. O Raul era anar­quista, como ele mes­mo se definia. Uma meta­mor­fose ambu­lante, um mate­ri­al­ista dialéti­co”.

Na definição de Pas­sos, que acom­pan­hou a car­reira de roqueiro e se tornou ami­go do can­tor, da família e de ami­gos, Raul Seixas trata­va de temas com­plex­os sendo um can­tor pop­u­lar, um ‘cara’ do rock e da músi­ca brasileira como um todo. Isso imprim­ia a ele a sin­gu­lar­i­dade e a importân­cia den­tro de todo cenário artís­ti­co brasileiro, já que ele trazia ess­es temas “para um povo que nem sequer lia”.

“O mais curioso é que o Raul, sendo mate­ri­al­ista dialéti­co, uma meta­mor­fose ambu­lante, a obra toda car­rega uma plu­ral­i­dade. Raul era plur­al, um inves­ti­gador da história da humanidade, de por que o ser humano é o que é, por que se com­por­ta da maneira que com se com­por­ta. Ele olha­va para o mun­do, absorvia tudo isso e trans­for­ma­va em músi­ca. Ele dizia o seguinte: ‘se você quer me con­hecer de fato, ouça meus dis­cos, eu estou inteiro lá’”, afir­mou Pas­sos.

Segun­do Pas­sos, a tran­sição da car­reira de Raul Seixas, ao pas­sar da pes­soa que ama­va Elvis Pres­ley e se inspi­ra­va nele para out­ra fase, se enquadra em um proces­so evo­lu­ti­vo comum a todos os seres humanos. Para o fã e ami­go, a lou­cu­ra por Elvis Pres­ley pode ter sido o gatil­ho para que ele se tor­nasse o ado­les­cente ques­tion­ador, que chegou no adul­to que, com 27 anos de idade, gravou seu primeiro dis­co.

“E com aqui­lo que ele colo­ca em todas as faixas e con­tin­ua dali para frente. Então, tem toda essa cronolo­gia do ser humano, do indi­ví­duo, que vai evoluin­do, e de algu­ma for­ma mel­ho­ran­do ou pio­ran­do. O Raul sem­pre foi mel­ho­ran­do, sem­pre mais ques­tion­ador, sem­pre mais volta­do para si mes­mo, ten­tan­do enten­der o que acon­te­cia no mun­do e no seu entorno”.

Raul Seixas enfren­tou o alcoolis­mo e teve vários prob­le­mas de saúde provo­ca­dos pela doença, como dia­betes, hiperten­são, prob­le­mas no fíga­do e a pan­cre­atite que o lev­ou à morte, em 1989, aos 44 anos, víti­ma de uma para­da cardía­ca. Ele foi encon­tra­do mor­to no aparta­men­to em que vivia, em São Paulo.

Passeatas

Com tema A Onda Está Certa, bloco Toca Rauuul relembra entrevista de Raul Seixas em 1977.
Repro­dução: Blo­co Toca Raul, no Rio de Janeiro, hom­e­nageia o can­tor — Toca Rauuul/Divulgação

Des­de então, fãs e admi­radores da obra reúnem-se anual­mente na data para a con­heci­da Passea­ta Raul­seix­ista em hom­e­nagem ao can­tor e com­pos­i­tor. A con­cen­tração geral­mente acon­tece em frente ao The­atro Munic­i­pal de São Paulo.

A asses­so­ra de impren­sa Mayara Grosso, 30 anos, começou a par­tic­i­par do even­to aos 8 anos de idade, lev­a­da pelos pais, fãs do can­tor. Famil­iar­iza­da com a obra, já que seu irmão mais vel­ho ouvia os dis­cos com fre­quên­cia, ela cresceu fre­quen­tan­do a passea­ta anual­mente e con­hecen­do muitos dos fãs que se tornaram ami­gos de sua família.

Foi daí que surgiu a ideia de, como tra­bal­ho de con­clusão de cur­so, escr­ev­er um livro-reportagem chama­do A Semente da Nova Idade, que abor­da a tra­jetória de Raul Seixas, com ênfase na passea­ta raul­seix­ista.

“Durante esse proces­so, eu fui desco­brindo e enten­den­do a história de muitos fãs. Além de uma cel­e­bração de Raul, virou tam­bém um grande encon­tro de ami­gos. É onde a galera se encon­tra. Então, vem mui­ta gente de muitos esta­dos, cidades difer­entes e aca­ba viran­do um grande cul­to. É uma emoção muito par­tic­u­lar para cada um, porque Raul Seixas rep­re­sen­ta mui­ta coisa. Para mim, rep­re­sen­ta família. É uma memória que pega bas­tante, porque meu pai já fale­ceu e gosta­va muito de ir à passea­ta”.

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