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Ofensas a Vinicius Jr. fazem parte de histórico de racismo no futebol

Repro­dução: © Arte/Agência Brasil

Linha do tempo mostra diversos episódios em competições internacionais


Pub­li­ca­do em 24/05/2023 — 18:05 Por Lin­coln Chaves — Repórter da EBC — São Paulo

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A reper­cussão dos ataques racis­tas dire­ciona­dos ao ata­cante Vini­cius Júnior, do Real Madrid, no due­lo com o Valên­cia pelo Campe­ona­to Espan­hol no últi­mo domin­go (21), mostra que este não é um fato iso­la­do. Nos últi­mos anos, foram vários os casos de racis­mo con­tra atle­tas brasileiros no fute­bol europeu, den­tro e fora de cam­po, mas que não se limi­tam ao Vel­ho Con­ti­nente. Eles tam­bém avançaram no Brasil.

Daniel Alves, Tai­son, Dentin­ho, Ney­mar, Rober­to Car­los, Mal­com, Richarli­son, Hulk. Todos eles já foram víti­mas de racis­mo na Europa, de bananas ati­radas no gra­ma­do a sons que imi­tam os de um maca­co nas arquiban­cadas. A mes­ma Espan­ha na qual Vini­cius Júnior tem sofri­do com man­i­fes­tações racis­tas e de ódio foi pal­co de boa parte destes ataques.

Confira a linha do tempo:

racismo no futebol
Repo­dução

“Isso [repetição de ataques a Vini­cius Júnior] reflete anos e anos de leniên­cia das autori­dades espan­ho­las com o racis­mo. Espe­cial­mente nos cam­pos de fute­bol, não é ape­nas Viní­cius Júnior que tem sofri­do, mas out­ros jogadores pela Europa tam­bém, como o [ata­cante bel­ga Romelu] Lukaku, víti­ma de racis­mo em abril e expul­so por rea­gir con­tra os xinga­men­tos racis­tas [na Itália, onde defende a Inter de Milão]. Existe um históri­co [de racis­mo], com mais de 20 anos, com jogadores negros brasileiros e de out­ros país­es”, desta­cou Jorge San­tana, pro­fes­sor de História e mestre em Ciên­cias Soci­ais pela Uni­ver­si­dade Estad­ual do Rio de Janeiro (Uerj), em depoi­men­to ao pro­gra­ma Sta­di­um, da TV Brasil.

“O Viní­cius tem sido uma voz quase iso­la­da na luta con­tra o racis­mo no Campe­ona­to Espan­hol. As insti­tu­ições espan­ho­las fazem olhos de mer­cadores e não tomam ati­tudes e políti­cas duras con­tra o racis­mo. Das dez denún­cias feitas pelo Vini­cius [des­de 2021], três foram arquiv­adas pela liga espan­ho­la. Isso faz com que a liga seja uma ali­a­da do racis­mo na Espan­ha”, com­ple­tou San­tana, que é autor do livro “Des­cul­pas, meu ído­lo Bar­bosa”.

Brasil

O racis­mo no esporte mais pop­u­lar do mun­do, porém, não se limi­ta à Europa. No Brasil, a práti­ca avança de maneira pre­ocu­pante. Segun­do lev­an­ta­men­to do Obser­vatório da Dis­crim­i­nação Racial do Fute­bol, foram reg­istra­dos 90 casos de ofen­sas raci­ais em 2022, con­tra 64 em 2021. Um aumen­to de 40%.

Em janeiro deste ano, o pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va san­cio­nou a Lei 14.532, que tip­i­fi­ca a injúria racial como crime de racis­mo, que já era con­sid­er­a­do deli­to no país, pela Lei 7.716, de 1989. O Reg­u­la­men­to Ger­al de Com­petições da Con­fed­er­ação Brasileira de Fute­bol (CBF) para 2023 indi­ca punição a casos de dis­crim­i­nação, que pode vari­ar de uma advertên­cia até a per­da de pon­tos.

No país, um dos casos mais mar­cantes ocor­reu em 2014, envol­ven­do o hoje ex-goleiro Aran­ha. À época no San­tos, ele foi alvo de ofen­sas racis­tas de torce­dores do Grêmio na par­ti­da de ida do con­fron­to pelas oitavas de final da Copa do Brasil, na Are­na do time gaú­cho, em Por­to Ale­gre. Os xinga­men­tos, ini­cial­mente, não con­staram na súmu­la do árbi­tro Wilton Pereira Sam­paio, sendo feito um aden­do ao doc­u­men­to, enfim citan­do a ocor­rên­cia. Em decisão inédi­ta, o Supe­ri­or Tri­bunal de Justiça Desporti­va (SJTD) excluiu o Tri­col­or do torneio nacional antes mes­mo do jogo de vol­ta.

De lá para cá, ape­sar do aumen­to dos casos, não hou­ve igual punição. Em agos­to de 2021, o Brusque chegou a perder três pon­tos durante a Série B do Campe­ona­to Brasileiro, por causa de ofen­sas racis­tas de um diri­gente ao ata­cante Celsin­ho, do Lon­d­ri­na, em due­lo no Está­dio Augus­to Bauer, em Brusque (SC). Em novem­bro, porém, o STJD acabou devol­ven­do os pon­tos ao clube de San­ta Cata­ri­na.

“Na min­ha opinião, dev­e­ria con­star no reg­u­la­men­to dos campe­onatos que quais­quer man­i­fes­tações pre­con­ceitu­osas impli­cari­am na per­da ime­di­a­ta dos pon­tos daque­la par­ti­da, sendo passív­el de rebaix­a­m­en­to caso se repi­tam. Já está pas­san­do a hora de a Fifa [Fed­er­ação Inter­na­cional de Fute­bol] se man­i­fes­tar seri­amente. É muito boni­to faz­er cam­pan­ha e diz­er que todos são iguais no fute­bol, quan­do ess­es casos acon­te­cem tan­tas e tan­tas vezes”, anal­isou o jor­nal­ista Cláu­dio Nogueira, respon­sáv­el por livros como “Fute­bol Brasil Memória” e “Esporte: Usi­na de Son­hos e Mil­hões”, tam­bém ao Sta­di­um.

Em nív­el con­ti­nen­tal, a Con­fed­er­ação Sul-Amer­i­cana de Fute­bol (Con­mebol) ampliou, no ano pas­sa­do, as punições por racis­mo em jogos dos torneios que orga­ni­za. As alter­ações foram moti­vadas por ofen­sas sequen­ci­ais a torce­dores e atle­tas brasileiros em par­tidas fora de casa durante o primeiro semes­tre. A mul­ta mín­i­ma pas­sou de R$ 150 mil para R$ 500 mil, com pos­si­bil­i­dade de o time enquadra­do ter de atu­ar com parte das arquiban­cadas fechadas ou sem públi­co.

Patrocínios

Se den­tro de cam­po as punições depen­dem das enti­dades desporti­vas, fora dele há o entendi­men­to de que as mar­cas que cedem os nomes aos clubes e even­tos devem pres­sion­ar por ações con­tra o pre­con­ceito. Após o caso envol­ven­do Vini­cius Júnior, a orga­ni­za­ção Sleep­ing Giants Brasil acio­nou os 20 patroci­nadores da liga espan­ho­la nas redes soci­ais.

Segun­do o dire­tor exec­u­ti­vo da orga­ni­za­ção, Leonar­do Leal, somente dois (San­tander e Puma) se man­i­fes­taram até a pub­li­cação des­ta reportagem.

“Quan­do [patroci­nadores] asso­ci­am uma mar­ca ao even­to, eles tam­bém, queren­do ou não, asso­ci­am-se aos casos de racis­mo que acabam acon­te­cen­do. Como a liga não toma providên­cias, ped­i­mos aju­da dess­es patroci­nadores, que têm muito poder na insti­tu­ição, inclu­sive finan­ciam o campe­ona­to, para que deem voz às denún­cias de racis­mo e a liga, final­mente, tome providên­cias. Ficamos aguardan­do o posi­ciona­men­to proa­t­i­vo delas no últi­mo domin­go, dia que acon­te­ceu o caso e o debate tomou as redes. Quan­do con­sum­i­mos uma empre­sa, não con­sum­i­mos ape­nas seu pro­du­to, mas tam­bém a ideia, a visão dessa empre­sa para o mun­do”, declar­ou Leal à Agên­cia Brasil.

“Acho que uma analo­gia que cabe muito é em relação às platafor­mas [redes soci­ais]. Elas acabam não agin­do sobre con­teú­dos de ódio e desin­for­mação, por isso acionamos os patroci­nadores, já que a prin­ci­pal enti­dade não se move. Com a liga espan­ho­la é o mes­mo caso. Isso demon­stra que se não for pelo fol­low the mon­ey [siga o din­heiro, na tradução lit­er­al do inglês], por pres­sion­ar quem finan­cia jogos, campe­onatos ou qual­quer orga­ni­za­ção que acabe pro­moven­do dis­cur­so racista ou odioso, não vemos muitas escap­atórias ou mes­mo respon­s­abi­liza­ções dess­es agentes odiosos”, con­cluiu o dire­tor da Sleep­ing Giants.

Edição: Fábio Lis­boa

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