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Pais que lutam: eles combatem racismo e se multiplicam em amor

Repro­dução: © Aqui­vo Pes­soal

Compromisso é tratar diversidade de forma natural, sem preconceitos


Pub­li­ca­do em 13/08/2023 — 07:50 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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12/08/2023, Três pais, um filho:- Matéria para o dia dos pais. Foto: Aquivo Pessoal
Repro­dução: 12/08/2023, Três pais, um fil­ho: Pedro aprende sobre respeito e diver­si­dade den­tro da própria casa — Foto– Arqui­vo Pes­soal

“Do Leme ao Pon­tal, não há nada igual…”. Foi à beira do mar, no Leme, na zona sul do Rio de Janeiro, can­ta­da pelos ver­sos de Tim Maia, que a história de uma família recomeça. Foi lá, há cer­ca de 10 anos, que Juliano Almei­da expres­sou para o mari­do, Rober­to Jardim, sobre o maior son­ho: ser pai. Um grande ami­go de lon­ga data, Ricar­do Souza, que é solteiro, tam­bém se sen­si­bi­li­zou com as palavras de Juliano, e resolveu aju­dar inten­sa­mente na procu­ra e nos trâmites da adoção de um meni­no. O son­ho na beira da pra­ia responde hoje como uma real­i­dade. Pedro tem oito anos, é negro e chama os três home­ns de “pai”. Uma história de pro­teção mul­ti­pli­ca­da e, como todo amor, não há igual…

Aliás, des­de cedo, o meni­no ouviu em casa que ninguém é igual. “Alguém comen­tou na esco­la que ele era ado­ta­do e ele veio per­gun­tar para a gente. Ele lida de uma for­ma muito tran­quila porque a cri­ança entende como nat­ur­al”, afir­ma Juliano, de 50 anos, que é pro­du­tor cul­tur­al. Para os adul­tos, uma trans­for­mação em anda­men­to.

“Ser pai é uma opor­tu­nidade que a pes­soa tem para se tornar um mel­hor ser humano”, entende o mari­do Rober­to, que tra­bal­ha como con­ta­dor. “É uma mis­tu­ra de sen­sações. Ao mes­mo tem­po que é um amor que não tem como medir, é uma pre­ocu­pação diária que dividi­mos”, avalia o ami­go, Ricar­do, de 49, estilista, que está moran­do na cidade de Cabo Frio, a 200 km da cap­i­tal flu­mi­nense.

Juliano recor­da que foi des­per­ta­do tam­bém para ser pai ao obser­var e sofr­er diante das injustiças como a fome e aban­dono nas ruas. Ele, o mari­do e o ami­go mul­ti­pli­cam-se tam­bém entre eles para equi­li­brar amor e lim­ites no proces­so de edu­cação. Os três bus­cam, na medi­da do pos­sív­el, agen­dar even­tos e até via­gens para os qua­tro estarem jun­tos. Um com­pro­mis­so deles na cri­ação do meni­no é tratar a diver­si­dade de for­ma nat­ur­al e ser con­tra toda for­ma de pre­con­ceito. “Ele ain­da não pas­sou por episó­dio de racis­mo. A gente traz para ele a nat­u­ral­i­dade da plu­ral­i­dade de cor de pele, de sexo e de religiões”.

“Ele me procurou para falar de racismo”

Nesse cam­in­ho, o sociól­o­go Hel­ton Souto, pres­i­dente do Insti­tu­to Dacor (Ong de com­bate ao racis­mo), entende que é pos­sív­el tratar de temas como o pre­con­ceito racial de uma for­ma nat­ur­al com a cri­ança, a fim de que ela se sin­ta empoder­a­da para per­gun­tar o que quis­er. Como pai de Augus­to, de 7 anos, um meni­no negro, como ele, Souto entende que falar de racis­mo é desafi­ador a qual­quer momen­to, mas necessário. Ele, a mãe, que é bran­ca, e o fil­ho vivem em São Paulo (SP).

“A val­oriza­ção da iden­ti­dade e da autoes­ti­ma é bas­tante Impor­tante. Às vezes, uma cri­ança negra vai ter que lidar com man­i­fes­tação de racis­mo de uma for­ma muito crua”. O pesquisador lida com esse tema em casa. “É pre­ciso for­t­ale­cer essa iden­ti­dade e a opor­tu­nidade de falar sobre isso. Meu fil­ho viveu uma situ­ação racista na esco­la. Falaram do cabe­lo dele. Ele chegou em casa sem enten­der. Ele pux­ou esse assun­to e con­ver­sei com ele”. Des­de então, o garo­to encon­tra no pai um ouvi­do aten­to para even­tu­ais sur­pre­sas e dúvi­das sobre tudo o que é incom­preen­sív­el.

A exper­iên­cia fez com que os pais do meni­no procurassem a esco­la para con­ver­sar, o que foi uma opor­tu­nidade de uma aprox­i­mação con­tra o racis­mo. A for­ma nat­ur­al de falar sobre pre­con­ceito aca­ba sendo trata­da até quan­do vão jog­ar videogame e não encon­trarem um per­son­agem de pele e cabe­lo semel­hante aos do pai e fil­ho. “Eu não vou dar aula sobre iden­ti­dade racial para meu fil­ho. A vivên­cia é o mel­hor cam­in­ho”. O pai fica orgul­hoso do fil­ho, que mes­mo tão cedo ques­tiona por que ain­da tem tan­ta gente em situ­ação de rua.

Conversa enquanto brinca

Pai de uma meni­na de cin­co anos de idade, Liah, o pro­fes­sor de edu­cação físi­ca Ander­son Rosa, de 36, morador de Brasília, tem a parce­ria da esposa, Lélia Char­liane, que é pro­fes­so­ra de história.  “A gente divide todas as tare­fas. Não existe essa coisa de tare­fa de homem e tare­fa de mul­her. Com a min­ha fil­ha, a gente brin­ca de tudo. A gente sem­pre está con­ver­san­do”.

O pai per­gun­ta como é que foi o dia dela. E cada dia tem uma novi­dade. Um dos temas é a con­ver­sa sobre a diver­si­dade da cor de pele. “A gente procu­ra falar para ela o tem­po todo essa questão de ela ser negra. Cri­amos ela para ser empoder­a­da mes­mo”.

Foi a esposa, dire­ta­mente, e a fil­ha, pela pre­sença, que o pro­fes­sor enten­deu que é necessário se defend­er dos pre­con­ceitos. “A gente tem con­ver­sa­do com ela des­de peque­na. Con­seguimos mostrar para ela de uma for­ma nat­ur­al”.

Inspirações

12/08/2023, O pai Hugo Teles com seus filhos. - Matéria para o dia dos pais. Foto: Aquivo Pessoal
Repro­dução: 12/08/2023, Hugo Teles, pai de Cami­la e João, afir­ma que adoção e racis­mo não são tabus den­tro de casa. Foto: Arqui­vo Pes­soal

Por falar em exper­iên­cia forte, a história de pater­nidade do advo­ga­do Hugo Teles, de 44 anos, é inspi­rado­ra. Pai de João, de 13 anos, e de Cami­la, de 12, ele se preparou para a pater­nidade, a grande exper­iên­cia de sua vida. Ele e a esposa, Kari­na, ado­taram os amores da vida quan­do eram bebês. Tudo foi tão trans­for­mador para ele que se tornou vol­un­tário em um grupo de apoio à adoção.

Quan­do cri­ança, ele teve um câncer lin­fáti­co e, depois, desco­briu que era estéril. “Opta­mos pelo cam­in­ho da adoção. Nes­sa cam­in­ha­da, eu con­struí a min­ha a min­ha ideia do que seria um pai antes dos meni­nos chegarem”. Ele e a esposa começaram a fre­quen­tar gru­pos de apoio e dis­cussão de pater­nidade e mater­nidade por adoção. “Foi tão inspi­rador que pas­samos a aju­dar as pes­soas que estavam na nos­sa situ­ação ante­ri­or”.

Ness­es gru­pos, pud­er­am com­preen­der mais sobre pre­con­ceitos, estig­mas e desafios. Os pais bran­cos e os fil­hos negros con­ver­sam sobre racis­mo mes­mo enten­den­do que, no caso da família deles, não hou­ve até hoje algo explíc­i­to. “Depois que eu me tornei pai por adoção, come­cei a perce­ber de uma for­ma difer­ente o racis­mo estru­tur­al que existe no Brasil”.

Para con­ver­sar sobre adoção e diver­si­dade, o pai encon­trou no cin­e­ma, e em histórias de heróis como Super-Homem e Homem Aran­ha, entre out­ros, um cam­in­ho. “Muitos super-heróis são fil­hos por adoção, por exem­p­lo”. Além do cin­e­ma, o pai é par­ceiro do fute­bol de João e apren­deu pratos difer­entes porque a fil­ha gos­ta de coz­in­har. O paizão não para nun­ca. Pula na pisci­na, anda de bici­cle­ta, leva para esco­la. E vol­ta para o grupo de adoção para aju­dar out­ros pais a des­fru­tar da ale­gria, da aven­tu­ra mais desafi­ado­ra e do amor incondi­cional que cer­ta vez imag­i­nou não ser pos­sív­el.

Edição: Marce­lo Brandão

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