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Pais quilombolas e indígenas defendem legado de respeito à natureza

Repro­dução: © Aqui­vo Pes­soal

Para eles, paternidade não é deixar bens, mas transmitir conhecimento


Pub­li­ca­do em 13/08/2023 — 08:30 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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A her­ança nas plan­tas da roça, no barul­ho do rio, no roche­do do monte, no can­to dos pás­saros, no movi­men­to das man­hãs, no silên­cio da noite. O val­or do respeito à ter­ra e da luta para se man­ter no mes­mo lugar. Para comu­nidades tradi­cionais, o sig­nifi­ca­do da pater­nidade não está na lig­a­do a bens que são deix­a­dos, mas ao lega­do que per­manece. 

“O pai deve pas­sar tudo. É um livro aber­to a ensi­nar. Her­ança não tem o mes­mo sen­ti­do que se tem em grandes cidades. Há uma difer­ença grande de olhar”, diz o indí­ge­na Hilário Kanaykõ Xakri­abá, de 62 anos, morador da Aldeia Bar­reto Pre­to, em São João das Mis­sões (MG).

A her­ança que ele rece­beu do pai e que pas­sou aos qua­tro fil­hos é o de rev­er­en­ciar, con­forme entende, as palavras e os gestos. Na comu­nidade em que vive, são cer­ca de mil pes­soas na práti­ca de agri­cul­tura de sub­sistên­cia. Lá plan­tam mil­ho, fei­jão, arroz, abób­o­ra, melan­cia…

“Pre­cisa respeitar o meio ambi­ente para a roça e para a pesca con­tin­uarem vivas”. Ele expli­ca que o seu povo está em 42 aldeias, incluin­do tam­bém os povoa­d­os que vivem em Itacaram­bi, cidade viz­in­ha. Ele diz que o pai, na figu­ra dos mais vel­hos e tam­bém dos caciques, é ouvi­do em cada palavra pelos mais novos.

12/08/2023, Filha Márcia e José Fragoso. - Matéria para o dia dos pais. Foto: Aquivo Pessoal
Repro­dução: 12/08/2023, Már­cia Fer­reira da Sil­va desta­ca os ensi­na­men­tos de luta pela ter­ra trans­mi­ti­dos pelo pai, José Fragoso. Foto: Arqui­vo Pes­soal

Um professor

A her­ança é a luta, con­forme expli­ca o cacique José Fragoso, de 71 anos, do povo pataxó. Ele vive em Bom Jesus da Lapa (BA), na Aldeia Tibá. Ele é pai de cin­co fil­hos. E bus­ca ten­tar pas­sar o que ouviu do pai dele e tam­bém do avô. “O pai é como um pro­fes­sor. O que eu ouvi pas­sei pra eles”.

“Eles” são mais até que os fil­hos biológi­cos. São as mais de 100 pes­soas que vivem na aldeia. Como Fragoso se tornou o mais vel­ho no lugar, é como se fos­se um pai deles todos. Foi com os mais anti­gos que apren­deu o mel­hor momen­to para a banana, aba­caxi, melan­cia e para o uru­cum. Apren­deu que tem que haver respeito à natureza. O exce­dente do que con­somem é ven­di­do em feir­in­ha na região. Neste ano, a prefeitu­ra com o que é plan­ta­do pelos indí­ge­nas, moti­vo de grande orgul­ho do pai indí­ge­na.

Uma das fil­has do cacique é a agente de saúde Már­cia Fer­reira da Sil­va, de 47 anos, que se emo­ciona ao falar do pai. “Ele me ensi­nou o respeito às pes­soas e ao meio ambi­ente. Ele sem­pre focou muito val­orizar a mãe ter­ra, a nos­sa cul­tura e o modo de viv­er, para não deixar acabar. Ele nos moti­va sem­pre a nun­ca desi­s­tir”.

Quilombo, o gol e o futuro

12/08/2023, Florisvaldo e Marcos Flávio. - Matéria para o dia dos pais. Foto: Aquivo Pessoal
Repro­dução: 12/08/2023, Orgul­ho do pai, Floris­val­do, Mar­cos Flávio é sur­do e jogador da Seleção Brasileira para defi­cientes audi­tivos. Foto: Arqui­vo Pes­soal

Ain­da em Bom Jesus da Lapa (BA), uma comu­nidade quilom­bo­la, a Araçá Cari­acá, tam­bém bus­ca man­ter os ensi­na­men­tos dos pais, dos mais vel­hos. Floris­val­do Rodrigues, de 51, vive em gratidão com a comu­nidade de mais de 700 pes­soas. Ele recor­da que o maior pre­sente como pai que ele rece­beu foi o apoio de todos na cri­ação de um fil­ho defi­ciente audi­ti­vo, Mar­cos Flávio da Sil­va, de 25 anos.

“As pes­soas me aju­daram, estim­u­la­ram que ele prat­i­cas­se esporte e hoje ele joga em Brasília, na Seleção Brasileira para pes­soas com defi­ciên­cia audi­ti­va”. Segun­do ele, um pre­sente que ele não esper­a­va.

O rapaz afir­mou, à reportagem da Agên­cia Brasil,  que tem muito amor pela comu­nidade em que nasceu e cresceu, e tam­bém e pelo pai que o impul­sio­nou a bus­car seus son­hos. “Eu agradeço muito por esse momen­to que estou pas­san­do e quero aju­dar a min­ha família. Como sur­do, eu fiquei muito feliz por eles me aceitarem. Eu ten­ho muito intim­i­dade com meu pai porque ele é guer­reiro e amoroso por mim e para min­ha família. Estou sem palavras para diz­er”. As palavras e os son­hos con­cretiza­dos do fil­ho for­mam o golaço que o pai comem­o­ra todos os dias.

Edição: Marce­lo Brandão

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