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Palácio da Alvorada, 1º prédio público da capital, completa 65 anos

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Lula e Janja querem que o local volte a receber visitantes


Pub­li­ca­do em 30/06/2023 — 09:05 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Do aman­hecer ao pôr do sol, a luz rebril­ha. Um painel doura­do, cri­a­do pelo artista plás­ti­co Athos Bul­cão (1918 — 2008), está no salão de entra­da do Palá­cio da Alvo­ra­da, o primeiro pré­dio públi­co da cap­i­tal brasileira. Há, no painel, son­hos inscritos com letras em rele­vo. 

“Deste Planal­to Cen­tral, des­ta solidão que em breve se trans­for­mará em cére­bro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o aman­hã do meu país e anteve­jo esta alvo­ra­da com fé inque­bran­táv­el e uma con­fi­ança sem lim­ites no seu grande des­ti­no”. As palavras são do então pres­i­dente Jusceli­no Kubitschek.

Esse lugar, que é a casa de pres­i­dentes brasileiros e suas famílias há exatos 65 anos, é con­sid­er­a­do por espe­cial­is­tas um “palá­cio difer­ente”, sin­gu­lar e plur­al ao mes­mo tem­po.  Fru­to da genial­i­dade do arquite­to Oscar Niemey­er e pron­to dois anos antes de a cap­i­tal ser inau­gu­ra­da, o Alvo­ra­da é recon­heci­do por pesquisadores por car­ac­terís­ti­cas cul­tur­ais da brasil­i­dade. A con­strução começou em 1957.

“No meu entendi­men­to, Niemey­er foi magis­tral ali. É o pré­dio mais impor­tante que ele criou. Tem ino­vação e tudo o que não se encon­tra­va na arquite­tu­ra brasileira até então”, afir­ma o  dire­tor-curador dos Palá­cios Pres­i­den­ci­ais do Brasil, Rogério Car­val­ho.  Ele recor­da que o escritor francês André Mal­raux (1901–1976) afir­mou que as col­u­nas do palá­cio for­mavam o ele­men­to arquite­tur­al mais impor­tante des­de as col­u­nas gre­gas.

Car­val­ho entende que se tra­ta de uma con­strução que sur­preende, tan­to para quem vê de fora, como para quem visi­ta o seu inte­ri­or. “O arquite­to inglês Nor­man Fos­ter (88 anos), por exem­p­lo, con­sid­er­a­do um dos prin­ci­pais profis­sion­ais do mun­do na área, ficou muito impres­sion­a­do com a qual­i­dade da arquite­tu­ra e com o nív­el de acaba­men­to”. O dire­tor con­tex­tu­al­iza que foi a cor­agem de Jusceli­no que via­bi­li­zou a con­strução. “É uma obra que até hoje sur­preende, é exce­lente rep­re­sen­tante da arquite­tu­ra mod­er­na. É a sín­tese da casa brasileira”.

Reabertura

Sur­preende diari­a­mente até quem mora no local. “Todo dia que eu chego aqui é sem­pre muito impac­tante. Morar aqui é impres­sio­n­ante. É viv­er em um pré­dio históri­co como esse, em que já moraram tan­tos pres­i­dentes e onde já acon­te­ce­r­am tan­tas decisões históri­c­as”, ressaltou a primeira-dama brasileira, a sociólo­ga Rosân­gela Lula da Sil­va, a Jan­ja.

Ela rece­beu a equipe de reportagem da Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC) no Palá­cio da Alvo­ra­da, nes­ta sem­ana, e rat­i­fi­cou o dese­jo dela e do pres­i­dente Lula de que o pré­dio volte a rece­ber vis­i­tantes, o que foi sus­pen­so no gov­er­no ante­ri­or.

A primeira-dama ver­i­fi­cou e divul­gou, no iní­cio do ano, que o mobil­iário e equipa­men­tos do Palá­cio da Alvo­ra­da estavam degrada­dos e com prob­le­mas de manutenção. O casal se mudou para o Alvo­ra­da em fevereiro. Além do restau­ro necessário, há um cuida­do espe­cial de plane­ja­men­to para abrir o palá­cio ao públi­co tam­bém em função dos ataques ocor­ri­dos em 8 de janeiro con­tra os pré­dios públi­cos e con­tra a democ­ra­cia.

À Agên­cia Brasil, Jan­ja disse que espera que o Alvo­ra­da volte a ser aber­to ao públi­co ain­da neste ano ou, no máx­i­mo, no iní­cio de 2024. Ela adiantou que gostaria de faz­er a reaber­tu­ra com exposição de artis­tas con­tem­porâ­neos, par­tic­u­lar­mente mul­heres. “Eu gos­to muito de Djani­ra (1914 — 1979) e da Tar­si­la do Ama­r­al (1886 — 1973). Meu son­ho é reabrir o Alvo­ra­da quan­do a gente con­seguir traz­er de vol­ta ao Brasil a prin­ci­pal tela de Tar­si­la do Ama­r­al, que é o Aba­poru”, disse. A tela está em um museu na Argenti­na.

28/06/2023 - Brasília - A primeira dama do Brasil, Janja Lula da Silva, durante entrevista exclusiva a EBC, no Palácio da Alvorada. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: 28/06/2023 — Brasília — A primeira dama do Brasil, Jan­ja Lula da Sil­va, durante entre­vista exclu­si­va à EBC, no Palá­cio da Alvo­ra­da. — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Jan­ja entende que esse seria um papel impor­tante a ser desem­pen­hado pelas exposições no Palá­cio da Alvo­ra­da, o de apre­sen­tar obras de arte brasileiras.  “A gente pre­cisa ren­o­var o con­ceito de cul­tura e mostrar como o Brasil é rico, como a cul­tura movi­men­ta a econo­mia do país, gera emprego. Isso é muito impor­tante. Estar cuidan­do desse patrimônio aqui me dá orgul­ho”, disse.

Para o dire­tor-curador dos Palá­cios Pres­i­den­ci­ais, Rogério Car­val­ho, a ocu­pação dos espaços com arte brasileira ger­aria inter­esse não só da vis­i­tação públi­ca, mas garan­tiria tam­bém vis­i­bil­i­dade aos tra­bal­hos nacionais em even­tos ilus­tres com out­ros chefes de Esta­do e rep­re­sen­tantes estrangeiros no Palá­cio da Alvo­ra­da. “A nos­sa intenção é mostrar o que o Brasil tem de mel­hor. Existe um fluxo muito grande de pes­soas que pas­sam por ali, de rep­re­sen­tantes de out­ros país­es, inclu­sive, que fari­am jus­ta­mente com que essa arte seja vista por mais pes­soas”.

Car­val­ho expli­ca que, durante o gov­er­no de Michel Temer, pelo menos 48 obras que estavam no Palá­cio da Alvo­ra­da acabaram encam­in­hadas para out­ros espaços, como o Museu Nacional de Belas Artes. Essas peças vão retornar ao Alvo­ra­da. Inclu­sive, existe a intenção de que parte do acer­vo se torne itin­er­ante e seja expos­to em regiões admin­is­tra­ti­vas do Dis­tri­to Fed­er­al, de for­ma a garan­tir aces­so às difer­entes expressões cul­tur­ais, que não vão ficar restri­tas aos palá­cios. Mostrar obras em out­ros espaços é uma for­ma de con­vi­dar os cidadãos brasileiros a con­hecer mais sobre o patrimônio nacional, como é o caso do Palá­cio da Alvo­ra­da, avalia o arquite­to.

Plural

Quem já con­hece ou vier a vis­i­tar o Palá­cio da Alvo­ra­da tem a opor­tu­nidade, segun­do arquite­tos entre­vis­ta­dos, de ter aces­so a uma obra plur­al e muito difer­ente, que é atu­alís­si­ma, mes­mo após 65 anos de história.

Para a pro­fes­so­ra Maria Fer­nan­da Derntl, da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB), o Palá­cio da Alvo­ra­da propõe um con­ceito muito difer­ente do tradi­cional. “Não é o palá­cio rebus­ca­do ou que tem uma mon­u­men­tal­i­dade pesa­da, como a gente pen­saria para um palá­cio bar­ro­co ou renascen­tista”. Para ela, essa “mon­u­men­tal­i­dade” vem da lev­eza da arquite­tu­ra, em uma expressão plás­ti­ca do con­cre­to arma­do, com pro­porções e con­tinuidade entre espaços inter­nos e exter­nos.

“Eu acho inter­es­sante tam­bém como as col­u­nas do Palá­cio da Alvo­ra­da são um dos ele­men­tos mais expres­sivos, que são repro­duzi­dos e apro­pri­a­dos pop­u­lar­mente em out­ras for­mas de arquite­tu­ra, em anún­cios pub­lic­itários e em ima­gens de toda a natureza”. Para ela, a col­u­na do Palá­cio da Alvo­ra­da se tornou assim o próprio sím­bo­lo de Brasília.

O pro­fes­sor Fred­eri­co Flós­cu­lo, tam­bém da UnB, lem­braque o Palá­cio da Alvo­ra­da foi pro­je­ta­do e con­struí­do antes do resul­ta­do final do con­cur­so de urban­is­mo para a nova cap­i­tal. “Jusceli­no real­mente que­ria que isso fos­se adi­anta­do. Ele que­ria uma imagem do que seria a nova cap­i­tal. Esse pro­je­to, por ter sido o número um de Brasília, deu um tra­bal­hin­ho inter­es­sante porque Oscar Niemey­er sabia da importân­cia de começar bem, começar com um palá­cio que fos­se mem­o­ráv­el”.

Não foi fácil, mas chegaram a um pro­je­to. “A decisão sobre o Palá­cio da Alvo­ra­da foi a mais sim­ples de todas. Um palá­cio hor­i­zon­tal­iza­do com aque­la col­u­na­ta belís­si­ma, uma rein­venção de uma col­u­na mod­ernista, mas com o uso de cur­vas”.

O engen­heiro que cal­cu­lou a via­bil­i­dade do que Niemey­er colo­ca­va no papel foi Joaquim Car­doso. “Esse palá­cio real­mente é extra­ordinário. Tem influên­cias em palá­cio francês, que é lon­go e hor­i­zon­tal. Essa ideia de lev­eza e de transparên­cia per­me­ia o que o mod­ernismo, nos seus mel­hores momen­tos, con­segue prover”.

O arquite­to Guil­herme Essvein de Almei­da, que fez pesquisa sobre o Palá­cio da Alvo­ra­da na Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio Grande do Sul (UFRGS), chama a atenção para uma história inter­es­sante sobre a edi­fi­cação — é que o palá­cio gov­er­na­men­tal (o do Planal­to) seria tam­bém no lugar que é o Alvo­ra­da.

“Depois, mudaram de ideia por uma questão de estraté­gia de urban­is­mo. A cidade tin­ha toda uma car­ga cívi­ca e o palá­cio do gov­er­no teria que ser mais cen­tral”. Por isso, Niemey­er teria muda­do de ideia. “Sem dúvi­da, ess­es palá­cios têm influên­cia um do out­ro”.

Para ele, as col­u­nas, que teri­am for­ma­to de fol­has, caules ou até de dançari­nas, teri­am sido inspi­radas mes­mo nas velas náu­ti­cas. A con­strução teria influên­cia ain­da em palá­cios gov­er­na­men­tais da cidade de Chandi­garh, na Índia.

“As col­u­nas do Palá­cio da Alvo­ra­da foram repeti­das em out­ros país­es. O Palá­cio da Alvo­ra­da  nun­ca vai envel­he­cer de fato. É um patrimônio da humanidade e uma una­n­im­i­dade entre os arquite­tos”.

Na preser­vação desse patrimônio, a autar­quia que atua é o Insti­tu­to do Patrimônio Históri­co e Artís­ti­co Nacional (Iphan). Uma das mis­sões do órgão é ori­en­tar as ações de con­ser­vação e manutenção do lugar.

“Um papel tam­bém é esclare­cer o que rep­re­sen­ta esse con­jun­to urbano mod­er­no tomba­do, que é refer­ên­cia não só do pon­to de vista arquitetôni­co, mas tam­bém do pon­to de vista dos val­ores da democ­ra­cia”, afir­mou o pres­i­dente do Iphan, Lean­dro Grass. Ele defende que, quan­to mais acessív­el à pop­u­lação for o palá­cio, mais par­tic­i­pação e inter­esse a sociedade tem em par­tic­i­par e defend­er o patrimônio históri­co.

Restauro

A defe­sa do patrimônio no Palá­cio da Alvo­ra­da tem sim­bolo­gia espe­cial neste momen­to. Em uma sala anexa à capela do con­jun­to, 13 obras dan­i­fi­cadas pelos ataques de 8 de janeiro estão sendo restau­radas, expli­ca o dire­tor-curador dos Palá­cios.

“É um espaço abso­lu­ta­mente pos­sív­el de ser uti­liza­do para isso. Em out­ros momen­tos, hou­ve recu­per­ação dos livros da bib­liote­ca e out­ras peças. Ali a gente pode ter um con­t­role e acom­pan­har de per­to”. Peças como de Di Cav­al­can­ti, de Bruno Gior­gi, de Vic­tor Brecheret … estão em proces­so de restau­ração no Alvo­ra­da.

Edição: Graça Adju­to

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