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Palácios e parte do acervo destruído em 8 de janeiro foram restaurados

Repro­dução: © Wal­lis­son Breno/Audiovisual / PR

Prejuízos de atos golpistas foram milionários, com perdas inestimáveis


Pub­li­ca­do em 08/01/2024 — 09:23 Por Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Os atos de bar­bárie reg­istra­dos em tem­po real na Esplana­da dos Min­istérios e na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em uma tarde nubla­da de domin­go, no dia 8 de janeiro do ano pas­sa­do, deixaram um ras­tro de destru­ição do patrimônio públi­co que, mes­mo depois de um ano, ain­da não foi total­mente recu­per­a­do.

A depredação provo­ca­da por golpis­tas atingiu parte do con­jun­to arquitetôni­co dos três prin­ci­pais palá­cios da Repúbli­ca, que são tomba­dos como patrimônio mundi­al, espe­cial­mente vidros, pare­des e teto, mas foi espe­cial­mente sev­era em relação a equipa­men­tos, mobil­iário e obras de arte que fazi­am parte do acer­vo, muitos dos quais ain­da pas­sam ou pas­sarão por del­i­ca­dos proces­sos de restau­ração.

“As equipes do [Insti­tu­to do Patrimônio Históri­co e Artís­ti­co Nacional] Iphan, por meio da super­in­tendên­cia no Dis­tri­to Fed­er­al, fiz­er­am um min­u­cioso lev­an­ta­men­to dos danos, primeiro no con­jun­to arquitetôni­co, que é tomba­do. Nos­sa primeira ação foi a recu­per­ação dos bens imóveis, como vidraçaria, már­more, recom­posição dos plenários. Em segui­da, aju­damos a elab­o­rar relatórios sobre os bens inte­gra­dos e bens móveis, painéis, obras de arte que fazi­am parte dos acer­vos de cada palá­cio. Eu creio que a gente teve uma respos­ta pos­i­ti­va do Brasil, como Esta­do, na capaci­dade de gestão da crise e dos bens recu­per­a­dos”, expli­cou o pres­i­dente do Iphan, Lean­dro Grass, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

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Museu da Democracia

Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília
Repro­dução: Museu da Democ­ra­cia será ergui­do próx­i­mo ao Teatro Nacional Cláu­dio San­toro, no cen­tro de Brasília — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Promes­sa da min­is­tra da Cul­tura, Mar­gareth Menezes, a cri­ação de um memo­r­i­al sobre os atos golpis­tas deve tomar for­ma por meio da con­strução do Museu da Democ­ra­cia. A pre­visão é de inves­ti­men­tos da ordem de R$ 40 mil­hões no empreendi­men­to, com recur­sos do Pro­gra­ma de Acel­er­ação do Cresci­men­to (PAC).

A ini­cia­ti­va foi anun­ci­a­da pelo Min­istério da Cul­tura (MinC) na últi­ma sex­ta-feira (5). Segun­do a pas­ta, des­de o iní­cio de 2023, após os ataques anti­democráti­cos de 8 de janeiro, o órgão vem tra­bal­han­do para via­bi­lizar a con­strução do museu.

O local foi definido após trata­ti­vas entre o MinC e a Sec­re­taria de Patrimônio da União e será ergui­do no setor cul­tur­al de Brasília, lado norte da Esplana­da dos Min­istérios, ao lado do Teatro Nacional Cláu­dio San­toro. A des­ti­nação da área será for­mal­iza­da por meio de acor­do com a Sec­re­taria de Patrimônio da União (SPU).

Educação para a memória

Para Lean­dro Grass, além do crime con­tra o Esta­do democráti­co, os atos de van­dal­is­mo apon­tam para um out­ro desafio civ­i­liza­tório, que é a sal­va­guar­da do patrimônio cul­tur­al e artís­ti­co de um povo e uma nação:

“A primeira guardiã do patrimônio cul­tur­al é a própria pop­u­lação. Se a gente não conec­tar o povo ao seu patrimônio, é impos­sív­el pre­servá-lo.”

A depredação do 8 de janeiro tam­bém impul­sio­nou a retoma­da de uma agen­da de edu­cação pat­ri­mo­ni­al por parte do Iphan, que no ano pas­sa­do lançou um edi­tal no val­or recorde de R$ 2 mil­hões para pro­mover pro­je­tos, em todo o país, para o recon­hec­i­men­to, a val­oriza­ção e a preser­vação do patrimônio cul­tur­al brasileiro. “É pre­ciso fomen­tar o sen­ti­men­to de per­tenci­men­to da pop­u­lação com o que é patrimônio cole­ti­vo”, acres­cen­tou o pres­i­dente do Iphan.

Frame de vídeo de câmera de segurança mostrando vândalo em ação no Palácio do Planalto
Repro­dução: Imagem mostra vân­da­lo destru­in­do reló­gio cen­tenário no Palá­cio do Planal­to — Reprodução/ TV Brasil

Uma das cenas repro­duzi­das à exaustão e que ilus­tra o grau de sel­vage­ria e estu­pid­ez dos atos foi o momen­to em que um dos inva­sores, Antônio Cláu­dio Alves Fer­reira, destru­iu um reló­gio do sécu­lo 17, que esta­va expos­to no Palá­cio do Planal­to.

Con­struí­do pelo relo­joeiro Balt­haz­ar Mar­tinot Boulle, a peça havia sido um pre­sente da corte france­sa ao imper­ador Dom João VI, em 1808. Tan­to o reló­gio quan­to a caixa de André Boulle, destruí­dos durante os atos de van­dal­is­mo, serão revi­tal­iza­dos a par­tir de um acor­do de coop­er­ação téc­ni­ca for­mal­iza­do com a Embaix­a­da da Suíça no Brasil. Não é pos­sív­el esti­mar o cus­to dessa recu­per­ação, no momen­to.

Inventário do 8 de janeiro

Out­ras cer­ca de 20 obras destruí­das no Palá­cio do Planal­to pas­sarão por um proces­so de restau­ração em um lab­o­ratório mon­ta­do no Palá­cio da Alvo­ra­da, fru­to de um acor­do de coop­er­ação com o Iphan e a Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Pelotas (UFPel).

No Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al (STF), que reg­istrou quase mil itens fur­ta­dos, que­bra­dos ou com­ple­ta­mente destruí­dos, os pre­juí­zos mate­ri­ais ultra­pas­sam R$ 12 mil­hões, mas a restau­ração de obras de arte ain­da não foi total­mente men­su­ra­da.

Já no Con­gres­so Nacional, cer­ca de 82% das obras van­dal­izadas na Câmara dos Dep­uta­dos pas­saram por trata­men­to, no entan­to, muitas nem voltaram a ser expostas. No Sena­do, a recu­per­ação dos bens muse­al­iza­dos total­i­zou mais R$ 483 mil, mas ain­da há peças em proces­sos de restau­ração.

A reportagem da Agên­cia Brasil pediu um bal­anço atu­al­iza­do sobre as refor­mas dos pré­dios e restau­ração dos bens van­dal­iza­dos no 8 de janeiro, detal­ha­dos a seguir:

Palácio do Planalto

Os reparos e refor­mas na estru­tu­ra pre­di­al da sede da Presidên­cia da Repúbli­ca foram via­bi­liza­dos pelos con­tratos de manutenção que já estavam em vig­or. Ao todo, foram quase R$ 300 mil para con­ser­tos na parte elétri­ca, vidraçaria, divisórias, pin­tu­ra, ban­cadas e tam­pos de már­more, peças san­itárias, gradil e ele­vador dan­i­fi­ca­do.

Já a restau­ração das demais peças de val­or históri­co e artís­ti­co estão em anda­men­to no lab­o­ratório mon­ta­do para esse fim, sem pra­zo para con­clusão e se cus­tos esti­ma­dos. A lista inclui:

  • Pin­tu­ra sobre tela As Mulatas, de Emil­iano Di Cav­al­can­ti
  • Escul­tura em bronze O Flautista, de Bruno Gior­gi
  • Escul­tura em madeira, de Frans Kra­jcberg
  • Reló­gio históri­co de Balt­haz­ar Mar­tinot (em parce­ria com a Suíça)
  • Pin­tu­ra sobre madeira Ban­deira, de Jorge Eduar­do
  • Escul­tura de fer­ro de Amíl­car de Cas­tro
  • Mesa impe­r­i­al em madeira
  • Mar­que­sa em met­al e pal­ha, de Anna Maria Niemey­er
  • Retra­to de auto­ria não iden­ti­fi­ca­da
  • Ânfo­ra por­tugue­sa em cerâmi­ca esmal­ta­da
  • Mesa-vit­rine de Sér­gio Rodrigues
  • Pin­tu­ra abstra­ta de auto­ria não iden­ti­fi­ca­da
  • Pin­tu­ra de batal­ha de auto­ria não iden­ti­fi­ca­da

Out­ras três obras impor­tantes, como uma escul­tura de fer­ro, de Amíl­car de Cas­tro, a mar­que­sa em met­al e pal­ha, de Ana Maria Niemey­er, e a mesa-vit­rine de Sér­gio Rodrigues rece­ber­am cuida­dos de profis­sion­ais das equipes da Dire­to­ria de Engen­haria e Patrimônio da própria Presidên­cia da Repúbli­ca e foram restau­ra­dos.

Congresso Nacional

Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto.
Repro­dução: Man­i­fes­tantes inva­dem inte­ri­or do Con­gres­so Nacional — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

No Sena­do Fed­er­al, as obras e serviços necessários para recu­per­ação das insta­lações físi­cas no edifí­cio prin­ci­pal, no Anexo I e no Anexo II totalizaram R$ 889,4 mil. Em out­ubro, o Sena­do rein­stalou a tapeçaria de Burle Marx no Salão Negro do Con­gres­so Nacional. Nas con­tas do órgão, a recu­per­ação dos itens de val­or históri­co e artís­ti­cos somou cer­ca R$ 483 mil, resta­do dois bens para serem revi­tal­iza­dos.

Um relatório disponi­bi­liza­do pela Câmara dos Dep­uta­dos mostra que 46 pre­sentes pro­to­co­lares que estavam em exibição na casa foram trata­dos e higi­en­iza­dos, sendo que um segue desa­pare­ci­do e seis ain­da em restau­ro, total­izan­do 84,78% de recu­per­ação. Já a lista de obras de arte e bens inte­gra­dos à arquite­tu­ra do pré­dio foram 82,3% restau­ra­dos.

Seguem em proces­so de restau­ro, por exem­p­lo, a maque­te tátil do Con­gres­so, a escul­tura em bronze de Alfre­do Ceschi­at­ti (1977) e o painel Ven­ta­nia, de Athos Bul­cão.

O cus­to de recu­per­ação de um total de 68 bens do acer­vo cul­tur­al da Câmara dos Dep­uta­dos, entre pin­turas, escul­turas, pre­sentes pro­to­co­lares, painéis, entre out­ros, somou cer­ca de R$ 1,4 mil­hão, com paga­men­to de mão-de-obra espe­cial­iza­da e reposição de peças.

Além dis­so, foram destruí­dos dezenas de out­ros móveis e equipa­men­tos eletrôni­cos que causaram mais de R$ 1,3 mil­hão em pre­juí­zo.

Supremo Tribunal Federal

A destru­ição no edifí­cio-sede do STF ger­ou um pre­juí­zo de R$ 8,6, com 951 itens que fur­ta­dos, que­bra­dos ou com­ple­ta­mente destruí­dos, segun­do a asses­so­ria do órgão. Além dis­so, a despe­sa para recon­strução do plenário, com tro­ca de car­petes, corti­nas e out­ros, somou out­ros R$ 3,4 mil­hões, total­izan­do cer­ca de R$ 12 mil­hões em pre­juí­zo para os cofres públi­cos.

Até o momen­to, o STF infor­mou terem sido restau­ra­dos 116 itens:

- 22 escul­turas (entre bus­tos, estat­ue­tas, Cru­ci­fixo do Plenário e Está­tua A Justiça);
— 21 telas e tapeçarias;
— 4 gale­rias de retratos (gale­ria de min­istros, de pres­i­dentes, de dire­tores-gerais e secretários-gerais);
— 19 obje­tos (lus­tres, Brasão da Repúbli­ca, vasos);
— 50 itens de mobil­iário (cadeiras, mesas, móv­el expos­i­tor da Con­sti­tu­ição, etc.).

Tam­bém foi necessária a sub­sti­tu­ição de qua­tro telas do fotó­grafo Sebastião Sal­ga­do. Seguem em análise três espel­hos e nove cadeiras que ain­da não tiver­am a restau­ração con­cluí­da, em razão da neces­si­dade de mate­r­i­al especí­fi­co que está sendo adquiri­do elo tri­bunal.

Ain­da segun­do o STF, há out­ros 15 itens, entre vasos e mobil­iários, passíveis de restau­ração. Esse acer­vo, que sofreu maiores avarias, está sendo obje­to de estu­do para definição da téc­ni­ca mais apro­pri­a­da e do mate­r­i­al necessário. Out­ros 106 itens históri­cos de val­or imen­su­ráv­el, como escul­turas e móveis que não pud­er­am ser restau­ra­dos e não podem ser repos­tos, e foram reg­istra­dos como per­das irreparáveis.

A Supre­ma Corte ain­da não con­seguiu men­su­rar o val­or total a ser gas­to com as restau­rações em cur­so.

“Quan­to aos insumos uti­liza­dos nas restau­rações, além do mate­r­i­al que o STF já tin­ha em estoque e de mate­ri­ais que con­seguiu gra­tuita­mente em parce­rias, hou­ve aquisições ao decor­rer do ano de 2023. Diante dess­es dados, não há como esti­mar o cus­to indi­vid­ual de cada restau­ração. Vale lem­brar que os itens dan­i­fi­ca­dos, com natureza de patrimônio cul­tur­al, são de val­or ines­timáv­el”, infor­mou a asses­so­ria do tri­bunal, em nota à reportagem.

Edição: Denise Griesinger

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