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Pandemia afeta venda de chocolates, pescados e a hotelaria na Páscoa

Brasília - Compra de ovos de páscoa em lojas de Brasília. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

© Mar­ce­lo Camargo/Agência Bra­sil (Repro­du­ção)

Celebração ocorre em meio às restrições para conter covid-19


Publi­ca­do em 01/04/2021 — 06:20 Por Alex Rodri­gues — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Bra­sí­lia

Com a pan­de­mia de covid-19 for­çan­do esta­dos e muni­cí­pi­os a ado­ta­rem medi­das que limi­tam a cir­cu­la­ção de pes­so­as e o fun­ci­o­na­men­to de esta­be­le­ci­men­tos, comer­ci­an­tes bus­cam for­mas de apro­vei­tar a Sema­na San­ta para incre­men­tar as ven­das e fatu­rar.

Na tra­di­ção cató­li­ca, a sema­na em que se cele­bra a Sex­ta-Fei­ra San­ta e a Pás­coa exal­ta a mor­te e a res­sur­rei­ção de Jesus Cris­to. Em tem­pos nor­mais, a data impul­si­o­na não só as ven­das do comér­cio — prin­ci­pal­men­te de pes­ca­dos e de cho­co­la­tes -, como tam­bém o turis­mo domés­ti­co, já que a sex­ta-fei­ra é feri­a­do.

No entan­to, pelo segun­do ano con­se­cu­ti­vo, a cele­bra­ção ocor­re em meio às res­tri­ções que afe­tam não só as cerimô­ni­as reli­gi­o­sas, como tam­bém as ati­vi­da­des comer­ci­ais. Para a Con­fe­de­ra­ção Naci­o­nal do Comér­cio de Bens, Ser­vi­ços e Turis­mo (CNC), as ven­das no vare­jo em geral devem ser 2,2% infe­ri­o­res às de 2020, movi­men­tan­do cer­ca de R$ 1,62 bilhão – o que, se con­fir­ma­do, seria o pior resul­ta­do des­de 2008.

Em nota, o pre­si­den­te da CNC, José Rober­to Tadros, afir­mou que a retra­ção nas ven­das des­te ano se deve não só às res­tri­ções de fun­ci­o­na­men­to do comér­cio, mas tam­bém ao fato de que par­te da popu­la­ção viu sua ren­da cair em um momen­to em que a des­va­lo­ri­za­ção do real fren­te ao dólar enca­re­ceu a impor­ta­ção de alguns pro­du­tos típi­cos. Segun­do a con­fe­de­ra­ção, a quan­ti­da­de de cho­co­la­tes impor­ta­da (2,9 mil tone­la­das) é a menor des­de 2013. A de baca­lhau (2,26 mil tone­la­das), a mais bai­xa des­de 2009.

Segun­do o pre­si­den­te da Asso­ci­a­ção Bra­si­lei­ra da Indús­tria de Cho­co­la­tes, Amen­doim e Balas (Abi­cab), Ubi­racy Fon­sê­ca, os fabri­can­tes de cho­co­la­te tive­ram que levar em con­ta a per­da de poder aqui­si­ti­vo de par­te dos con­su­mi­do­res para pen­sar suas estra­té­gi­as de ven­das, mas, ain­da assim, o setor está oti­mis­ta.

“A per­da de poder aqui­si­ti­vo é real. Há mui­ta gen­te sem empre­go, sem poder tra­ba­lhar. Ten­do isso em vis­ta, as fabri­can­tes de cho­co­la­te pro­cu­ra­ram ofe­re­cer pro­du­tos aces­sí­veis à popu­la­ção. Quem não puder com­prar um ovo de Pás­coa, pode adqui­rir uma bar­ra de cho­co­la­te. A estra­té­gia do setor é ofe­re­cer o que o mer­ca­do quer”, dis­se Fon­sê­ca à Agên­cia Bra­sil.

A qua­tro dias do domin­go de Pás­coa, Fon­sê­ca des­ta­cou que a indús­tria de cho­co­la­tes pre­via cri­ar, dire­ta e indi­re­ta­men­te, 11.665 vagas de tra­ba­lho tem­po­rá­rio e supe­rar as 8,5 tone­la­das ven­di­das em 2020. Metas que, segun­do ele, vão ser atin­gi­das.

“Ape­sar das difi­cul­da­des, esta­mos oti­mis­tas. Até por­que, cer­ca de 80% das ven­das de ovos de Pás­coa acon­te­cem nos super­mer­ca­dos, que estão fun­ci­o­nan­do nor­mal­men­te em qua­se todo o país. Além dis­so, mui­tos comer­ci­an­tes se pre­pa­ra­ram para aten­der aos con­su­mi­do­res pela inter­net”, comen­tou o pre­si­den­te da Abi­cab, garan­tin­do que as ven­das onli­ne, que já vinham cres­cen­do ano a ano, deram um sal­to após o iní­cio da pan­de­mia.

O geren­te de Mar­ke­ting, Fran­cis­co Alves de Faria Neto, con­fir­ma a impor­tân­cia do comér­cio digi­tal. Com duas lojas físi­cas no Dis­tri­to Fede­ral e uma cli­en­te­la esta­be­le­ci­da ao lon­go de 20 anos, a Casa do Cho­co­la­te expan­diu suas ven­das para outras uni­da­des da Fede­ra­ção gra­ças à tec­no­lo­gia.

“Tive­mos um aumen­to das ven­das onli­ne de cer­ca de 70% em com­pa­ra­ção à Pás­coa do ano pas­sa­do, quan­do lan­ça­mos o site, em meio à pan­de­mia, que nos fez ace­le­rar o pro­ces­so”, comen­tou Neto, acres­cen­tan­do que o comér­cio ele­trô­ni­co já repre­sen­ta meta­de de todas as ven­das da empre­sa.

De acor­do com o geren­te, tam­bém as ven­das nas lojas físi­cas, auto­ri­za­das a fun­ci­o­nar por comer­ci­a­li­za­rem ali­men­tos, “vão indo bem”, embo­ra cho­co­la­tes mais caros, prin­ci­pal­men­te os impor­ta­dos, tenham ven­di­do menos que o espe­ra­do. “Bai­xou mui­to o giro de vári­os dos itens impor­ta­dos que ven­de­mos. Tan­to que tive­mos que colo­car pro­du­tos em ofer­ta para não per­der mer­ca­do­ria. Mas, em geral, ven­de­mos mui­to bem nas últi­mas sema­nas.”

Pescados

Em San­tos (SP), onde o fun­ci­o­na­men­to de boa par­te do comér­cio e ser­vi­ços está sus­pen­so até o domin­go (4), os comer­ci­an­tes do tra­di­ci­o­nal Mer­ca­do de Pei­xes tive­ram que se orga­ni­zar para levar os pro­du­tos ain­da fres­cos até a casa dos cli­en­tes, que pas­sa­ram a fazer suas com­pras por tele­fo­ne. Ain­da assim, de acor­do com Alex Viei­ra, dono de um dos 20 boxes em fun­ci­o­na­men­to no local, mui­tos viram as ven­das caí­rem dras­ti­ca­men­te.

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Com esta­be­le­ci­men­to fecha­do, comer­ci­an­tes estão fazen­do entre­gas. — Susan Horas/Arquivo (Repro­du­ção)

“No nos­so caso, as ven­das caí­ram em tor­no de 60% a 70%”, afir­mou Viei­ra, cuja famí­lia está no ramo há cer­ca de 40 anos. “Esta é uma situ­a­ção total­men­te nova para todo mun­do, incluin­do os cli­en­tes. Mui­tos, que comem pei­xe sem­pre e são nos­sos fre­gue­ses há tem­pos, nos tele­fo­na­ram e ante­ci­pa­ram seus pedi­dos, mas há tam­bém aque­les que gos­tam de vir ao mer­ca­do, de ver o pei­xe, esco­lher. Des­ses, par­te não com­pra sem olhar o pro­du­to, não tem uma rela­ção de con­fi­an­ça já esta­be­le­ci­da”, acres­cen­tou o comer­ci­an­te san­tis­ta.

O pre­si­den­te da Asso­ci­a­ção Bra­si­lei­ra de Pis­ci­cul­tu­ra (Pei­xe BR), Fran­cis­co Medei­ros, des­ta­cou que o comér­cio de pes­ca­dos com­por­ta dife­ren­tes rea­li­da­des. Segun­do ele, para os pro­du­to­res de pei­xes cul­ti­va­dos (pis­ci­cul­to­res), cujos prin­ci­pais cli­en­tes são os super­mer­ca­dos (auto­ri­za­dos a fun­ci­o­nar mes­mo onde o lock­down foi ado­ta­do), as boas expec­ta­ti­vas já se con­cre­ti­za­ram.

“Os super­mer­ca­dos não estão sofren­do gran­des res­tri­ções. Pelo con­trá­rio. Estão ven­den­do mui­to bem. E, ao con­trá­rio da indús­tria pes­quei­ra marí­ti­ma, afe­ta­da pela pan­de­mia, a pis­ci­cul­tu­ra tam­bém não parou. Man­ti­ve­mos a regu­la­ri­da­de, entre­gan­do aos com­pra­do­res as quan­ti­da­des pre­vi­a­men­te esta­be­le­ci­das em con­tra­tos e sem aumen­to nos pre­ços”, comen­tou Medei­ros, esti­man­do que o seg­men­to ven­deu cer­ca de 100 mil tone­la­das ao lon­go do últi­mo mês.

“Mais uma vez, não vol­ta­mos a regis­trar uma explo­são das ven­das como as de 2018 e 2019, quan­do, em alguns locais, che­ga­ram a cres­cer 300%. Isso não acon­te­ceu, mas, nes­te ano, tam­bém não per­de­mos ven­das. Ao con­trá­rio de 2020, quan­do aí sim, fomos afe­ta­dos nega­ti­va­men­te”, afir­mou Medei­ros.

Hotelaria

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Mano­el Linha­res, pre­si­den­te da ABIH Naci­o­nal. — Divul­ga­ção ABIH Naci­o­nal (Repro­du­ção)

Outro ramo de ati­vi­da­de que cos­tu­ma aguar­dar pelo feri­a­do de Pás­coa, o setor hote­lei­ro é o mais afe­ta­do dos três. Segun­do o pre­si­den­te naci­o­nal da Asso­ci­a­ção Bra­si­lei­ra da Indús­tria de Hotéis (ABIH Naci­o­nal), Mano­el Linha­res, a taxa de ocu­pa­ção dos hotéis de todo o país não deve che­gar a 10%, agra­van­do a cri­se decor­ren­te da pan­de­mia.

“A hote­la­ria está pre­pa­ra­da para rece­ber os hós­pe­des, ado­tan­do todos os pro­to­co­los reco­men­da­dos pelas auto­ri­da­des sani­tá­ri­as, mas com par­ques, res­tau­ran­tes e outras atra­ções fecha­das em qua­se todo o país. A situ­a­ção está mui­to difí­cil. Só em São Pau­lo, 27 hotéis já fecha­ram as por­tas, demi­ti­ram fun­ci­o­ná­ri­os e os res­pon­sá­veis estão deci­din­do o que fazer com os imó­veis”, dis­se Linha­res.

Para ele, o setor pre­ci­sa urgen­te­men­te da pro­mul­ga­ção de uma ini­ci­a­ti­va seme­lhan­te à Medi­da Pro­vi­só­ria 936, de abril de 2020, pos­te­ri­or­men­te trans­for­ma­da na Lei nº 14.020, que per­mi­tiu acor­dos de redu­ção tem­po­rá­ria de jor­na­da de tra­ba­lho e salá­ri­os ou a sus­pen­são de con­tra­tos tra­ba­lhis­tas até 31 de dezem­bro do ano pas­sa­do.

“Se algo assim não for fei­to, mui­tos outros hotéis terão que encer­rar as ati­vi­da­des. Atu­al­men­te, a hote­la­ria não tem recur­sos nem para arcar com os salá­ri­os e encar­gos dos cer­ca de 1,1 milhão de pro­fis­si­o­nais que empre­ga em todo o país”, dis­se o pre­si­den­te da ABIH Naci­o­nal.

Ele pediu que o Poder Públi­co pro­mo­va cam­pa­nhas para esti­mu­lar os bra­si­lei­ros a via­jar pelo país depois que a pan­de­mia esti­ver sob con­tro­le, e que gover­nos esta­du­ais e muni­ci­pais aju­dem o setor redu­zin­do impos­tos e taxas, mes­mo que tem­po­ra­ri­a­men­te, e rene­go­ci­an­do tari­fas de ser­vi­ços essen­ci­ais. “Nes­te momen­to difí­cil, um des­con­to no IPTU [Impos­to Pre­di­al e Ter­ri­to­ri­al Urba­no, cobra­do pelas pre­fei­tu­ras] ou no ICMS [Impos­to sobre Cir­cu­la­ção de Mer­ca­do­ri­as e Ser­vi­ços, esta­du­al] cobra­do na con­ta de luz pode aju­dar a man­ter negó­ci­os e pre­ser­var empre­gos”, con­cluiu.

Edi­ção: Gra­ça Adju­to

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