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Pandemia: profissionais de saúde negras sofrem mais com desigualdades

O Distrito Federal começou a vacinar pessoas com 49 anos a partir de hoje. A vacinação contra a Covid-19 começou no dia 19 de janeiro e o DF já  recebeu 1.455.070 doses de imunizantes.
Repro­du­ção: © Fabio Rodri­gues Pozzebom/Agência Bra­sil

Estudo é da FGV, Fiocruz e Rede Covid-19 Humanidades


Publi­ca­do em 02/07/2021 — 06:30 Por Cami­la Maci­el — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — São Pau­lo

Há 15 meses atu­an­do na linha de fren­te da covid-19, pro­fis­si­o­nais de saú­de no Bra­sil ain­da se sen­tem des­pre­pa­ra­dos para lidar com a pan­de­mia, mos­tra estu­do da Fun­da­ção Getu­lio Var­gas (FGV). Entre as mulhe­res, 72,2% das entre­vis­ta­das dis­se­ram não ter infor­ma­ções sufi­ci­en­tes para tra­ba­lhar. Essa con­di­ção atin­ge 61,1% dos homens. Para pro­fis­si­o­nais negras, o per­cen­tu­al é ain­da mai­or e che­ga a 78,22%. Os pes­qui­sa­do­res des­ta­cam que os indi­ca­do­res de sen­sa­ção de des­pre­pa­ro refle­tem os dados sobre quem rece­beu mais trei­na­men­to, ori­en­ta­ções ou recur­sos.

“Essas desi­gual­da­des têm mar­cas de gêne­ro e de raça. As mulhe­res estão em situ­a­ção pior e essa dife­ren­ça vem aumen­tan­do em rela­ção aos homens ao lon­go do tem­po [da pan­de­mia]”, diz Gabri­e­la Lot­ta, uma das pes­qui­sa­do­ras res­pon­sá­veis pelo tra­ba­lho. O rela­tó­rio foi pro­du­zi­do com dados de uma enque­te onli­ne, com 1.829 pro­fis­si­o­nais de saú­de, entre os dias 1º e 20 de mar­ço des­te ano.

Esta é a quar­ta roda­da da pes­qui­sa e faz par­te de uma série rea­li­za­da pelo Núcleo de Estu­dos da Buro­cra­cia (NEB-FGV), em par­ce­ria com a Fun­da­ção Oswal­do Cruz (Fio­cruz) e a Rede Covid-19 Huma­ni­da­des. A pro­pos­ta é com­pre­en­der as per­cep­ções dos pro­fis­si­o­nais que atu­am na linha de fren­te da pan­de­mia sobre as con­di­ções de tra­ba­lho nes­se perío­do

Sobre o rece­bi­men­to de equi­pa­men­tos, trei­na­men­to e tes­ta­gem, tam­bém obser­vam-se dis­pa­ri­da­des. Enquan­to 57,93% dos homens bran­cos dis­se­ram ter rece­bi­do equi­pa­men­tos de for­ma con­tí­nua, o per­cen­tu­al cai para 38,12% entre os homens negros. Em rela­ção ao trei­na­men­to, 43,9% dos homens bran­cos rela­ta­ram ter rece­bi­do, e as mulhe­res negras foram as que menos rece­be­ram, com 20,94%. A tes­ta­gem de for­ma con­tí­nua foi cita­da por 22,5% dos homens bran­cos e 11,5% das mulhe­res negras.

“A gen­te acha­va que ao lon­go do tem­po essas desi­gual­da­des fos­sem ame­ni­za­das, mas, pelo con­trá­rio, elas foram se acen­tu­an­do”, afir­ma a pes­qui­sa­do­ra. Gabri­e­la expli­ca que a aná­li­se por gêne­ro e raça se mos­trou fun­da­men­tal ao lon­go do tra­ba­lho. “Nas outras eta­pas ficou cada vez mais evi­den­te que embo­ra a pan­de­mia afe­tas­se a todas as pes­so­as, e espe­ci­al­men­te os pro­fis­si­o­nais de saú­de, ela atin­gia de manei­ra dife­ren­te mulhe­res e homens, espe­ci­al­men­te as ques­tões de raça.”

A desi­gual­da­de apa­re­ce tam­bém nas áre­as de saú­de men­tal e divi­são do tra­ba­lho domés­ti­co. Para 67,3% dos homens entre­vis­ta­dos, a saú­de men­tal teve impac­to duran­te a pan­de­mia. Entre as mulhe­res, o índi­ce che­ga a 83,7%. Mais da meta­de das pro­fis­si­o­nais de saú­de dis­se­ram dedi­car mais de 14 horas por sema­na às tare­fas domés­ti­cas, con­tra 39% dos homens.

Em ter­mos com­pa­ra­ti­vos das eta­pas do levan­ta­men­to Gabri­e­la mos­tra que, no geral, os indi­ca­do­res se man­ti­ve­ram ruins. “O sen­ti­men­to de des­pre­pa­ro dimi­nuiu um pou­co, o aces­so a equi­pa­men­tos de pro­te­ção indi­vi­du­al aumen­tou, o aces­so à tes­ta­gem aumen­tou, o supor­te e ori­en­ta­ção aumen­ta­ram mas outros indi­ca­do­res se man­ti­ve­ram mui­to ruins o tem­po intei­ro.”

Gabri­e­la cha­ma aten­ção para o esgo­ta­men­to dos pro­fis­si­o­nais de saú­de. “Esta­mos com alto per­cen­tu­al de ado­e­ci­men­to, mor­ta­li­da­de mui­to alta tam­bém, espe­ci­al­men­te antes da vaci­na­ção, pro­fis­si­o­nais que estão com a saú­de men­tal aba­la­da e pre­ci­sam con­ti­nu­ar cui­dan­do dos paci­en­tes. Eles não estão ten­do des­can­so, não têm féri­as, não têm licen­ça e estão no limi­te.”

A pes­qui­sa­do­ra des­ta­ca a neces­si­da­de de polí­ti­cas que obser­vem as desi­gual­da­des estru­tu­rais. “Essas polí­ti­cas deve­ri­am ser para todos os pro­fis­si­o­nais, elas pre­ci­sa­ri­am ter um olhar mui­to cui­da­do­so, pois o estu­do reve­la os refle­xos tam­bém des­sa desi­gual­da­de estru­tu­ral de gêne­ro na soci­e­da­de”, diz. Para ela, as polí­ti­cas sem­pre devem ter um olhar dife­ren­ci­a­do para homens e mulhe­res, por­que “se elas tra­tam todo mun­do igual, a gen­te está só repro­du­zin­do desi­gual­da­des.”

Edi­ção: Gra­ça Adju­to

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