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Pandemia reduz avanços no combate à tuberculose, diz especialista

Dia Mundial de Combate à Tuberculose Na foto: Autora: Carol Garcia / AGECOM
© Age­com Bahi (Repro­dução)

Para o epidemiologista Paulo Viana, situação da doença é preocupante


Pub­li­ca­do em 24/03/2021 — 06:00 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

No Dia Mundi­al de Com­bate à Tuber­cu­lose, lem­bra­do hoje (23), o epi­demi­ol­o­gista Paulo Vic­tor Viana, pesquisador da Esco­la Nacional de Saúde Públi­ca da Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz), disse à Agên­cia Brasil que a situ­ação da doença tem ger­a­do bas­tante pre­ocu­pação des­de o ano pas­sa­do, dev­i­do à pan­demia de covid-19. O com­bate à tuber­cu­lose apre­sen­tou avanços na últi­ma déca­da no país, com redução do número de casos e da incidên­cia, além da diminuição da pro­porção de aban­dono ao trata­men­to.

O dia 24 de março foi escol­hi­do pela Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) para cel­e­brar o com­bate à tuber­cu­lose, em alusão à data em que Robert Koch anun­ciou a descober­ta do Mycobac­teri­um tuber­cu­lo­sis, agente cau­sador da doença, em 1882. Neste dia de mobi­liza­ção glob­al, são inten­si­fi­cadas as ações con­tra a doença, de infor­mação e con­sci­en­ti­za­ção da pop­u­lação sobre os efeitos neg­a­tivos para a saúde e tam­bém na área socioe­conômi­ca.

Lota­do no Cen­tro de Refer­ên­cia Pro­fes­sor Hélio Fra­ga, da Fiocruz, con­sid­er­a­do refer­ên­cia para pesquisas, trata­men­to e diag­nós­ti­co da tuber­cu­lose, Paulo Vic­tor Viana avaliou que todas as medi­das restri­ti­vas, de lock­down, iso­la­men­to social, de cer­ta for­ma podem ter des­en­co­ra­ja­do alguns pacientes a seguir o trata­men­to, com medo de con­tá­gio pela covid-19. Os dados sobre o com­por­ta­men­to da tuber­cu­lose na pan­demia devem ser divul­ga­dos pelo Min­istério da Saúde, adiantou.

Ele afir­mou que em out­ros país­es já exis­tem sinais evi­dentes de que hou­ve diminuição grande de pacientes que ini­cia­ram trata­men­to para tuber­cu­lose e não con­tin­uaram, por causa das medi­das de dis­tan­ci­a­men­to. “Isso é muito pre­ocu­pante, porque são pes­soas que estão com a tuber­cu­lose ati­va e podem trans­mi­tir na comu­nidade. Se não rece­berem o trata­men­to ade­qua­do no tem­po opor­tuno, podem até vir a fale­cer, por com­pli­cações da doença”, enfa­ti­zou. Uma questão que está sendo inves­ti­ga­da, segun­do o pesquisador, é como a covid-19 afe­tou os pacientes de tuber­cu­lose.

Campanha

De acor­do com a OMS, hou­ve redução de 25% de testes diag­nós­ti­cos para tuber­cu­lose. Como os exam­es de escar­ro e bron­cofi­bro­scopia (BFC) foram sus­pen­sos em função do risco de infecção, a esti­ma­ti­va de aumen­to da mor­tal­i­dade é de 13%. A cam­pan­ha de com­bate à tuber­cu­lose deste ano, pro­movi­da pela OMS, tem como tema “O tem­po está pas­san­do”. A cam­pan­ha pede mais com­pro­me­ti­men­to dos líderes gov­er­na­men­tais e da ini­cia­ti­va pri­va­da por meio de ações de pre­venção, diag­nós­ti­co, trata­men­to e incen­ti­vo à pesquisa para erradicar a doença até 2030, infor­mou a Sociedade Brasileira de Pneu­molo­gia e Tisi­olo­gia (SBPT).

No cenário atu­al, diz o pesquisador, essa meta foi con­sid­er­a­da pouco prováv­el de ser atingi­da. Como profis­sion­ais de saúde que aten­di­am pacientes com tuber­cu­lose foram deslo­ca­dos para atendi­men­to à covid-19, Viana comen­tou que a tuber­cu­lose ficou descober­ta. “É um desafio muito grande.É muito improváv­el con­seguir atin­gir essa meta de acabar com a doença até 2030”. Segun­do ele, isso se deve aos avanços que foram per­di­dos, à fal­ta de inves­ti­men­tos em medica­men­tos e vaci­nas efi­cazes. “A vaci­na que temos hoje, a BCG, é uma vaci­na de 100 anos atrás, que só pro­tege con­tra for­mas graves de tuber­cu­lose. Nada de novo foi cri­a­do para tuber­cu­lose”, afir­mou. Tam­bém a questão econômi­ca que afe­ta vários país­es, entre eles o Brasil, terá efeitos no con­t­role da tuber­cu­lose.

Dados de 2019 rev­e­lam que a infecção atinge em torno de 10,4 mil­hões de pes­soas por ano no mun­do e quase 490 mil têm tuber­cu­lose mul­ti­r­re­sistente aos medica­men­tos. No Brasil, a doença é con­sid­er­a­da muito preva­lente, em espe­cial nos esta­dos do Ama­zonas e Rio de Janeiro. O pesquisador expli­cou que isso se deve ao fato de ess­es dois esta­dos apre­sentarem car­ac­terís­ti­cas semel­hantes de pop­u­lação, com desigual­dades socioe­conômi­cas grandes. “E a tuber­cu­lose está inti­ma­mente lig­a­da a isso, à pobreza, às pés­si­mas condições de mora­dia. É um ambi­ente propí­cio para o desen­volvi­men­to da tuber­cu­lose. Ness­es dois esta­dos, isso é muito mar­cante”.

Em 2019, foram detec­ta­dos 77 mil casos novos no Brasil, com reg­istro de 4,5 mil mortes por tuber­cu­lose, segun­do a Sec­re­taria de Vig­ilân­cia San­itária do Min­istério da Saúde.

Sintomas semelhantes

As pes­soas têm de ficar aten­tas aos sin­tomas da tuber­cu­lose que podem ser con­fun­di­dos com os da covid-19. “São duas doenças res­pi­ratórias trans­mi­ti­das pelo ar, uma por bac­téria e out­ra por vírus”. Quan­do uma pes­soa é con­t­a­m­i­na­da por uma dessas duas doenças, aca­ba ten­do sin­tomas semel­hantes: febre, dor no peito, tosse per­sis­tente por mais de três sem­anas, descon­for­to res­pi­ratório, cansaço.

Viana lem­brou que a doença tem cura e o trata­men­to é ofer­e­ci­do gra­tuita­mente pelo Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS). “É uma doença evitáv­el, tem medica­men­to. Se o paciente seguir à risca os seis meses de trata­men­to, é uma doença que tem cura em 95% a 97% dos casos”.

A recomen­dação é que as pes­soas que sus­peitam estar com a tuber­cu­lose e aque­las que têm a doença pro­curem o diag­nós­ti­co e con­versem com os profis­sion­ais de saúde, toman­do todas as pre­cauções, como uso de más­cara, álcool em gel e dis­tan­ci­a­men­to.

Estratégia

A Sociedade Brasileira de Pneu­molo­gia e Tisi­olo­gia (SBPT) apoia a estraté­gia da OMS para acabar com a tuber­cu­lose até 2030. Essa estraté­gia inclui diag­nos­ticar e tratar 40 mil­hões de pes­soas com tuber­cu­lose em 2022, abrangen­do 3,5 mil­hões de cri­anças e 1,5 mil­hão de pacientes com a doença mul­ti­r­re­sistente; ofer­e­cer pro­gra­mas de pre­venção para as 24 mil­hões de famílias de pes­soas que con­traíram a infecção; e inve­stir cer­ca de US$ 13 bil­hões por ano nos esforços para con­ter a tuber­cu­lose, incluin­do US$ 2 bil­hões para a pesquisa.

Edição: Graça Adju­to

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