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Paralimpíada traz avanços, mas acessibilidade em Paris ainda patina

Repro­dução: © REUTERS/Umit Bektas/Direitos reser­va­dos

Antiga e pouco adaptada, rede metroviária ainda é principal gargalo


Publicado em 08/09/2024 — 11:53 Por Lincoln Chaves — Repórter da EBC — Paris (França)

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Qual o maior lega­do que um megaeven­to esporti­vo pode traz­er para uma cidade? No caso dos Jogos Par­alímpi­cos, eles trazem holo­fotes para questões que envolvem o dia a dia das pes­soas com defi­ciên­cia, sejam atle­tas ou não. Entre elas, a aces­si­bil­i­dade, o que, no caso de Paris, ain­da é par­tic­u­lar­mente um desafio ape­sar de avanços moti­va­dos pela real­iza­ção da Par­alimpía­da.

Na cap­i­tal france­sa, vivem cer­ca de 185 mil pes­soas com defi­ciên­cia. Há três anos, segun­do a Prefeitu­ra local, um em cada dois pon­tos de ônibus parisiens­es davam condição às ram­pas de aces­si­bil­i­dade. Atual­mente, 59 das 61 lin­has munic­i­pais são con­sid­er­adas adap­tadas, ou seja, com ao menos 70% de pon­tos acessíveis. De acor­do com o poder públi­co, foram investi­dos 22 mil­hões de euros (R$ 136 mil­hões) nes­sas obras.

Out­ra inter­venção foi fei­ta em 2,5 mil semá­foros da cidade, com a insta­lação de módu­los sonoros. Aciona­dos por um botão no próprio semá­foro ou um con­t­role remo­to, que é dis­tribuí­do gra­tuita­mente a cidadãos ou vis­i­tantes, eles emitem sons para aux­il­iar pes­soas com defi­ciên­cia visu­al. O plane­ja­men­to do municí­pio pre­vê chegar a 10,4 mil módu­los.

Mais um obje­ti­vo ref­er­ente à aces­si­bil­i­dade em Paris é ter, pelo menos, uma esco­la adap­ta­da a cada 15 min­u­tos de cam­in­ha­da, para aten­der aos cer­ca de 12 mil alunos com defi­ciên­cia da cidade. De acor­do com a Prefeitu­ra, a intenção é super­ar as 240 mil unidades acessíveis até 2026 e con­cluir o pro­je­to até 2030.

Com relação aos imóveis públi­cos, a meta da prefeitu­ra de Paris é ter 90% deles acessíveis até o ano que vem. Em 2022, ape­nas 45% eram adap­ta­dos. Em decor­rên­cia dos Jogos Olímpi­cos e Par­alímpi­cos, seis insta­lações esporti­vas já foram refor­mu­ladas após aporte de 10 mil­hões de euros (R$ 62 mil­hões). Este é o caso da Pisci­na Georges Vallerey, que sediou a natação na Olimpía­da de 1924. A estru­tu­ra rece­beu pisos táteis, ram­pas e foi con­struí­da até uma sal­in­ha para rece­ber cães-guia.

“Quan­do a gente com­para Paris em 2017 com 2024, hou­ve um cresci­men­to incrív­el [em aces­si­bil­i­dade]. Paris enten­deu o desafio e a opor­tu­nidade. Ter­e­mos lega­do no trans­porte, na edu­cação, em ter­mos de leg­is­lação e na per­cepção da sociedade sobre as pes­soas com defi­ciên­cia. A Par­alimpía­da é o even­to mais trans­for­mador do mun­do”, avaliou o pres­i­dente do Comitê Par­alímpi­co Inter­na­cional (IPC, sigla em inglês), Andrew Par­sons, à reportagem da Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC).

Mes­mo assim, há gar­ga­los. A reportagem da EBC con­ver­sou, na Praça da Bastil­ha, com a tur­ista espan­ho­la Mar­ta Mor­eira e sua família, que vier­am de Barcelona (Espan­ha). Cadeirante e com um quadro del­i­ca­do de loco­moção, tan­to que uti­liza­va a boca para con­duzir a cadeira, Mar­ta encon­trou difi­cul­dades de aces­si­bil­i­dade no hotel em que esta­va hospeda­da. Segun­do a mãe, não havia ele­vador no imóv­el, que era anti­go.

“Boa parte das lojas não têm ram­pa para cadeirantes e há vias muito incli­nadas. O metrô, então, está fora de cog­i­tação”, disse Mar­ta.

De fato, o sis­tema metro­viário parisiense é prob­lemáti­co no que diz respeito à inclusão. Mais do que cen­tenário e um dos mais movi­men­ta­dos da União Europeia, com cer­ca de qua­tro mil­hões de pas­sageiros por dia, o metrô da cap­i­tal tem somente 29 das mais de 300 estações con­sid­er­adas ade­quadas a pes­soas com defi­ciên­cia ou mobil­i­dade reduzi­da. Ape­nas a lin­ha 14, a mais nova, é 100% acessív­el.

Muitas das estações não pos­suem ele­vadores e é necessário descer uma lon­ga escadaria para entrar, o que as invi­a­bi­liza para cadeirantes. Em algu­mas lin­has mais anti­gas, a por­ta do vagão deve ser aber­ta por meio de uma ala­van­ca na hora de sair, o que pode ser difi­cul­toso para quem pos­sui amputação ou algum com­pro­me­ti­men­to motor de mem­bro supe­ri­or. E é necessário cuida­do ao deixar o vagão, pois há um desnív­el no vão entre o trem e a platafor­ma.

Uma lei de 11 de fevereiro de 2005 pre­via que os trans­portes públi­cos estivessem acessíveis a pes­soas com defi­ciên­cia em dez anos. Con­tu­do, o metrô de Paris foi con­sid­er­a­do uma exceção, sob ale­gação de lim­i­tações téc­ni­cas e lig­adas à con­ser­vação de patrimônio arquitetôni­co e ao impacto das even­tu­ais obras, que seri­am lon­gas e teri­am reflexo no tráfego de pas­sageiros em ger­al.

Dias antes da Par­alimpía­da começar, porém, a pres­i­dente do Con­sel­ho Region­al da Ilha da França, Valérie Pécresse, defend­eu um pro­je­to que torne o metrô parisiense 100% acessív­el. A esti­ma­ti­va é que as obras custem cer­ca de 20 bil­hões de euros (R$ 120 bil­hões) e lev­em ao menos 20 anos para serem con­cluí­das. Ela pediu que o Gov­er­no Fed­er­al e a Prefeitu­ra aux­iliem a admin­is­tração region­al no custeio da incia­ti­va.

Uma cidade con­sid­er­a­da refer­ên­cia no que tange à aces­si­bil­i­dade após uma Par­alimpía­da é jus­ta­mente a Barcelona de Mar­ta. A cap­i­tal da Catalun­ha sediou o megaeven­to em 1992, após a Olimpía­da. Entre 1995 e 2004, um plano de aces­si­bil­i­dade local foi colo­ca­do em práti­ca, deter­mi­nan­do que calçadas e praças fos­sem todas elas adap­tadas a pes­soas com defi­ciên­cia. Além dis­so, prati­ca­mente 100% das estações de metrô estão acessíveis. A trans­for­mação de Barcelona virou tema de doc­u­men­tário pro­duzi­do pelo IPC.

Ao lon­go dos Jogos, a reportagem da EBC ten­tou entre­vista com a vice-prefei­ta Lamia El Aara­je, respon­sáv­el pelas ações de aces­si­bil­i­dade em Paris, mas não obteve respos­ta.

Edição: Fábio Lis­boa

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