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“Parecia cidade fantasma”, contam brasileiros que chegaram de Israel

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Voo da FAB trouxe mais 69 repatriados neste sábado


Pub­li­ca­do em 21/10/2023 — 16:40 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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“Pare­cia uma cidade fan­tas­ma. A cidade entrou em lock­down. Há duas sem­anas, nada fun­ciona, as esco­las, o comér­cio, setores públi­cos, as empre­sas”. O rela­to é do mineiro Rena­to Abreu, de 33 anos, que vivia em Ashkelon, cidade no sul de Israel, a cer­ca de 10 quilômet­ros da Faixa de Gaza. 

“Tín­hamos que seguir a recomen­dação de segu­rança de não sair às ruas, de for­ma algu­ma”, detal­ha o coor­de­nador de pro­je­tos, que mora­va em Israel des­de 2016, com exceção do perío­do da pan­demia de covid-19, quan­do ficou no Brasil.

Rena­to é um dos 69 pas­sageiros que chegaram ao Brasil na man­hã deste sába­do (21), no avião Embraer KC-390 Mil­len­ni­um, da Força Aérea Brasileira (FAB). Foi o séti­mo voo da Oper­ação Voltan­do em Paz, real­iza­da em con­jun­to com o Min­istério das Relações Exte­ri­ores (MRE), que decolou na noite de sex­ta-feira (20) de Tel Aviv.

Rio de Janeiro (RJ), 21/10/2023 -O coordenador de projetos, Renato Abreu, retorna ao país. Voo da Força Aérea Brasileira (FAB), com brasileiros repatriados, pousa na Base Aérea do Galeão. A Operação Voltando em Paz, do Governo Federal, realiza o oitavo voo de repatriação de brasileiros partindo de Israel. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: O coor­de­nador de pro­je­tos, Rena­to Abreu, retor­na ao Brasil em voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A aeron­ave pousou primeiro no Recife, na man­hã deste sába­do, onde desem­bar­caram dois pas­sageiros. Os demais seguiram para a Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, incluin­do três boli­vianas, uma mãe e as duas fil­has menores de idade. Nove ani­mais de esti­mação tam­bém foram trazi­dos de Israel.

Mistura de sentimentos

Rena­to disse que só ficou saben­do que seria repa­tri­a­do em voo da FAB na man­hã de sex­ta-feira, quan­do rece­beu um tele­fone­ma da embaix­a­da brasileira. Ele mora­va com um irmão, que seguiu para Lon­dres em um voo com­er­cial. Na cidade que fica cola­da à Faixa de Gaza, ele deixou o tio e o pri­mo.

“Os barul­hos são muito altos, a nos­sa rua foi bom­bardea­da por qua­tro mís­seis. O Sul [de Israel] real­mente virou uma zona de guer­ra”, detal­hou o brasileiro que con­hecia Kar­la Stelz­er Mendes, de 42 anos, uma das três brasileiras mor­tas pelos ataques do grupo palesti­no Hamas, há duas sem­anas.

Para Rena­to, que depois de pousar no Rio seguiu a viagem para Belo Hor­i­zonte, a vol­ta ao Brasil é uma mis­tu­ra de sen­sações. “Ale­gre por ter dupla cidada­nia e estar no Brasil, triste porque eu tive ami­gos que falaram que que­ri­am estar no meu lugar”.

Vida parada

O brasileiro Pedro Ter­pins pas­sou mais tem­po da vida em Israel do que no Brasil. Aos 23 anos, ele desem­bar­cou no Rio de Janeiro após viv­er 18 anos no Ori­ente Médio. O bar­man e estu­dante de ciên­cia políti­ca mora­va em Tel Aviv e enfren­tou uma roti­na de exceção nos últi­mos dias.

Rio de Janeiro (RJ), 21/10/2023 - O estudante, Pedro Terpins, retorna ao país. Voo da Força Aérea Brasileira (FAB), com brasileiros repatriados, pousa na Base Aérea do Galeão. A Operação Voltando em Paz, do Governo Federal, realiza o oitavo voo de repatriação de brasileiros partindo de Israel. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: O estu­dante Pedro Ter­pins enfren­tou roti­na de exceção nos últi­mos dias em Israel. Ele chegou neste sába­do no Brasil Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Eu esta­va desem­pre­ga­do, a min­ha fac­ul­dade parou, toda a min­ha vida está para­da. Eu esta­va havia duas sem­anas só no meu quar­to, sem sair, sem encon­trar ami­gos, sem tra­bal­har”, rela­ta Pedro, que tem família em São Paulo.

Ele con­tou que con­hecia, ao menos, três das pes­soas que foram mor­tas nos ataques de 7 de out­ubro, incluin­do a brasileira Bruna Valeanu, de 24 anos.

“Tem mais pes­soas que eu ain­da não sei se estão [sequestradas] em Gaza ou se estão mor­tos e ain­da não foram descober­tos os cor­pos”, lamen­ta.

Mais de 1,2 mil repatriados

Até ago­ra, a oper­ação para repa­tri­ar brasileiros soma sete voos que troux­er­am 1.204 pas­sageiros e 44 pets. De acor­do com o MRE, as três cidadãs boli­vianas foram incluí­das no avião “após con­stata­do o não com­parec­i­men­to de pas­sageiros brasileiros”.

A admin­istrado­ra Michele Antunes mora­va havia cin­co anos em Jerusalém e descreveu o cotid­i­ano dos últi­mos dias na cidade. “Tive­mos que, várias vezes, ir para bunkers. Mas nada que se aprox­i­masse do que se pas­sou per­to de Gaza. Graças a Deus, a gente esta­va um pouco mais seguro, mas era um deses­pero porque não tin­ha ninguém nas ruas, todo mun­do com medo de tudo”.

Rio de Janeiro (RJ), 21/10/2023 - A administradora, Michele Antunes, retorna ao país. Voo da Força Aérea Brasileira (FAB), com brasileiros repatriados, pousa na Base Aérea do Galeão. A Operação Voltando em Paz, do Governo Federal, realiza o oitavo voo de repatriação de brasileiros partindo de Israel. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: A admin­istrado­ra Michele Antunes mora­va há 5 anos em Jerusalém e voltou ao Brasil neste sába­do. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Além de Bruna, Michele con­hecia Ranani Nide­jel­s­ki Glaz­er, de 24 anos, o ter­ceiro brasileiro mor­to pelo Hamas. A gaúcha disse que não espera voltar logo para Israel.  “Sen­sação de alívio, vou poder dormir tran­quila”, afir­mou. A mãe de Michele ficou em Israel com o mari­do, mas tam­bém deve retornar ao Brasil.

Parecia na pandemia

A estu­dante de engen­haria Aline Enge­len­der foi recep­ciona­da no Rio de Janeiro por um abraço da mãe. Ela pas­sou três meses estu­dan­do em Israel, até que foi defla­gra­do o con­fron­to com o Hamas.

Rio de Janeiro (RJ), 21/10/2023 -A estudante, Aline Engelender, retorna ao país. Voo da Força Aérea Brasileira (FAB), com brasileiros repatriados, pousa na Base Aérea do Galeão. A Operação Voltando em Paz, do Governo Federal, realiza o oitavo voo de repatriação de brasileiros partindo de Israel. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: A estu­dante Aline Enge­len­der esta­va em Israel há três meses e chegou neste sába­do no Brasil, onde foi rece­bi­da com um abraço da mãe. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Os dias foram com­pli­ca­dos, a gente esta­va dor­min­do em um bunker, porque nun­ca se sabe quan­do iria tocar uma sirene [de aler­ta con­tra foguetes]. Evitá­va­mos sair de casa, pare­cia o tem­po da pan­demia. A gente não esta­va sain­do para nada, nem para super­me­r­ca­do”, expli­cou a estu­dante que deixou famil­iares e ami­gos em Israel.

“Quan­do a gente encon­trou com os mil­itares da FAB no aero­por­to de Israel, e eles falaram ‘ago­ra vocês estão em cuida­dos brasileiros’, foi muito emo­cio­nante”, recor­da Aline.

Último voo de Tel Aviv

Um avião KC-30 da FAB deve par­tir de Tel Aviv no domin­go (22), trazen­do mais brasileiros, com chega­da pre­vista para segun­da-feira (23). A expec­ta­ti­va do MRE é a de que seja o últi­mo voo com repa­tri­a­dos de Israel. “Ten­do em con­ta as condições locais atu­ais e a oper­ação reg­u­lar do aero­por­to de Ben Guri­on, não se pre­veem voos adi­cionais para brasileiros em Israel”, infor­mou o min­istério.

De acor­do com o Ita­ma­raty, 14 mil brasileiros vivi­am em Israel até o fim do ano pas­sa­do. O MRE man­tém a ori­en­tação para que “todos os nacionais que pos­suam pas­sagens aéreas, ou condições de adquiri-las, embar­quem em voos com­er­ci­ais a par­tir do aero­por­to Ben Guri­on, que segue operan­do”.

Brasileiros em Gaza

A Oper­ação Voltan­do em Paz está de pron­tidão para repa­tri­ar um grupo de cer­ca de 30 brasileiros que está no sul da Faixa de Gaza. A aeron­ave VC‑2 (Embraer 190), cedi­da pela Presidên­cia da Repúbli­ca, está no Cairo, cap­i­tal do Egi­to, onde espera autor­iza­ção para res­gatar brasileiros.

O gov­er­no brasileiro faz gestões com Israel, autori­dades palesti­nas e o Egi­to para que os brasileiros pos­sam deixar a Faixa de Gaza.

Cúpula da Paz

Chanceler Mauro Vieira 13/10/2023 REUTERS/Brendan McDermid
Repro­dução: O chancel­er Mau­ro Vieira disse que o Brasil está pron­to para apoiar os esforços de paz no Ori­ente Médio. Foto:  REUTERS/Brendan McDer­mid

O min­istro das Relações Exte­ri­ores, Mau­ro Vieira, disse, no Cairo, neste sába­do, que o Brasil está pron­to para apoiar esforços de paz na região. Ele par­tic­i­pa da Cúpu­la da Paz, rep­re­sen­tan­do o pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va. O encon­tro orga­ni­za­do pelo Egi­to bus­ca uma solução para o con­fli­to entre Israel e Hamas, que já viti­mou cer­ca de 4,4 mil pes­soas no lado palesti­no e 1,4 mil no lado israe­lense.

O MRE disponi­bi­liza os con­tatos da embaix­a­da em Tel Aviv (+972 (54)8035858) e do Escritório de Rep­re­sen­tação em Ramal­lah, na Cisjordâ­nia (+972 (59)2055510), para os brasileiros em situ­ação de emergên­cia. O plan­tão em Brasília pode ser con­tata­do pelo número +55 (61) 98260–0610.

Edição: Aécio Ama­do

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