...
quarta-feira ,9 outubro 2024
Home / Direitos Humanos / Peça achada no DOI-Codi pode ser de período mais recente

Peça achada no DOI-Codi pode ser de período mais recente

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Pesquisadores acreditavam que cerâmica era do período pré-histórico


Pub­li­ca­do em 18/08/2023 — 06:32 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

ouvir:

A cerâmi­ca acha­da pelos pesquisadores que fiz­er­am escav­ações por 13 dias no pré­dio onde fica­va o Desta­ca­men­to de Oper­ações de Infor­mação — Cen­tro de Oper­ações de Defe­sa Inter­na (DOI-CODI) pode ser de um perío­do mais recente do que ini­cial­mente se pen­sa­va. A peça foi encon­tra­da no sub­so­lo da edi­fi­cação, em meio a ter­ra de tonal­i­dade escu­ra e com alta con­cen­tração de carvão, o que indi­ca a pre­sença de resí­du­os domés­ti­cos.

O DOI-Codi serviu à ditadu­ra mil­i­tar, instau­ra­da com o golpe que der­rubou João Goulart da presidên­cia da Repúbli­ca em 1964. Sob o coman­do do Exérci­to, o local, que fica no bair­ro Vila Mar­i­ana, era o des­ti­no de pes­soas que se lev­an­tavam con­tra a ditadu­ra, sendo ali sub­meti­das a sessões de tor­tu­ra, prisões ile­gais, estupros e até mes­mo sendo exe­cu­tadas. Tam­bém há reg­istros de pre­sos políti­cos que per­manece­r­am em cárcere no DOI-Codi e desa­pare­ce­r­am, sem que muitas de suas famílias jamais soubessem de seu paradeiro.

As infor­mações sobre a cerâmi­ca foram repas­sadas à Agên­cia Brasil pela coor­de­nado­ra Cláu­dia Plens, da área de Arque­olo­gia Forense. Segun­do a pesquisado­ra, há pou­ca pos­si­bil­i­dade de a cerâmi­ca, que deve ser indí­ge­na, per­tencer ao perío­do da pré-história, por causa do tipo de dec­o­ração que a car­ac­ter­i­za. A avali­ação é do pro­fes­sor Astol­fo Arau­jo, que exerce livre docên­cia no Museu de Arque­olo­gia e Etnolo­gia da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP).

“Como as con­struções no bair­ro são rel­a­ti­va­mente recentes, é pos­sív­el que se tratasse de uma casa muito anti­ga, rela­ciona­da a algu­ma fazen­da. Vamos realizar anális­es quími­cas para car­ac­teri­zar mel­hor esse solo. De todo modo, tra­ta-se de uma descober­ta bas­tante inter­es­sante e que pode aju­dar a enten­der a ocu­pação anti­ga da cidade fora da área cen­tral”, acres­cen­tou Cláu­dia, que leciona arque­olo­gia históri­ca no depar­ta­men­to de História da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de São Paulo (Unife­sp).

De acor­do com infor­mações do Min­istério Públi­co de São Paulo, os pesquisadores esti­mam que 7 mil pes­soas pas­saram pelo DOI-Codi. O local, entre a cri­ação do desta­ca­men­to e o fechamen­to, fun­cio­nou de 1969 a 1983.

O grupo de pesquisadores con­seguiu desen­gave­tar o pro­je­to, con­ce­bido há anos, somente ago­ra, após 14 neg­a­ti­vas de agên­cias de fomen­to à pesquisa. As insti­tu­ições que finan­ciam a ini­cia­ti­va são a Uni­ver­si­dade Estad­ual de Camp­inas (Uni­camp) e o Con­sel­ho Nacional de Desen­volvi­men­to Cien­tí­fi­co e Tec­nológi­co (CNPq). Entre as bases para recon­sti­tuir a história do DOI-Codi estão os relatos das víti­mas, e a meta dos acadêmi­cos é cole­tar cer­ca de 80 depoi­men­tos, o que está sendo feito com a aju­da de vol­un­tários, em vir­tude das lim­i­tações de orça­men­to.

Edição: Graça Adju­to

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Justiça de SP extingue penas de policiais pelo massacre do Carandiru

Repressão policial a uma rebelião resultou na morte de 111 detentos André Richter — Repórter …