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Peça encenada por cegos explora percepções sensoriais

Repro­dução: © Teatro Cego/Divulgação

Espetáculo terá exibições gratuitas no Rio


Pub­li­ca­do em 15/08/2023 — 06:48 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Um ambi­ente com­ple­ta­mente escuro onde não é pos­sív­el enx­er­gar nada. Esse é o cenário do espetácu­lo Clarear – Somos Todos Difer­entes, apre­sen­ta­do pela Com­pan­hia de Teatro Cego, que chega nes­ta terça-feira (15) à Baix­a­da Flu­mi­nense, na região met­ro­pol­i­tana do Rio de Janeiro. Todas as exibições são de graça.

A peça é cri­a­da, dirigi­da e ence­na­da por pes­soas com defi­ciên­cia visu­al e tem como obje­ti­vo, além de entreter, levar à plateia con­sci­en­ti­za­ção sobre sin­gu­lar­i­dades da vida de cegos. Difer­ente­mente das mon­ta­gens tradi­cionais, onde os espec­ta­dores ficam na plateia, dis­tantes dos atores e do cenário, no Teatro Cego o públi­co fica em meio aos artis­tas e bem per­to das fontes sen­so­ri­ais que o levará a sen­tir e perce­ber o enre­do. Uma prox­im­i­dade com aro­mas, músi­ca e sen­sações táteis que apri­moram os sen­ti­dos da audição, olfa­to, pal­adar e tato.

O dire­tor da peça, Paulo Pal­a­do, que tam­bém atua na tra­ma, expli­cou à Agên­cia Brasil que a ideia é faz­er o públi­co “se sen­tir, por um momen­to, no lugar de uma pes­soa com defi­ciên­cia visu­al”. Ele con­ta que a ideia nasceu em 1990 ao con­hecer um pro­je­to pare­ci­do na cidade de Cór­do­ba, Argenti­na, real­iza­do pelo grupo Teatro Ciego.

“A gente con­vi­da essas pes­soas tam­bém a aguçarem os out­ros sen­ti­dos. A gente vive numa sociedade que jul­ga muito pelo que vê. Quan­do a gente colo­ca as pes­soas nes­sa condição de com­preen­der o mun­do por meio do tato, do pal­adar, da audição e do olfa­to, a gente aguça o que a gente chama de um sex­to sen­ti­do, que é a intu­ição, que faz as pes­soas perce­berem que elas podem com­preen­der o mun­do ao seu redor de uma out­ra for­ma que não só pela visão”, diz.

História de inclusão

A história escri­ta por Sara Bentes, tam­bém atriz, se pas­sa com cin­co jovens que divi­dem uma repúbli­ca: um com defi­ciên­cia visu­al, um com defi­ciên­cia audi­ti­va, um cadeirante, um argenti­no e uma torce­do­ra fanáti­ca de um pequeno time local (em cada cidade é escol­hi­do um clube). Apo­s­tan­do no bom humor, a tra­ma mostra a super­ação de difi­cul­dades de comu­ni­cação e con­vivên­cia, por meio da amizade.

O dire­tor acred­i­ta que o pro­je­to tam­bém abre um cam­po de tra­bal­ho para pes­soas com defi­ciên­cia visu­al. “Quan­do a plateia vai assi­s­tir a esse espetácu­lo, ela percebe que tem pes­soas com defi­ciên­cia visu­al tra­bal­han­do para que ela se divir­ta. Isso tam­bém muda um pouco a for­ma como ela enx­er­ga essas pes­soas”, diz Pal­a­do.

O proces­so de cri­ação dos espetácu­los da com­pan­hia é pen­sa­do, des­de o iní­cio, para uma plateia e um elen­co que não enx­ergam. As falas dão indi­cação de muitos ele­men­tos e situ­ações que o espec­ta­dor não con­seguiria iden­ti­ficar sem a visão. A toda hora, o públi­co recebe estí­mu­los de aro­mas e sons. Para mar­car momen­tos den­tro da peça, uma músi­ca ou um cheiro são repeti­dos sem­pre que a cena vol­ta para um deter­mi­na­do cenário.

Difer­ente­mente de uma peça con­ven­cional, na qual o espec­ta­dor se depara primeiro com o cenário, que depois vai sendo preenchi­do por movi­men­to, no Teatro Cego tudo começa em uma escuridão total. Depois da entra­da dos atores, com a movi­men­tação, aro­mas, sons e sen­sações táteis é que o cenário vai se rev­e­lando.

Reação do público

“Muitas mães que vão com seus fil­hos, esposas que vão com seus mari­dos, essas pes­soas ao final dizem ‘nos­sa, eu con­vi­vo o meu dia todo com uma pes­soa com defi­ciên­cia visu­al, meu fil­ho, meu mari­do, min­ha esposa e só ago­ra eu pude perce­ber como é real­mente que ele enx­er­ga o mun­do’, ess­es depoi­men­tos são muito inter­es­santes e fazem a gente ficar muito feliz, porque mostram que real­mente as pes­soas estão sendo tocadas por essa exper­iên­cia”, con­ta Pal­a­do.

O ator e dire­tor con­sid­era tam­bém que as exper­iên­cias sen­so­ri­ais igualam as condições de inter­pre­tação para pes­soas cegas que fre­quen­tam o espetácu­lo. “Quan­do uma pes­soa com defi­ciên­cia visu­al vai assi­s­tir a um espetácu­lo do Teatro Cego, ela está em com­ple­ta igual­dade de condições com todas aque­las out­ras pes­soas que estão no teatro. Ela não pre­cisa de audiode­scrição, ou seja, ela não pre­cisa que exista um inter­locu­tor para explicar o que está acon­te­cen­do”, expli­ca.

Na Baix­a­da Flu­mi­nense, a maior parte das apre­sen­tações do Teatro Cego acon­te­cerá para estu­dantes da rede públi­ca. Para levar o tema de aces­si­bil­i­dade para além do teatro, os alunos gan­harão um gibi com história de inclusão de pes­soas com defi­ciên­cia. Os pro­fes­sores rece­berão car­til­ha com a temáti­ca. Depois de cada uma das apre­sen­tações, acon­te­cerá uma palestra, segui­da de bate-papo sobre aces­si­bil­i­dade, inclusão e políti­cas públi­cas para esse públi­co retrata­do.

As apre­sen­tações no Rio de Janeiro serão em Duque de Cax­i­as, Japeri e Nova Iguaçu. O espetácu­lo já pas­sou por Cubatão (SP) e pre­vê apre­sen­tações em Juiz de Fora (MG), Macaé (RJ) e Cas­cav­el (PR).

Serviço

Espetácu­lo Clarear – Somos Todos Difer­entes (para alunos da rede munic­i­pal e aber­to ao públi­co)

Dias 15, 16 e 17/8

Duque de Cax­i­as – Teatro Fir­jan Sesi DC (R. Artur Nei­va – Cir­cu­lar)

Seis apre­sen­tações, duas por dia, às 10h e às 15h

Alunos por apre­sen­tação: 120 (total: 720 alunos)

Esco­las que par­tic­i­parão: Esco­la Fir­jan Sesi, EM Barão do Amapá e Ciep 031 – Lirio do Lagu­na

Dias 29, 30 e 31/8 

Japeri – Quadra esporti­va de Nova Belém (R. Augus­to Batista de Car­val­ho — Nova Belém)

às 10h e às 15h

Dias 12, 13 e 14/9  

Nova Iguaçu – Teatro Sylvio Mon­teiro (Rua Getulio Var­gas, 51, Cen­tro)

Horários: às 18h e às 20h — entra­da gra­tui­ta para o públi­co ger­al

Edição: Juliana Andrade

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