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Pesquisa revela desigualdades nas favelas brasileiras

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Estudo da UFF mostra que essas comunidades não são homogêneas


Pub­li­ca­do em 11/11/2023 — 08:50 Por Vitor Abdala — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Um estu­do da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (UFF) rev­el­ou que as fave­las brasileiras não são áreas homogêneas e apre­sen­tam seg­re­gação econômi­ca mes­mo den­tro de seus próprios ter­ritórios. A pesquisa, pub­li­ca­da na revista Cities, mostra que há dis­pari­dades racial, de ren­da e de aces­so a serviço nes­sas áreas.

Os pesquisadores Cami­la Car­val­ho e Viní­cius Net­to, pro­fes­sor do Depar­ta­men­to de Urban­is­mo da UFF, anal­is­aram 16 assen­ta­men­tos infor­mais em nove cidades, sele­cionadas nas cin­co regiões do país: Rio de Janeiro, Camp­inas, Belo Hor­i­zonte, Brasília, For­t­aleza, São Luís, Por­to Ale­gre, Man­aus e Belém.

Segun­do Cami­la, a ideia do estu­do era ver­i­ficar se os padrões de seg­re­gação que exis­tem nas cidades, em ter­mos de desigual­dade entre bair­ros, tam­bém exi­s­tiria den­tro das fave­las, em ter­mos de dis­pari­dades entre setores cen­sitários local­iza­dos no inte­ri­or dessas comu­nidades.

Com base nos dados do Cen­so de 2010, o estu­do ver­i­fi­cou, nas 16 fave­las, a existên­cia de setores que con­cen­tram famílias com ren­da mais alta em deter­mi­nadas áreas dessas comu­nidades, ao mes­mo tem­po em que há setores que reúnem pes­soas com ren­da mais baixa (ou seja, com ren­da per capi­ta em média 60% mais baixa).

No Rio de Janeiro, por exem­p­lo, esse padrão foi ver­i­fi­ca­do nos com­plex­os do Alemão e da Maré, na zona norte da cidade do Rio. O estu­do con­sta­tou ain­da que nas áreas com ren­da mais alta da favela, há maior per­centu­al de pes­soas bran­cas (36%) que nas áreas mais pobres (27%).

Há ain­da dis­pari­dades na ofer­ta de serviços públi­cos, prin­ci­pal­mente na cole­ta de lixo e no esgo­ta­men­to san­itário. Enquan­to nas áreas de ren­da mais alta, os per­centu­ais de cole­ta de lixo e de esgo­to san­itário de 83% e 62%, respec­ti­va­mente, nas áreas de ren­da mais baixa, os per­centu­ais são de 68% e 48%.

“A gente con­seguiu detec­tar essa repro­dução do padrão que a gente vê na escala da cidade, então a gente viu que tin­ha menos pes­soas bran­cas moran­do nas áreas de mais baixa ren­da mes­mo den­tro das fave­las e a gente tam­bém viu que a infraestru­tu­ra, o aces­so aos serviços era mais baixo nas áreas de mais baixa ren­da das fave­las”, afir­ma Cami­la.

Segun­do a pesquisado­ra, o estu­do não se debruçou sobre os motivos pelos quais há uma seg­re­gação den­tro das fave­las, mas acred­i­ta-se que isso e deva a diver­sos fatores, como a val­oriza­ção imo­bil­iária em áreas mais urban­izadas.

Por exem­p­lo, em áreas com ruas mais largas, casas mel­hores, mais ilu­mi­nação públi­ca e ofer­ta de sanea­men­to bási­co, os imóveis cus­tam mais caro (tan­to em ter­mos de com­pra quan­to de aluguel), atrain­do pes­soas com ren­da rel­a­ti­va­mente mais alta.

Há ain­da áreas menos favore­ci­das den­tro da própria comu­nidade. Nos casos dos mor­ros, as áreas mais ele­vadas e com maior difi­cul­dade de aces­so, por exem­p­lo, os imóveis cos­tu­mam ser mais desval­oriza­dos.

“Em out­ro arti­go, a gente viu a relação entre a topografia, ou seja, as áreas mais altas e mais baixas, com a ren­da. Então a gente con­seguiu detec­tar que as áreas mais altas nas fave­las de topografia mais aci­den­ta­da, de difí­cil aces­so e tudo mais, são áreas de mais baixa ren­da. Onde as pes­soas mais altas ren­da vão ficar? Nas áreas de mel­hor aces­so, onde se con­segue entrar e sair mais fácil”, expli­ca Cami­la.

Segun­do ela, é impor­tante que a sociedade e o poder públi­co enten­dam que existe seg­re­gação nas fave­las e que essa questão seja lev­a­da em con­sid­er­ação no plane­ja­men­to de políti­cas públi­cas.

“Só inve­stir na favela, não sig­nifi­ca nada, se você vai con­cen­trar inves­ti­men­to numa área que já tem uma boa infraestru­tu­ra. Tem partes das fave­las que a gente não con­segue difer­en­ciar da área for­mal da cidade, porque é muito sim­i­lar. Qual o sen­ti­do de con­cen­trar inves­ti­men­to nes­sas aí, se exis­tem áreas muito mais precárias [nes­sas mes­mas comu­nidades]?”, con­clui a pesquisado­ra.

Edição: Valéria Aguiar

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