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Pesquisadores descobrem tipo raro de bagre dourado no Parque da Tijuca

Repro­dução: © Alex Katz/Divulgação

Exemplares são encontrados apenas no Rio, em São Paulo e no Paraná


Pub­li­ca­do em 03/02/2024 — 17:17 Por Alana Gan­dra – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Três pesquisadores do Lab­o­ratório de Sis­temáti­ca e Evolução de Peix­es Teleós­teos, do Insti­tu­to de Biolo­gia da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), encon­traram, pela primeira vez, nos rios e cachoeiras do Par­que Nacional da Tiju­ca, na cap­i­tal flu­mi­nense, três exem­plares de peixe bagre doura­do. A descober­ta foi pub­li­ca­da no ano pas­sa­do na revista neoze­landesa Zootaxa, refer­ên­cia mundi­al em zoolo­gia, pelos pesquisadores Paulo Vilar­do, Axel Katz e Wil­son Cos­ta.

Segun­do Axel Katz, há vários anos, a equipe vem pesquisan­do ess­es peix­es do litoral e perce­ber­am que os de São Paulo apre­sen­tavam DNA muito pare­ci­do com as espé­cies do Rio, emb­o­ra o col­ori­do fos­se um pouco difer­ente. Eles focaram então em um peixe especí­fi­co que apre­sen­ta­va um col­ori­do mais difer­en­ci­a­do.

Paulo Vilar­do com­ple­men­tou que foram real­iza­dos diver­sos tra­bal­hos de cam­po na Flo­res­ta da Tiju­ca. “Em sua maio­r­ia, os exem­plares encon­tra­dos eram de um padrão mal­ha­do, ou sela­do, com as faixas pre­tas trans­ver­sais no cor­po. É um padrão desse tipo que se encon­tra em várias bacias costeiras do Rio de Janeiro, São Paulo e do Paraná.”

Em dado momen­to, porém, em uma local­i­dade especí­fi­ca do Par­que Nacional da Tiju­ca, foram encon­tra­dos exem­plares total­mente amare­los, ou doura­dos. “Aí, bateu a curiosi­dade de ver­i­ficar se esse bicho não seria o mes­mo que ocorre em São Paulo. Foram feitos testes de DNA, usan­do a téc­ni­ca de PCR (ou Reação em Cadeia da Polimerase), e chegou-se à con­clusão que os doura­dos da Flo­res­ta da Tiju­ca eram os mes­mos de São Paulo.”

Além dis­so, foi con­stata­do que o padrão mal­ha­do tam­bém é da mes­ma espé­cie do doura­do, só que esse tem col­oração muito rara e é encon­tra­do pouquís­si­mas vezes”, disse Vilar­do. Até hoje, há reg­istros de ape­nas sete ou oito indi­ví­du­os do bagre doura­do nas três local­i­dades do país. “É muito raro ser reg­istra­da essa cor nesse bicho.”

Importância

Além de iden­ti­ficar que o bagre doura­do de água doce ocorre em todas as áreas dos três esta­dos, com a maior dis­tribuição que se tem, Paulo Vilar­do reforçou que o peixe tem um padrão raro. Um ter­ceiro fator é que as condições da Flo­res­ta da Tiju­ca são muito boas, e a con­ser­vação dos rios é muito pos­i­ti­va.

“Ess­es peix­es de padrão raro de col­oração, tan­to daqui como de São Paulo, foram encon­tra­dos em áreas de reser­va ecológ­i­ca. Uma questão inter­es­sante é ver que, em um local muito preser­va­do, foi pos­sív­el encon­trar esse padrão mais raro”. O que os pesquisadores não sabem ain­da é se o peixe descober­to é mais sen­sív­el que os demais, acen­tu­ou Vilar­do.

Para a Mata Atlân­ti­ca, Alex Katz salien­tou que a importân­cia é que a maior parte de tais peix­es se ali­men­ta de inse­tos, basi­ca­mente, de lar­vas de mos­qui­to. “Eles são muito bons para con­tro­lar as pop­u­lações de mos­qui­tos, que são vetores de muitas doenças, como dengue e febre amarela. Os peix­es gostam tam­bém de escalar cachoeiras e chegam a locais inacessíveis. Por isso, são grandes predadores dos mos­qui­tos que apare­cem nos rios e cachoeiras. Às vezes, em 1,5 mil met­ros de alti­tude, a gente con­segue encon­trar alguns bagres. Eles ocor­rem em regiões muito altas dev­i­do à habil­i­dade de escalar rochas.” De acor­do com os pesquisadores, a descober­ta reforça a importân­cia da preser­vação dos cor­pos de água doce do Rio de Janeiro.

Tri­chomyc­terus jacu­pi­ran­ga é uma espé­cie de bagre, peixe pop­u­lar de água doce, que ocorre em diver­sos lugares da Améri­ca do Sul. A maio­r­ia tem cor­po amare­la­do com faixas pre­tas que atrav­es­sam o dor­so, além de out­ras vari­ações no padrão de man­chas e mar­cas. O difer­en­cial do tra­bal­ho dos pesquisadores da UFRJ foi iden­ti­ficar e com­pro­var que os exem­plares doura­dos encon­tra­dos no Par­que Nacional da Tiju­ca eram dessa mes­ma espé­cie pop­u­lar­mente con­heci­da, mas com uma vari­ação de cor descon­heci­da em águas flu­mi­nens­es. Até então, tais exem­plares  só havi­am sido reg­istra­dos na região do Rio Ribeira do Iguapé, na divisa entre São Paulo e Paraná.

Paulo Vilar­do infor­mou que, além de dar con­tinuidade à pesquisa sobre bagres doura­dos, o foco ago­ra serão out­ros gru­pos de peix­es, visan­do encon­trar novas espé­cies raras na Flo­res­ta da Tiju­ca. Axel Katz acres­cen­tou que um dos obje­tivos é localizar nova­mente nas microba­cias da região lam­baris cujo últi­mo reg­istro data de 1880, no Par­que Nacional da Tiju­ca, onde a espé­cie foi descri­ta pela primeira vez. “Encon­trar o lam­bari seria muito impor­tante porque esse é o local onde ele foi descrito”.

Além dis­so, a pesquisa pode encon­trar peix­es difer­entes. “Na Flo­res­ta da Tiju­ca tem mui­ta coisa para ser descober­ta”, afir­mou.

Preservação

Uma descober­ta desse tipo só “for­t­alece os esforços de ações para a con­ser­vação do Par­que Nacional da Tiju­ca, afir­mou a chefe da unidade, Viviane Las­mar. “Cada vez que temos resul­ta­do de pesquisa que demon­stra o quan­to o par­que tem ele­men­tos e questões rel­e­vantes para a con­ser­vação, isso faz com que ten­hamos um olhar mais cuida­doso para a questão da bio­di­ver­si­dade.”

À Agên­cia Brasil, Viviane lem­brou que o par­que tem uso públi­co inten­so e as infor­mações das pesquisas servem de ori­en­tação para as ações de orde­na­men­to necessárias, inclu­sive para aju­dar na questão da con­ser­vação tam­bém. “Não é só a pesquisa pela pesquisa, mas é como aplicar o resul­ta­do em ações efe­ti­vas, para mel­hor uso do ter­ritório como um todo e até para a con­sci­en­ti­za­ção dos vis­i­tantes.”

Edição: Nádia Fran­co

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