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Pesquisadores encontram vestígios que podem ser de sangue no DOI-Codi

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Equipe achou ainda registros de contagem de dias no cárcere


Pub­li­ca­do em 14/08/2023 — 17:47 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Em um tra­bal­ho pio­neiro no Brasil, pesquisadores encon­traram vestí­gios de uma sub­stân­cia que pode ser sangue na anti­ga sede do Desta­ca­men­to de Oper­ações de Infor­mação — Cen­tro de Oper­ações de Defe­sa Inter­na (DOI-Codi), local­iza­do no bair­ro de Vila Mar­i­ana, cap­i­tal paulista. Durante as escav­ações, a equipe tam­bém achou reg­istros que um pre­so políti­co fez para con­tagem de seus dias de cárcere no local, onde agentes da ditadu­ra, instau­ra­da com o golpe de 1964, tor­tu­ravam e exe­cu­tavam opos­i­tores. Atual­mente, no endereço, fun­ciona o 36° Dis­tri­to Poli­cial, da Polí­cia Civ­il.

Esse é o iní­cio da jor­na­da dos pesquisadores, que pode traz­er à tona mais mate­ri­ais que rev­elem como fun­cionavam os porões da ditadu­ra. A equipe con­ta com mem­bros vin­cu­la­dos à Uni­ver­si­dade Estad­ual de Camp­inas (Uni­camp), Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Minas Gerais (UFMG) e Uni­ver­si­dade Fed­er­al de São Paulo (Unife­sp). O tra­bal­ho foi pos­sív­el graças ao finan­cia­men­to da Uni­camp e do Con­sel­ho Nacional de Desen­volvi­men­to Cien­tí­fi­co e Tec­nológi­co (CNPq), obti­do após 14 ten­ta­ti­vas de se via­bi­lizá-lo, com neg­a­ti­vas de diver­sas agên­cias de fomen­to à ciên­cia.

Em cole­ti­va de impren­sa real­iza­da nes­ta segun­da-feira (14), quan­do chegou ao fim a primeira fase do estu­do, após 13 dias de tra­bal­ho em cam­po, os pesquisadores explicaram que a sus­pei­ta sobre o sangue ain­da exige con­fir­mação em lab­o­ratório. Con­forme destacaram, o indica­ti­vo de que a sub­stân­cia encon­tra­da pode ser sangue surgiu após ter con­ta­to com o reagente lumi­nol, muito uti­liza­do por per­i­tos crim­i­nais em cenas de crimes. Dev­i­do às restrições de orça­men­to, o que limi­ta as fer­ra­men­tas disponíveis, os pesquisadores devem ter uma con­clusão sobre a sub­stân­cia somente den­tro dos próx­i­mos meses.

A coor­de­nado­ra do Grupo de Tra­bal­ho Memo­r­i­al Doi-Codi, Deb­o­rah Neves, comen­ta que o com­plexo que out­ro­ra serviu como cen­tro clan­des­ti­no foi recon­heci­do como sítio arque­ológi­co em 2020. Dali, segun­do ela, eram emi­ti­das ordens que repeti­am o mod­e­lo de vio­lações de dire­itos em todo o país.

O lev­an­ta­men­to e a apu­ração de infor­mações em torno do DOI-Codi envolve diver­sas áreas do con­hec­i­men­to. Além do mate­r­i­al obti­do após o proces­so de deca­pagem, próprio da arque­olo­gia, os pesquisadores tam­bém se baseiam em fotografias aéreas e plan­tas de arquite­tu­ra para con­duzir as averiguações.

Out­ro apara­to colo­ca­do a serviço dos pesquisadores foi um geo­radar, que per­mi­tiu que enten­dessem as mod­i­fi­cações que o com­plexo sofreu ao lon­go dos anos. Reg­istros mostram que os primeiros pré­dios con­struí­dos no espaço que o cen­tro clan­des­ti­no divide com a del­e­ga­cia em ativi­dade foram a própria unidade poli­cial e um out­ro, que fica aos fun­dos. Era neste que o coro­nel Car­los Alber­to Bril­hante Ustra, do Exérci­to, per­mane­cia com a família, even­tual­mente. A edi­fi­cação de ambos data de 1962. Em 1973, foram ergui­dos os out­ros dois que com­ple­tam o con­jun­to de pré­dios.

Para ten­tar driblar as difi­cul­dades de ver­ba e con­tin­gente, a equipe bus­cou reunir esforços de vol­un­tários para desem­pen­har as tare­fas pre­vis­tas no crono­gra­ma. No total, 90 pes­soas se can­di­dataram às funções e 16 foram sele­cionadas para ocu­par as vagas. Parte dos vol­un­tários irá aux­il­iar na cole­ta de depoi­men­tos de pre­sos políti­cos, par­entes de víti­mas e out­ras pes­soas que teste­munharam as arbi­trariedades cometi­das pelos mil­itares e seus ali­a­dos.

Edição: Lílian Beral­do

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