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Pesquisas revelam preocupação com crianças em extremos climáticos

Frio e calor extremos elevam risco de mortalidade na infância

Rafael Car­doso — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 12/10/2025 — 09:21
Rio de Janeiro
São Paulo (SP) 31/08/2024 - Paulistanos aproveitam o calor em São Paulo no Parque do Ibirapuera.. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Duas pesquisas divul­gadas este mês aler­tam para os efeitos dos extremos climáti­cos nas cri­anças. Uma delas é um lev­an­ta­men­to encomen­da­do pela Fun­dação Maria Cecil­ia Souto Vidi­gal ao Datafol­ha: mais de 80% dos brasileiros temem pelos efeitos das mudanças climáti­cas em bebês e cri­anças de 0 a 6 anos.

O estu­do Panora­ma da Primeira Infân­cia: o impacto da crise climáti­ca entre­vis­tou 2.206 pes­soas, sendo 822 respon­sáveis por cri­anças, entre os dias 8 e 10 de abril de 2025. Os maiores medos se con­cen­tram em impactos sobre a saúde: 7 em cada 10 pes­soas (71%) man­i­fes­taram esse tipo de pre­ocu­pação, com destaque para as doenças res­pi­ratórias.

Out­ras questões lev­an­tadas por 39% dos entre­vis­ta­dos foram o maior risco de desas­tres (como enchentes, secas e queimadas), além da difi­cul­dade em aces­sar água limpa e comi­da (32% das respostas).

Segun­do o estu­do, 15% acred­i­tam que as mudanças climáti­cas provo­carão maior con­sciên­cia ambi­en­tal e 6% con­fi­am que a sociedade encon­trará soluções para reduzir os danos.

“Ver que a pop­u­lação recon­hece o risco que as cri­anças enfrentam já é uma vitória — sig­nifi­ca que enten­demos quem está na lin­ha de frente da crise e que há urgên­cia em agir. As cri­anças na primeira infân­cia são as menos cul­padas pela emergên­cia climáti­ca e, ain­da assim, são o públi­co mais afe­ta­do. Essa injustiça exige que cada medi­da toma­da con­sidere a vul­ner­a­bil­i­dade de quem depende da pro­teção dos adul­tos”, disse Mar­i­ana Luz, dire­to­ra da Fun­dação Maria Cecil­ia Souto Vidi­gal.

Mortalidade infantil

O out­ro estu­do cor­rob­o­ra a pre­ocu­pação da pop­u­lação. Ele foi con­duzi­do por cien­tis­tas do Cen­tro de Inte­gração de Dados e Con­hec­i­men­tos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), do Insti­tu­to de Saúde Cole­ti­va (ISC) da Uni­ver­si­dade Fed­er­al da Bahia (UFBA), da Lon­don School e do Insti­tu­to de Saúde Glob­al de Barcelona.

Pub­li­ca­da no per­iódi­co Envi­ron­men­tal Research, a pesquisa indi­ca que bebês em perío­do neona­tal (7 a 27 dias) são os mais afe­ta­dos pelo frio, com risco 364% maior de mor­rer em condições extremas, em com­para­ção às condições nor­mais. Com relação ao calor, o impacto cresce à medi­da que a cri­ança envel­hece, sendo 85% maior em calor extremo entre os que têm entre 1 e 4 anos.

Os pesquisadores anal­is­aram mais de 1 mil­hão de mortes de menores de 5 anos ao lon­go de 20 anos. O risco de mor­tal­i­dade nes­ta faixa etária chegou a ser 95% maior no frio extremo e 29% maior no calor extremo do que nos dias com tem­per­atu­ra ame­na (em torno de 14 a 21°C).

A pesquisa teve como base os dados do Sis­tema de Infor­mações sobre Mor­tal­i­dade (SIM) do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) e do Con­jun­to de Dados Mete­o­rológi­cos Diários em Grade do Brasil (BR-DWGD).

Pro­fes­sor do ISC/UFBA e colab­o­rador do Cidacs, Ismael Sil­veira expli­ca que pesquisas inter­na­cionais já indi­cavam que cri­anças peque­nas são mais vul­neráveis aos extremos climáti­cos. Mas havia pou­cas evidên­cias em país­es com cli­ma trop­i­cal.

“O Brasil tem dimen­sões con­ti­nen­tais e forte desigual­dade socioe­conômi­ca, o que o tor­na um ‘lab­o­ratório nat­ur­al’ para inves­ti­gar os impactos do cli­ma. A cober­tu­ra e qual­i­dade dos dados de óbitos e o uso de méto­dos estatís­ti­cos robus­tos favore­ce­r­am a super­ação dessa lacu­na”, diz Sil­veira.

Cri­anças são mais vul­neráveis aos efeitos das mudanças de tem­per­atu­ra porque seus cor­pos ain­da não desen­volver­am total­mente os mecan­is­mos de reg­u­lação tér­mi­ca. Nos dias mais quentes, os riscos incluem inso­lação, desidratação, prob­le­mas renais, doenças res­pi­ratórias e infec­ciosas. No frio, podem haver hipoter­mia, que des­en­cadeia com­pli­cações res­pi­ratórias e metabóli­cas, e favorece o aumen­to de infecções.

O Brasil apre­sen­ta vari­ações region­ais quan­to aos impactos climáti­cos. Os dados indicam que a mor­tal­i­dade de cri­anças menores de cin­co anos rela­ciona­da ao frio atingiu o maior aumen­to (117%) no Sul do país. Já a mor­tal­i­dade rela­ciona­da ao calor foi maior no Nordeste (102%).

As taxas ele­vadas de mortes de cri­anças con­tin­u­am con­cen­tradas nas regiões Norte, Nordeste e Cen­tro-Oeste. Essas regiões apre­sen­tam maior vul­ner­a­bil­i­dade socioe­conômi­ca e aces­so pior à infraestru­tu­ra bási­ca, como sanea­men­to e mora­dia ade­qua­da. O aumen­to das tem­per­at­uras rep­re­sen­ta uma ameaça adi­cional.

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