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Pessoas trans enfrentam rejeições em busca de vagas formais de emprego

No Dia da Visibilidade Trans, Bruna Valeska conta suas dificuldades

Rafael Car­doso — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 29/01/2025 — 08:28
Rio de Janeiro
Selo comemorativo desenvolvido pela Ascom do MDHC para s 20 anos do mês da visibilidade trans. Foto: Arquivo/MDHV
Repro­dução: © Arquivo/MDHC

Há um ano e dois meses, Bruna Vales­ka foi demi­ti­da de uma loja de per­fumaria e cos­méti­cos em que tra­bal­ha­va. Segun­do ela, o moti­vo prin­ci­pal foi trans­fo­bia da pes­soa que geren­ci­a­va o esta­b­elec­i­men­to. Até hoje ela não rece­beu os val­ores da rescisão de con­tra­to, nem con­seguiu se rein­serir no mer­ca­do de tra­bal­ho for­mal.

“Fui con­vi­da­da para tra­bal­har nes­sa empre­sa com a promes­sa de um salário alto e bol­sa de estu­dos para ter­mi­nar a fac­ul­dade em Quími­ca. E em ape­nas qua­tro meses me man­daram emb­o­ra”, con­ta Bruna. “E isso é uma con­stante. Eles con­tratam pes­soas tran­sex­u­ais para tra­bal­har tem­po­rari­a­mente e garan­tir o selo de empre­sa inclu­si­va”.

Hoje (29), quan­do se cel­e­bra o Dia Nacional da Vis­i­bil­i­dade Trans, a história de Bruna é rep­re­sen­ta­ti­va das difi­cul­dades enfrentadas por out­ras pes­soas trans ao lidar com pre­con­ceitos e por­tas fechadas no mer­ca­do de tra­bal­ho. Fato que se soma às dis­crim­i­nações sofridas em out­ras dimen­sões da vida. Ela foi rejeita­da e expul­sa de casa pela família, aban­do­nou uma uni­ver­si­dade públi­ca por fal­ta de acol­hi­men­to e, sem din­heiro para se sus­ten­tar, acabou moran­do na rua por um tem­po.

Tudo isso não a impediu de insi­s­tir em uma qual­i­fi­cação profis­sion­al. O primeiro emprego veio depois de par­tic­i­par de um pro­je­to da prefeitu­ra do Rio de Janeiro, quan­do con­seguiu uma vaga como aux­il­iar de coz­in­ha. De lá para cá, vier­am out­ros empre­gos e cin­co anos de exper­iên­cia reg­istra­dos na carteira de tra­bal­ho. Em comum, ela recla­ma do trata­men­to desigual das chefias em relação aos fun­cionários trans.

“Exis­tem muitas empre­sas que se dizem inclu­si­vas, mas são rig­orosas com as trans. Escol­hem muito por beleza, indi­cação, for­mação, enquan­to out­ros fun­cionários prestam as mes­mas funções e não são exigi­dos dessa maneira”, diz Bruna. “Não temos as mes­mas opor­tu­nidades de cresci­men­to das demais pes­soas. Não adi­anta cri­ar uma vaga especí­fi­ca para pes­soas trans e você desco­brir que, na mes­ma empre­sa, out­ras pes­soas têm a mes­ma função com salários maiores”.

Enquan­to ten­ta ger­ar algu­ma ren­da na inter­net, Bruna estu­da na área de estéti­ca e beleza, e espera que sur­ja uma opor­tu­nidade de tra­bal­ho for­mal que val­orize seus con­hec­i­men­tos e exper­iên­cias.

Rio de Janeiro (RJ) 29/01/2025 - Pessoas trans enfrentam rejeições em busca de vagas formais de emprego. Foto: Bruna Valeska/Arquivo pessoal
Repro­dução: Rio de Janeiro — Bruna Vales­ka fala das rejeições que enfrenta em bus­ca de vagas for­mais de emprego — Foto Bruna Valeska/Arquivo pes­soal

“Eu ten­ho son­ho de voltar ao mer­ca­do de tra­bal­ho. Eu fiquei muito magoa­da porque abri mão de muitas coisas para estar na últi­ma empre­sa. E muitas pes­soas como eu pas­sam por essas con­tratações tem­porárias. Você abre mão de toda uma vida, para depois ficar sem nada”, diz Bruna. “A sociedade con­ta com um número grande de pes­soas trans que pas­saram dos 35 anos, mere­cem uma opor­tu­nidade, mere­cem ficar no mer­ca­do de tra­bal­ho, ter profis­são e requal­i­fi­cação”.

Oportunidades de trabalho

Uma ini­cia­ti­va que bus­ca romper os pre­con­ceitos e aju­dar pes­soas tran­sex­u­ais no mer­ca­do de tra­bal­ho é a Roda de Empre­ga­bil­i­dade. O even­to ocorre hoje (29) em Cam­po Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, pro­movi­do pelo Insti­tu­to Rede Incluir. São ofer­e­ci­das mais de 100 vagas como aux­il­iar de comér­cio e de serviços gerais, vende­dor, caixa, eletricista e mecâni­co de refrig­er­ação.

O encon­tro prom­ete ofer­e­cer tam­bém ori­en­tação profis­sion­al, preparação para entre­vis­tas e encam­in­hamen­to dire­to para vagas em empre­sas com­pro­meti­das com a diver­si­dade. Nélio Georgi­ni, que é coor­de­nador de Diver­si­dade e Inclusão do Insti­tu­to Rede Incluir, diz que esse é um primeiro pas­so impor­tante, mas que as pes­soas trans pre­cisam mais do que vagas. É fun­da­men­tal que haja tam­bém recon­hec­i­men­to profis­sion­al e dig­nidade.

“O mun­do é muito binário, cos­tu­ma pen­sar ape­nas em questões como pre­to ou bran­co, homem ou mul­her. E tudo que foge ao bina­ris­mo, a sociedade tende a refu­tar. E o mer­ca­do de tra­bal­ho his­tori­ca­mente se fecha para as pes­soas trans. Elas têm difi­cul­dades como um todo. Aces­sar políti­cas públi­cas é sem­pre difí­cil. E quan­do você fala de empre­ga­bil­i­dade, as condições ain­da são precárias”, diz Nélio.

O coor­de­nador do insti­tu­to entende que o momen­to é de retro­ces­so para a val­oriza­ção de pes­soas trans no mer­ca­do de tra­bal­ho. Ele cita o movi­men­to de algu­mas cor­po­rações globais de revis­ar e elim­i­nar políti­cas de diver­si­dade e inclusão em seus quadros com a chega­da de Don­ald Trump à presidên­cia dos Esta­dos Unidos. Nélio espera que empresários brasileiros escol­ham um cam­in­ho con­trário e passem a val­orizar mais os profis­sion­ais tran­sex­u­ais.

“Esta­mos em um momen­to deci­si­vo em que as empre­sas pre­cisam se posi­cionar sobre a nos­sa pau­ta. Porque é fácil faz­er isso quan­do existe um ape­lo pop­u­lar e esse posi­ciona­men­to mel­ho­ra a imagem da cor­po­ração. Mas, nas difi­cul­dades, é que pre­cisamos que as empre­sas façam parte dessa resistên­cia tam­bém, para traz­er dig­nidade às pes­soas trans, inde­pen­den­te­mente do con­tex­to políti­co”, diz o coor­de­nador do Insti­tu­to Rede Incluir.

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