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Petrópolis: moradores ainda buscam onde morar, um mês após tragédia

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Forte chuva deixou 233 mortos e quatro desaparecidos


Pub­li­ca­do em 15/03/2022 — 09:02 Por Vladimir Platonow — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Ao com­ple­tar um mês da tragé­dia que tirou a vida de 233 pes­soas e deixou qua­tro desa­pare­ci­dos em Petrópo­lis, alguns prob­le­mas seguem sem solução. O maior deles é onde aco­modar as cen­te­nas de pes­soas que perder­am suas casas ou tiver­am que sair do imóv­el, com risco de desaba­men­to, após a enx­ur­ra­da que abalou o municí­pio na tarde de 15 de fevereiro.

Segun­do o últi­mo bal­anço da prefeitu­ra, são 685 pes­soas em abri­gos, a maio­r­ia em igre­jas e esco­las. Out­ras estão pro­vi­so­ri­a­mente em casas de par­entes. A maio­r­ia espera a con­cessão do aluguel social para con­seguir novo lugar para morar, mas o proces­so está muito lento.

Entre ess­es casos, está o de Mar­ta dos San­tos Ribeiro, que pre­cisou sair de casa, no Mor­ro da Ofic­i­na, e hoje está alo­ja­da na casa da irmã, depois de morar um mês em uma igre­ja. Ela e o mari­do Edi­son Alves da Sil­va con­ver­saram com a reportagem no alto do mor­ro, entre os escom­bros do que restou das residên­cias, onde tin­ham ido bus­car alguns per­tences.

O casal morador do Morro da Oficina, em Petrópolis, Edson Alves da Silva e Marta dos Sanrtos Ribeiro tiveram sua casa parcialmente destruída na enchente ocorrida há um mês
Repro­dução: Morador do Mor­ro da Ofic­i­na, em Petrópo­lis, o casal Edson Alves da Sil­va e Mar­ta dos San­r­tos Ribeiro tiver­am a casa par­cial­mente destruí­da na enchente ocor­ri­da há um mês — Tomaz Silva/Agência Brasil

“A gente esta­va na igre­ja até quin­ta-feira pas­sa­da, só que tive­mos de sair. Nós ain­da não achamos casa, mas já fize­mos o cadas­tro. As que nós encon­tramos, não aceitam o aluguel social. Já procu­ramos mais de 20 casas. O futuro é de mui­ta luta, mas temos fé”, disse ela, que está afas­ta­da pela Pre­v­idên­cia, porque se recu­pera de um câncer.

Out­ros se deparam com a fal­ta de recon­hec­i­men­to ofi­cial, por parte da Defe­sa Civ­il do municí­pio, de que seus imóveis estão em área de risco, o que garante o aces­so ao aluguel social. É o caso de Cami­la Lírio, que se pre­ocu­pa com seus viz­in­hos, a maio­r­ia morado­ra ao lado do Mor­ro da Ofic­i­na, em área que tam­bém corre risco de futur­os desaba­men­tos.

“Estou moran­do em casa de ami­gos, mas é pro­visório. Mui­ta gente ain­da não quer sair, porque ale­ga que não há risco. Isso é mais uma tragé­dia anun­ci­a­da. O que acon­te­ceu do lado de cá pode acon­te­cer do lado de lá. Tem que ofi­cializar a inter­dição. Ali tem umas 150 pes­soas. Estou cor­ren­do atrás do aluguel social. Para con­seguir uma casa, tem que pegar os dados e levar para a prefeitu­ra, que fará o paga­men­to na con­ta do pro­pri­etário. Mas ninguém quer locar, com a incerteza do paga­men­to”, rela­tou Cami­la.

Para o padre José Celesti­no Coel­ho, da Paróquia San­to Antônio, do Alto da Ser­ra, o prob­le­ma não é sim­ples e deman­da maior plane­ja­men­to do poder públi­co, para que novas tragé­dias não acon­teçam. Ele viu tudo bem a sua frente, pois a igre­ja fica a pouco mais de 100 met­ros do Mor­ro da Ofic­i­na. E foi para lá que acor­reram cen­te­nas de pes­soas na primeira noite, em bus­ca de abri­go.

“Aqui chegou a ter 280 pes­soas, ago­ra tem 24, que não estão con­seguin­do ir para o aluguel social. O ensi­na­men­to que ficou é que temos de ter mais plane­ja­men­to e fis­cal­iza­ção. Se con­tin­uar do jeito que está, é uma tragé­dia que vai ficar esque­ci­da e depois virão out­ras. Infe­liz­mente”, refletiu o padre.

Desaparecido

Enquan­to o prob­le­ma para uns é bus­car nova mora­dia, o dra­ma de out­ros é localizar um par­ente que con­tin­ua desa­pare­ci­do. É o caso de Adau­to Vieira da Sil­va. Ele ten­ta, sem suces­so, des­de o dia da tragé­dia, encon­trar o cor­po do fil­ho, Lucas Rufi­no da Sil­va.

Além dele, Adau­to perdeu no desliza­men­to do Mor­ro da Ofic­i­na a esposa e uma fil­ha, que já foram sepul­tadas. Porém, o cor­po de Lucas, de 21 anos, con­tin­ua desa­pare­ci­do. O pai diz que, logo após o tem­po­ral, ami­gos chegaram a recon­hecer, no meio da lama, o que seria o cor­po do jovem. Porém, depois que foi lev­a­do para o Insti­tu­to Médi­co Legal, o recon­hec­i­men­to foi de out­ra pes­soa, o que causa indig­nação.

O morador do Morro da Oficina, em Petrópolis, Adalto Vieira da Silva perdeu dois filhos e a esposa na enchente ocorrida há um mês
Repro­dução: O morador do Mor­ro da Ofic­i­na, em Petrópo­lis, Adal­to Vieira da Sil­va perdeu dois fil­hos e a esposa na enchente ocor­ri­da há um mês — Tomaz Silva/Agência Brasil

“Eu enter­rei a min­ha esposa e min­ha fil­ha. E o meu fil­ho? Se pon­ham no meu lugar. Ten­tar tirar o dire­ito de enter­rar o meu fil­ho. Ele esta­va com 21 anos. Já pas­sou um mês, mas para mim parece que foi ontem. Até quan­do vou ter que esper­ar? Eu só vou ame qui­etar quan­do eles solu­cionarem onde está o meu fil­ho”, disse ele, próx­i­mo ao local onde dois tra­tores ten­tavam remover toneladas de ter­ra, na esper­ança de localizar o cor­po de Lucas.

Comércio

A poucos quilômet­ros dali, o cen­tro de Petrópo­lis bus­ca retomar a força de seu comér­cio, sev­era­mente afe­ta­do pela inun­dação. Dezenas de lojas foram inva­di­das pela água e lama, fican­do sem­anas fechadas, para limpeza e refor­ma das insta­lações. Na Rua do Imper­ador, uma das prin­ci­pais da área cen­tral, o que se via na tarde dessa segun­da-feira (14) era o opos­to dos dias que se seguiram à tragé­dia.

Comerciantes da Rua do Imperador, na região central de Petrópolis, retomam atividades dez dias após as chuvas.
Repro­dução: Com­er­ciantes da Rua do Imper­ador, na região cen­tral de Petrópo­lis, retomam ativi­dades dez dias após as chu­vas. — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Em vez de lojas fechadas, cober­tas por grossa cama­da de lama, a região voltou a atrair mil­hares de pes­soas. Além dos próprios moradores, cen­te­nas de tur­is­tas voltam aos poucos a fre­quen­tar o comér­cio local, espe­cial­mente con­heci­do pelas con­fecções de bom preço e qual­i­dade, muito bus­cadas por clientes e revende­dores.

Um caso que se tornou emblemáti­co foi o da Livraria Nobel, que perdeu quase 15 mil livros em seu estoque, no sub­so­lo da loja, inun­da­do pela chu­va em questão de min­u­tos, sem dar tem­po aos fun­cionários faz­erem nada, além de sal­varem suas próprias vidas.

“Con­seguimos reabrir a loja. E para isso tive­mos muito car­in­ho da pop­u­lação. Foi muito rápi­do. Quan­do entrou pela por­ta da frente, o meu fil­ho já saiu dali com água na cin­tu­ra. O pre­juí­zo é grande. Não perdemos só os livros, foram cin­co com­puta­dores, móveis, divisórias. Ago­ra, quan­do começa a chover, fica todo mun­do ten­so e trauma­ti­za­do”, con­tou a pro­pri­etária, San­dra Madeira, que nem por isso pen­sou em desi­s­tir. Afi­nal, Petrópo­lis só tem duas livrarias: a Nobel e a Vozes.

Prefeitura

Procu­ra­da para se man­i­fes­tar sobre os prob­le­mas na con­cessão dos aluguéis soci­ais, a prefeitu­ra de Petrópo­lis respon­deu que o últi­mo bal­anço, de 10 de março, inclui 170 aluguéis soci­ais. “Impor­tante diz­er que a prefeitu­ra fez todos os esforços para agilizar a con­cessão de aluguéis soci­ais. Um grupo de tra­bal­ho, que envolve todas as sec­re­tarias, atua na pon­ta, aux­il­ian­do as famílias na bus­ca por mora­dia segu­ra. O municí­pio tam­bém liber­ou a exigên­cia do lau­do da Defe­sa Civ­il pelo perío­do de 60 dias, jus­ta­mente para acel­er­ar o proces­so”, escreveu a prefeitu­ra em nota.

Até o momen­to, foram 1.778 lau­dos con­cluí­dos e 3.012 estão em anda­men­to. No total, a Defe­sa Civ­il tem 5.802 ocor­rên­cias reg­istradas.

Edição: Graça Adju­to

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