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Petrópolis reaviva ligação secular com imigração japonesa

Repro­dução: © Bun­ka-Sai

Cidade foi sede da primeira delegação do Japão no Brasil


Pub­li­ca­do em 17/08/2023 — 07:00 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Quan­do o assun­to é a história da imi­gração japone­sa no Brasil, geral­mente a primeira cidade que vem à mente é São Paulo. Afi­nal, e lá na cap­i­tal paulista que está a maior comu­nidade do país asiáti­co no Brasil. Por out­ro lado, quan­do se fala em Petrópo­lis, região ser­rana do Rio de Janeiro, sabe-se logo que a região é chama­da até hoje de Cidade Impe­r­i­al, por ter servi­do de residên­cia da Família Real brasileira. 

Mas o que pouco se fala é que a relação entre Brasil e Japão começou jus­ta­mente em Petrópo­lis. A cidade de cli­ma ameno foi a escol­hi­da para sedi­ar a primeira del­e­gação diplomáti­ca do país asiáti­co no Brasil. É para faz­er essa lig­ação ficar mais e mais con­heci­da que Petrópo­lis comem­o­ra, a par­tir des­ta quin­ta-feira (17) o Bun­ka-Sai, a Fes­ta da Cul­tura Japone­sa. Bun­ka-Sai é uma translit­er­ação que sig­nifi­ca cul­tura, em japonês.

O mar­co da imi­gração japone­sa no Brasil com­ple­tou 115 anos em jun­ho. Mas a relação com Petrópo­lis é mais anti­ga que isso. Em 1897, dois anos depois da assi­natu­ra do Trata­do de Amizade, Comér­cio e Nave­g­ação, entre o Brasil e o Japão, chegou ao Brasil o primeiro grupo diplomáti­co japonês, que ficou hospeda­do em Petrópo­lis, no então Alexan­dria Hotel, atu­al Con­ven­to Nos­sa Sen­ho­ra de Lour­des. No mes­mo ano, foi aber­ta na cidade a primeira rep­re­sen­tação diplomáti­ca do Japão.

“Petrópo­lis foi escol­hi­da por causa do sur­to de febre amarela no Rio [então cap­i­tal do Império]”, expli­ca à Agên­cia Brasil o pres­i­dente da Asso­ci­ação Nikkei de Petrópo­lis, Masao Nakashima.

Em 1906, a par­tir de um relatório envi­a­do de Petrópo­lis para o gov­er­no japonês, as fron­teiras do Brasil foram aber­tas para a imi­gração japone­sa. No dia 18 de jun­ho de 1908, 781 japone­ses desem­bar­caram do navio Kasato Maru, no Por­to de San­tos, em São Paulo, para tra­bal­har nas lavouras de café, dan­do iní­cio ofi­cial à comu­nidade nipôni­ca em solo brasileiro.

O fes­ti­val Bun­ka-Sai se estende até o domin­go (20) e acon­tece no Palá­cio de Cristal, con­strução de arquite­tu­ra ecléti­ca, inau­gu­ra­do em 1884. Na pro­gra­mação, ofic­i­nas de mangá (as famosas histórias em quadrin­hos japone­sas), origa­mi, palestras, espetácu­los de danças e músi­cas inspi­ra­dos em ani­mes (esti­lo de ani­mação grá­fi­ca), demon­strações de artes mar­ci­ais, arte­sana­to e a tão famosa culinária japone­sa. As atrações são de graça.

“O Bun­ka-Sai é impor­tante para man­ter vivo os ensi­na­men­tos, cos­tumes e a nos­sa tradição”, avalia Nakashima, fil­ho de japone­ses e nasci­do em São Paulo.

“Neste ano de comem­o­ração pelos 115 anos da imi­gração japone­sa no Brasil, a fes­ta vai ser ain­da mais espe­cial. Tur­is­tas e pet­ro­pol­i­tanos vão poder explo­rar novas exper­iên­cias em uma opor­tu­nidade úni­ca de imer­são na fasci­nante cul­tura japone­sa”, prom­ete a secretária munic­i­pal de Tur­is­mo, Sil­via Gue­don.

O fes­ti­val faz parte do cal­endário de even­tos da cidade des­de 2008, quan­do a fes­ta foi cri­a­da em comem­o­ração do cen­tenário da imi­gração japone­sa. Na época, era bati­za­do de Nip­pon Mat­suri, fes­ti­val japonês em por­tuguês.

“A história de Petrópo­lis é rica e diver­si­fi­ca­da. Vai além do Império e da col­o­niza­ção ger­mâni­ca. A imi­gração japone­sa tem lig­ação dire­ta conosco, e o Bun­ka-Sai é uma fes­ta que res­ga­ta e apre­sen­ta para as novas ger­ações a história, o lega­do e as con­tribuições para a cul­tura, a gas­trono­mia e para o desen­volvi­men­to econômi­co de Petrópo­lis e do Brasil como um todo”, desta­ca o prefeito de Petrópo­lis, Rubens Bomtem­po.

A cidade tem out­ras for­mas de man­ter viva a lig­ação com o país asiáti­co, como o Museu do Japão e o Cir­cuito das Cere­jeiras, que repro­duz na Cidade Impe­r­i­al a beleza da flo­ração das sakuras, como são chamadas no Japão. A beleza da natureza é a mes­ma, a difer­ença é o perío­do de exibição. Enquan­to no Japão flo­rescem entre o fim de março e iní­cio de abril — começo da pri­mav­era, no Brasil a flo­ração acon­tece da metade de jul­ho até agos­to. Lugares de atração turís­ti­ca como o Lago do Qui­tand­in­ha, o Museu Impe­r­i­al e o Palá­cio Rio Negro rece­ber­am as sementes da espé­cie.

Integração Brasil-Japão

O inter­esse de man­ter viva a história da relação entre os dois país­es é jus­ti­fi­ca­do pelo inter­câm­bio pop­u­la­cional. Segun­do a Embaix­a­da do Japão no Brasil, aprox­i­mada­mente 2 mil­hões de japone­ses e descen­dentes vivem no Brasil. É a maior pop­u­lação de origem japone­sa fora do Japão. Além dis­so, o Japão é o quin­to país com a maior comu­nidade brasileira no exte­ri­or. São quase 207 mil, de acor­do com o Min­istério das Relações Exte­ri­ores.

Petrópolis reaviva ligação secular com imigração japonesa. Foto: Bunka-Sai
Repro­dução: Petrópo­lis rea­v­i­va lig­ação sec­u­lar com imi­gração japone­sa. Foto: Bun­ka-Sai

A relação diplomáti­ca entre ambos só foi inter­romp­i­da entre 1942 e 1952, por causa da Segun­da Guer­ra Mundi­al (1939–1945).

Este ano, a inte­gração entre os dois país­es pode aumen­tar ain­da mais. No últi­mo dia 9, os dois país­es anun­cia­ram a isenção bilat­er­al de exigên­cia de vis­to de tur­is­mo a par­tir de 30 de setem­bro de 2023. Assim, tur­is­tas japone­ses poderão vis­i­tar o Brasil sem a obri­ga­to­riedade da emis­são de vis­to, o que tam­bém valerá para os brasileiros que plane­jam ir ao Japão.

Presença japonesa

Além da influên­cia da cul­tura japone­sa no cotid­i­ano dos brasileiros, como a culinária, chás e artes mar­ci­ais, entre out­ros ele­men­tos, há cidades especi­fi­cas com pre­sença forte de tradições e cos­tumes nipôni­cos.

Em São Paulo, o bair­ro da Liber­dade pro­por­ciona a sen­sação de estar quase em ruas japone­sas, com uma arquite­tu­ra ori­en­tal e fachadas com ideogra­mas (sím­bo­los grá­fi­cos).

A cidade de Assaí, no Paraná, abri­ga uma comu­nidade nipo-brasileira des­de 1930 e real­iza even­tos tradi­cionais no Japão, como o Bon Odori e o Tan­aba­ta. O sis­tema de pro­dução agrí­co­la tam­bém é real­iza­do com téc­ni­cas japone­sas.

Ivoti, no Rio Grande do Sul, rece­beu 26 famílias de imi­grantes em 1966, for­man­do uma colô­nia japone­sa pro­du­to­ra de uvas, kiwi, hor­tal­iças e flo­res. A pop­u­lação cresceu e atual­mente é respon­sáv­el por realizar fes­tas cul­tur­ais, como a Feira da Colô­nia Japone­sa, a gin­cana esporti­va Undo Kai e o even­to Enguei Kai.

Na Região Norte, a cidade de Tomé-Açu, no Pará, rece­beu imi­grantes japone­ses em 1926. Três anos depois, a Com­pan­hia Nipôni­ca de Plan­tação do Brasil com­prou ter­ras paraens­es para 189 japone­ses. Com o tra­bal­ho dos imi­grantes, a cidade gan­hou o títu­lo de maior pro­du­to­ra brasileira de pimen­ta-do-reino.

Serviço

Bun­ka-Sai, Fes­ti­val da Cul­tura do Japão de Petrópo­lis

17 a 20 de agos­to de 2023

Pro­gra­mação no site.

Edição: Valéria Aguiar

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