...
sábado ,18 janeiro 2025
Home / Justiça / PGR: morte de Marielle ocorreu para proteger interesses de milícias

PGR: morte de Marielle ocorreu para proteger interesses de milícias

Repro­dução: © Foto Mídia NINJA

Conclusão está na denúncia feita ao STF mais cedo


Publicado em 09/05/2024 — 19:34 Por André Richter — Repórter da Agência Brasil — Brasília

A Procu­rado­ria-Ger­al da Repúbli­ca (PGR) con­cluiu que o assas­si­na­to da vereado­ra Marielle Fran­co e do motorista Ander­son Gomes, ocor­ri­do em 2018, foi exe­cu­ta­do para pro­te­ger inter­ess­es econômi­cos de milí­cias e des­en­co­ra­jar atos de oposição políti­ca.

A con­clusão está na denún­cia apre­sen­ta­da mais cedo ao Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al (STF) con­tra os irmãos Brazão, pre­sos em março deste ano. Eles são acu­sa­dos de serem man­dantes do crime.  Durante as inves­ti­gações, o ex-poli­cial Ron­nie Lessa assi­nou acor­do de delação pre­mi­a­da e assum­iu ter cometi­do os assas­si­natos.

No iní­cio da noite des­ta quin­ta-feira (9), o min­istro Alexan­dre de Moraes, rela­tor do caso, retirou o sig­i­lo do doc­u­men­to.

Na denún­cia, o vice-procu­rador-ger­al da Repúbli­ca, Hiden­bur­go Chateaubriand, denun­ciou Domin­gos Brasão, con­sel­heiro do Tri­bunal de Con­tas do Rio de Janeiro, e Chiquin­ho Brazão, dep­uta­do fed­er­al (União-RJ), por homicí­dio e orga­ni­za­ção crim­i­nosa.

Para a PGR, o assas­si­na­to ocor­reu por moti­vo tor­pe e medi­ante embosca­da para difi­cul­tar a defe­sa de Marielle e Ander­son.

“As três infrações foram prat­i­cadas medi­ante embosca­da e com o emprego de recur­so que difi­cul­tou a defe­sa dos ofen­di­dos. A roti­na das víti­mas foi estu­da­da, a perseguição foi silen­ciosa e o ataque, em via públi­ca, repenti­no. Marielle foi atingi­da por qua­tro dis­paros de arma de fogo na cabeça e Ander­son, por três dis­paros nas costas, difi­cul­tan­do qual­quer reação defen­si­va”, escreveu a procu­rado­ria.

O doc­u­men­to tam­bém apon­ta que o tra­bal­ho da vereado­ra a favor da reg­u­lar­iza­ção de ter­ras para pes­soas de menor ren­da provo­cou ani­mosi­dade com o grupo dos irmãos Brazão. As áreas estavam em ter­renos dom­i­na­dos por milí­cias no Rio de Janeiro.

“Marielle se tomou, por­tan­to, a prin­ci­pal opos­i­to­ra e o mais ati­vo sím­bo­lo da resistên­cia aos inter­ess­es econômi­cos dos irmãos. Matá-la sig­nifi­ca­va elim­i­nar de vez o obstácu­lo e, ao mes­mo tem­po, dis­suadir out­ros políti­cos do grupo de oposição a imi­tar-lhe a pos­tu­ra”, afir­mou a PGR.

A denún­cia tam­bém desta­ca que o ex-chefe da Poli­cia Civ­il do Rio Rival­do Bar­bosa,  pre­so por deter­mi­nação do STF, deu ori­en­tações para real­iza­ção dos dis­paros.

“Foi Rival­do quem ori­en­tou a todos a não exe­cu­tar o crime em tra­je­to que par­tisse ou seguisse para a Câmara Munic­i­pal, para dis­sim­u­lar a moti­vação políti­ca do crime”, acres­cen­tou a denún­cia.

Ain­da foram denun­ci­a­dos por homicí­dio Ronald Paulo de Alves Pereira, con­heci­do por Major Ronald, acu­sa­do de realizar o tra­bal­ho de mon­i­tora­men­to da roti­na de Marielle antes do crime, e o ex-poli­cial mil­i­tar Rob­son Cal­ix­to Fon­se­ca, asses­sor de Domin­gos Brazão no TCE do Rio, que responde por orga­ni­za­ção crim­i­nosa. Os dois foram pre­sos hoje.

Os acu­sa­dos tam­bém vão respon­der pela ten­ta­ti­va de assas­si­na­to de Fer­nan­da Chaves, então asses­so­ra de Marielle. Ela esta­va no car­ro com a vereado­ra e con­seguiu sobre­viv­er.

“No caso de Fer­nan­da Gonçalves Chaves, o homicí­dio ape­nas não se con­sumou por cir­cun­stân­cias alheias à von­tade dos denun­ci­a­dos. É que como ela se abaixou e o cor­po de Marielle Fran­cis­co da Sil­va esta­va ao seu lado, não pode ser alve­ja­da”, con­cluiu a PGR.

Defesa

Em nota, a defe­sa de Chiquin­ho Brazão disse que ain­da não teve aces­so à denún­cia apre­sen­ta­da pela PGR, bem como ain­da não con­hece os ter­mos das delações no caso.

“Assim, ain­da não é pos­sív­el faz­er um juí­zo de val­or sobre as acusações. O advo­ga­do Cle­ber Lopes disse que irá se man­i­fes­tar com mais detal­h­es “assim que o rela­tor do caso per­mi­tir que a defe­sa con­heça todos os ele­men­tos pro­duzi­dos pela inves­ti­gação”.

Os advo­ga­dos Marce­lo Fer­reira e Felipe Dalleprane, que rep­re­sen­tam o del­e­ga­do Rival­do Bar­bosa, tam­bém afir­maram que ain­da não tiver­am aces­so ao doc­u­men­to da PGR. Eles acres­cen­taram que “cau­sou estran­heza à defe­sa o fato de nen­hum dos inves­ti­ga­dos terem sido ouvi­dos antes da denún­cia, em total afronta à decisão do min­istro Alexan­dre de Moraes, que havia deter­mi­na­do a oiti­va dos inves­ti­ga­dos logo após a prisão”.

Em nota, os defen­sores sus­ten­taram ain­da que, no caso de Bar­bosa, “a nar­ra­ti­va de um réu con­fes­so de homicí­dio [Ron­nie Lessa] parece mais impor­tante do que o depoi­men­to de um del­e­ga­do de polí­cia com mais de 20 anos de exce­lentes serviços à segu­rança públi­ca do RJ, que sequer teve a chance de expor sua ver­são sobre os fatos antes de ser denun­ci­a­do, uma ver­dadeira demon­stração de inver­são de val­ores”.

Os advo­ga­dos Mar­cio Pal­ma e Rober­to Brzezin­s­ki, que rep­re­sen­tam Domin­gos Brazão, tam­bém infor­maram não terem tido aces­so à denún­cia. “A defe­sa con­sti­tuí­da ain­da não teve aces­so à acusação e tam­pouco às colab­o­rações, porém, ao jul­gar pelas notí­cias, a nar­ra­ti­va acusatória é uma hipótese inverossímil, que se ampara somente na nar­ra­ti­va do assas­si­no con­fes­so, sem apre­sen­tar provas que sus­ten­tem a ver­são do homi­ci­da”.

Em nota, o advo­ga­do Igor Car­val­ho, rep­re­sen­tante de Major Ronald, declar­ou que a defe­sa foi sur­preen­di­da com a denún­cia. No entendi­men­to do advo­ga­do, o relatório da Poli­cia da Fed­er­al sobre o caso Marielle indi­cou que Ron­nie Lessa não apre­sen­tou provas para cor­rob­o­rar a supos­ta par­tic­i­pação de seu cliente no assas­si­na­to. “Causa ele­va­da estran­heza a con­du­ta da Procu­rado­ria-Ger­al da Repúbli­ca ao ofer­e­cer denún­cia e requer­er prisão, haja vista o pequeno pra­zo entre o tér­mi­no da longe­va inves­ti­gação”, diz a nota. A defe­sa diz que quan­do tiv­er maiores infor­mações sobre o proces­so, “trará à sociedade as provas que refu­tam tais infun­dadas acusações”.

A reportagem bus­ca a defe­sa de Rob­son Cal­ix­to para man­i­fes­tação.

Matéria alter­a­da às 20h07 para acrésci­mo de infor­mações.

Edição: Aline Leal

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Bolsonaro recorre e Moraes nega viagem aos EUA mais uma vez

Passaporte do ex-presidente está apreendido desde fevereiro de 2024 Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em 17/01/2025 — …