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Planta invasora da Caatinga pode ser risco para ecossistema no Rio

Repro­dução: © Alex Santos/Divulgação

Alerta é de pesquisadores da Universidade Federal Rural do estado


Pub­li­ca­do em 21/09/2023 — 07:32 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Pesquisadores da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Rur­al do Rio de Janeiro (UFRRJ) localizaram no litoral do municí­pio de Saquare­ma, Região dos Lagos flu­mi­nense, a ocor­rên­cia de uma plan­ta da espé­cie Kall­stroemia tribu­loides, con­heci­da pop­u­lar­mente como rabo-de-calan­go.

O biól­o­go e pro­fes­sor do Colé­gio Téc­ni­co (Ctur) da UFRRJ, Alex Braz Iacone San­tos, infor­mou que essa plan­ta é típi­ca do bio­ma da Caatin­ga brasileira, adap­ta­da a ambi­entes enso­lara­dos e com prefer­ên­cia por solos arenosos e pobres. Lev­an­tan­do dados de amostragem no Brasil, Alex San­tos e o téc­ni­co do Her­bário RBR do Depar­ta­men­to de Botâni­ca da UFRRJ, Thi­a­go de Azeve­do Amor­im, ver­i­ficaram que a úni­ca ocor­rên­cia doc­u­men­ta­da do rabo-de-calan­go no Rio de Janeiro foi em 1877, na Quin­ta da Boa Vista, pelo botâni­co Auguste François Marie Glaziou. A amostra cole­ta­da por Glaziou está no Her­bário do Museu Nacional de História Nat­ur­al de Paris.

Ago­ra, após 146 anos, a espé­cie foi redescober­ta no esta­do do Rio. O Her­bário RBR con­fir­mou se tratar da Kall­stroemia tribu­loides. Em ter­mos de mor­folo­gia, tra­ta-se de uma erva que cresce para­lela ao chão, for­man­do uma ampla veg­e­tação rasteira. A mudança das condições climáti­cas facil­i­taria o seu esta­b­elec­i­men­to em novas áreas, fora da Caatin­ga.

“Aqui­lo chamou muito a nos­sa atenção e fomos apro­fun­dar as pesquisas. O que temos de con­hec­i­men­to hoje é que é uma espé­cie exóti­ca com poten­cial de se trans­for­mar em inva­so­ra”, disse o pro­fes­sor. A difer­ença é que espé­cies exóti­cas são, sim­ples­mente, as que estão ocor­ren­do fora do seu ter­ritório orig­i­nal. Já a inva­so­ra, além de estar ocor­ren­do fora do ter­ritório orig­i­nal, tem poten­cial de se propa­gar no ambi­ente e causar pre­juí­zo a out­ras espé­cies, como o coral-sol. No caso do rabo-de-calan­go, a adap­tação da espé­cie na cos­ta sud­este do Brasil pode rep­re­sen­tar risco para o ecos­sis­tema de restin­ga, veg­e­tação que fica na bor­da das pra­ias, indi­cou o pesquisador.

Controle

Para faz­er o con­t­role dessas plan­tas, entre­tan­to, é pre­ciso haver autor­iza­ção do Poder Públi­co. Em arti­go recente pub­li­ca­do na revista Check List, no qual emi­ti­ram nota téc­ni­ca sobre o acha­do, os pesquisadores fiz­er­am um aler­ta ger­al sobre o prob­le­ma. “A gente não pode faz­er isso sem autor­iza­ção, porque podemos incor­rer em crime ambi­en­tal e tam­bém em um con­t­role que ain­da não se faz necessário”. Por isso, eles estão lev­an­tan­do dados em redes soci­ais para apu­rar se exis­tem out­ras ocor­rên­cias do rabo-de-calan­go, procu­ran­do em comu­nidades que são voltadas para botâni­ca no face­book e insta­gram. Já foram encon­tradas pes­soas fazen­do o mes­mo rela­to em Ararua­ma, na Região dos Lagos; São Gonça­lo, região met­ro­pol­i­tana do Rio; e na Ilha do Fundão, na cap­i­tal flu­mi­nense, onde se local­iza o cam­pus da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ).

Rio de Janeiro (RJ) 20/09/2023 - Matéria sobre presença de planta invasora da Caatinga na Região dos Lagos fluminense. Foto: Alex Santos/Divulgação
Repro­dução: Rio de Janeiro — Plan­ta inva­so­ra da Caatin­ga na Região dos Lagos flu­mi­nense. Foto Alex Santos/Divulgação

“Isso só vai aumen­tan­do as nos­sas hipóte­ses de que, real­mente, está ini­ci­a­do um proces­so de invasão biológ­i­ca. Os próx­i­mos pas­sos incluem iden­ti­ficar como essa pop­u­lação está crescen­do e mapear ao lon­go do ter­ritório”. Por meio das redes soci­ais, Alex San­tos afir­mou que a respos­ta é mais ráp­i­da e se con­segue cobrir esse mapa maior de dis­tribuição. Segun­do o pro­fes­sor, a com­petên­cia para faz­er o con­t­role da espé­cie cabe ao Insti­tu­to do Ambi­ente do Rio de Janeiro, ao Insti­tu­to Brasileiro do Meio Ambi­ente e dos Recur­sos Nat­u­rais ren­ováveis e ao Insti­tu­to Chico Mendes de Con­ser­vação da Bio­di­ver­si­dade.

Alex San­tos plane­ja cole­tar amostras das espé­cies nos out­ros municí­pios cita­dos, ver como está a pop­u­lação da plan­ta em cada local, quan­tos indi­ví­du­os tem. De posse das infor­mações e das con­fir­mações, os pesquisadores endos­sam o pedi­do de ação de con­t­role ao Poder Públi­co. “Só vai aumen­tan­do o grau de urgên­cia em mon­i­torar e ver as condições da espé­cie. Porque hoje, com as infor­mações que temos já dá para um aler­ta grande”.

Prejuízos

Para o pro­fes­sor, em casos de pre­juí­zo econômi­co, ao tur­is­mo, cau­sa­do por espé­cies inva­so­ras, a reação é ime­di­a­ta. Um exem­p­lo foi o caso do mex­il­hão doura­do que inva­diu diver­sas hidrelétri­c­as da região de Minas Gerais e se incrus­ta­va em turbinas de usi­nas e em embar­cações. “Isso causa­va muito pre­juí­zo econômi­co. Daí a pre­ocu­pação do Poder Públi­co em evi­tar ao máx­i­mo a propa­gação dessa espé­cie pelas bacias hidro­grá­fi­cas do Brasil”. No caso do rabo-de-calan­go, o biól­o­go acred­i­ta que se hou­vesse um pre­juí­zo econômi­co, a celeri­dade para resolver o prob­le­ma seria maior.

Ele expli­cou que o esforço de restringir a propa­gação da espé­cie ago­ra, que envolve pop­u­lações de poucos indi­ví­du­os e pouco dis­tribuí­das, é muito mais fácil do que futu­ra­mente, se ela estiv­er invadin­do áreas de restin­ga da Região dos Lagos, que são con­tínuas e pouco mon­i­toradas. “Se ela vier a se espal­har e dom­i­nar o ambi­ente. Só quan­do ela já estiv­er col­o­niza­da e troux­er pre­juí­zo às espé­cies locais é que se vai dar con­ta da insta­lação dela naque­le ter­ritório”, afir­mou.

A ver­i­fi­cação nos out­ros municí­pios deve ser ini­ci­a­da nos próx­i­mos meses. O pro­je­to não con­ta com nen­hum finan­cia­men­to até o momen­to e está sendo desen­volvi­do por San­tos e Amor­im pelo inter­esse dos dois pela pesquisa. O esforço é pes­soal, bem como os recur­sos finan­ceiros investi­dos. Para ampli­ar o pro­je­to, os pesquisadores procu­ram envolver o máx­i­mo de pes­soas pos­sív­el. A ideia não é monop­o­lizar as infor­mações. “Muito pelo con­trário. A gente está, jus­ta­mente, pas­san­do para o Poder Públi­co, para as uni­ver­si­dades e os órgãos ambi­en­tais, para que todo mun­do ten­ha atenção e con­si­ga faz­er uma estraté­gia cole­ti­va a fim de mon­i­torar essa espé­cie”.

Alex San­tos pede à pop­u­lação para enviar relatos aos e‑mails [email protected] ou [email protected] , caso iden­ti­fiquem a espé­cie no esta­do.

Edição: Graça Adju­to

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