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Plataformas devem promover ambiente seguro para jovens, diz instituto

Avaliação é de especialista em educação digital

Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 16/04/2025 — 06:50
Brasília
Brasília/DF, 19/01/2024, Golpes feitos pelo telefone celular. Crime cibernético, Fake news, cyber crime, golpe, fraude, Fraude bancária. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Diante de câmeras que trans­mitem seus movi­men­tos ao vivo para 141 pes­soas na inter­net, um ado­les­cente de 17 anos ati­ra coquetéis molo­tov em um homem que dormia em situ­ação de rua no Rio de Janeiro. A víti­ma sobre­vive, mas fica em esta­do grave e sofre queimaduras em 70% do cor­po.

Segun­do a Polí­cia Civ­il do Rio de Janeiro, o crime bár­baro foi incen­ti­va­do e con­trata­do no Dis­cord, uma platafor­ma dig­i­tal fre­quente­mente usa­da por cri­anças e jovens para bate-papo. Em um desafio pro­movi­do por usuários da platafor­ma, um prêmio de R$ 2 mil foi ofer­e­ci­do ao ado­les­cente.

As inves­ti­gações con­stataram que o ataque não foi um ato iso­la­do e demon­stram o peri­go à espre­i­ta de cri­anças e ado­les­centes na inter­net ─ sejam eles alvos da vio­lên­cia ou ali­ci­a­dos para cometê-la. 

Os admin­istradores do servi­dor que veicu­lou o vídeo do ataque com­pun­ham uma orga­ni­za­ção crim­i­nosa espe­cial­iza­da em crimes cibernéti­cos. São inves­ti­ga­dos nesse con­tex­to crimes de ódio, de ten­ta­ti­va de homicí­dio, de insti­gação ao suicí­dio, de maus tratos a ani­mais, de apolo­gia ao nazis­mo e de armazena­men­to e divul­gação de pornografia infan­til.

“A atu­ação do grupo é tão sig­ni­fica­ti­va no cenário vir­tu­al que mere­ceu a atenção de duas agên­cias inde­pen­dentes dos Esta­dos Unidos, que emi­ti­ram relatórios sobre os fatos, con­tribuin­do com o tra­bal­ho dos poli­ci­ais civis envolvi­dos no caso”, disse a cor­po­ração.

Responsabilidade compartilhada

A respon­s­abil­i­dade por ambi­entes dig­i­tais seguros para cri­anças e ado­les­centes é com­par­til­ha­da entre as famílias e as esco­las e não deve estar dis­so­ci­a­da da reg­u­lação das grandes empre­sas de tec­nolo­gias pelo Poder Públi­co, defende o coor­de­nador de dig­i­tal do Insti­tu­to Alana, Rodri­go Nejm.

O espe­cial­ista em edu­cação dig­i­tal é a favor da respon­s­abi­liza­ção das platafor­mas vir­tu­ais que não pro­tegem os ado­les­centes den­tro de seus espaços.

Nejm con­sid­era que é obri­gação das chamadas big techs a adoção de pro­ced­i­men­tos de segu­rança. “[São necessários] mecan­is­mos de pro­teção que envolvam mais respon­s­abi­liza­ção das empre­sas que não pro­te­gerem os ado­les­centes que estão lá den­tro; mecan­is­mos de recomen­dação de con­teú­do mais cuida­dosos para não recomen­dar con­teú­do vio­len­to, con­teú­do não saudáv­el; e reg­u­lação tam­bém para respon­s­abi­lizar as empre­sas que usam funções de design adi­ti­vas, ou seja, funções chamadas de design manip­u­la­ti­vo, que com­pro­vada­mente causam pre­juí­zos à saúde dos usuários.”

Verificação etária

Out­ro pro­ced­i­men­to recomen­da­do é a ver­i­fi­cação etária, com méto­dos que vão além da autode­clar­ação, facil­mente burla­da quan­do o usuário somente infor­ma sua data de nasci­men­to. Em dezem­bro de 2024, foi aprova­do no Sena­do Fed­er­al, e está em dis­cussão na Câmara dos Dep­uta­dos, o pro­je­to de lei (PL n° 2628/2022), que pre­vê a ver­i­fi­cação etária em serviços de redes soci­ais e em sites pornográ­fi­cos.

De acor­do com Rodri­go Nejm, a con­fer­ên­cia da idade do inter­nau­ta é uma impor­tante bar­reira da entra­da de cri­anças e ado­les­centes nas redes soci­ais, para não per­mi­tir que indi­ví­du­os muito jovens acessem serviços e con­teú­dos a públi­cos mais vel­hos. No entan­to, é pre­ciso cuidar de quem já nave­ga ness­es ambi­entes.

“Vários méto­dos são pos­síveis, que podem ser mais rig­orosos para platafor­mas mais perigosas, e méto­dos mais bási­cos, para platafor­mas de menor risco. Então, o que a gente pre­cisa ago­ra, defin­i­ti­va­mente, no Brasil é de uma reg­u­lação que exi­ja a existên­cia dess­es méto­dos”.

Cyberbullying

O debate sobre o estí­mu­lo à vio­lên­cia em ambi­entes dig­i­tais, sobre­tu­do com o ali­ci­a­men­to de cri­anças e ado­les­centes para a práti­ca de crimes, gan­hou ain­da mais impul­so com o suces­so inter­na­cional de Ado­lescên­cia, no stream­ing Net­flix. Em qua­tro episó­dios, a série tra­ta do assas­si­na­to de uma meni­na, cujo prin­ci­pal sus­peito é um cole­ga de esco­la. Com ado­les­centes imer­sos em lin­gua­gens próprias e em platafor­mas dig­i­tais que seus pais e as autori­dades descon­hecem, o seri­ado mostra o desam­paro dos menores de idade e o despreparo dos adul­tos diante das múlti­plas ameaças do ambi­ente dig­i­tal.

Entre essas vio­lên­cias a que cri­anças e ado­les­centes estão sujeitos está o cyber­bul­ly­ing, tam­bém pre­sente na nar­ra­ti­va da série britâni­ca. A psicólo­ga e neu­rop­sicólo­ga pelo Insti­tu­to de Psi­colo­gia Apli­ca­da e For­mação de Por­tu­gal (IPAF), Juliana Gebrin, entende que a série é impor­tante para o proces­so de con­sci­en­ti­za­ção sobre a situ­ação da ocor­rên­cia do bul­ly­ing em esco­las e em out­ros espaços de con­vivên­cia físi­ca e vir­tu­al.

À Agên­cia Brasil, a profis­sion­al defend­eu que a mel­hor for­ma de tratar a questão é a pre­venção, e que é pre­ciso que os respon­sáveis e as esco­las iden­ti­fiquem sinais de que o bul­ly­ing está ocor­ren­do. Os sin­tomas podem ser perce­bidos tan­to em agres­sores como nas víti­mas. Ela percebe que, em várias situ­ações, o agres­sor pode ter sido víti­ma de out­ras perseguições.

“Eu vejo muitas pes­soas feri­das ferindo out­ras pes­soas. Não jus­ti­f­i­can­do a con­du­ta mal­dosa de uma pes­soa que faz bul­ly­ing, mas expli­can­do. Eu vejo essa situ­ação se per­pet­uan­do: de pes­soas que já sofr­eram algum tipo de situ­ação como essa.”

A espe­cial­ista traça um per­fil do agres­sor e indi­ca trata­men­to psi­cológi­co. “São pes­soas que têm praz­er pelo poder. Para subir um pouco a autoes­ti­ma, elas pre­cisam ‘pis­ar no pescoço’ de out­ras pes­soas pela autoafir­mação. Alguns podem ter alguns traços de psi­co­pa­tolo­gia, sim, ten­do praz­er em ver o sofri­men­to alheio, sob ale­ga­do tom de brin­cadeira. Mas, isso não é brin­cadeira que se faça com alguém”, tax­ou.

Traumas

Pela exper­iên­cia clíni­ca em con­sultórios, a neu­rop­sicólo­ga Juliana Gebrin apon­ta que as prin­ci­pais víti­mas do bul­ly­ing são indi­ví­du­os que fogem dos padrões de beleza, de com­por­ta­men­to ou pen­sa­men­to social­mente aceitos; pes­soas com defi­ciên­cia, LGBTQIA+, cri­anças e ado­les­centes tími­dos.

As víti­mas cos­tu­mam mudar o próprio com­por­ta­men­to de uma for­ma drás­ti­ca, ficam mais agres­si­vas, ansiosas ou deprim­i­das, com baixa autoes­ti­ma, ten­dem ao iso­la­men­to social e, em casos mais graves, têm planos e até ten­ta­ti­vas conc­re­tas de suicí­dio. A profis­sion­al cita out­ros indí­cios de sofri­men­tos emo­cionais, lista a profis­sion­al.

“O bul­ly­ing atra­pal­ha tudo. O desem­pen­ho esco­lar começa a decair de uma for­ma abrup­ta; as relações soci­ais tam­bém, porque a pes­soa não vai quer­er mais se rela­cionar por achar que os out­ros pos­suem aque­la mal­dade, do bul­ly­ing; a tendên­cia ao iso­la­men­to é a ten­ta­ti­va de se pro­te­ger do mun­do em que ela vive. Há a tendên­cia a ter ansiedade, depressão, quadros de TEPT, que é o transtorno de estresse pós-traumáti­co”, expli­ca a neu­rop­sicólo­ga Juliana Gebrin.

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