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PNI prepara inclusão das vacinas de covid-19 no calendário de rotina

Repro­dução: © Raquel Portugal/FioCruz

Proposta é imunizar grupos mais vulneráveis ao agravamento da doença


Pub­li­ca­do em 21/09/2023 — 06:21 Por Viní­cius Lis­boa — repórter da Agên­cia Brasil* — Flo­ri­anópo­lis

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Após mais de 540 mil­hões de dos­es apli­cadas em quase três anos, o Brasil vive em 2023 um perío­do de tran­sição na vaci­nação con­tra a covid-19, das cam­pan­has emer­gen­ci­ais para a imu­niza­ção de roti­na. A avali­ação foi fei­ta na quar­ta-feira (20) pelo dire­tor do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI), Eder Gat­ti, na Jor­na­da Nacional de Imu­niza­ções, real­iza­da pela Sociedade Brasileira de Imu­niza­ções (SBIm), em Flo­ri­anópo­lis. O dire­tor disse que os municí­pios tra­bal­ham há prati­ca­mente três anos em uma cam­pan­ha de vaci­nação con­tra a covid, mas a mudança no cenário epi­demi­ológi­co da doença requer a incor­po­ração dessa vaci­na no cal­endário do pro­gra­ma.

Em 2023, o Min­istério da Saúde esten­deu a vaci­nação com dos­es de reforço biva­lentes para toda a pop­u­lação aci­ma de 12 anos de idade. A adesão, porém, foi baixa até mes­mo para os gru­pos pri­or­itários, con­sid­er­a­dos de maior risco de agrava­men­to da doença. Enquan­to 516 mil­hões de dos­es de vaci­nas mono­va­lentes foram apli­cadas no país, somente 28 mil­hões de biva­lentes foram admin­istradas, sendo ape­nas 217 mil em ado­les­centes.

Para 2024, a pro­pos­ta ain­da em elab­o­ração é a adoção de um cal­endário de vaci­nação con­tra a covid-19 na roti­na de cri­anças menores de 5 anos, e dos­es de reforço per­iódi­cas ao menos uma vez por ano para gru­pos de risco, como idosos, imuno­com­pro­meti­dos (pacientes com sis­tema imunológi­co debil­i­ta­do) e ges­tantes, seguin­do ori­en­tação da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS). Há ain­da a pos­si­bil­i­dade de inclusão de out­ros gru­pos como profis­sion­ais de saúde e comu­nidades tradi­cionais.

“Vaci­nar toda a pop­u­lação, como a gente vem fazen­do, pre­cisa ser revisa­do nesse momen­to de tran­sição em que nos encon­tramos. Fize­mos reuniões téc­ni­cas e tiramos dire­trizes bási­cas que o Min­istério da Saúde vai seguir em dis­cussões inter­nas. Ago­ra, o anún­cio dis­so ain­da depende de uma dis­cussão com a gestão tri­par­tite [gov­er­no fed­er­al, esta­dos e municí­pios]”, con­ta Gat­ti.

“Hoje, avançamos tan­to na avali­ação da recomen­dação inter­na­cional, da OMS, quan­to na dis­cussão com os espe­cial­is­tas, mas pre­cisamos avançar nes­sa pactu­ação”, com­ple­men­ta.

O dire­tor do PNI pre­tende ini­ciar uma estraté­gia de vaci­nação de roti­na con­tra a covid-19 no iní­cio de 2024, para sub­sti­tuir o “caráter de excep­cional­i­dade”, com con­stantes alter­ações, que ain­da dita o rit­mo da imu­niza­ção con­tra a doença.

“A covid-19 pre­cisa deixar de ser uma estraté­gia de cam­pan­ha e passe a ser uma recomen­dação per­ma­nente. Esper­amos faz­er anún­cios ofi­ci­ais com a estraté­gia mais com­ple­ta antes do fim do ano”.

Gat­ti ressalta que a vig­ilân­cia das vari­antes deve ser con­stante, porque são elas que deter­mi­naram as ondas de infecção des­de o iní­cio da pan­demia. Esse com­por­ta­men­to difere de out­ras doenças de trans­mis­são res­pi­ratória, cujas incidên­cias são mais influ­en­ci­adas pelas estações do ano. Ain­da que seja impor­tante ter vaci­nas atu­al­izadas con­tra essas vari­antes, ele argu­men­ta que mais impor­tante é garan­tir que a vaci­nação acon­teça.

“O SAGE [grupo con­sul­ti­vo de vaci­nação da OMS] não fala tan­to de qual é a vaci­na que deve ser fei­ta. A OMS pau­ta como deve ser a com­posição da vaci­na, ago­ra sobre qual vaci­na usar existe uma cer­ta liber­dade”, pon­dera o dire­tor do PNI, que adi­anta que o posi­ciona­men­to do pro­gra­ma será disponi­bi­lizar as vaci­nas disponíveis pref­er­en­cial­mente na últi­ma ver­são licen­ci­a­da e atu­al­iza­da con­tra vari­antes. “As próx­i­mas aquisições do Min­istério da Saúde vão seguir essa lóg­i­ca. Provavel­mente serão vaci­nas de RNA men­sageiro com as com­posições colo­cadas con­forme licen­ci­a­men­to”.

» Veja aqui o espe­cial 50 anos de vaci­na para todos

Para garan­tir vaci­nas nacionais da platafor­ma RNA men­sageiro, mais ver­sátil na luta con­tra o coro­n­avírus, o Min­istério da Saúde tem apoia­do desen­volvi­men­tos próprios do Insti­tu­to de Tec­nolo­gia em Imuno­bi­ológi­cos (Bio-Man­guin­hos) e do Insti­tu­to Butan­tan. Gat­ti con­sid­era que o ide­al é que uma tec­nolo­gia nacional de RNA men­sageiro pos­sa estar à dis­posição do PNI, uma vez que as vaci­nas con­tra covid-19 ofer­e­ci­das por ess­es lab­o­ratórios até o momen­to são de out­ras platafor­mas.

“A gente espera começar os ensaios clíni­cos dessa platafor­ma de vaci­na brasileira de RNA logo. Essa é uma tec­nolo­gia que é impor­tante a gente dom­i­nar, porque ela per­mite desen­volver vaci­nas de uma for­ma mais ráp­i­da e para out­ros agentes infec­ciosos tam­bém. A gente pre­cisa bus­car isso e está nesse cam­in­ho”.

Corrida contra o vírus

O secretário do Depar­ta­men­to de Imu­niza­ções da Sociedade Brasileira de Pedi­a­tria e rep­re­sen­tante da SBIm em Per­nam­bu­co, Eduar­do Jorge da Fon­se­ca, descreve que a tran­sição para uma vaci­nação de roti­na con­tra a covid-19 está em dis­cussão em todo o mun­do. O Reino Unido, por exem­p­lo, decid­iu ado­tar a recomen­dação da vaci­na aos gru­pos pri­or­itários sug­eri­dos pela OMS. Já out­ra parte da Europa e os Esta­dos Unidos esten­der­am a vaci­nação a toda a pop­u­lação.

“No momen­to atu­al, temos evidên­cias da importân­cia de man­ter os reforços com as vaci­nas biva­lentes disponíveis no Brasil. Não há con­sen­so se deve­mos revaci­nar todas as pes­soas. Provavel­mente, tam­bém aqui, adotare­mos vaci­nar os gru­pos de maior risco com a vaci­na atu­al­iza­da. Mas pre­cisamos garan­tir o aumen­to da cober­tu­ra das vaci­nas já disponíveis, prin­ci­pal­mente da pediátri­ca”.

A cor­ri­da con­stante para man­ter as vaci­nas atu­al­izadas con­tra as cepas cir­cu­lantes tem sido ven­ci­da pelo coro­n­avírus SARS-CoV­‑2, que con­tin­ua a sofr­er novas mutações para adquirir escape imunológi­co. As vaci­nas con­tin­u­am com­pro­vada­mente efe­ti­vas para redução da gravi­dade de suas infecções, mas não con­seguem neu­tral­izá-las nem blo­quear o vírus, que está sem­pre um pas­so à frente em sua evolução acel­er­a­da. Um exem­p­lo dis­so é a vaci­na mono­va­lente con­tra a vari­ante XBB, que chegou aos Esta­dos Unidos em um momen­to em que a vari­ante dom­i­nante era a EG.5, e já com a BA.2.86 em ascen­são.

“Com a covid, o tem­po pas­sou a cor­rer muito mais rápi­do”, aler­ta Fon­se­ca.

“Pre­cisamos, sim, de uma vaci­na com uma pro­teção mais pro­lon­ga­da, que seja à pro­va de vari­antes”.

Ape­sar dessa neces­si­dade, ele reforça que as vaci­nas atu­ais con­seguem reduzir de for­ma impor­tante as chances de inter­nação ou morte por covid-19, mes­mo quan­do não estão dire­ta­mente atu­al­izadas com a “ver­são mais recente” do coro­n­avírus. Por isso, é pre­ciso ampli­ar a cober­tu­ra vaci­nal com as dos­es de reforço biva­lente e pro­te­ger tam­bém as cri­anças que não tiver­am aces­so ao esque­ma ini­cial de duas dos­es.

Salto evolutivo

O desen­volvi­men­to de uma vaci­na genéri­ca que pro­te­ja não ape­nas con­tra todas a vari­antes do SARS-CoV­‑2, mas tam­bém con­tra todos os coro­n­avírus é um obje­ti­vo das pesquisas que tra­bal­ham para man­ter o con­t­role da pan­demia, con­ta o biól­o­go José Eduar­do Levi, pesquisador do Insti­tu­to Med­i­c­i­na Trop­i­cal da USP. O SARS-CoV­‑2, porém, tem se com­por­ta­do de for­ma total­mente impre­visív­el.

“O vírus con­tin­ua evoluin­do, e a gente con­tin­ua sob o risco de sair de con­t­role. Não com­par­til­ho dessa per­cepção de que a pan­demia acabou”, diz ele, que acred­i­ta que a imu­nidade das vaci­nas soma­da à imu­nidade nat­ur­al ger­a­da pela infecção tem pro­te­gi­do grande parte da pop­u­lação de casos graves, porém tam­bém pres­sion­a­do o vírus a evoluir mais para con­tin­uar cir­cu­lan­do.

“Há uma tro­ca de vari­antes dom­i­nantes a cada qua­tro, cin­co meses. Isso é total­mente impre­vis­to e se dá por essa pressão sele­ti­va”.

Ele aler­ta que a nova vari­ante em ascen­são nos Esta­dos Unidos e Reino Unido, a BA.2.86, deu um salto evo­lu­ti­vo com­paráv­el ao que a vari­ante ômi­cron rep­re­sen­tou em relação a suas ante­ces­so­ras. O pesquisador con­ta que há quem con­sidere a ômi­cron um “SARS-CoV­‑3”, porque alter­ou total­mente o com­por­ta­men­to da pan­demia, pro­duzin­do uma onda de casos muito mais acel­er­a­da.

“Antes da ômi­cron, as vari­antes de pre­ocu­pação não descen­di­am umas das out­ras, todas vin­ham da vari­ante ances­tral. Depois da ômi­cron, todas as vari­antes que se tornaram pre­dom­i­nantes foram vari­antes derivadas da ômi­cron. A história evo­lu­ti­va se mod­i­fi­ca”.

Levi desta­ca que é impor­tante vaci­nar prin­ci­pal­mente pes­soas imuno­com­pro­meti­das. Além de terem maior risco de mor­rer com a covid-19, essas pes­soas, ao serem infec­tadas, podem ofer­e­cer mais chances de mutações ao SARS-CoV­‑2, que per­manece por mais tem­po no organ­is­mo sem ser neu­tral­iza­do pelas defe­sas. Isso acon­tece porque o SARS-CoV­‑2 con­segue não evoluir por mutações, mas tam­bém por deleções, que são elim­i­nações de partes de sua estru­tu­ra que já causam reação das defe­sas do organ­is­mo. Ao perder ess­es pedaços, o vírus vol­ta a con­fundir o sis­tema imune.

“A teo­ria hoje com­pro­va­da é que essas vari­antes surgem prin­ci­pal­mente no cor­po de pes­soas com imun­od­efi­ciên­cias. Um tra­bal­ho clás­si­co acom­pan­hou por 180 dias um paciente imun­od­e­fi­ciente e, grad­ual­mente, há um acú­mu­lo de mutações e deleções. Tan­to que, no dia 180, o paciente con­tin­ua doente e falece com um vírus total­mente difer­ente do vírus que entrou”.

*O repórter via­jou para Flo­ri­anópo­lis a con­vite da Sociedade Brasileira de Imu­niza­ções (SBIm)

Edição: Car­oli­na Pimentel

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