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Políticos e jornalistas revivem 8 de janeiro: dia entrou para história

Sedes dos Poderes foram atacadas por manifestantes pró-Bolsonaro

Gilber­to Cos­ta* — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 08/01/2025 — 07:11
Brasília
Ver­são em áudio
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto.
Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

O con­jun­to de invasões e depredações nos pré­dios da Praça dos Três Poderes em Brasília na tarde de 8 janeiro de 2023, um domin­go, chocou pela vio­lên­cia pro­tag­on­i­za­da por man­i­fes­tantes bol­sonar­is­tas, mas não sur­preen­deu a todos os per­son­agens que, por razões de ofí­cio, acom­pan­ham o cotid­i­ano insti­tu­cional da cap­i­tal fed­er­al, como jor­nal­is­tas e políti­cos.

Naque­le dia, a senado­ra Eliziane Gama (PSD-MA) recor­da-se que esta­va em sua casa em São Luís, depois de ter ido à Assem­bleia de Deus, onde atua como pro­fes­so­ra de esco­la bíbli­ca domini­cal, quan­do viu uma men­sagem em grupo de What­sapp com ima­gens de destru­ição em Brasília.

“Eu falei: gente, isso aqui não pode ser ver­dade. Isso é uma mon­tagem, não é ver­dade”, con­tou ao pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, da TV Brasil, com par­tic­i­pação da Agên­cia Brasil.

Brasília (DF) 06/06/2023 Senadora e relatora da CPMI do golpe, Eliziane Gama, leu o seu plano de trabalho ao colegiado. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.
Repro­dução: Repro­dução: Brasília (DF) 06/06/2023 Senado­ra e rela­to­ra da CPMI do golpe, Eliziane Gama. Foto: Lula Marques/ Agên­cia Brasil

Assus­ta­da, a par­la­men­tar foi à casa de sua mãe onde a tele­visão esta­va trans­mitin­do a bar­bárie ao vivo.

“Eu fiquei estar­reci­da. Lev­ei min­u­tos para acred­i­tar no que esta­va ven­do”, diz se recor­dan­do da mul­ti­dão subindo a ram­pa do Con­gres­so Nacional, que­bran­do vidros do pré­dio e ocu­pan­do um pedaço do Sena­do Fed­er­al, onde cumpre manda­to há cin­co anos.

O impacto foi revivi­do quan­do na segun­da-feira seguinte (9), de vol­ta de São Luís, Eliziane Gama encon­trou “um ambi­ente des­o­lador, de guer­ra” no Sena­do. “Pare­cia um filme de ter­ror: o pré­dio total­mente escuro, [com] o chão total­mente mol­ha­do, [e] as vidraças destruí­das. Você não con­seguia cam­in­har den­tro do Con­gres­so Nacional.”

Ain­da pas­ma com a voraci­dade destru­ti­va dos inva­sores, a senado­ra rev­ela que a pos­si­bil­i­dade de dis­túr­bio ain­da que absur­da esta­va no hor­i­zonte.

“O que ocor­reu era algo que a gente vigia­va, que a gente dizia que não pode acon­te­cer, mas a gente nun­ca parou para pen­sar e diz­er que isso vai acon­te­cer.”

Na opinião de Eliziane Gama, que foi rela­to­ra da CPMI do 8 de janeiro, tudo que se viu foi semea­do durante anos por Jair Bol­sonaro quan­do ocu­pa­va a Presidên­cia da Repúbli­ca (2019–2022) e aten­ta­va con­tra a democ­ra­cia.

“Ele ques­tion­a­va o proces­so da eleição, colo­ca­va em xeque a vul­ner­a­bil­i­dade da urna eletrôni­ca. Então, essa coisa de cri­ar uma insta­bil­i­dade do proces­so democráti­co, ele auto­mati­ca­mente criou um colchão de condições para que o movi­men­to mais extrem­ista brasileiro chegasse ao que nós acom­pan­hamos no 8 de janeiro.”

Assinatura de Bolsonaro

O 8 de janeiro tornou-se uma data na qual as pes­soas cos­tu­mam lem­brar onde esta­va, e o que estavam fazen­do quan­do rece­ber­am a notí­cia de impacto, como acon­te­ceu nas trans­mis­sões do primeiro pouso do homem na lua (1969), do aci­dente fatal de Ayr­ton Sen­na (1994) ou do choque dos aviões con­tra as Tor­res Gêmeas do World Trade Cen­ter em Nova York (2001).

Como acon­te­ceu com a senado­ra, a jor­nal­ista e escrito­ra Bian­ca San­tana lem­bra-se viva­mente onde esta­va quan­do soube dos inci­dentes: tin­ha ater­ris­sa­do em Brasília vin­do de São Paulo naque­la tarde de domin­go. Ain­da esta­va no avião quan­do começou a rece­ber men­sagens no celu­lar inda­gan­do se tin­ha chega­do bem.

Curiosa, começou a pesquis­ar no apar­el­ho o que esta­va acon­te­cen­do. Uma ami­ga a bus­cou no aero­por­to da cap­i­tal fed­er­al e a lev­ou dire­to para casa.

“A gente decid­iu ficar recol­hi­da. Nem saiu para com­er.”

Para Bian­ca San­tana, a inten­tona que viu ini­cial­mente pela tela do celu­lar “tin­ha uma assi­natu­ra muito forte.” Ela remem­o­ra que Jair Bol­sonaro instigou a bal­búr­dia, esvazian­do a cred­i­bil­i­dade do sis­tema de votação. “Ele anun­ciou inúmeras vezes que não aceitaria o resul­ta­do das urnas.” Para ela, o ex-pres­i­dente “o tem­po todo colo­cou em xeque a con­fi­ança da pop­u­lação no proces­so eleitoral. Isso já é um proces­so de ten­ta­ti­va de golpe.”

Brasília (DF), 11/09/2024 - O atleta de marcha olímpica medalhista de prata nas Olimpíadas de Paris 2024, Caio Bonfim, é o convidado do programa DR com Demori na Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 11/09/2024 — Lean­dro Demori no pro­gra­ma DR com Demori. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Na opinião do jor­nal­ista Lean­dro Demori, que apre­sen­ta o pro­gra­ma Dan­do a Real com Lean­dro Demori, na TV Brasil, os sen­ti­men­tos con­tra a democ­ra­cia foram provo­ca­dos por Jair Bol­sonaro antes mes­mo de chegar ao poder.

“Na eleição de 2018, [Bol­sonaro] já havia aven­tan­do a pos­si­bil­i­dade de fraude eleitoral, a pau­ta do voto impres­so, e [a ideia] que o sis­tema não era seguro. Isso tudo aca­ba desem­bo­can­do no 8 de janeiro.”

A jor­nal­ista Juliana Dal Piva, auto­ra do livro O Negó­cio do Jair: a história proibi­da do clã Bol­sonaro, avalia que o ex-pres­i­dente “criou uma nar­ra­ti­va em cima de uma men­ti­ra e foi inten­si­f­i­can­do essa men­ti­ra” com o pas­sar do tem­po, espe­cial­mente nos dois últi­mos anos de manda­to, e ape­sar da dis­sem­i­nação de fal­si­dades ”se recusa­va a admi­tir que ele não tin­ha pro­va.” Ela lem­bra que Bol­sonaro “foi eleito e reeleito [para] vários mandatos como dep­uta­do fed­er­al [total de seis mandatos] e como pres­i­dente da Repúbli­ca pelo sis­tema eletrôni­co de votação.“

Golpe encenado

Ter atos con­tra a eleição de Luiz Iná­cio Lula da Sil­va era esper­a­do pelo senador do Ran­dolfe Rodrigues (PT-AP).

“Eu sabia que eles não aceitari­am paci­fi­ca­mente o resul­ta­do das eleições de 30 de out­ubro de 2022. Eu tin­ha con­sciên­cia dis­so. Então, para mim, não foi sur­pre­sa.”

Ele, no entan­to, admite o estar­rec­i­men­to com a fal­ta de ini­cia­ti­va das forças de segu­rança para pro­te­ger os pré­dios públi­cos.

“O que eu não esper­a­va era a neg­ligên­cia coor­de­na­da e orga­ni­za­da para per­mi­tir que eles aces­sas­sem as sedes dos Três Poderes — os ter­ror­is­tas daque­le dia. Mas quan­do eu os vi invadin­do o Con­gres­so Nacional, o meu sen­ti­men­to naque­le momen­to é que tin­ha um golpe de Esta­do em cur­so.”

Ran­dolfe Rodrigues, que é for­ma­do em História, diz que temeu um des­fe­cho semel­hante ao do Chile nos anos 1970, quan­do o pres­i­dente Sal­vador Allende foi cer­ca­do no Palá­cio de La Mon­e­da pelas tropas lid­er­adas pelo gen­er­al Augus­to Pinochet. “Eu tive receio daque­le Brasília — 8 de janeiro ser um 11 de setem­bro chileno de 1973.”

Brasília (DF) 11/04/2024 Senador, Randolfe Rodrigues, durante coletiva no Senado. Foto Lula Marques/ Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF) 11/04/2024 Senador Ran­dolfe Rodrigues. Foto: Lula Marques/ Agên­cia Brasil

A pos­si­bil­i­dade de haver um novo golpe de Esta­do no Brasil era tão aven­ta­da que os roteiris­tas da pro­du­to­ra Por­ta dos Fun­dos cri­aram dois esquetes humorís­ti­cos sim­u­lan­do a mobi­liza­ção de mil­itares para faz­er uma nova inter­venção golpista.

“Havia já, né, essa som­bra do golpe. Ela já esta­va pre­sente há muito tem­po, né?”, recor­da-se o pub­lic­itário Anto­nio Tabet, um dos sócios e roteiris­tas da pro­du­to­ra. “Fala­va-se muito dis­so, havia muitas indi­re­tas, uma comu­ni­cação trun­ca­da, umas ameaças veladas, e o fato de o gov­er­no da época [2019–2022] ser alin­hado com ideais e inter­ess­es não exata­mente democráti­cos, fazia com que esse assun­to fos­se efer­ves­cente.”

Na opinião de Tabet, os esquetes Golpe em Brasília Golpe no Rio foram dis­sua­sivos de alguns espíri­tos menos democráti­cos. “Eu ten­ho certeza que ess­es vídeos cir­cu­laram muito, tem mil­hões de views cada um deles. E cer­ta­mente bateu em alguém que que­ria faz­er e que mudou de ideia ven­do aqui­lo.”

“O humor infor­ma de uma maneira sim­páti­ca. Às vezes, uma pes­soa assistin­do a um tele­jor­nal, ela não con­segue enten­der dire­ito como fun­cionam as insti­tu­ições, para que servem, o que é isso, qual é o real peri­go, o real ridícu­lo dis­so. O humor vai lá e joga um holo­fote na cara daqui­lo”, acred­i­ta o roteirista.

No dia 8 de janeiro, como que seguin­do um roteiro bem ensa­ia­do, mil­hares de pes­soas que estavam acam­padas no Setor Mil­i­tar Urbano em Brasília ini­cia­ram às 13h uma lon­ga mar­cha até a Praça dos Três Poderes.

Às 15h, os golpis­tas con­seguiram subir a ram­pa do Con­gres­so para invadir e destru­ir pré­dio. Vinte min­u­tos depois, out­ros vân­da­los der­rubaram as grades de iso­la­men­to do Palá­cio do Planal­to, subi­ram a ram­pa, que­braram os vidros da facha­da e entraram no pré­dio. Às 15h37, ini­cia­ram a invasão do edifí­cio-sede do Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al (STF).

Agên­cia Brasil envi­ou men­sagem, na segun­da-feira (6), ao advo­ga­do Paulo Bueno, defen­sor do ex-pres­i­dente Jair Bol­sonaro, para man­i­fes­tação, mas não obteve respos­ta até o momen­to. O espaço segue aber­to.

*Com entre­vis­tas de Ana Pas­sos, Mari­eta Cazarré, Patrí­cia Araújo e Thi­a­go Padovan, da TV Brasil

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