...
segunda-feira ,14 outubro 2024
Home / Meio Ambiente / Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Fogo consumiu 1,4 mil hectares do Parque Nacional da capital


Publicado em 19/09/2024 — 16:12 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agência Brasil — Brasília

ouvir:

“Eu fiquei muito apa­vo­ra­da. Você quer­er res­pi­rar e não con­seguir é muito ruim. Isso ter­mi­nou me prej­u­di­can­do porque pre­ci­sei fal­tar ao tra­bal­ho”, con­tou a brasilense Edel­weiss Ilgen­fritz, de 52 anos. Asmáti­ca, a tra­bal­hado­ra autôno­ma acor­dou na madru­ga­da da terça-feira (17) com o aparta­men­to cheio de fumaça.

A con­cen­tração de partícu­las finas no ar da cap­i­tal do país cresceu cer­ca de 350 vezes durante o incên­dio de grandes pro­porções que con­sum­iu 1,4 mil hectares do Par­que Nacional de Brasília nes­ta sem­ana.

Antes do incên­dio, na man­hã do domin­go (15), o ar da cap­i­tal reg­is­tra­va con­cen­tração de 4 micro­gra­mas por metro cúbi­co (µg/m3) de Molécu­las de Partícu­las (MP) de taman­ho 2,5, con­sid­er­a­da uma molécu­la mais fina. Na madru­ga­da da terça-feira (17), o ar de Brasília reg­istrou 1,3 mil µg/m3 da MP 2,5. Somente nes­ta quin­ta-feira (19) a poluição voltou a cair de for­ma sus­ten­ta­da.

Brasília (DF), 19/09/2024 - Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio. JP Amaral, gerente de natureza no Instituto Alana e membro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Brasília (DF), 19/09/2024 — JP Ama­r­al, ger­ente de natureza no Insti­tu­to Alana e mem­bro do Con­sel­ho Nacional de Meio Ambi­ente (Cona­ma). Foto: Arqui­vo pes­soal

“É real­mente muito alto. Foi o nív­el que Man­aus chegou no ano pas­sa­do em um pico de queimadas que teve por lá. É o indica­ti­vo que a poluição esta­va muito críti­ca e pre­cisa­va ser mel­hor con­tro­la­da, mas prin­ci­pal­mente dev­e­ria ter uma ori­en­tação para a pop­u­lação”, comen­tou JP Ama­r­al, ger­ente de natureza no Insti­tu­to Alana e mem­bro do Con­sel­ho Nacional de Meio Ambi­ente (Cona­ma).

Como o poder públi­co não tem dados de acom­pan­hamen­to em tem­po real da qual­i­dade do ar na área cen­tral da cap­i­tal do país, as infor­mações foram reti­radas da platafor­ma Pur­pleAir, que tem um equipa­men­to insta­l­a­do no final da Asa Norte, próx­i­mo ao incên­dio que deixou a cidade imer­sa na fumaça.

Para se ter uma ideia, o Cona­ma pre­vê como padrão de qual­i­dade do ar, no máx­i­mo, 60 µg/m3 para partícu­las finas com diâmetro infe­ri­or a 2,5 micrômet­ros em uma média de 24 horas. As MP taman­ho 2,5 são menores e têm maior facil­i­dade para entrar no apar­el­ho res­pi­ratório e na cor­rente san­guínea, cau­san­do prob­le­mas de saúde, prin­ci­pal­mente em cri­anças, idosos e pes­soas com doenças crôni­cas.

Mes­mo o padrão de 60 µg/m3 é con­sid­er­a­do alto quan­do com­para­do com out­ros país­es. Por isso, o Cona­ma aprovou res­olução em jul­ho de 2024 pre­ven­do a redução desse padrão para 50 µg/m3, em 2025, até chegar em 25 µg/m3, na média de 24 horas, em 2044. Já a Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) recomen­da como lim­ite para con­cen­tração de partícu­las no ar, uma média diária de 15 µg/m3 para partícu­las 2,5.

Repro­dução: Brasília (DF), 19/09/2024 — Arte para a matéria Poluição do ar em Brasília. Arte/Agência Brasil

Monitoramento do ar

A estação de mon­i­tora­men­to da qual­i­dade do ar do Insti­tu­to Brasília Ambi­en­tal (Ibram), que fica no cen­tro da cap­i­tal, na Rodoviária do Plano Pilo­to, tem mais de 20 anos e só emite resul­ta­dos a cada seis dias. De acor­do com o Ibram, enti­dade lig­a­do ao gov­er­no do Dis­tri­to Fed­er­al (GDF), os dados cole­ta­dos dos dias 17 e 18 de setem­bro só devem ser divul­ga­dos na próx­i­ma segun­da-feira (23).

Existe receio de órgãos ambi­en­tais de usar dados de equipa­men­tos pri­va­dos, como do Pur­pleAir, por não ser con­sid­er­a­do uma estação “robus­ta”.

O pres­i­dente do Ibram, Rôney Nemer, diz que não é pos­sív­el saber se as medições são con­fiáveis, que seria pre­ciso anal­is­ar o equipa­men­to.

Por out­ro lado, a dire­to­ra do Insti­tu­to Ar, a médi­ca Evan­geli­na Araújo, avalia que os equipa­men­tos pri­va­dos são con­fiáveis e trazem um dado aprox­i­ma­do da real­i­dade.

Repro­dução: Brasília (DF), 19/09/2024 — Dire­to­ra do Insti­tu­to Ar, a médi­ca Evan­geli­na Araújo. Foto: Arqui­vo pes­soal

“Os órgãos ambi­en­tais criti­cam porque o equipa­men­to é de baixo cus­to, mas é con­fiáv­el. Pode às vezes não ser exata­mente igual a um equipa­men­to robus­to de um órgão ambi­en­tal públi­co, mas é muito con­fiáv­el. É muito próx­i­mo da real­i­dade e, não haven­do dados de mon­i­tora­men­to, é com isso que se tra­bal­ha”, afir­mou.

As metrópoles de Brasília (DF), Goiâ­nia (GO) e Man­aus (AM) estão entre as local­i­dades com maior defasagem de mon­i­tora­men­to da qual­i­dade do ar no país, segun­do pesquisa do Insti­tu­to de Ener­gia e Meio Ambi­ente (IEMA).

“Qua­torze esta­dos da fed­er­ação não mon­i­toram a qual­i­dade do ar. Sem mon­i­tora­men­to, não se sabe a con­cen­tração de polu­entes que as pes­soas res­pi­ram. E se não há o mon­i­tora­men­to, o órgão ambi­en­tal não comu­ni­ca à pop­u­lação qual é a situ­ação e tam­bém não iden­ti­fi­ca episó­dios críti­cos”, acres­cen­tou a espe­cial­ista Evan­geli­na.

Segun­do o Ibram, o gov­er­no do Dis­tri­to Fed­er­al autor­i­zou a com­pra de equipa­men­tos para mon­i­tora­men­to da qual­i­dade do ar em Brasília, mas ain­da não há data para a com­pra dessas novas estações.

Sem plano

O Insti­tu­to Alana fez um lev­an­ta­men­to mostran­do que das 27 unidades da fed­er­ação, 26 não têm qual­quer plano para enfrenta­men­to de episó­dios críti­cos em relação à qual­i­dade do ar.

“Quan­do há um episó­dio críti­co, temos que aler­tar a pop­u­lação, avis­ar aos noti­ciários, talvez fechar as esco­las. Mas o pon­to é que a gente não tem plano de ação do que faz­er e como ori­en­tar a pop­u­lação. Só São Paulo tem um plano de ação e esse plano de ação é de 1978. Então ele é muito anti­go”, desta­cou JP Ama­r­al, do Insti­tu­to Alana.

Para Evan­geli­na Araújo, do Insti­tu­to Ar, é pre­ciso um plano de ações para atu­ação nos episó­dios críti­cos de poluição do ar. “Além de aler­tar a pop­u­lação, o órgão ambi­en­tal tem que ado­tar medi­das para reduzir out­ras fontes de emis­sões. As partícu­las não vêm só da queima­da, vêm do trân­si­to, da queima do com­bustív­el fós­sil, vêm da indús­tria”, aler­tou.

Saúde

A ini­cia­ti­va Médi­cos Pelo Ar Limpo elaborou uma nota téc­ni­ca com ori­en­tações sobre como se pro­te­ger dos efeitos da fumaça. A dica é per­manecer em ambi­entes inter­nos, man­ten­do por­tas e janelas fechadas. Se pos­sív­el, usar purifi­cador de ar ou ven­ti­ladores, além de pen­durar toal­has mol­hadas den­tro de casa para umid­i­ficar o ambi­ente.

É pre­ciso ain­da evi­tar exer­cí­cios físi­cos mod­er­a­dos ou inten­sos ao ar livre em qual­quer horário. Para pro­teção con­tra partícu­las finas, podem ser usadas más­caras tipo N95 ou PFF2. Más­caras cirúr­gi­cas ou panos não pro­tegem con­tra partícu­las finas, ape­nas con­tra as maiores, como fuligem.

Edição: Sab­ri­na Craide

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Navio que bateu na Ponte Rio-Niterói em 2022 deixa Rio de Janeiro

Saída da embarcação do porto durou quatro horas e meia Vitor Abdala — Repórter da …