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Por que marcham as Margaridas?

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Conheça lutas e motivações de mulheres participantes


Pub­li­ca­do em 16/08/2023 — 08:52 Por Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Mais de 100 mil mul­heres reunidas em Brasília mar­cham, nes­ta quar­ta-feira (16) até o Con­gres­so Nacional, pela recon­strução do Brasil e pelo Bem Viv­er. 

Des­de o fim de sem­ana até essa terça-feira (15), cen­te­nas de ônibus chegaram ao Pavil­hão do Par­que da Cidade, trazen­do as par­tic­i­pantes da 7ª Mar­cha das Mar­gari­das, coor­de­na­da pela Con­fed­er­ação Nacional dos Tra­bal­hadores Rurais Agricul­tores e Agricul­toras Famil­iares (Con­tag), pelas fed­er­ações e sindi­catos fil­i­a­dos e por 16 orga­ni­za­ções par­ceiras. 

Na mobi­liza­ção políti­ca, con­sid­er­a­da a maior da Améri­ca Lati­na pela Con­tag, mul­heres de todas as regiões do Brasil querem garan­tir dire­itos, pôr fim às desigual­dades de gênero, classe e étni­co-raci­ais; enfrentar a vio­lên­cia, que muitas vezes ameaças sua vida, e a opressão, sim­ples­mente, por serem mul­heres. As pau­tas delas foram debati­das durante dois anos, em reuniões region­ais e nacionais que resul­taram em doc­u­men­to divi­do em 13 eixos políti­cos. A pau­ta da Mar­cha das Mar­gari­da 2023 foi entregue ao gov­er­no fed­er­al em jun­ho.  

Essas mul­heres, no entan­to, têm suas próprias reivin­di­cações. Por isso, deix­am suas casas e famílias, via­jam dias de ônibus, dormem em col­chonetes e redes em um grande alo­ja­men­to, tomam ban­ho em ban­heiros cole­tivos.  

Agên­cia Brasil ouviu histórias das mar­gari­das, que estão em Brasília para mar­char e trans­for­mar. Con­heça suas lutas. 

Por que marcham as Margaridas?

A indí­ge­na Gracil­da Pereira, da etnia Atikum-Jure­ma, chegou de Petroli­na, em Per­nam­bu­co, e cobra os dire­itos de saúde e edu­cação para a aldeia onde ela vive. “A nos­sa área da saúde indí­ge­na é descober­ta. Não temos agente de saúde, não tem médi­co. Há duas indí­ge­nas com cur­so de enfer­magem e elas fazem os primeiros socor­ros. A unidade mais próx­i­ma, quan­do a gente vai se con­sul­tar, é só para urgên­cia. E há tam­bém a questão da edu­cação. Os alunos fre­quen­tam esco­las no municí­pio, fora da aldeia. Há um ônibus bem cedo que leva as cri­anças Tem pes­soas tam­bém que não sabem ler, nem escr­ev­er. São muitas questões, prin­ci­pal­mente no Vale do São Fran­cis­co. 

Brasília (DF), 15/08/2023, Gracilda Pereira, indígena da Coelho, Aticum-Jurema (Petrolina-Pernambuco), acampada no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, para a 7ª Marcha das Margaridas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 15/08/2023, Gracil­da Pereira, indí­ge­na da Coel­ho, Aticum-Jure­ma (Petroli­na-Per­nam­bu­co), acam­pa­da no Pavil­hão de Exposições do Par­que da Cidade, em Brasília, para a 7ª Mar­cha das Mar­gari­das. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Maria Nazaré Moraes, de Belém, no Pará, é estre­ante na Mar­cha das Mar­gari­das. Ela rep­re­sen­ta uma cen­tral de seringueiros, extra­tivis­tas e pescadores das ilhas da cap­i­tal paraense. “É tan­ta coisa que já era para ter sido fei­ta e até ago­ra nada. Reg­u­lar­iza­ção fundiária, uma delas. E para os pescadores, os dire­itos do seguro defe­so que não é dado para todo mun­do. Por causa do local, nem todos têm dire­itos porque não é a água sal­ga­da. E Maria, que está alo­ja­da em uma rede, entende que isso faz parte da luta. “Enfren­to qual­quer situ­ação. No chão, na rede, na cama, no mato. É assim que a gente é”. 

A lavrado­ra e pres­i­dente do Sindi­ca­to dos Tra­bal­hadores Rurais de Feira Nova, em Sergipe, Luciana San­tos, mar­cha por mais dire­itos. “Por mais ter­ra, por mais edu­cação, mais saúde e que as mul­heres pos­sam ter mais opor­tu­nidades. Infe­liz­mente, tive­mos um retro­ces­so nos últi­mos qua­tro anos. Mas, ago­ra, com o gov­er­no Lula, que é da democ­ra­cia, viemos lutar para recon­stru­ir o Brasil jun­tas, por tan­tos dire­itos e tan­tas per­das que tive­mos. 

Brasília (DF), 15/08/2023, Luciana do Zé Santos, lavradora (Feira Nova – Sergipe), acampada no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, para a 7ª Marcha das Margaridas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 15/08/2023, Luciana do Zé San­tos, lavrado­ra (Feira Nova – Sergipe), acam­pa­da no Pavil­hão de Exposições do Par­que da Cidade, em Brasília, para a 7ª Mar­cha das Mar­gari­das. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Cher­ry Almei­da é uma das lid­er­anças do blo­co afro Afoxé Fil­has de Gand­hy, com 44 anos de existên­cia, em Sal­vador (BA). A baiana entende que a mobi­liza­ção é extrema­mente impor­tante para o empodera­men­to fem­i­ni­no. “A mar­cha é, aci­ma de tudo, para a afir­mação das mul­heres no nos­so lugar de poder nes­sa sociedade. Nós sabe­mos que as mul­heres que estão aqui querem uma sociedade mais jus­ta, mais igual­itária, igual­dade de opor­tu­nidade, querem espaços de poder nes­sa sociedade. Por­tan­to, pre­cisamos estar jun­tas, unidas, marchan­do com o úni­co obje­ti­vo da trans­for­mação dessa sociedade. E essa mar­cha é a cara da mul­her brasileira”, declara Cher­ry Almei­da 

A pro­du­to­ra de even­tos e trans Dávi­la Macare­na Minaj, de 25 anos, veio com a mãe, uma agricul­to­ra famíliar, de Acará, no Pará. Minaj rev­ela que teve um choque de cul­tura des­de que chegou à cap­i­tal fed­er­al, encon­trou pes­soas de out­ros esta­dos e entrou em estandes do pavil­hão com difer­entes temáti­cas. Ela mar­cha por mais respeito à sua sex­u­al­i­dade. “A min­ha cidade é o lugar onde mais sofro trans­fo­bia no mun­do. Então, bus­co o dire­ito de ser difer­ente e ter dire­itos iguais.” 

Brasília (DF), 15/08/2023, Dávila Macarena Minaj, 25 anos (Acará/Pará), acampada no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, para a 7ª Marcha das Margaridas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 15/08/2023, Dávi­la Macare­na Minaj, 25 anos (Acará/Pará), acam­pa­da no Pavil­hão de Exposições do Par­que da Cidade, em Brasília, para a 7ª Mar­cha das Mar­gari­das. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O pleito da que­bradeira de coco Domin­gas Aurélia Almei­da dos San­tos em Tim­bi­ras, no Maran­hão é con­tin­uar que­bran­do o fru­to e faz­er o ben­e­fi­ci­a­men­to dele para garan­tir a ren­da da família. “É nos­so dire­ito que­brar o coco, livre. As palmeiras estão aca­ban­do porque os donos que com­pram as ter­ras estão matan­do. E esta­mos fican­do sem coco para que­brar, porque não tem mais palmeira. Nós tiramos lá a pal­ha do coco, o azeite, faze­mos sabonete e sabão, tiramos o leite do coco, tudo. Da cas­ca, faze­mos o carvão. E o coco aca­ban­do fica difí­cil de sobre­viv­er. 

A cri­ado­ra de con­teú­do dig­i­tal e suplente de um par­la­men­tar de San­ta Cata­ri­na veio apren­der sobre fem­i­nis­mo para atu­ar mel­hor em defe­sa dos dire­itos fem­i­ni­nos. “Vim para me orga­ni­zar, jun­to com out­ras mul­heres, escu­tar as reivin­di­cações das mul­heres do cam­po, das flo­restas, e saber o que está sendo orga­ni­za­do na Améri­ca Lati­na. Estar aqui, pre­sente na mar­cha, escu­tar o que elas têm para reivin­dicar, estar nas ofic­i­nas, ouvin­do as palestras, tudo o que elas estão trazen­do, é extrema­mente impor­tante pra gente faz­er políti­cas públi­cas, que sejam real­is­tas”, diz a catari­nense Sardá. 

Brasília (DF), 15/08/2023, Carolline Sardá (suplente de deputada federal - Psol/SC), no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, para a 7ª Marcha das Margaridas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 15/08/2023, Car­olline Sardá (suplente de dep­uta­da fed­er­al — Psol/SC), no Pavil­hão de Exposições do Par­que da Cidade, em Brasília, para a 7ª Mar­cha das Mar­gari­das. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A agricul­to­ra Maria Fran­cis­ca da Sil­va Alcân­tara parou os cuida­dos com a plan­tação de arroz e fei­jão, em Pira­nhas, Alagoas, para via­jar a Brasília. No momen­to em que descia do ônibus, con­ver­sou com a reportagem da Agên­cia Brasil. “Viemos bus­car os pro­je­tos para as agricul­toras que ficaram nas comu­nidades, para plan­tar as sementes sem orgâni­cos. É tudo sem veneno. Força, fé e cor­agem —  essa é a recei­ta para vencer batal­has.” 

A bancária do Paraná, fil­i­a­da à Cen­tral Úni­ca dos Tra­bal­hadores (CUT), Eunice Myamo­to, capri­chou nos adereços flori­dos para mar­char com as mar­gari­das. Em reunião, em uma ten­da, com out­ras rep­re­sen­tantes sindi­cais, Myamo­to falou sobre a luta fem­i­ni­na. “Vim ver todas as mul­heres que estão aqui atrás desse son­ho, em bus­ca de igual­dade, dos dire­itos que temos. Está sendo lin­do porque eu vi a ener­gia dessas mul­heres Eu vi que a Mar­gari­da [Alves] deixou suas semel­hantes E esta­mos fazen­do toda essa pri­mav­era em Brasília.” 

Brasília (DF), 15/08/2023, Eunice Myamoto – bancária (Paraná), acampada no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, para a 7ª Marcha das Margaridas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 15/08/2023, Eunice Myamo­to – bancária (Paraná), acam­pa­da no Pavil­hão de Exposições do Par­que da Cidade, em Brasília, para a 7ª Mar­cha das Mar­gari­das. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A morado­ra da Ceilân­dia, no Dis­tri­to Fed­er­al, Elisa Cristi­na Rodrigues, faz parte da União da Juven­tude Social­ista. Aos 19 anos, a estu­dante lem­bra que muitas lid­er­anças que hoje estão à frente de enti­dades que defen­d­em dire­itos soci­ais ou estão em pos­to de coman­do, começaram em movi­men­tos estu­dan­tis, nas décadas de 80. “Quan­to mais cedo você se enga­ja, mais vitórias tem. Den­tro do movi­men­to, a gente con­hece pes­soas que pas­sam por situ­ações muito difer­entes. Então, acabamos ten­do um olhar mais amp­lo. Ain­da mais no nos­so país, que é muito desigual”. 

A assen­ta­da rur­al Alcimeire Rocha Morais trouxe o fil­ho de José Pietro, de 6 anos, para con­hecer a cap­i­tal do país e lutar pelo dire­ito à ter­ra. “A gente mora em assen­ta­men­to. Ain­da não tem a ter­ra no nome, mas tem o cír­cu­lo da ter­ra onde pode tra­bal­har, cri­ar as coisas da gente, faz­er a roça. Só que não temos mui­ta condição para cuidar da ter­ra. Só plan­ta­mos as coisas boas e cri­amos os bichos: gal­in­ha, por­co. Isso” 

Out­ra tra­bal­hado­ra do cam­po, Celeste Gonçalves Bar­ros, de Cân­di­do Mendes, no Maran­hão, diz que em sua mar­cha quer maquinário especí­fi­co para a peque­na pro­dução rur­al. “Muitas pes­soas param até de plan­tar porque não há condição de tra­bal­har no braço pesa­do. Se viessem umas máquinas para aju­dar a gente seria muito bom. Só tra­bal­hamos com macha­do, na foice, no braçal mes­mo. Se tivesse máquina, era só revi­rar a ter­ra, faz­er o ben­e­fi­ci­a­men­to e plan­tar. Fica­va mais fácil para a gente”. 

Palmeirân­dia, no Maran­hão, é a ter­ra de Ana Luísa Cos­ta Loba­to. Lá, ela é dire­to­ra do Sindi­ca­do de Tra­bal­hadores da Agri­cul­tura Famil­iar e val­oriza o diál­o­go do gov­er­no fed­er­al com a pop­u­lação do cam­po. “A gente tem esper­ança que ele [Lula] mude o nos­so país. Esse é o gov­er­no que a gente colo­cou lá. E, des­de o iní­cio, está dan­do para dialog­ar. É notório, porque des­de as enti­dades, os movi­men­tos soci­ais, até com estrangeiros, vemos a difer­ença do diál­o­go. E pre­cisa tê-lo para pedir as coisas. Tem que ter con­ver­sa”. 

Brasília (DF), 15/08/2023, Ana Ana Luísa Costa Lobato, trabalhadora rural, (Palmeirândia - MA), acampada no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, para a 7ª Marcha das Margaridas. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Brasília (DF), 15/08/2023, Ana Ana Luísa Cos­ta Loba­to, tra­bal­hado­ra rur­al, (Palmeirân­dia — MA), acam­pa­da no Pavil­hão de Exposições do Par­que da Cidade, em Brasília, para a 7ª Mar­cha das Mar­gari­das. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A extra­tivista de coco babaçu Maria José Alves Almei­da, de Codó (MA), mar­cha para ter aces­so ao crédi­to bancário. “A gente tem que ter crédi­to, pois não con­segue aces­so. Não temos car­ro, não temos ter­ra. Tra­bal­hamos no ter­ritório aleiro. Então, isso nos atra­pal­ha muito. Mas, é impor­tante. É inde­pendên­cia. Ness­es nos­sos encon­tros, já desco­b­ri­mos que temos uma maneira de aces­sar. Ain­da esta­mos bus­can­do o con­hec­i­men­to para pas­sar às com­pan­heiras, para que ten­ham aces­so ao crédi­to do Pron­af [Pro­gra­ma Nacional de For­t­alec­i­men­to da Agri­cul­tura Famil­iar]. 

Essas mul­heres estão em mar­cha nes­ta quar­ta-feira, jun­ta­mente com mais de 100 mil mar­gari­das em direção à Esplana­da dos Min­istérios, em um tra­je­to de aprox­i­mada­mente seis quilômet­ros entre o Pavil­hão do Par­que da Cidade e o cen­tro do Poder Exec­u­ti­vo Fed­er­al.  

Às 10h30, haverá o ato de encer­ra­men­to da Mar­cha das Mar­gari­das, com a pre­sença do pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va e de min­istros, em frente ao Con­gres­so Nacional.  

As mar­gari­das aguardam anún­cios do gov­er­no que aten­dam à pau­ta de reivin­di­cações da 7ª edição do even­to.

Edição: Graça Adju­to

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