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Por que marcham as mulheres indígenas?

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Respeito e consideração estão entre as causas


Pub­li­ca­do em 13/09/2023 — 06:23 Por Alex Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Vis­i­bil­i­dade. Respeito. Indig­nação. Per­tenci­men­to. Opor­tu­nidades. Justiça. Esper­ança.

São muitas as causas para que cer­ca de 5 mil mul­heres indí­ge­nas ten­ham deix­a­do suas comu­nidades, via­ja­do por horas e, grande parte delas, per­maneci­do por 3 dias acam­padas a qua­tro quilômet­ros da Praça dos Três Poderes, em Brasília, para par­tic­i­par da 3ª Mar­cha das Mul­heres Indí­ge­nas.

Brasília (DF), 12/09/2023 - Segundo dia da 3ª Marcha das Mulheres Indígenas, que continua até quarta-feira (13), no Complexo Cultural Funarte. Com o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, o evento reúne mais de 5 mil participantes de todo o país. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: 3ª Mar­cha das Mul­heres Indí­ge­nas Foto: Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Pro­movi­da pela Artic­u­lação Nacional das Mul­heres Indí­ge­nas Guer­reiras da Ances­tral­i­dade, a mar­cha, este ano, tem como lema a defe­sa da bio­di­ver­si­dade. Mas, para além da pau­ta con­jun­ta, extraí­da dos desafios enfrenta­dos cole­ti­va­mente, cada mul­her pre­sente ao ato car­rega con­si­go, tam­bém, uma jus­ti­fica­ti­va para mar­char pela cap­i­tal fed­er­al na man­hã des­ta quar­ta-feira (13).

Brasília (DF), 12.09.2023 - 3ª Marcha das Mulheres Indígenas. - Samara Cristina Paramirim de Oliveira Martim (de óculos), da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo. Foto: Alex Rodrigues/Repórter da Agência Brasil
Repro­dução: Sama­ra Cristi­na Paramir­im de Oliveira Mar­tim (de ócu­los), da Ter­ra Indí­ge­na Jaraguá, em São Paulo. Foto: Alex Rodrigues/Agência Brasil

“Luta­mos por mais respeito e con­sid­er­ação às mul­heres. E tam­bém em defe­sa de nos­sos ter­ritórios”, jus­ti­fi­cou a estu­dante secun­darista Sama­ra Cristi­na Paramir­im de Oliveira Mar­tim, 17 anos de idade, que deixou a Ter­ra Indí­ge­na Jaraguá, na cidade de São Paulo, con­ven­ci­da de que a união de tan­tas mul­heres é capaz de dar mais vis­i­bil­i­dade a temas caros às comu­nidades indí­ge­nas.

“É impor­tante estar­mos jun­tas. Cada uma de nós têm sua força, mas jun­tas somos mais fortes. Só assim con­seguimos con­stru­ir algo. Na mar­cha, cada uma estará com seu povo e todos os povos estare­mos jun­tos, chaman­do a atenção para a luta de todos os indí­ge­nas, inde­pen­dente da etnia, da idade e do gênero”, acres­cen­tou Sama­ra, desta­can­do que o fato das par­tic­i­pantes da mar­cha virem de difer­entes partes do país favorece a tro­ca de exper­iên­cias, reforçan­do os traços em comum, mas tam­bém as par­tic­u­lar­i­dades de cada comu­nidade.

Brasília (DF), 12.09.2023 - 3ª Marcha das Mulheres Indígenas. - Larissa Xerente, representante de comunidade xerente de Tocantins. Foto: Alex Rodrigues/Repórter da Agência Brasil
Repro­dução: Laris­sa Xer­ente, rep­re­sen­tante de comu­nidade xer­ente de Tocan­tins. Foto: Alex Rodrigues/Agência Brasil

Dez anos mais vel­ha que a jovem paulis­tana, a artesã Laris­sa Xer­ente pas­sou 12 horas em um ônibus, jun­to com out­ras 23 mul­heres indí­ge­nas de sua etnia, para super­ar a dis­tân­cia entre Tocan­tinia (TO) e Brasília. Escol­hi­da rep­re­sen­tante da aldeia For­mosa, da TI Xer­ente, Laris­sa con­sid­era que rece­beu uma opor­tu­nidade que cada vez mais mul­heres indí­ge­nas alme­jam.

“Hoje, há muitas mul­heres queren­do par­tic­i­par de vários movi­men­tos, incluin­do o indí­ge­na. Infe­liz­mente, ain­da encon­tramos alguns obstácu­los. Fui indi­ca­da e vim cer­ta de que, quan­do saí­mos para denun­ciar o que acon­tece em nos­sas comu­nidades, para reivin­dicar as deman­das de nos­sos gru­pos, que são muitas, recebe­mos voz para ten­tar solu­cionar prob­le­mas que ocor­rem há anos”, expli­cou Laris­sa antes de elen­car aspec­tos como saúde, edu­cação e mais igual­dade entre gêneros.

“Os home­ns cos­tu­mam falar por nós, mas é cada vez mais forte a visão de que se nós mes­mo não for­mos atrás [de res­olução para os prob­le­mas], os home­ns não con­seguirão muito do que podemos alcançar, pois eles não con­seguem, por exem­p­lo, explicar pelo que as mul­heres [em par­tic­u­lar] estão pas­san­do. E todas, de algu­ma for­ma, pas­sam por um mes­mo proces­so de vio­lação de seus cor­pos”, acres­cen­tou Laris­sa, chaman­do atenção para o fato de que emb­o­ra as mul­heres sejam as pro­tag­o­nistas da mar­cha, há muitos home­ns pre­sentes, acom­pan­han­do-as e incen­ti­van­do-as a lutar pelos dire­itos indí­ge­nas.

Brasília (DF), 12.09.2023 - 3ª Marcha das Mulheres Indígenas. - Indígena Dayane Rikbaktsa, de Mato Grosso. Foto: Alex Rodrigues/Repórter da Agência Brasil
Repro­dução: Dayane Rik­bak­t­sa, de Mato Grosso. Foto: Alex Rodrigues/Agência Brasil

Já Dayane Rik­bak­t­sa rep­re­sen­ta a Cur­va, uma das aldeias da TI Rik­bak­t­sa, em Mato Grosso. Como as demais mul­heres ouvi­das pela Agên­cia Brasil, ela defende que, em últi­ma instân­cia, o movi­men­to luta pela preser­vação da vida, cos­tumes e ter­ras indí­ge­nas, mas desta­ca a diver­si­dade dos temas dis­cu­ti­dos no acam­pa­men­to mon­ta­do jun­to ao Cen­tro Ibero-Amer­i­cano de Cul­turas, anti­go Com­plexo Cul­tur­al Funarte.

“A prin­ci­pal luta dos povos indí­ge­nas é em prol dos nos­sos ter­ritórios, para não deixar que nos­sas ter­ras sejam inva­di­das e bus­car resolver os prob­le­mas exis­tentes, como a invasão por madeireiros e a expan­são da agropecuária, mas há tam­bém questões local­izadas. No Mato Grosso, por exem­p­lo, temos a questão das usi­nas hidrelétri­c­as que impactam nos­sa sobre­vivên­cia e nos­sas tradições, já que afe­tam a qual­i­dade dos rios de onde reti­ramos muitos de nos­sos recur­sos”, disse Dayane, asse­gu­ran­do que, em muitas partes do ter­ritório brasileiro, os povos indí­ge­nas já “sofrem muito com as mudanças climáti­cas”.

“Só mes­mo os povos indí­ge­nas sabem, enten­dem e sen­tem o que estão viven­do. E as mul­heres sen­tem isso e querem se somar à luta. Somos guer­reiras, esta­mos aqui para mar­char em nome de nos­sas ances­trais; for­t­ale­cer o movi­men­to e con­seguir um modo de vida mais qual­i­fi­ca­do para nos­sos fil­hos, que vão dar con­tinuidade à nos­sa luta”, final­i­zou Dayane.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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