...
segunda-feira ,10 fevereiro 2025
Home / Entretenimento / Pré-carnaval de dois meses pode aumentar faturamento de setores

Pré-carnaval de dois meses pode aumentar faturamento de setores

Já houve tentativas frustradas de fixar a data das festas para março

Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 12/01/2025 — 11:44
Rio de Janeiro
Ver­são em áudio
Arpoador e praia de Ipanema são tomadas por banhistas nesta segunda-feira de sol intenso no verão carioca.
Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Enquan­to muitos tra­bal­hadores esper­am o fim do ano para ter ren­da extra, com o paga­men­to do 13º salário, o vende­dor ambu­lante André Pacheco aprovei­ta o iní­cio de 2025 para con­seguir um din­heir­in­ho a mais, impul­sion­a­do pela chega­da do car­naval. Há 20 anos ele tra­bal­ha com a ven­da de bebidas na Lapa, região boêmia no Cen­tro do Rio de Janeiro.

André espera um fat­u­ra­men­to maior por um moti­vo especí­fi­co: este ano o car­naval será em março (começa no sába­do, 1º), o que sig­nifi­ca diz­er que o pré-car­naval é mais lon­go.

“A gente vai ter janeiro e fevereiro para se preparar para o car­naval. Para mim é como se tivesse já dan­do uma ala­van­ca­da de no mín­i­mo uns 50% nas ven­das”, disse à Agên­cia Brasil.

Des­de a vira­da do ano, ele tem perce­bido que a cidade está cheia de tur­is­tas, brasileiros e estrangeiros, o que con­tribui para o otimis­mo em relação às ven­das. Para o camelô, os blo­cos de car­naval que já estão ani­man­do o Rio des­de o primeiro fim de sem­ana do ano estão dire­ta­mente rela­ciona­dos com a expec­ta­ti­va – mes­mo que não sejam local­iza­dos na região da Lapa.

“A gente fala que a Lapa, a nos­sa área, é uma dis­per­são mes­mo de blo­cos. As pes­soas vin­das de blo­cos da Primeiro de Março [no Cen­tro], do Fla­men­go, da Glória [bair­ros da zona sul], enfim, a galera aca­ba indo para a Lapa, todo mun­do vai para lá, e a fes­ta con­tin­ua lá”.

A vende­do­ra ambu­lante Maria do Car­mo, con­heci­da como Maria dos Camelôs, fun­dado­ra e coor­de­nado­ra-ger­al do Movi­men­to Unido dos Camelôs (Muca), reforça a importân­cia do car­naval para a cat­e­go­ria.

“O car­naval é o momen­to em que a gente tira o nos­so 13º salário. Momen­to em que as pes­soas estão na cidade, na rua para gas­tar din­heiro. Para a gente é muito impor­tante”, disse à Agên­cia Brasil a ambu­lante que vende bebidas em blo­cos no tradi­cional bair­ro de San­ta Tere­sa, região cen­tral do Rio de Janeiro.

“Car­naval dev­e­ria ser duas vezes no ano”, brin­ca ela, que apon­ta o pré-car­naval como mais opor­tu­nidade para encon­trar blo­cos nas ruas e, con­se­quente­mente, vender mais.

Este ano, a prefeitu­ra do Rio de Janeiro vai cadas­trar 15 mil vende­dores autônomos para tra­bal­har nos blo­cos de rua, 5 mil a mais que em 2024.

Expediente esticado

O bar e restau­rante Super Bar, que fica na Cinelân­dia, cen­tro do Rio, out­ro pon­to de dis­per­são de blo­cos, foi sur­preen­di­do pelo movi­men­to de foliões no últi­mo domin­go (5).

“Já começou o pré-car­naval este fim de sem­ana. Já bom­bou aqui”, con­tou à Agên­cia Brasil o ger­ente Flávio Alexan­dre Fil­ho. O esta­b­elec­i­men­to esta­va plane­ja­do para fun­cionar só no expe­di­ente diurno, mas teve que mudar os planos. “Teve que dar uma esti­ca­da até as 11 horas da noite”, rela­ta.

O ger­ente expli­cou que não chega a con­tratar mais fun­cionários, mas altera os horários das escalas, de for­ma a ampli­ar a capaci­dade de atendi­men­to. A exceção é a equipe de segu­rança, que con­ta com reforço numéri­co.

Nas con­tas de Flávio, o fat­u­ra­men­to deve crescer 30% nos dias de pré-car­naval. Esse aumen­to com­pen­sa out­ro efeito do car­naval tar­dio. Ele obser­va que o restau­rante fica em uma região que con­cen­tra muitos fun­cionários públi­cos. “O ano só começa mes­mo depois do car­naval”, con­sta­ta ele, se referindo à diminuição de movi­men­to nos dias úteis de janeiro e fevereiro.

Comportamentos distintos

O pres­i­dente do Sindi­ca­to de Bares e Restau­rantes do Rio de Janeiro (Sin­dRio), Fer­nan­do Blow­er, obser­va que mes­mo não ten­do dados que suportem a hipótese, tende a acred­i­tar que o pré-car­naval mais lon­go pode ser algo pos­i­ti­vo para o setor. “Isso porque dá uma espé­cie de alon­ga­da nesse sen­ti­men­to de verão, férias e viagem”, avalia.

No entan­to, ele apon­ta que nem todos os esta­b­elec­i­men­tos de ali­men­tação fora do lar viven­ci­am o perío­do da mes­ma for­ma.

“Os bares e locais com car­ac­terís­ti­cas mais infor­mais e descon­traí­dos, além daque­les em locais de per­fil notada­mente turís­ti­cos, a exem­p­lo da zona sul e Lapa, apre­sen­tam maior pos­si­bil­i­dade de cresci­men­to no perío­do”, assi­nala.

“Já nos per­fis de negó­cio com foco mais exec­u­ti­vo e afas­ta­dos das áreas de maior con­cen­tração turís­ti­ca, o inver­so acon­tece”, com­ple­ta.

O pres­i­dente do Sin­dRio lem­bra que, de acor­do com dados do sindi­ca­to e do Insti­tu­to Fecomér­cio de Pesquisas e Anális­es (Ifec-RJ), o car­naval é his­tori­ca­mente um perío­do com peque­na que­da no fat­u­ra­men­to do setor de bares e restau­rantes.

Em 2024, o fat­u­ra­men­to ficou em R$ 1,394 bil­hões. Foi o primeiro ano a super­ar a mar­ca de pouco mais de R$ 1,3 bil­hão alcança­da em 2019 e 2020, antes da pan­demia de covid-19.

“Com o aumen­to cres­cente do tur­is­mo, incluin­do o recorde de entra­da de tur­is­tas estrangeiros no Brasil em 2024, esta­mos esper­ançosos de seguir em um movi­men­to de cresci­men­to”, esti­ma.

Vocação regional

O pres­i­dente-exec­u­ti­vo da Asso­ci­ação Brasileira de Bares e Restau­rantes (Abrasel), Paulo Sol­muc­ci, con­sid­era que o fato de o car­naval ser só em março gera impactos vari­a­dos pelo Brasil, que depen­dem das car­ac­terís­ti­cas econômi­cas e turís­ti­cas de cada região.

“Em cidades como Sal­vador e Flo­ri­anópo­lis, o car­naval mar­ca o fim da alta tem­po­ra­da de verão. Por isso, quan­do acon­tece mais tarde, aju­da a pro­lon­gar o tur­is­mo e impul­sion­ar as ven­das em bares e restau­rantes”, apon­ta.

“Já em locais onde a ativi­dade turís­ti­ca é forte ao lon­go de todo o verão, como no Rio de Janeiro, a data do car­naval tem pou­ca influên­cia, e o setor man­tém sua esta­bil­i­dade”, con­sid­era.

Hotéis

Enquan­to ambu­lantes e bares se aproveitam da pre­sença de foliões nos blo­cos do pré-car­naval esten­di­do, o setor de hote­lar­ia enx­er­ga out­ra van­tagem de a fes­ta ofi­cial estar mar­ca­da para março.

De acor­do com Alfre­do Lopes, pres­i­dente do Hotéis­RIO — o sindi­ca­to de donos de hospedagem da cidade do Rio — a data mais dis­tante faz com que tur­is­tas nacionais ten­ham tem­po de se orga­ni­zar finan­ceira­mente e “abre a pos­si­bil­i­dade de que quem veio par­tic­i­par da fes­ta da vira­da queira voltar para a folia momesca”.

Segun­do ele, o Réveil­lon fun­ciona como um “cartão de boas-vin­das” para que os vis­i­tantes con­heçam mel­hor a cidade e se inter­essem em par­tic­i­par de out­ra grande fes­ta. “O car­naval em março esti­ca a alta tem­po­ra­da no Rio, con­sti­tuí­da pelo verão car­i­o­ca”, define.

Além dis­so, con­tin­ua Lopes, a desval­oriza­ção do real, cer­ca de 25% em um ano, tornou o Rio ain­da mais atraente para os tur­is­tas inter­na­cionais. A moe­da brasileira desval­oriza­da é sinôn­i­mo de preços mais baratos para quem vem de fora do país.

Calendário oficial

A terça-feira de car­naval este ano será em 4 de março. A data varia, sendo rela­ciona­da dire­ta­mente à real­iza­ção da Pás­coa, que segue o cal­endário da igre­ja católi­ca.

Com base em relatos bíbli­cos e históri­cos, os católi­cos acred­i­tam que a ressur­reição de Cristo ocor­reu em um dia de lua cheia, próx­i­mo ao equinó­cio da pri­mav­era (o dia e a noite têm exata­mente a mes­ma duração e mar­ca a chega­da da estação) no Hem­is­fério Norte.

Por esta razão, no ano 325, a Igre­ja Católi­ca real­i­zou o Con­cílio de Niceia e decid­iu que a Pás­coa seria cel­e­bra­da sem­pre no domin­go seguinte ao surg­i­men­to da primeira lua cheia após a chega­da da pri­mav­era no Hem­is­fério Norte. Dessa for­ma, a Pás­coa de 2025 será em 20 de abril.

Já o car­naval ter­mi­na reli­giosa­mente 40 dias antes do domin­go de Ramos, o domin­go que ante­cede a Pás­coa. Da quar­ta-feira de cin­zas até o domin­go de Pás­coa são sem­pre 46 dias.

Em 2024, o car­naval começou em 10 de fevereiro. Em 2026, será no sába­do 14 de fevereiro. Pas­san­do 2025, o próx­i­mo ano que terá car­naval em março será 2030, quan­do a terça-feira cairá em um dia 5.

O Insti­tu­to de Infor­máti­ca da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio Grande do Sul (UFRGS) preparou uma tabela com todas as datas reli­giosas móveis, o que inclui o Cor­pus Christi – de 1951 a 2078.

Lei para fixar data

Ape­sar de o car­naval ser uma data móv­el dire­ta­mente lig­a­da à Pás­coa, já hou­ve ten­ta­ti­vas de aprovar lei para fixar o car­naval na primeira terça-feira de março.

A Câmara dos Dep­uta­dos rece­beu os Pro­je­tos de Lei (PL) 2846/2008 e 1503/2011, dos então dep­uta­dos fed­erais Welling­ton Fagun­des e Stepan Ner­cess­ian, respec­ti­va­mente.

Na jus­ti­fica­ti­va, ambos alegam que a mudança de data pos­si­bil­i­taria “mel­ho­ria das condições profis­sion­ais de todos os setores envolvi­dos na orga­ni­za­ção do even­to”.

O pro­je­to do hoje senador Fagun­des acres­cen­ta­va que “a fix­ação da data tem, ain­da, a van­tagem de ofer­e­cer aos tur­is­tas – brasileiros e estrangeiros – a opor­tu­nidade de se pro­gra­marem ante­ci­pada­mente para a grande fes­ta”.

O tex­to de Ner­cess­ian defendia que “quan­do a fes­ta cai na primeira quinzena de fevereiro, é um desas­tre econômi­co para o setor de tur­is­mo”.

O PL de Welling­ton Fagun­des foi arquiv­a­do em 2009, pouco mais de um ano após ser apre­sen­ta­do. O de Stepan Ner­cess­ian começou a trami­tar em 2011 e foi arquiv­a­do em 2015.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Olimpíada desafia estudantes a restaurar a natureza

Desafio é promovido pela organização sem fins lucrativos WWF-Brasil Fabío­la Sin­im­bú — Repórter da Agên­cia …