...
domingo ,23 março 2025
Home / Meios de comunicação / Primeiro voo há 115 anos: Santos Dumont aliou invenções à ciência

Primeiro voo há 115 anos: Santos Dumont aliou invenções à ciência

Repro­dução: © Jules Beau/Domínio públi­co

Gênio brasileiro conquistou a dirigibilidade, criou balões e avião


Pub­li­ca­do em 23/10/2021 — 07:20 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter Agên­cia Brasil — Brasília

O voo do brasileiro Alber­to San­tos Dumont, em uma dis­tân­cia de 60 met­ros com o 14-Bis, no Cam­po de Bagatelle, em Paris, mar­cou his­tori­ca­mente aque­le 23 de out­ubro de 1906 e con­sagrou ain­da mais o inven­tor. O apar­el­ho subiu 2 met­ros de altura e foi o bas­tante para a humanidade olhar para cima e para o futuro de for­ma difer­ente.

O feito inédi­to que com­ple­ta 115 anos neste sába­do (23), porém, é “ape­nas” a parte mais famosa das con­quis­tas, segun­do apon­tam os pesquisadores da vida e das obras daque­le mineiro que ficou con­heci­do como o Pai da Avi­ação.

Repro­dução: San­tos Dumont em seu 14-Bis — Domínio Públi­co

Até aque­la data (e depois tam­bém), o enre­do é de uma história de cor­agem, per­spicá­cia, gen­erosi­dade e divul­gação cien­tí­fi­ca como roti­na de vida. Car­ac­terís­ti­ca, aliás, de um perío­do de fascínio pela tec­nolo­gia e pelas descober­tas. Autor de qua­tro livros sobre San­tos Dumont, o físi­co Hen­rique Lins de Bar­ros, espe­cial­ista na história do gênio inven­tor, desta­ca que feitos ante­ri­ores foram fun­da­men­tais para que as ativi­dades aéreas se con­sol­i­dassem.

Ele cita que o brasileiro inven­tou e paten­teou o motor a com­bustão para aviões, em 1898, o que via­bi­li­zou o son­ho de um dia deco­lar. Uma car­ac­terís­ti­ca de San­tos Dumont é que ele cri­a­va, paten­tea­va e lib­er­a­va a uti­liza­ção para quem quisesse. Três anos depois do motor, a con­quista da diri­gi­bil­i­dade, tam­bém por parte de Dumont, foi uma ação rev­olu­cionária.

“Ele apren­deu a voar de balão, fez os primeiros dirigíveis. Todos eles, até o número 6, têm ino­vações impres­sio­n­antes, com mudanças con­ceitu­ais. Ele sofreu diver­sos aci­dentes, mas apren­deu a voar. Foi assim que ele desco­briu quais eram os prob­le­mas de um voo con­tro­la­do.  Quan­do ele gan­hou o Prêmio Deutsch, em 1901 [com o dirigív­el número 5], ele tin­ha domínio total. Em 1902, ele já tin­ha os dirigíveis até o número 10 con­struí­dos”.

“Ele tem uma produção, em dez anos, em que ele idealiza, constrói, experimenta mais de 20 inventos. Todos revolucionários. Ele tem intuição para o caminho certo e criatividade para ir adiante. Os colegas deles inventores diziam que ele fazia em uma semana o que os outros demoravam três meses”, afirma Henrique Lins de Barros.

Voo sob controle

De acor­do com o escritor Fer­nan­do Jorge, bió­grafo de San­tos Dumont, a descober­ta da diri­gi­bil­i­dade, por parte do brasileiro, foi um mar­co deci­si­vo para o que ocor­re­ria depois. “Enten­do que foi um momen­to supre­mo e cul­mi­nante para a história da aeronáu­ti­ca mundi­al.”

Para o arquiv­ista Rodri­go Moura Visoni, pesquisador dos inven­tores brasileiros e autor de livro sobre San­tos Dumont, as fotos mostram detal­h­es da emoção que tomou con­ta das pes­soas quan­do hou­ve a con­quista da diri­gi­bil­i­dade. “San­tos Dumont foi con­vi­da­do para rodar o mun­do. Foi, sem dúvi­da, um grande feito. Para se ter uma ideia, o número de notí­cias sobre a con­quista do Prêmio Deutsch supera a do primeiro voo [cin­co anos depois]. Isso é expli­ca­do porque a bus­ca pela diri­gi­bil­i­dade já tin­ha 118 anos. Ele resolve um prob­le­ma sec­u­lar. Além dis­so, a descober­ta per­mi­tiu a era das nave­g­ações aéreas”, afir­ma.

Segun­do o que Visoni pesquisou, Alber­to San­tos Dumont disse, em várias entre­vis­tas, inclu­sive pouco antes de mor­rer, que a maior feli­ci­dade den­tre todas as emoções foi a con­quista da diri­gi­bil­i­dade. “Isso é muito curioso. Ele dizia que o dia mais feliz não foi o dia em que ele faz a pro­va do Prêmio Deutsch, nem o 23 de out­ubro ou o 12 novem­bro de 1906 [em que ele faz o voo de 220 met­ros pela Fed­er­ação Aeronáu­ti­ca Inter­na­cional]. O dia mais feliz teria sido o 12 de jul­ho de 1901, quan­do ele perce­beu que resolveu o prob­le­ma de diri­gi­bil­i­dade aérea. Foi uma demon­stração impres­sio­n­ante. Ele vai aonde ele quer. Ele esta­va total­mente inte­gra­do ao dirigív­el.”

Ouça reportagem da Radioagên­cia Nacional sobre o tema

O Prêmio Deutsch (no val­or de 100 mil fran­cos) foi con­feri­do a San­tos Dumont por ele ter con­segui­do cir­cu­lar a Torre Eif­fel em jul­ho. Mas os juízes garan­ti­ram a vitória ao brasileiro somente em novem­bro daque­le ano. Os 120 anos da diri­gi­bil­i­dade, assim, devem ser cel­e­bra­dos no mês que vem.

Na ocasião, o din­heiro foi dis­tribuí­do para a equipe do avi­ador e para pes­soas pobres da cap­i­tal france­sa. “Ele era um homem muito gen­eroso”, afir­ma o bió­grafo Fer­nan­do Jorge.

“Tomem cuidado!”

A série de demon­strações públi­cas que ele faz dos seus inven­tos devia sem­pre ser acom­pan­ha­da da pre­sença de repórteres. “Os jor­nal­is­tas reg­is­travam e San­tos Dumont pub­li­ca­va o que ele esta­va fazen­do. Essa é uma car­ac­terís­ti­ca impres­sio­n­ante. Ele divul­ga tudo. Tan­to o que ele acer­ta como o que ele erra. Essa é uma car­ac­terís­ti­ca impres­sio­n­ante dele. Quan­do ele erra, ele descreve e aler­ta: ‘Tomem cuida­do!’. Ele esta­va maduro na arte dos balões”, afir­ma Lins de Bar­ros.

Repro­dução: Pop­u­lação france­sa assiste ao voo do 14-Bis — 1906- Domínio públi­co

A pos­tu­ra de San­tos Dumont não era ape­nas a de um inven­tor, mas a de um divul­gador cien­tí­fi­co, expli­cam os pesquisadores. “Ele foi um divul­gador hon­esto.”

Entre 1901 e 1906,  San­tos Dumont pas­sou a enten­der o que era o voo do avião. “O 14-Bis ele fez em pouquís­si­mo tem­po, pouco mais de um mês. Em setem­bro, por exem­p­lo, ele exper­i­men­ta e faz vários testes com o apar­el­ho.”

Em 23 de out­ubro, ele, após qua­tro ten­ta­ti­vas, con­segue voar os 60 met­ros. Assim ele mostra para todos os avi­adores da época que era pos­sív­el voar com o mais pesa­do que o ar. Uma rev­olução. A vitória sig­nifi­cou o Prêmio Archdea­conBas­taria voar 25 met­ros. San­tos Dumont fez um per­cur­so de mais que o dobro.

Demoiselle, a primeira de uma série

Depois do voo, out­ros inven­tores enten­der­am quais eram os prob­le­mas. Em 1907, San­tos Dumont apre­sen­ta o Demoi­selle (invenção número 20), um ultra­leve. “No ano seguinte, San­tos Dumont pub­li­ca em uma revista pop­u­lar o plano detal­ha­do do Demoi­selle para quem quisesse con­stru­ir. Esse mod­e­lo pas­sa a ser o primeiro pro­duzi­do em série na avi­ação”, expli­ca Lins de Bar­ros. O mod­e­lo foi ven­di­do para um pio­neiro da avi­ação na França, Roland Gar­ros.

Repro­dução: Foto repro­dução Iara Venanzi/Itaú Cul­tur­al

Santos Dumont x irmãos Wright

Nes­sa época, tam­bém, surge uma polêmi­ca com dois norte-amer­i­canos, os irmãos Wright (Wilbur e Orville), que alegam terem sido os pio­neiros do voo. Os pesquisadores expli­cam que os avi­adores não têm reg­istros de voos, com deco­lagem, diri­gi­bil­i­dade e pouso antes de 1906 sem uso de cat­a­pul­tas (que impul­sion­avam os apar­el­hos para o ar).

Em 1908, San­tos Dumont, acometi­do por escle­rose, aban­do­nou o voo. O reg­istro é de que ele se sui­ci­dou em 1932, em um hotel no Guaru­já (SP). O bió­grafo do avi­ador, Fer­nan­do Jorge, lamen­ta que o final da vida do genial brasileiro ten­ha sido de martírio diante da doença e da depressão. “Ele era um homem tími­do e que rev­ela­va que não que­ria casar porque não que­ria deixar a esposa viú­va. De toda for­ma, o que sem­pre me impres­sio­nou na per­son­al­i­dade dele foi a com­bi­nação impres­sio­n­ante da tenaci­dade, da cor­agem e da per­se­ver­ança. Foi um gênio da humanidade.”

Edição: Alessan­dra Esteves

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

ONU alerta sobre impactos da mudança climática nas geleiras

Países em desenvolvimento nas montanhas precisam de US$ 187 bi anuais Fabío­la Sin­im­bú — Repórter …