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Produção nacional fortalece soberania e planejamento no PNI

Repro­dução: © Fabio Rodrigues-Pozze­bom/ Agên­cia Brasil

Instituto Butantan e Fiocruz fornecem maior parte das vacinas


Pub­li­ca­do em 04/09/2023 — 07:31 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil* — Rio de Janeiro

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Vacinação 50 anos

As sem­anas de espera pela lib­er­ação de car­rega­men­tos de ingre­di­ente far­ma­cêu­ti­co ati­vo (IFA) na alfân­de­ga chi­ne­sa para as vaci­nas con­tra a covid-19, em meio à explo­si­va expan­são da vari­ante Gam­ma no Brasil, der­am o tom de quão dramáti­ca pode ser a dependên­cia de insumos de saúde para um país. Com a pan­demia, mes­mo país­es ricos e desen­volvi­dos sofr­eram com a fal­ta de insumos, por terem trans­feri­do sua indús­tria nacional de saúde para fora de suas fron­teiras, e entrou no radar destas nações o for­t­alec­i­men­to de fornece­dores locais.

No caso do Brasil, o Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI), que com­ple­ta 50 anos em 2023, tem entre suas mar­cas a pre­sença de pro­du­tores nacionais das vaci­nas uti­lizadas. O Insti­tu­to Butan­tan e a Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz) fornecem a maior parte das vaci­nas, soros e out­ros imuno­bi­ológi­cos que fazem parte do pro­gra­ma, e essa é uma das razões atribuí­das por espe­cial­is­tas ao suces­so.

Brasília (DF) 01/09/2023 -Chefe de saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Luciana PheboFoto: Unicef/Divulgação
Repro­dução: Luciana Phe­bo diz que o PNI não é impor­tante ape­nas para o Brasil, mas para todo o mun­do — Unicef/Divulgação

A chefe de saúde do Fun­do das Nações Unidas para a Infân­cia (Unicef) no Brasil, Luciana Phe­bo, desta­ca que ter insti­tu­ições robus­tas que sabem dar respostas a prob­le­mas de saúde tão sérios é um priv­ilé­gio que o Brasil tem. Para ela, a garan­tia do fornec­i­men­to de vaci­nas por insti­tu­ições com a capaci­dade téc­ni­ca dos fab­ri­cantes nacionais é um dos trun­fos do pro­gra­ma para garan­tir sua con­tinuidade.

“É um val­or agre­ga­do não só para o país, mas para todo o mun­do”, afir­ma.  “O PNI não é só impor­tante para o Brasil, é impor­tante para todo o mun­do. E ain­da mais lidan­do com doenças virais. Vírus não têm pas­s­aportes e não recon­hecem o dev­er de um país e de out­ro.”

Laboratórios públicos

O Insti­tu­to Butan­tan, lig­a­do ao gov­er­no de São Paulo, faz parte dessa reta­guar­da que garante o fornec­i­men­to ao PNI. Na pan­demia, por exem­p­lo, foram mais de 115 mil­hões de dos­es de Coro­n­aVac. Por ano, o insti­tu­to ain­da fornece 80 mil­hões de dos­es da vaci­na con­tra a gripe, além pro­duzir os imu­nizantes con­tra hepatite A, hepatite B, HPV, dTpa e rai­va.

A dire­to­ra médi­ca do Insti­tu­to Butan­tan, Fer­nan­da Bou­los, ressalta que, ape­sar de lab­o­ratórios públi­cos for­t­ale­cerem a autono­mia nacional, é pre­ciso avançar nes­sa sobera­nia, garan­ti­n­do tam­bém os insumos necessários para todas as eta­pas de pro­dução.

Brasília (DF) 01/09/2023 - Diretora médica do Instituto Butantan, Fernanda BoulosFoto: Butantan/Divulgação
Repro­dução: Fer­nan­da Bou­los, do Butan­tan, diz que lab­o­ratórios pre­cisam garan­tir insumos necessários a todas as eta­pas de pro­dução — Butantan/Divulgação

“É necessário pon­tu­ar que muitos insumos uti­liza­dos durante o proces­so de pro­dução das vaci­nas ain­da são impor­ta­dos. É impor­tante for­t­ale­cer, cada vez mais, estas insti­tu­ições para que pos­samos inter­nalizar diver­sas eta­pas do proces­so pro­du­ti­vo, incluin­do pro­dução de insumo far­ma­cêu­ti­co ati­vo (IFA), garan­ti­n­do esta capaci­dade local de pro­dução de vaci­nas”, argu­men­ta ela.

Além de fab­ricar, o Butan­tan tam­bém pesquisa novas tec­nolo­gias de vaci­nas. No momen­to, o lab­o­ratório paulista real­iza testes clíni­cos de fase 3, a últi­ma fase antes do reg­istro, de novas vaci­nas can­di­datas con­tra dengue, chikun­gun­ya e influen­za sendo tes­tadas. “Esta­mos otimis­tas em poder con­seguir reg­is­trar e disponi­bi­lizar estas vaci­nas em breve”, afir­ma Fer­nan­da Bou­los.

Além das vaci­nas, o Butan­tan fornece tam­bém 100% dos soros antive­nenos dis­tribuí­dos pelo Min­istério da Saúde para todas as regiões do Brasil, para tratar casos de enve­ne­na­men­to por ser­pentes, ara­nhas e escor­piões.

“Os soros antive­nenos são de extrema importân­cia para a saúde públi­ca, vis­to que vive­mos em um país com altos índices de aci­dentes por ani­mais peçon­hen­tos”, lem­bra a dire­to­ra do Butan­tan. “Estes soros sal­vam vidas diari­a­mente.”

Vacinas para o Brasil e o exterior

O Insti­tu­to de Tec­nolo­gia em Imuno­bi­ológi­cos da Fiocruz (Bio-Man­guin­hos) reúne a out­ra parte das prin­ci­pais vaci­nas do PNI. Seu port­fólio con­ta com a DTP, Febre Amarela, Haemophilus influen­zae B, Menin­gite A e C, Pneu­mocó­ci­ca 10-valente, Vaci­na Covid-19 (recom­bi­nante), Poliomielite Ina­ti­va­da, Poliomielite Oral, Rotavírus Humano Tetrava­lente Viral, Trí­plice Viral e Saram­po e rubéo­la (aten­u­a­da).

O insti­tu­to tam­bém está em proces­so de assumir a pro­dução da vaci­na BCG, em uma parce­ria com o Insti­tu­to de Biolo­gia Mol­e­c­u­lar do Paraná (IBMP), após uma crise que lev­ou ao fechamen­to da fábri­ca da Fun­dação Ataulfo de Pai­va (FAP), a úni­ca insti­tu­ição que pro­duz a vaci­na BCG no Brasil des­de que a amostra do baci­lo aten­u­a­do chegou da França, há quase um sécu­lo.

Brasília (DF) 29/08/2023 - Diretor de Bio-Manguinhos, Maurício ZumaFoto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Repro­dução: Dire­tor de Bio-Man­guin­hos, Mau­rí­cio Zuma diz que, além do Brasil, 70 país­es recebem vaci­nas pro­duzi­das na Fiocruz — Arqui­vo pessoal/Divulgação

O dire­tor de Bio-Man­guin­hos, Mau­rí­cio Zuma, con­ta que, além do Brasil, out­ros 70 país­es recebem vaci­nas pro­duzi­das na Fiocruz, por meio do fornec­i­men­to da fun­dação a organ­is­mos inter­na­cionais como a Orga­ni­za­ção Pan-Amer­i­cana de Saúde, O Fun­do das Nações Unidas para a Infân­cia e a Aliança Inter­na­cional para Vaci­nas e Imu­niza­ção (Gavi). As mais expor­tadas são a vaci­na con­tra a febre amarela e os imu­nizantes con­tra a doença meningocó­ci­ca.

“Bio-Man­guin­hos hoje pro­duz dez vaci­nas difer­entes, todas elas com­pon­do o cal­endário nacional de vaci­nação. Em 2022, entreg­amos mais de 120 mil­hões de dos­es para o PNI, esse é o número médio que cos­tu­mamos entre­gar todo ano. Somente em 2021, foram mais de 200 mil­hões por con­ta da pan­demia de covid-19”, lem­bra Zuma.

Mais autonomia

Inte­grante da Coor­de­nação de Epi­demi­olo­gia da Asso­ci­ação Brasileira de Saúde Cole­ti­va (Abras­co), Maria Rita Don­al­i­sio defende que é pre­ciso inves­ti­men­tos para reforçar a capaci­dade pro­du­ti­va e a nacional­iza­ção da pro­dução de supri­men­tos, e que já é con­sen­so na ciên­cia que o din­heiro gas­to em vaci­nas poupa cus­tos muito maiores no atendi­men­to.

“A gente tem dois grandes lab­o­ratórios que garan­ti­ram a pro­dução nacional das vaci­nas mais impor­tantes do pro­gra­ma, e a gente pre­cisa de reforço para garan­tir ess­es supri­men­tos, para ren­o­var e ade­quar ess­es lab­o­ratórios. A gente sem­pre pre­cisa de inves­ti­men­tos”, afir­ma. “Esse for­t­alec­i­men­to é estratégi­co para o país, para a gente ter autono­mia e mais fôlego para suprir as neces­si­dades nacionais.”

O fornec­i­men­to local dá pre­vis­i­bil­i­dade ao plane­ja­men­to, pro­por­ciona menor preço, garante reg­u­lar­i­dade na chega­da das dos­es e maior segu­rança aos profis­sion­ais da pon­ta, nos municí­pios, onde estão as salas de vaci­na.

“O SUS tem uma capi­lar­i­dade imen­sa, com unidades bási­cas pelo Brasil inteiro, com equipes que pre­cisam dessa certeza de que os imuno­bi­ológi­cos vão chegar a tem­po, garan­ti­da a sua qual­i­dade e a cadeia de frios. Todo esse sis­tema começa com as com­pras do Min­istério da Saúde.”

Complexo econômico

A recri­ação do Grupo Exec­u­ti­vo do Com­plexo Econômi­co e Indus­tri­al de Saúde foi uma das primeiras ações do Min­istério da Saúde, desta­cou a min­is­tra Nísia Trindade em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Brasília (DF) - 01/09/2023 - A ministra da Saúde, Nísia Trindade durante entrevista para a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em seu gabinete no ministério.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Min­is­tra Nísia Trindade desta­ca recri­ação do Grupo Exec­u­ti­vo do Com­plexo Econômi­co e Indus­tri­al de Saúde — Joéd­son Alves/Agência Brasil

“Nos­so plano de tra­bal­ho é faz­er com quem, em dez anos, mais de 70% dos bens de saúde sejam pro­duzi­dos no país, entre vaci­nas, medica­men­tos e insumos. Vimos como isso é essen­cial durante a pan­demia da covid-19, quan­do tive­mos de impor­tar ingre­di­ente far­ma­cêu­ti­co ati­vo para as vaci­nas e tan­tos out­ros insumos essen­ci­ais, como más­caras e luvas, por exem­p­lo. A maior autono­mia do Brasil no setor com o desen­volvi­men­to da indús­tria local reduz a vul­ner­a­bil­i­dade do SUS e asse­gu­ra o aces­so uni­ver­sal à saúde, além da ger­ação de emprego e ren­da”, disse.  

O Pro­gra­ma de Acel­er­ação de Cresci­men­to pre­vê mais de R$ 8,9 bil­hões para essa área, sendo R$ 6 bil­hões para o for­t­alec­i­men­to da cadeia de pro­dução de vaci­nas, medica­men­tos e equipa­men­tos. Mais R$ 2 bil­hões custearão a con­strução e pré-oper­ação das fábri­c­as do cam­pus San­ta Cruz da Fiocruz, que será o maior cen­tro de pro­dução de pro­du­tos biológi­cos da Améri­ca Lati­na. Os out­ros R$ 895 mil­hões serão investi­dos no par­que fab­ril da Hemo­brás e na qual­i­fi­cação da hemorrede no país, o que vai impactar dire­ta­mente os pacientes com hemofil­ia, facil­i­tan­do o aces­so ao trata­men­to com hemod­eriva­dos.

*Colaborou Tâmara Freire, repórter da Rádio Nacional

Edição: Juliana Andrade

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