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Professores e estudantes comentam o primeiro dia de Enem

Repro­dução: © Fabio Rodrigues-Pozze­bom/Agên­cia Brasil

Enem teve padrão de outras edições com muita interpretação de texto


Pub­li­ca­do em 21/11/2021 — 16:54 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro
Atu­al­iza­do em 21/11/2021 — 20:13

Após o fim do primeiro dia de apli­cação do Exame Nacional do Ensi­no Médio (Enem) 2021, a Agên­cia Brasil con­ver­sou com pro­fes­sores e estu­dantes. Eles relatam que o exame seguiu o padrão de edições ante­ri­ores e que exi­gia bas­tante inter­pre­tação de tex­to. Em um ano de pan­demia, o preparo foi mais difí­cil e, os can­didatos dis­ser­am que acharam a pro­va bas­tante difí­cil. 

Heloísa Lara, 24 anos, fez a pro­va em Cacoal (RO). A estu­dante que quer cur­sar med­i­c­i­na é vet­er­ana no Enem. Hoje, ela diz que esta­va com mui­ta dor de cabeça.“Eu achei mais difí­cil do que no ano pas­sa­do, não sei se foi porque eu não esta­va bem e não con­segui me con­cen­trar dire­ito”, con­ta.

Ape­sar dis­so, ela gos­tou da pro­va. “Eu gostei bas­tante dos tex­tos, porque troux­er­am assun­tos impor­tantes como a escravidão, o aban­dono de ani­mais e tam­bém a crise dos refu­gia­dos, que foram tex­tos que me mar­caram bas­tante”.

Quan­do fez o Enem 2020, Heloísa con­tou à Agên­cia Brasil que a sala de pro­va esta­va vazia porque muitos estu­dantes tin­ham fal­ta­do. Nes­ta edição, foi difer­ente. “Esse ano teve muito mais salas cheias, ape­sar dis­so teve o dis­tan­ci­a­men­to. Os fis­cais ofer­e­ci­am álcool em gel na entra­da e para os que não levaram álcool. Todos usan­do más­cara, mas na hora da saí­da teve aglom­er­ação”, diz.

Pelas regras do Enem é obri­gatório o uso de más­caras e o dis­tan­ci­a­men­to. As pes­soas com covid-19 e out­ras doenças infec­to­con­ta­giosas  não devem com­pare­cer aos locais de pro­va.

No Rio de Janeiro, Iuri Cabral, 19 anos, con­ta que, por con­ta da pan­demia e do ensi­no remo­to, ele pas­sou boa parte dos últi­mos meses sem estu­dar.

Repro­dução:  Estu­dantes chegam para o primeiro dia de pro­va do Enem 2021,na Uerj, no Rio de Janeiro — Tomaz Silva/Agência Brasil

Ape­nas recen­te­mente, com a retoma­da das aulas pres­en­ci­ais, ele diz que con­seguiu retomar tam­bém os estu­dos e cor­rer atrás do tem­po per­di­do.

“Eu acho que fui bem na pro­va, tive algu­mas difi­cul­dades, mas no ger­al fui bem. O tema da redação foi bem difer­ente do que eu esper­a­va, mas con­segui desen­volver bem o tex­to. No ger­al, achei bom o con­teú­do da pro­va, foi o que eu estudei”, diz o estu­dante que tam­bém pre­tende cur­sar med­i­c­i­na.

Evani de Sousa Cos­ta, 31 anos, fez a pro­va em São Paulo. Este foi o primeiro o primeiro Enem que fez. “Achei tudo muito difí­cil”, con­ta. Ela pre­tende usar a nota para cur­sar far­má­cia. “Não tive muito tem­po para estu­dar esse ano, mas mes­mo assim deci­di faz­er o exame. Hoje não fui muito bem, sai arrasa­da, mas espero que dê tudo cer­to”, diz.

Repro­dução:  São Paulo — A estu­dant e Evani de Souza Cos­ta espera a aber­tu­ra dos portões no primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensi­no Médio — Enem, na Uni­ver­si­dade Pres­bi­te­ri­ana Macken­zie. — Rove­na Rosa/Agência Brasil

Questões interpretativas

Na avali­ação do pro­fes­sor de geografia e atu­al­i­dades do Descom­pli­ca Cláu­dio Hansen, ao con­trário do que vin­ha sendo obser­va­do nos últi­mos anos, com questões mais con­teud­is­tas, as questões das provas de hoje foram mais inter­pre­ta­ti­vas. “O que a gente reparou ago­ra foi mais uma neces­si­dade de você enten­der os tex­tos e con­seguir con­tex­tu­alizar, mais do que exi­gir de você con­hec­i­men­to para você acer­tar a questão, era mais uma capaci­dade inter­pre­ta­ti­va e de con­tex­tu­al­iza­ção”, diz.

Segun­do Hansen, ter a maio­r­ia das questões de um tipo, pode dese­qui­li­brar a avali­ação. “A pro­va do Enem recon­heci­da­mente é divi­di­da em questões fáceis, médias e difí­ceis, então quan­do colo­ca a pro­va muito lig­a­da a um mod­e­lo só inter­pre­ta­ti­va ou só con­teud­ista, ela perde um pouco da pro­pos­ta dela de anal­is­ar habil­i­dades e com­petên­cias, que é uma das coisas que se fala do enem pro­va que quer inter­pre­tar um cam­in­ho de apren­diza­gem do aluno, em difer­entes níveis de cobrança”, anal­isa.

De acor­do com o pro­fes­sor, a pro­va cobrou questões indí­ge­nas, dis­crim­i­nação racial, questões de meio ambi­ente, de gênero, mas deixou de fora pon­tos polêmi­cos, como des­mata­men­to. O perío­do do regime mil­i­tar apare­ceu ape­nas indi­re­ta­mente em uma questão que trazia a canção Admiráv­el Gado Novo, de Zé Ramal­ho. A músi­ca que traz críti­cas soci­ais foi com­pos­ta na déca­da de 1970.

Para o dire­tor do cur­so Anglo, Daniel Per­ry, a pro­va man­teve o padrão de anos ante­ri­ores em ter­mos de habil­i­dades cobradas e de nív­el de difi­cul­dade. “Mui­ta análise de difer­entes gêneros tex­tu­ais em todas as áreas do con­hec­i­men­to. Não apre­sen­tou polêmi­cas, mas dial­o­gou com temas da atu­al­i­dade, como a pas­sivi­dade políti­ca, ero­ti­za­ção do cor­po fem­i­ni­no, o racis­mo, questão indí­ge­na, den­tre out­ros”, diz e acres­cen­ta: “O exame foi equi­li­bra­do no que se ref­ere a nív­el de difi­cul­dade, como é praxe do Enem, uma boa dis­tribuição entre questões fáceis, médias e difí­ceis. Foi uma pro­va tra­bal­hosa e cansati­va, como tam­bém é padrão desse exame de seleção”.

Prova de redação

O tema da redação des­ta edição, segun­do pro­fes­sores ouvi­dos pela Agên­cia Brasil, seguiu a lin­ha ado­ta­da em provas ante­ri­ores, de tratar de questões soci­ais brasileiras. O tema “Invis­i­bil­i­dade e Reg­istro Civ­il: garan­tia de aces­so à cidada­nia no Brasil” foi elo­gia­do pela Asso­ci­ação Nacional dos Reg­istradores de Pes­soas Nat­u­rais (Arpen-Brasil).

De acor­do com edu­cadores, a questão traz à tona um impor­tante debate para o país. A esti­ma­ti­va do Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE) é que cer­ca de 3 mil­hões de pes­soas não pos­suam um reg­istro civ­il, como cer­tidão de nasci­men­to, o que faz com que fiquem impe­di­das de ter aces­so a pro­gra­mas soci­ais e out­ras garan­tias.

O dire­tor e pro­fes­sor do Colé­gio e Cur­so Ao Cubo, Rafael Pin­na, ressalta que mes­mo com o reg­istro, ain­da há um cam­in­ho para garan­tir os dire­itos a todos os cidadãos. “Há uma questão sutil, mas muito impor­tante no tema: a escol­ha da palavra ‘garan­tia’ na frase-tema. Há uma indi­cação de que o reg­istro civ­il “garan­ta” a cidada­nia do indi­ví­duo. Isso não é ver­dade em um país que sofre com a fome, a fal­ta de mora­dia, o anal­fa­betismo e a exclusão dig­i­tal, entre tan­tos out­ros prob­le­mas soci­ais graves e exclu­dentes. O reg­istro civ­il é uma condição para a cidada­nia, mas não uma garan­tia dela”, diz.

O Enem ocorre em meio a uma série de polêmi­cas envol­ven­do a atu­al gestão do Inep. Na últi­ma sex­ta-feira (19), às vésperas do exame, a Asso­ci­ação dos Servi­dores do Inep (Assinep) cole­tou, orga­ni­zou e com­pi­lou as prin­ci­pais situ­ações enfrentadas pelos fun­cionários da autar­quia, que segun­do a orga­ni­za­ção indicam assé­dio insti­tu­cional. Neste mês, 37 servi­dores pedi­ram exon­er­ação de seus car­gos, entre eles estão pes­soas lig­adas ao Enem. O doc­u­men­to foi entregue à Comis­são de Edu­cação da Câmara dos Dep­uta­dos, Comis­são de Edu­cação, Cul­tura e Esportes do Sena­do Fed­er­al, Frente Par­la­men­tar Mista da Edu­cação, Frente Servir Brasil, Tri­bunal de Con­tas da União (TCU), Con­tro­lado­ria-Ger­al da União, Ouvi­do­ria do Inep e Comis­são de Éti­ca do Inep.

Tan­to o pres­i­dente do Inep, Dani­lo Dupas, quan­to o min­istro da Edu­cação, Mil­ton Ribeiro, têm nega­do as acusações e dizem não haver inter­fer­ên­cia no Enem. Aciona­do por par­la­mentares, o TCU poderá realizar audi­to­ria no Inep e no Enem.

Enem 2021

O Enem começou a ser apli­ca­do hoje (21) em mais de 1,7 mil cidades. Mais de 3 mil­hões de can­didatos estão inscritos. Os estu­dantes fiz­er­am as provas de redação, lin­gua­gens e ciên­cias humanas. O exame segue no próx­i­mo domin­go (28), quan­do serão apli­cadas as provas de matemáti­ca e ciên­cias da natureza.

O Enem sele­ciona estu­dantes para vagas do ensi­no supe­ri­or públi­cas, pelo Sis­tema de Seleção Unifi­ca­da (Sisu), para bol­sas em insti­tu­ições pri­vadas, pelo Pro­gra­ma Uni­ver­si­dade para Todos (ProUni), e serve de parâmetro para o Fun­do de Finan­cia­men­to Estu­dan­til (Fies). Os resul­ta­dos tam­bém podem ser usa­dos para ingres­sar em insti­tu­ições de ensi­no por­tugue­sas que têm con­vênio com o Inep.

Questões do Enem

Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC) exibirá a cor­reção ao vivo das provas no pro­gra­ma Caiu no Enem, que vai ao ar nos dois dias de Enem, das 19h30 às 21h. No pro­gra­ma espe­cial da TV Brasil, que tam­bém será trans­mi­ti­do pela Agên­cia Brasil e Rádio Nacional. Mais infor­mações sobre a cober­tu­ra do Enem estão disponíveis aqui.

Para tes­tar os con­hec­i­men­tos, os estu­dantes podem aces­sar gra­tuita­mente o Questões Enem, um ban­co que reúne questões do Enem de 2009 a 2020.No sis­tema, é pos­sív­el escol­her quais áreas do con­hec­i­men­to se quer estu­dar. O ban­co sele­ciona as questões de maneira aleatória.

Assista na TV Brasil:


Acom­pan­he a cober­tu­ra da Agên­cia Brasil sobre o Enem 2021:

Edição: Clau­dia Felczak/ Bruna Saniele

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