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Professores e estudantes comentam primeiro dia da reaplicação do Enem

Entrada dos candidatos para o segundo dia de prova do primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) digital, na Pontifícia Universidade Católica-PUC, no Rio de Janeiro.
© Tânia Rêgo/Agência Bra­sil (Repro­du­ção)

Estudantes de mais de 4 mil municípios fizeram hoje as provas


Publi­ca­do em 23/02/2021 — 20:36 Por Mari­a­na Tokar­nia — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil  — Rio de Janei­ro

Fazer o Exa­me Naci­o­nal do Ensi­no Médio (Enem) em meio a pan­de­mia foi um desa­fio para estu­dan­tes entre­vis­ta­dos pela Agên­cia Bra­sil. Lívia Baran­da, 18 anos, e Rais­sa de Car­va­lhos Bar­bo­sa, 17 anos, viram a doen­ça de per­to. Ambas fize­ram o exa­me hoje (23) no Ama­zo­nas, onde as pro­vas regu­la­res foram can­ce­la­das pelo agra­va­men­to da pan­de­mia. 

“Há menos de um mês peguei covid e ain­da tenho seque­las, como dores nas cos­tas se eu ficar mui­to tem­po sem movi­men­tar, isso atra­pa­lhou um pou­co o desen­vol­vi­men­to. Mas, não podia desis­tir e nem per­der a opor­tu­ni­da­de e me man­ti­ve fir­me por seis horas de pro­va”, diz Rais­sa, que fez as pro­vas em Carei­ro da Vár­zea, inte­ri­or do esta­do.

A estu­dan­te, que con­ta que não des­cui­dou da higi­e­ni­za­ção e nem do uso da más­ca­ra, diz que a pan­de­mia atra­pa­lhou os estu­dos duran­te o ano. “A pre­pa­ra­ção foi um pou­co menos que o espe­ra­do, por con­ta de todos os acon­te­ci­men­tos e per­das fami­li­a­res e até mes­mo por ter sido aco­me­ti­da pela doen­ça, o rit­mo de estu­do caiu e fiquei para­da por mui­to tem­po. Com cer­te­za a nos­sa saú­de men­tal tem sido mui­to afe­ta­da, e isso pre­ju­di­cou. Para fazer o exa­me hoje, usei meus conhe­ci­men­tos adqui­ri­dos na esco­la e cur­sos onli­ne rea­li­za­dos até novem­bro de 2020. O que não che­ga nem a 10% de apren­di­za­do de tem­pos nor­mais”, diz.

Ape­sar dis­so, ela diz que a pro­va esta­va “mui­to boa, assun­tos fáceis”. A estu­dan­te pre­ten­de cur­sar enge­nha­ria de pro­du­ção.

Em Parin­tins, Lívia con­ta que teve medo de sair de casa para fazer o exa­me. “Eu fiquei com mui­to medo de fazer a pro­va nes­te momen­to. Estou em iso­la­men­to há mui­to tem­po. Aqui a situ­a­ção está com­pli­ca­da. Mui­tas pes­so­as se infec­ta­ram com covid. É um momen­to mui­to ten­so. Fiquei inde­ci­sa sobre fazer o exa­me, algo impor­tan­te para o meu futu­ro ou espe­rar o pró­xi­mo Enem”, diz.

Lívia per­deu dois tios por covid e viu a irmã ficar em esta­do gra­ve por con­ta da doen­ça. “Eu fiz todas as reco­men­da­ções, usei más­ca­ra, usei mui­to álco­ol em gel. Eu sabia que uma hora teria que enca­rar essa situ­a­ção”.  A estu­dan­te pre­ten­de usar a nota do Enem para cur­sar direi­to ou medi­ci­na.

Lívia diz que se dedi­cou mui­to aos estu­dos ao lon­go do ano, como pode. Após a sus­pen­são do exa­me, ela jun­tou for­ças e, com a aju­da de pro­fes­so­res, reto­mou o rit­mo de estu­dos e con­se­guiu revi­sar o que ain­da tinha difi­cul­da­de. “A pro­va do Enem é uma pro­va mui­to exten­sa, mui­to can­sa­ti­va. Mas achei que deu para desen­vol­ver bem as ques­tões. O tema da reda­ção foi algo que está bem pre­sen­te nes­ses dias de pan­de­mia, que tem bas­tan­te rele­vân­cia”, ana­li­sa.

Prova de redação

Hoje, os par­ti­ci­pan­tes fize­ram, além das pro­vas de lin­gua­gens e ciên­ci­as huma­nas, a úni­ca pro­va sub­je­ti­va do Enem, a pro­va de reda­ção. O tema des­ta edi­ção foi A fal­ta de empa­tia nas rela­ções soci­ais no Bra­sil.

Para a pro­fes­so­ra de lín­gua por­tu­gue­sa e pro­du­ção tex­tu­al do Colé­gio Mopi, no Rio de Janei­ro, Tati­a­na Nunes Cama­ra, o tema de hoje foi mais fácil do que os outros temas das pro­vas apli­ca­das este ano. O tema do Enem 2020 regu­lar impres­so foi O estig­ma asso­ci­a­do às doen­ças men­tais na soci­e­da­de bra­si­lei­ra e o do Enem digi­tal foi O desa­fio de redu­zir as desi­gual­da­des entre as regiões do Bra­sil.

 “A minha obser­va­ção é que os temas são mui­to dese­qui­li­bra­dos. Se a gen­te for pen­sar no cri­té­rio de iso­no­mia do con­cur­so é com­pli­ca­do por­que me pare­ce bas­tan­te óbvia dife­ren­ça de abor­da­gem, prin­ci­pal­men­te em rela­ção ao impres­so [regu­lar] “, diz. “Até a abor­da­gem voca­bu­lar: estig­ma. Há níveis dife­ren­tes de apro­fun­da­men­to, abor­da­gem e de difi­cul­da­de de com­pre­en­são do tema”, acres­cen­ta.

Ape­sar dis­so, a pro­fes­so­ra elo­gia a esco­lha. “Acho um tema neces­sá­rio, um tema de refle­xão bas­tan­te pro­fun­da. Essas rea­ções empá­ti­cas no Bra­sil estão extre­ma­men­te aba­la­das. A gen­te está ven­do isso nas peque­nas coi­sas, temos exem­plos diá­ri­os, sobre­tu­do na pan­de­mia”, diz.

“É um tema que está bas­tan­te atu­al”, com­ple­men­ta a pro­fes­so­ra e espe­ci­a­lis­ta em lín­gua por­tu­gue­sa e lite­ra­tu­ra do cur­si­nho Apro­va Parin­tins, em Parin­tins (AM), Ivo­ne Tra­vas­sos. “Obser­va­mos no perío­do que esta­mos viven­do, em rela­ção a covid, que as rela­ções soci­ais hoje não se apro­fun­dam. Não nos colo­ca­mos no lugar do outro em mui­tas situ­a­ções. Devi­do ao exces­so de infor­ma­ções, per­ce­be­mos que as coi­sas que acon­te­cem com os outros nos sen­si­bi­li­zam ape­nas por um momen­to. Não esta­mos pre­o­cu­pa­dos. E as redes soci­ais pare­ce que bana­li­za­ram isso”.

Segun­do Ivo­ne, para os estu­dan­tes do Ama­zo­nas, por terem sido mui­to afe­ta­dos pela pan­de­mia, a fal­ta de empa­tia fica ain­da mais evi­den­te. “O esta­do está pas­san­do por difi­cul­da­des. Tive­mos um perío­do sem oxi­gê­nio. Os alu­nos estão per­den­do entes que­ri­dos”, diz. “Mui­tos estu­dan­tes foram pre­ju­di­ca­dos no pre­pa­ro [com o fecha­men­to das esco­las]. Mui­tos não foram fazer as pro­vas, pen­so que o núme­ro de can­di­da­tos pre­sen­tes será abai­xo do que gos­ta­ría­mos”.

Reaplicação

Ao todo, segun­do o Ins­ti­tu­to Naci­o­nal de Estu­dos e Pes­qui­sas Edu­ca­ci­o­nais Aní­sio Tei­xei­ra (Inep), 276 mil estão ins­cri­tos para esta apli­ca­ção, que ocor­re em 1.481 muni­cí­pi­os bra­si­lei­ros. Des­tes, 41.864 pes­so­as fazem o Exa­me Naci­o­nal do Ensi­no Médio para adul­tos pri­va­dos de liber­da­de e jovens sob medi­da soci­o­e­du­ca­ti­va que inclua pri­va­ção de liber­da­de (Enem PPL).

Outros 235 mil esta­vam ins­cri­tos no Enem regu­lar, porém pre­ci­sa­rão fazer o exa­me, seja por terem tido sin­to­mas de covid-19 ou outras doen­ças, seja por­que foram pre­ju­di­ca­dos por ques­tões logís­ti­cas, como fal­ta de luz no local de pro­va.

Tam­bém estão ins­cri­tos os 163.444 can­di­da­tos do esta­do do Ama­zo­nas, os 969 par­ti­ci­pan­tes do muni­cí­pio de Espi­gão D’Oeste e os 2.863 de Rolim de Mou­ra, ambos em Rondô­nia. Nes­ses locais, o Enem regu­lar, tan­to impres­so quan­to digi­tal, foi can­ce­la­do por con­ta do agra­va­men­to da pan­de­mia do novo coro­na­ví­rus.

Os gaba­ri­tos das pro­vas obje­ti­vas da rea­pli­ca­ção do Enem 2020 serão divul­ga­dos pelo Inep no dia 1º de mar­ço, jun­to com os Cader­nos de Ques­tões. Os resul­ta­dos finais, tan­to do Enem digi­tal quan­to do Enem impres­so e da rea­pli­ca­ção, serão divul­ga­dos no dia 29 de mar­ço.

As notas do Enem pode­rão ser usa­das para ingres­sar no ensi­no supe­ri­or e para par­ti­ci­par de pro­gra­mas [LINK: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2021–01/conheca-os-programas-que-utilizam-notas-do-enem] como o Sis­te­ma de Sele­ção Uni­fi­ca­da (Sisu), Pro­gra­ma Uni­ver­si­da­de para Todos (ProU­ni), e Fun­do de Finan­ci­a­men­to Estu­dan­til (Fies).

Edi­ção: Ali­ne Leal

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