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Professores envolvem jovens da periferia com projetos inspiradores

Repro­dução: © Acer­vo pes­soal

Conheça projetos de escolas públicas bem sucedidos e premiados


Pub­li­ca­do em 15/10/2022 — 07:33 Por Lud­mil­la Souza — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Des­de o primeiro dia que entrou em sala de aula, há 33 anos, o pro­fes­sor de geografia Paulo Rober­to Mag­a­l­hães, 57 anos, son­ha em con­tribuir para mel­ho­rar a sociedade e fazê-la acred­i­tar que o cam­in­ho da mudança está atre­la­do à edu­cação. 

Pro­fes­sor de uma esco­la públi­ca na região cen­tral de São Paulo, ele con­ta que a vio­lên­cia urbana é a tôni­ca local e que as famílias dos alunos fogem à estru­tu­ra nuclear tradi­cional e muitas vivem em situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade.

Mestre em arquite­tu­ra e urban­is­mo, o pro­fes­sor desen­volveu um pro­je­to, em 2016, para levar os estu­dantes a vis­i­tações em vários pon­tos da cap­i­tal paulista, para mostrar, a par­tir de fotografias anti­gas, como se deu a ocu­pação do espaço e como isso influ­en­cia a vida na região, em espe­cial no Glicério, onde está inseri­da a esco­la em que ele tra­bal­ha: Esco­la Munic­i­pal de Ensi­no Fun­da­men­tal (EMEF) Duque de Cax­i­as. Surgiu assim o pro­je­to Aula Públi­ca: Além dos muros da esco­la.

Dia do Professor: educadores envolvem jovens da periferia com projetos inspiradores
Repro­dução: Dia do Pro­fes­sor: edu­cadores envolvem jovens da per­ife­ria com pro­je­tos inspi­radores — Acer­vo pes­soal

“Através da Aula Públi­ca, tornou-se pos­sív­el con­tribuir de for­ma mais efi­caz para a for­mação int­elec­tu­al e cidadã dos alunos, incen­ti­van­do a com­preen­são e o entendi­men­to de questões políti­cas da sociedade brasileira a par­tir de dados da sua região. Este pro­je­to, na medi­da do pos­sív­el, tem con­tribuí­do para for­mar líderes, des­do­bran­do-se na ver­tente do obje­ti­vo ini­cial: com­preen­der e for­t­ale­cer o proces­so de trans­for­mação do espaço e sua real ocu­pação, além de mel­ho­rar os índices de aproveita­men­to esco­lar”, afir­ma o docente.

O iní­cio da empre­ita­da, entre­tan­to, con­tou com desafios: a própria comu­nidade não via com bons olhos os alunos sain­do para cam­po, fotografan­do o bair­ro ou ten­tan­do entre­vis­tar os moradores. “Às vezes, ouvíamos na rua pes­soas em rod­in­ha per­gun­tan­do: ‘quem é esse cara?’, ou ‘lugar de aluno é na sala de aula!’. Mas, a relevân­cia de sair da sala e a min­ha per­sistên­cia fez com que nos­sos alunos recon­hecessem a importân­cia de preser­var o espaço públi­co e de recon­hecer, através dele, o seu papel na sociedade”.

Em 2020, durante o primeiro ano da pan­demia, um out­ro desafio veio à tona: com o iso­la­men­to social, o edu­cador não podia levar os estu­dantes às exper­iên­cias pres­en­ci­ais. Surgiu a ideia de ir soz­in­ho aos locais para fotogra­far e cri­ar con­teú­dos vir­tu­ais que pro­por­cionassem aos alunos a sen­sação de ter esta­do naque­le lugar. “Como eu não podia levar meus alunos para as ruas, eu trouxe as ruas para as telas deles”, desta­ca Paulo.

A ini­cia­ti­va lev­ou o pro­fes­sor a gan­har o Prêmio Ibero-amer­i­cano de Edu­cação em Dire­itos Humanos Óscar Arnul­fo Romero, uma ini­cia­ti­va que recon­hece o tra­bal­ho das insti­tu­ições de ensi­no e da sociedade civ­il na defe­sa e pro­moção dos dire­itos humanos por meio da edu­cação, pro­movi­do pela Orga­ni­za­ção de Esta­dos Ibero-amer­i­canos para a Edu­cação, a Ciên­cia e a Cul­tura (OEI).

Paulo con­ta que, durante o iso­la­men­to impos­to pelo sur­to san­itário, as ativi­dades tin­ham de ser lúdi­cas e envol­ventes. “Uti­lizamos jogos para pren­der­mos a atenção dos alunos, e eles, feliz­mente, não se afas­taram da esco­la”, comem­o­ra.

Quan­to ao prêmio, ele diz que se sen­tiu for­t­ale­ci­do. “E cora­joso a enfrentar todos os desafios que virão pela frente a par­tir do prêmio, pois defend­er um pro­je­to que rep­re­sen­ta o nos­so país em edu­cação em dire­itos humanos, nos dá uma respon­s­abil­i­dade enorme, que o edu­cador ele pode sim, trans­for­mar a nos­sa sociedade e lutar pelos seus dire­itos e deveres. Sem­pre olhan­do de for­ma pos­i­ti­va que um dia todos serão respeita­dos den­tro da lei”.

Cruzando Fronteiras

Um dos eixos de atu­ação da OEI envolve a pro­moção do bilin­guis­mo. Os idiomas das nações ibero-amer­i­canas pau­taram ini­cia­ti­vas pelo Brasil, como o Pro­gra­ma Ibero-amer­i­cano de Difusão da Lín­gua Por­tugue­sa, cri­a­do para val­orizar as duas lín­guas ofi­ci­ais – espan­hol e por­tuguês – e poten­cializar o uso das lín­guas em um mod­e­lo bilíngue na região ibero-amer­i­cana.

Para estim­u­lar estu­dos rel­e­vantes sobre o bilin­guis­mo, que mostrem a importân­cia geopolíti­ca dos dois idiomas, o pro­gra­ma bus­ca iden­ti­ficar, pro­mover e recon­hecer exper­iên­cias educa­ti­vas real­izadas por esco­las da rede públi­ca de ensi­no que se desta­cam no ensi­no bilíngue e inter­cul­tur­al.

Assim surgiu o Prêmio Cruzan­do Fron­teiras, que recon­hece as exper­iên­cias edu­ca­cionais de inter­cul­tur­al­i­dade e bilin­guis­mo nas esco­las da rede públi­ca de edu­cação bási­ca for­mal, engloban­do a edu­cação infan­til, o ensi­no fun­da­men­tal e o ensi­no médio, e insti­tu­ições de edu­cação profis­sion­al téc­ni­ca de nív­el médio.

Dia do Professor: educadores envolvem jovens da periferia com projetos inspiradores
Repro­dução: O tra­bal­ho pre­mi­a­do — o “Club de Lec­tores” — foi orga­ni­za­do pela pro­fes­so­ra Sarah Cor­rêa Carneiro, de 46 anos — Acer­vo pes­soal

Um das insti­tu­ições pre­mi­adas este ano foi a Esco­la Inter­cul­tur­al Brasil-Méx­i­co (CIEP 413), de ensi­no bilíngue, local­iza­da no bair­ro de São Gonça­lo, Rio de Janeiro, que venceu na cat­e­go­ria Região Sud­este.

A insti­tu­ição atua jun­to às comu­nidades car­entes da região com ativi­dades cul­tur­ais e, na crise san­itária, em que muitos alunos aban­donaram os estu­dos ou ficaram desmo­ti­va­dos, desen­volveu ações voltadas à músi­ca, dança e teatro, colo­can­do o aluno como pro­tag­o­nista em todos os pro­je­tos.

O suces­so das ativi­dades cul­tur­ais se refletiu no aumen­to de matrícu­las e na cri­ação de tur­mas bilíngues de 6º ano e resul­tou ain­da no pro­je­to Clube de Leitores, que envolve cri­anças des­ta série em aulas de espan­hol, por meio de ativi­dades lúdi­cas. O tra­bal­ho pre­mi­a­do — o “Club de Lec­tores” — foi orga­ni­za­do pela pro­fes­so­ra Sarah Cor­rêa Carneiro, de 46 anos.

A pro­fes­so­ra con­ta que o pro­je­to surgiu da ideia de estim­u­lar a leitu­ra, apri­morar o vocab­ulário e a pronún­cia na lín­gua espan­ho­la. O recur­so uti­liza­do foram revis­tas em quadrin­hos da Tur­ma da Môni­ca, na ver­são em espan­hol.

Há 22 anos lecio­nan­do espan­hol, Sarah con­ta que o recon­hec­i­men­to do prêmio a motivou como pro­fes­so­ra. “Nos­sa, nem acred­itei quan­do soube do prêmio. Isso me deu um gás para con­tin­uar e não desi­s­tir. Ter a certeza que estou no cam­in­ho cer­to”.

Para out­ros edu­cadores, ela deixa uma men­sagem de incen­ti­vo: “Não desista! Ame o que faz. É difí­cil, é cansati­vo, às vezes não temos aju­da e ninguém acred­i­ta. Mas se você acred­i­ta, faça, real­ize e lute por ele. O impor­tante é ver o resul­ta­do mar­avil­hoso por algo que você ide­al­i­zou e acred­i­tou. E mais do que isso, colo­can­do sem­pre o aluno como pro­tag­o­nista da ativi­dade.”

Tríplice fronteira

Na trí­plice fron­teira entre Brasil, Argenti­na e Paraguai, mais um caso em que pro­fes­sores ino­varam e con­quis­taram a atenção dos estu­dantes.

Em Foz do Iguaçu (PR), a arte de dis­sem­i­nar o bilin­guis­mo e for­t­ale­cer os idiomas espan­hol e por­tuguês ren­deu à Esco­la Munic­i­pal Pro­fes­sor Pedro V. Parig­ot de Souza, a con­quista do Prêmio Cruzan­do Fron­teiras, na cat­e­go­ria nacional, que recon­heceu as práti­cas para fomen­tar o bilin­guis­mo entre o públi­co infan­til, que já con­vive com essa real­i­dade.

Dia do Professor: educadores envolvem jovens da periferia com projetos inspiradores
Repro­dução: Dia do Pro­fes­sor: edu­cadores envolvem jovens da per­ife­ria com pro­je­tos inspi­radores — Acer­vo pes­soal

A unidade recebe cri­anças das cidades viz­in­has que têm o espan­hol como idioma mater­no.

“Por causa dessa car­ac­terís­ti­ca, fun­cionamos de for­ma bilíngue, receben­do alunos da Argenti­na e do Paraguai, e, mais recen­te­mente, da Venezuela. Por isso, pen­samos em ações onde o aluno falante de espan­hol é inseri­do em uma tro­ca de lin­guagem com os estu­dantes que falam por­tuguês. A gente quer que o aluno nos ensine o idioma dele”, expli­ca a coor­de­nado­ra pedagóg­i­ca da insti­tu­ição, Viviane Mar­ques.

“Uma exper­iên­cia muito rica foi com os ali­men­tos. A pro­fes­so­ra trouxe vários tipos de mil­ho, com­para­mos com o nos­so, tra­bal­hamos a pipoca, a polen­ta, a len­da do mil­ho nas duas lín­guas, foi uma exper­iên­cia mui­ta rica para as cri­anças”, desta­ca Viviane.

Fun­cio­nan­do em tem­po inte­gral, a esco­la investe na capac­i­tação dos pro­fes­sores e ofer­ece, no con­traturno, aulas de espan­hol. “No começo, a difi­cul­dade foi a lín­gua espan­ho­la ser enten­di­da pelos pro­fes­sores, mas hoje todos estão com­pro­meti­dos”.

Além dis­so, os idiomas são tra­bal­ha­dos em ativi­dades lúdi­cas com os alunos.

“Temos a sem­ana do fol­clore, por exem­p­lo, em que focamos em temas brasileiros e sul-amer­i­canos. Aqui, as cri­anças usam expressões em espan­hol, e fazem essa tro­ca, uma aprende o idioma da out­ra”, comem­o­ra a pro­fes­so­ra, que tem como próx­i­mo desafio mon­tar uma bib­liote­ca bilíngue na esco­la.

 

Edição: Lílian Beral­do

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