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Projeto estimula leitura entre jovens em regime socioeducativo no PR

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Adolescentes têm contato virtual e debatem com autores de livros lidos


Adolescentes têm contato virtual e debatem com autores de livros lidos


Publicado em 09/03/2024 — 15:23 Por Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil — Brasília

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“Pre­cisamos ampli­ar nos­sas poéti­cas de viv­er em um mun­do que está afun­dan­do sob nos­sos pés. Temos que apren­der a amar como uma defe­sa con­tra a dor e a vio­lên­cia do mun­do.” Com essa saudação por escrito, o líder indí­ge­na e escritor Ail­ton Kre­nak, da Acad­e­mia Brasileira de Letras (ABL), dirigiu-se, na últi­ma quin­ta-feira (7), a cer­ca de 200 ado­les­centes e 30 pro­fes­sores de 19 unidades socioe­d­uca­ti­vas no Paraná, que o aguar­davam no Clube de Leitu­ra (con­fer­ên­cia vir­tu­al) para uma con­ver­sa sobre o seu livro Um rio um pás­saro, com memórias e reflexões sobre a vida e a for­mação do movi­men­to indí­ge­na no Brasil.

Kre­nak era um con­vi­da­do espe­cial. Neste mês, faz qua­tro anos que o Cen­tro de Socioe­d­u­cação de Lon­d­ri­na II (Cense II) ini­ciou uma roti­na para estim­u­lar a leitu­ra entre jovens inter­na­dos. Des­de então, todo mês, pro­fes­sores, psicól­o­gos, assis­tentes soci­ais e juízes con­ver­sam com os edu­can­dos sobre livros com que estes tiver­am con­ta­to em sala de aula.

O papo é por meio de video­con­fer­ên­cia. A tec­nolo­gia colo­ca unidades de inter­nação em rede, e isso per­mite que os jovens se vejam e debatam sobre as leituras, poden­do, even­tual­mente, ter con­ta­to com os próprios escritores.

Des­de 2020, o Clube de Leitu­ra recebe escritores como Ita­mar Vieira Júnior, autor de Tor­to Ara­do, vence­dor dos prêmios Jabu­ti e Oceanos; o rap­per Edi Rock, do Racionais MC’s, um dos autores do livro Sobre­viven­do no Infer­no; o jor­nal­ista Lau­renti­no Gomes, autor dos três vol­umes de Escravidão; o padre Júlio Lancelot­ti, que escreveu Amor à Maneira de Deus; e Fer­réz (Regi­nal­do Fer­reira da Sil­va) autor de Capão Peca­do, romance sobre um ado­les­cente que quer sair do lugar muito vio­len­to onde vive e cresceu.

Na quin­ta-feira, Ail­ton Kre­nak não pôde par­tic­i­par do Clube de Leitu­ra por causa de uma emergên­cia e perdeu a chance de ouvir dire­ta­mente dos meni­nos, inclu­sive dois indí­ge­nas, e meni­nas (12, no total) o que apren­der­am com a leitu­ra de seu livro. Tam­bém não teve opor­tu­nidade de saber o que foi dis­cu­ti­do em sala de aula sobre pro­je­tos pedagógi­cos que tratavam da lín­gua por­tugue­sa e da indí­ge­na, de geografia, história, soci­olo­gia, meio ambi­ente e diver­si­dade cul­tur­al – todos con­teú­dos inspi­ra­dos no tex­to do primeiro indí­ge­na imor­tal eleito para a ABL.

“Aprendo com os meninos”

Assí­duo par­tic­i­pante das video­con­fer­ên­cias com os ado­les­centes leitores, escritores e pro­fes­sores, o desem­bar­gador Ruy Mug­giat, do Tri­bunal de Justiça do Paraná, diz que, além do con­ta­to com livros e autores, o Clube de Leitu­ra pos­si­bili­ta o com­par­til­hamen­to de exper­iên­cias.

A pre­sença do desem­bar­gador muda a óti­ca dos ado­les­centes sobre os juízes, mas tam­bém amplia a visão do desem­bar­gador sobre os edu­can­dos, afir­ma Mug­giat. “Apren­do muito com os meni­nos e as per­gun­tas que fazem.”

Aumen­tar o con­hec­i­men­to e a exper­iên­cia profis­sion­al tam­bém tem dado boas opor­tu­nidades no Clube de Leitu­ra para Maria Mor­eira, pro­fes­so­ra de lit­er­atu­ra dos cen­tros de socioe­d­u­cação do Paraná, que gos­tou muito do livro de Kre­nak. “Foi o livro com que tan­to eu quan­to os meni­nos mais nos iden­ti­fi­camos”, teste­munha a pro­fes­so­ra.

Segun­do Maria, o livro de Kre­nak “dialo­ga com a maneira como os meni­nos veem”, e eles se iden­ti­ficaram muito” com o que o autor abor­da, como, por exem­p­lo, os son­hos. “A gente ain­da é indí­ge­na, sabe? Então os meni­nos cur­tiram ler”, comen­ta a pro­fes­so­ra.

O pro­je­to é ini­cia­ti­va da assis­tente social Andres­sa Fer­reira Cân­di­do, servi­do­ra do Esta­do do Paraná e lota­da no Cense II.

Em abril, o Clube de Leitu­ra se prepara para rece­ber a escrito­ra Mari­na Miyaza­ki Arau­jo, que vai falar do seu livro Pai Fran­cis­co, sobre a história de um meni­no que está longe do pai, afas­ta­do do con­vívio social. Para os meses seguintes, Andres­sa já tra­ta de novos con­vites para os autores, que falam gra­tuita­mente com os ado­les­centes.

Enquan­to prepara as sessões do Clube de Leitu­ra, a assis­tente social son­ha com alguns con­vi­da­dos. “Eu estou foca­da no [min­istro dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia] Sil­vio Almei­da”, rev­ela. Para Andres­sa, o autor de Racis­mo Estru­tur­al seria um óti­mo nome para con­ver­sar com os ado­les­centes em uma data próx­i­ma ao Dia da Con­sciên­cia Negra, 20 de novem­bro.

Segun­do Andres­sa, os jovens querem con­ver­sar com Drauzio Varel­la no Clube de Leitu­ra. “É per­feito porque ele tra­bal­hou den­tro de unidade fecha­da, né?”, comen­ta ao citar o inter­esse dos jovens pelo livro Estação Carandiru, em que autor nar­ra sua exper­iên­cia como médi­co vol­un­tário, a par­tir de 1989, na Casa de Detenção de São Paulo.

O dire­ito a ativi­dades cul­tur­ais, assim como o dire­ito à esco­lar­iza­ção, está pre­vis­to no Estatu­to da Cri­ança e do Ado­les­centes (1990). O Clube de Leitu­ra do Cense II foi vence­dor da primeira edição do Prêmio Pri­or­i­dade Abso­lu­ta, do Con­sel­ho Nacional de Justiça (CNJ), na cat­e­go­ria Poder Públi­co em 2021.

Edição: Nádia Fran­co

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