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Projetos nascidos em BH ampliam alcance do grafite e promovem inovação

Repro­dução: © Fábri­ca de Grafitti/Divulgação

Atualmente, ao menos quatro iniciativas envolvem o grafite na capital


Pub­li­ca­do em 04/09/2022 — 18:31 Por Léo Rodrigues – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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De um dia para o out­ro, o muro da esco­la onde estu­da Vic­tor Alves Pedroso, em Tra­man­daí (RS), gan­hou uma explosão de cores. Toma­do pelo grafite, ele poderá ofer­e­cer um respiro para os alunos em meio ao cotid­i­ano dos estu­dos na cidade litorânea com pouco mais de 50 mil habi­tantes. E cer­ta­mente pro­por­cionará muitos comen­tários por um moti­vo: o tra­bal­ho foi real­iza­do pela mão dos próprios jovens.

Aos 16 anos, Vic­tor é fil­ho de grafiteiro e des­de cedo se envolve com a arte urbana. Mes­mo para ele, foi algo espe­cial. “É algo muito rev­olu­cionário para mim. Em Tra­man­daí, não existe mui­ta aber­tu­ra para even­to que dá vis­i­bil­i­dade ao artista. Então ter um even­to que vem de fora e te dá tin­ta e opor­tu­nidade de botar seu tra­bal­ho na rua é utópi­co”.

A pin­tu­ra foi resul­ta­do de mais um edição do Fábri­ca de Graf­fi­ti, ini­cia­ti­va que nasceu em 2018 em Belo Hor­i­zonte. A pro­gra­mação foi encer­ra­da com uma exposição na sem­ana pas­sa­da do tra­bal­ho de 200 ado­les­centes de esco­las públi­cas que par­tic­i­param de um cur­so gra­tu­ito com­pos­to por oito encon­tros.

Cada um deles pin­tou uma tela. O even­to deixou ain­da como lega­do a revi­tal­iza­ção de uma pista de skate de 300 met­ros quadra­dos, sob coor­de­nação do artista gaú­cho Luis Flávio, tam­bém con­heci­do como Tram­po. Uma pista menor tam­bém gan­hou novas cores pelas mãos de seis artis­tas locais.

A pro­pos­ta do Fábri­ca de Graf­fi­ti é humanizar espaços indus­tri­ais e capac­i­tar novos artis­tas. Cada edição envolve tra­bal­hos de grande escala e uma pro­gra­mação cul­tur­al. Em Tra­man­daí, foi dado maior enfoque à pro­pos­ta edu­ca­cional. “O Fábri­ca de Graf­fi­ti é uma das primeiras ini­cia­ti­vas do país que saiu dos grandes cen­tros urbanos e apos­tou na descen­tral­iza­ção do grafite. Hoje exis­tem muito mais pro­je­tos volta­dos para cidades do inte­ri­or do que tin­ha antiga­mente”, comen­ta Paula Mesqui­ta Lage, pro­du­to­ra exec­u­ti­va do pro­je­to.

A ini­cia­ti­va já pas­sou por difer­entes cidades como Con­tagem (MG), João Mon­l­e­vade (MG), Feira de San­tana (BA), Rio Claro (SP) e Bar­ra Mansa (RJ). De acor­do com Paula Lage, no imag­inário cole­ti­vo, ambi­entes indus­tri­ais são con­sid­er­a­dos locais iso­la­dos e sem movi­men­to. “Tem mui­ta vida ali. As pes­soas tra­bal­ham, há um comér­cio local”, pon­dera. Segun­do ela, o grafite tam­bém é uma apos­ta para estim­u­lar um ambi­ente mais cria­ti­vo, o que é pos­i­ti­vo para as fábri­c­as que entregam seus muros para o fes­ti­val.

Todas as edições do even­to dialogam, de algu­ma for­ma, com a tra­jetória da arte urbana na cap­i­tal mineira: entre os artis­tas con­vi­da­dos, sem­pre há nomes da cena belor­i­zon­ti­na. Muros, viadu­tos, túneis, tapumes de con­strução, ban­cas de revista, fachadas de lojas, portões de garagem: o grafite ocu­pa cada vez mais espaços em Belo Hor­i­zonte.

O cen­tro da cidade se tornou um ícone da arte urbana: fachadas de pré­dios impo­nentes foram preenchi­das por uma diver­si­dade de desen­hos. A mure­ta da Rua Sapu­caí, atrás da icôni­ca Praça da Estação, se con­ver­teu em um pon­to de con­tem­plação: um mirante de arte urbana. Uma visi­ta ao local pas­sou a ser indi­ca­da nos mais vari­a­dos guias de tur­is­mo da cidade.

A tra­jetória do grafite na cap­i­tal mineira, assim como em todo o mun­do, guar­da pecu­liari­dades envol­ven­do a dis­pu­ta por novos espaços. Um mar­co dessa história são os grandes murais do francês Hugues Des­maz­iéres, que desem­bar­cou na cidade nos anos 1990 trazen­do na bagagem sua exper­iên­cia em Nova Iorque.

Uma tese defen­di­da em 2020 pela pesquisado­ra Elisân­gela Batista na Esco­la de Arquite­tu­ra da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Minas Gerais (UFMG) rev­ela que seu tra­bal­ho sofreu críti­cas públi­cas de nomes famosos como o do arquite­to Gus­ta­vo Pena e do escul­tor Amil­car de Cas­tro. Chegou-se a pro­por a cri­ação de um con­sel­ho para anal­is­ar pro­je­tos e aprová-los, poden­do faz­er inclu­sive jul­ga­men­to estéti­co.

Surgi­do em 2017, o fes­ti­val Cir­cuito Urbano de Arte (Cura) se tornou o eixo de uma trans­for­mação: é o prin­ci­pal respon­sáv­el pela expres­si­va expan­são do col­ori­do sobre o acinzen­ta­do urbano do cen­tro da cidade. Através dele, pin­turas gigan­tescas em fachadas de aprox­i­mada­mente duas dezenas de pré­dios se tornaram um novo cartão postal de Belo Hor­i­zonte.

A ini­cia­ti­va surgiu em meio a um movi­men­to de ocu­pação da região cen­tral da cidade por jovens da per­ife­ria. O epi­cen­tro dessa mobi­liza­ção é o baixio do Viadu­to San­ta Tereza, que se tornou pal­co de even­tos da cul­tura hip hop e da arte urbana. O Cura real­iza a par­tir do dia 15 de setem­bro sua séti­ma edição, sem­pre lançan­do novos artis­tas e tam­bém trazen­do nomes de refer­ên­cia de out­ros esta­dos do país e tam­bém de out­ros país­es. “Um dos nos­sos obje­tivos era colo­car Belo Hor­i­zonte no mapa mundi­al do grafite. E essa trans­for­mação vai ficar aí, pelo menos uns 30 anos”, diz Jana Macruz, uma das ide­al­izado­ras do Cura, em um doc­u­men­tário veic­u­la­do na pági­na do fes­ti­val.

O fes­ti­val con­tribuiu para dar pro­jeção aos artis­tas e pro­por novas reflexões. O proces­so sele­ti­vo preser­va a autono­mia no proces­so de cri­ação. “Ten­ho neces­si­dade de falar sobre questões de val­oriza­ção da mul­her negra, dos povos orig­inários, da nos­sa iden­ti­dade real e tirar camadas que de padrões que colo­caram na gente e que a gente acha que é o nor­mal e não é”, diz Crio­la, nome artís­ti­co de Tainá Lima, uma das prin­ci­pais refer­ên­cias do grafite mineiro.

A ino­vação é con­stante: na sua sex­ta edição, o Cura lev­ou o grafite não para o alto dos edifí­cios, mas para o chão: quem pas­sa pela Praça Raul Soares hoje anda por cima de sím­bo­los indí­ge­nas. O local, para onde con­vergem a Aveni­da Ama­zonas e out­ras impor­tantes vias do cen­tro de Belo Hor­i­zonte, foi requal­i­fi­ca­do pelas mãos de artis­tas de difer­entes etnias: gan­hou grafis­mos de origem mara­joara e, em seu cen­tro, um sím­bo­lo inca.

Inconformismo

Em todo o mun­do, o espaço do grafite pre­cisou ser con­quis­ta­do. His­to­ri­adores apon­tam o final dos anos 1960 como mar­co da evolução do grafite. Nos protestos de maio de 1968, jovens de Paris recor­reram ao spray como fer­ra­men­ta de ativis­mo e de propa­gação de ideias. Pos­te­ri­or­mente, jovens da per­ife­ria de Nova York atre­la­dos ao movi­men­to hip hop pas­saram a expres­sar sis­tem­ati­ca­mente seu incon­formis­mo nos muros da cidade. Como pre­cisavam agir de for­ma ráp­i­da para evi­tar fla­grantes poli­ci­ais, o spray se mostra­va con­ve­niente.

“O grafite não nasce com o hip hop. Ele é ante­ri­or. A cul­tura hip hop se apro­pria da cul­tura do grafite e a dis­sem­i­na pelo mun­do. O grafite se encaixa como um dos qua­tro ele­men­tos do hip hop de uma for­ma muito orgâni­ca”, pon­tua Comum, nome artís­ti­co de André Macha­do. Dessas man­i­fes­tações, se des­do­bram a pichação e o grafite. A dis­tinção entre ambos gan­hou força no Brasil. Em out­ros país­es, o grafite é con­ce­bido como um ter­mo ger­al e a pichação uma ver­tente. “São expressões de uma mes­ma cul­tura urbana”, avalia Comum.

A pichação, des­ig­na­da na lin­guagem das ruas através da grafia pix­ação ou sim­ples­mente pixo, envolvem palavras e fras­es grafadas de for­ma estiliza­da. Ela geral­mente é con­sid­er­a­da como um ato de con­frontação e provo­cação da autori­dade, sendo encar­a­da pelo poder públi­co como van­dal­is­mo desprovi­do de uma dimen­são artís­ti­ca.

Podem car­regar posi­ciona­men­tos políti­cos, protestos, insul­tos e declar­ações de amor. Tam­bém são comuns assi­nat­uras pes­soais ou de gru­pos, muitas vezes com intu­ito de expres­sar demar­cação de ter­ritórios e de rivalizar com out­ros pichadores que com­petem pelos locais de aces­so mais difí­cil. “É uma for­ma dess­es jovens da per­ife­ria diz­erem: eu estou aqui, eu exis­to”, obser­va Comum.

Já o grafite agre­ga difer­entes téc­ni­cas: pode com­bi­nar, por exem­p­lo, a tin­ta látex, os rolin­hos e o estên­cil jun­to com o spray. A ativi­dade vem obten­do vis­i­bil­i­dade e recon­hec­i­men­to da sociedade pela sua dimen­são artís­ti­ca e pelas reflexões que pro­move. Em torno dela, for­mou-se uma comu­nidade de artis­tas dis­pos­ta a tra­bal­har bus­can­do autor­iza­ção para pin­tar os muros, sem deixar de abor­dar temas políti­cos e soci­ais. Eles tam­bém reivin­dicam o grafite como a arte mais democráti­ca: nas ruas, expos­to ao olhar de todos, pode ser inter­pre­ta­do por cada um sob múlti­plas per­spec­ti­vas.

Por vezes, o grafite é enal­te­ci­do como antí­do­to con­tra a pichação. As fron­teiras que os sep­a­ram, no entan­to, não são rígi­das e são man­i­fes­tações que dialogam entre si, haven­do inclu­sive atores que se expres­sam das duas for­mas. É comum ver muros nos cen­tros urbanos em que os dois tipos de man­i­fes­tação apare­cem sobre­pos­tos. Além dis­so, as caligrafias estilizadas tran­si­tam entre ambos: os grafiteiros dão tridi­men­sion­al­i­dade a elas e as usam com difer­entes intu­itos, inclu­sive para assi­nar seus murais.

Descriminalização

No Brasil, o spray foi ado­ta­do na déca­da de 1970 pelos movi­men­tos de con­tes­tação à ditadu­ra. Nas per­ife­rias, as tor­ci­das orga­ni­zadas de clubes de fute­bol tiver­am um papel impor­tante na dis­sem­i­nação da pichação. Como obser­va Paula Lage, emb­o­ra seja uma for­ma glob­al de expressão, estas man­i­fes­tações se moldam atre­ladas à cul­tura local. Nos anos 1980, o grafite já chama­va atenção em São Paulo. Mas os artis­tas sabi­am que pre­cisavam ser ágeis ao pin­tar muros ou pode­ri­am ser deti­dos pela polí­cia.

O Arti­go 65º da Lei de Crimes Ambi­en­tais que entrou em vig­or no país em 1998 ofi­cial­i­zou a repressão que já acon­te­cia nas ruas: pichar e grafi­tar foram con­sid­er­adas práti­cas passíveis de detenção por um perío­do de três meses a um ano. Se o ato fos­se real­iza­do em mon­u­men­to ou edifí­cio tomba­do, a pena mín­i­ma dev­e­ria ser de seis meses.

Em 2011, a leg­is­lação foi alter­a­da com a exclusão do ver­bo grafi­tar e a inclusão de um novo pará­grafo: “Não con­sti­tui crime a práti­ca de grafite real­iza­da com o obje­ti­vo de val­orizar o patrimônio públi­co ou pri­va­do medi­ante man­i­fes­tação artís­ti­ca, des­de que con­sen­ti­da pelo pro­pri­etário e, quan­do cou­ber, pelo locatário ou arren­datário do bem pri­va­do e, no caso de bem públi­co, com a autor­iza­ção do órgão com­pe­tente e a observân­cia das pos­turas munic­i­pais e das nor­mas edi­tadas pelos órgãos gov­er­na­men­tais respon­sáveis pela preser­vação e con­ser­vação do patrimônio históri­co e artís­ti­co nacional”.

Ape­sar da descrim­i­nal­iza­ção, artis­tas avaliam que o pre­con­ceito ain­da existe, sobre­tu­do na asso­ci­ação com van­dal­is­mo. “O agente da lei ado­ta um critério práti­co: tem ou não tem autor­iza­ção. Mas his­tori­ca­mente o grafite nun­ca depen­deu de autor­iza­ção. A trans­gressão é uma car­ac­terís­ti­ca do grafite. Então a descrim­i­nal­iza­ção da for­ma como foi fei­ta cria uma situ­ação onde parte do grafite é aceito e parte con­tin­ua sendo crim­i­nal­iza­do”, avalia Comum.

No iní­cio de 2017, o noti­ciário nacional deu espaço à batal­ha trava­da em São Paulo em torno do grafite. Sob pre­tex­to de acabar com pichações, a prefeitu­ra havia deter­mi­na­do a pin­tu­ra dos muros da Aveni­da 23 de Maio. Na inter­venção, foram apa­ga­dos murais que se con­sti­tuíam como uma emblemáti­ca amostra da arte urbana da cap­i­tal paulista.

Na época, o então prefeito, João Dória, vestiu macacão e más­cara e se uniu aos pin­tores con­trata­dos que cobri­ram de tin­ta cin­za os desen­hos col­ori­dos. A con­tro­vér­sia foi parar nos tri­bunais, geran­do uma guer­ra de lim­inares. Nas ruas, a reação dos artis­tas não demor­ou e novos grafites rea­pare­ce­r­am.

Mural Etnias, de Kobra, entra para o Guinness como maior grafite do mundo
Repro­dução: Mur­al Etnias, de Kobra, entra para o Guin­ness como maior grafite do mun­do — Cristi­na Indio do Brasil/Agência Brasil

A cap­i­tal paulista é pre­cur­so­ra no movi­men­to de grafite no país e é onde reside alguns artis­tas brasileiros de pro­jeção mundi­al como Otávio Pan­dol­fo e Gus­ta­vo Pan­dol­fo, con­heci­dos comos Os Gêmeos, e Eduar­do Kobra. O tra­bal­hos de ambos chegou aos Esta­dos Unidos e à Europa. Na últi­ma déca­da, o grafite pas­sou aos poucos a ser usa­do como instru­men­to para embelezar locais da cidade, a par­tir de pro­je­tos públi­cos lança­dos de for­ma pon­tu­al. Mas a relação com as autori­dades con­tin­u­ou mar­ca­da pela con­fli­to como ilus­tra o episó­dio de 2017.

Dois anos antes, a prefeitu­ra de Belo Hor­i­zonte, então coman­da­da por Már­cio Lac­er­da, tira­va do papel o pro­je­to Telas Urbanas, volta­do para requal­i­fi­cação e trans­for­mação dos espaços públi­cos e pri­va­dos urbanos por meio da arte mur­al. Através de edi­tais públi­cos, sele­cionavam-se pro­postas para a pro­dução de inter­venções artís­ti­cas em espaços urbanos da cidade.

Már­cio Lac­er­da tin­ha uma relação tur­bu­len­ta com alguns gru­pos cul­tur­ais da cidade, sobre­tu­do com os blo­cos que impul­sion­aram na época a retoma­da do car­naval de rua na cap­i­tal mineira, drib­lan­do regras esta­b­ele­ci­das pelo municí­pio. Ape­sar do estí­mu­lo ao grafite sug­erir que a gestão munic­i­pal da cap­i­tal mineira apos­ta­va em um cam­in­ho difer­ente de São Paulo, tam­bém hou­ve atri­tos com a comu­nidade de artis­tas.

Con­vi­da­do para assumir a curado­ria do Telas Urbanas, Comum con­ta que os cachês pre­vis­tos eram baixo e que o pro­je­to pare­cia volta­do para um propósi­to de de limpeza urbana: grafi­tar muros toma­dos pela pichação. Quan­do ele assum­iu, o edi­tal foi can­ce­la­do e refeito.

“Con­seguimos realizar um pro­je­to mais iden­ti­fi­ca­do com o grafite”, con­ta. Mes­mo assim ele lem­bra que exi­s­ti­ram ten­sões e que alguns murais foram picha­dos depois de con­cluí­dos. Ele encara a reação como uma expressão dos artis­tas. “Der­am sua respos­ta”, avalia.

Profissão

Assim como o Cura e o Fábri­ca de Grafit­ti, Belo Hor­i­zonte é hoje sede de out­ras ini­cia­ti­vas envol­ven­do o grafite como o Pro­je­to Gen­tileza e o Museu da Rua. São ini­cia­ti­vas que depen­dem do aporte de recur­sos públi­cos ou de patrocínio pri­va­do. Paula Lage obser­va que a visão de cada gov­er­no influ­en­cia o nív­el de inves­ti­men­to cul­tur­al e vê um esvazi­a­men­to dos edi­tais atre­la­dos à Lei Fed­er­al de Incen­ti­vo à Cul­tura no últi­mo perío­do.

Por out­ro lado, ela crê que o poder públi­co, nas cap­i­tais, já com­preende que a arte urbana con­tribui para deixar menos hos­til o deslo­ca­men­to pelas vias públi­cas, geral­mente mar­cadas pelos engar­rafa­men­tos e pelo aden­sa­men­to imo­bil­iário.

Esse novo entendi­men­to acom­pan­ha a evolução do grafite não ape­nas como arte, mas como negó­cio: jun­to com aporte de recur­sos públi­cos, o patrocínio pri­va­do tam­bém avançou. O desem­bar­que da Fábri­ca de Grafit­ti em Tra­man­daí foi pos­sív­el através de finan­cia­men­to do Insti­tu­to EDP, braço social da EDP Brasil, robus­ta empre­sa do setor energéti­co.

Há um entu­si­as­mo das mar­cas, que bus­cam se cap­i­talizar em cima do grafite: elas apos­tam em novas lin­gua­gens para dialog­ar com novos públi­cos. Para Paula Lage, foi essa con­ver­são do mar­gin­al para o com­er­cial que abriu espaço para que sur­gis­sem diver­sos tra­bal­hos de grande escala, como as pin­turas que preenchem inte­gral­mente pare­des de edifí­cios altos.

Ela obser­va que é uma evolução con­tínua, na qual o grafite vem con­qui­s­tan­do novos espaços e já foi absorvi­do tam­bém pelas gale­rias de arte. Esse ambi­ente gera opor­tu­nidades e mel­ho­ra a remu­ner­ação dos artis­tas. Além de garan­tir fonte de ren­da através dos cachês, os fes­ti­vais con­tribuem abrindo novas frentes de tra­bal­ho: o Fábri­ca de Grafit­ti é um exem­p­lo de como grafiteiros tam­bém vem se desen­vol­ven­do como pro­fes­sores e arte-edu­cadores.

“Ain­da apare­cem pes­soas dizen­do ‘ten­ho um muro para doar’. Mas perce­bo que os artis­tas estão se val­orizan­do cada vez mais. Estão mais ret­i­centes a realizar um tra­bal­ho ape­nas por divul­gação. Há mais con­sciên­cia e um movi­men­to con­stante para val­i­dar o grafite como uma profis­são”, diz Paula Lage.

Edição: Denise Griesinger

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