...
sábado ,15 fevereiro 2025
Home / Meio Ambiente / Prospecção contribui para aumento de trilhas na Mata Atlântica

Prospecção contribui para aumento de trilhas na Mata Atlântica

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Caminhos abertos para o turismo afastam usos ilegais


Pub­li­ca­do em 17/04/2023 — 06:50 Por Cristi­na Indio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil* — Rio de Janeiro

ouvir:

A prospecção para definir novas tril­has em regiões onde as cidades desen­volvem pro­je­tos de tur­is­mo ecológi­co vem con­tribuin­do para a recu­per­ação da veg­e­tação da Mata Atlân­ti­ca, que tam­bém traz de vol­ta ani­mais aos seus ambi­entes nat­u­rais. A descober­ta de novas tril­has tem mais uma con­se­quên­cia pos­i­ti­va: con­segue afas­tar caçadores na medi­da em que os vis­i­tantes acabam se apro­prian­do dos locais que antes eram explo­rados inde­v­i­da­mente.

Todo esse tra­bal­ho tem rece­bido cada vez mais apoio e, além de orga­ni­za­ções não gov­er­na­men­tais (ONGs) como o Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca, as pop­u­lações locais se envolvem. Elas par­tic­i­pam de reuniões que definem a  região a ser vis­i­ta­da para ver­i­ficar se ali pode sur­gir mais uma tril­ha.

O coor­de­nador nacional da comis­são de gov­er­nança do Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca e con­sul­tor do Cam­in­ho do Recôn­ca­vo jun­to ao Movi­men­to Viva Água, Chicão Schnoor, disse que já é um dado históri­co com­pro­va­do, que quan­do uma tril­ha é aber­ta para tur­is­mo afas­ta out­ros usos ile­gais. “Quan­to mais fomen­tar­mos um tur­is­mo con­sciente, respon­si­vo e regen­er­a­ti­vo no ter­ritório, mais se con­segue que ele seja mel­hor preser­va­do e gere ren­da para as pop­u­lações locais”, disse à Agên­cia Brasil.

Chicão afir­mou que neste momen­to estão sendo imple­men­tadas duas tril­has de lon­go cur­so, na Baix­a­da Verde, nome dado atual­mente pelos ambi­en­tal­is­tas à Baix­a­da Flu­mi­nense ao redor da Baía de Gua­n­abara. Eles são o Cam­in­ho do Recôn­ca­vo da Gua­n­abara e o Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca.

Mauá (RJ), 30/03/2023 - Chico Schnoor, coordenador nacional da comissão de governança do Caminho da Mata Atlântica. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Mauá (RJ), 30/03/2023 — Chico Schnoor, coor­de­nador nacional da comis­são de gov­er­nança do Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil — Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Para isso, esta­mos con­ver­san­do com as pop­u­lações locais, val­i­dan­do com eles os roteiros, os locais de para­da e, a par­tir daí, procu­ran­do o poder munic­i­pal para ter esse apoio, que já está vin­do tam­bém. Fal­ta ain­da uma divul­gação desse roteiro para que as pes­soas saibam que existe e come­cem a usufruir dele, para for­t­ale­cer o tur­is­mo local. Fal­ta uma estru­tu­ração dos par­ques locais que não têm por­taria, pou­cas equipes e pou­ca capaci­dade de fis­cal­iza­ção”, disse o coor­de­nador.

“Quan­to mais pud­er apoiar e for­t­ale­cer o Refú­gio da Ser­ra da Estrela, o Par­que Estad­ual dos Três Picos, o Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos, a Área de Pro­teção Ambi­en­tal (APA) de Petrópo­lis, a APA de Suruí, a Reser­va de Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el (RDS] da Ser­ra de Estrela e tan­tos out­ros, a gente con­segue, a par­tir da divul­gação e da reestru­tu­ração deles, cada vez mais tra­bal­har para que esse tur­is­mo seja respon­si­vo e regen­er­a­ti­vo no espaço”.

Schnoor propôs a divul­gação de cam­pan­has para incen­ti­var o con­hec­i­men­to das áreas de preser­vação. “É inter­es­sante pen­sar em cam­pan­has que aprox­imem a pop­u­lação das unidades de con­ser­vação, mostran­do como elas são bené­fi­cas no ter­ritório e como a gente pre­cisa dess­es serviços ambi­en­tais” disse, desta­can­do que o pro­je­to Movi­men­to Viva Água, desen­volvi­do pela Fun­dação Boticário, no entorno da Baía de Gua­n­abara, que chama atenção para as bacias e mon­tan­has da região, tem serviços ambi­en­tais fortís­si­mos como a reg­u­lação de tem­per­atu­ra, da água e da erosão.

Parnaso

Con­forme o coor­de­nador, Magé é o úni­co municí­pio dos que com­põem a área do Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos (Par­na­so) que não con­ta com uma sede de entra­da e pos­tos de fis­cal­iza­ção como já tem Petrópo­lis, Teresópo­lis e Guapimir­im. De acor­do com ele, a expan­são da área do Par­na­so avançou para Magé em grande parte, o que por um lado pode ser bom, mas ao mes­mo tem­po se trans­for­mou em área intangív­el que não pode rece­ber vis­i­tação e tornou-se restri­ti­va, enquan­to há um poten­cial muito grande ter ren­da por meio do tur­is­mo respon­sáv­el, crian­do um zonea­men­to do par­que com a estru­tu­ração dos atra­tivos de Magé.

“Jun­to com a prefeitu­ra de Magé, esta­mos deba­ten­do com respon­sáveis pelo par­que a mel­hor maneira de abrir uma por­taria e mudar o zonea­men­to, para que a pop­u­lação de Magé e tur­is­tas pos­sam vir para esse municí­pio e aproveitar o Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos”, obser­vou.

Chicão rev­el­ou que chegou a faz­er a prospecção de uma tril­ha, após avis­ar aos respon­sáveis pelo par­que, mas como atin­gia a área intangív­el não pôde con­solidá-la. “Esse tre­cho tin­ha cachoeiras, gru­tas, mirantes, dois jequitibás cen­tenários. É uma tril­ha fecha­da e quem faz ela são os caçadores. Encon­trei um acam­pa­men­to de caçadores ile­gal. Quan­do o tur­ista não vem, o caçador vai. Isso já foi prova­do, quan­do o Par­na­so foi fecha­do na parte alta que esta­va cheia de caçadores. Tem históri­co do próprio par­que. Em vez de fechar e deixar o caçador vir, vamos abrir e chamar os tur­is­tas para con­hecerem e chamar as esco­las para faz­er edu­cação ambi­en­tal. Esse é o papel de um par­que nacional e é isso que o Par­na­so tem que faz­er em Magé”, defend­eu.

Plane­ja­do em 2012 como roteiro macro de tril­has, o Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca já aumen­tou o plane­ja­men­to em mais de mil quilômet­ros. Segun­do o coor­de­nador, os novos rumos de cam­in­hadas são definidos após con­ver­sas com pop­u­lações locais, procu­ran­do desvios mais inter­es­santes para atrair tur­ista, Por isso, toda definição de nova tril­ha começa com uma reunião com a comu­nidade local, mostran­do o traça­do plane­ja­do em 2012. É assim que o Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca vai gan­han­do exten­sões, como a parte que atual­mente pas­sa pela Guia de Pacobaí­ba, em Magé.

Mauá (RJ), 30/03/2023 - Estação ferroviária Guia de Pacobaíba, a primeira estação ferroviária do Brasil, inaugurada em 30 de abril de 1854 com a presença do imperador D. Pedro II. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Mauá (RJ), 30/03/2023 — Estação fer­roviária Guia de Pacobaí­ba, a primeira estação fer­roviária do Brasil, inau­gu­ra­da em 30 de abril de 1854 com a pre­sença do imper­ador D. Pedro II. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil — Tânia Rêgo/Agência Brasil

“A par­tir de reuniões com a comu­nidade local, o Cam­in­ho começou a pas­sar aqui. Esse tra­bal­ho é demor­a­do. Tem lugar que a gente chega e está sim­ples, mas tem lugar que a gente chega e está com­plexo. Há lugares que avançam, out­ros não. A gente vai pouco a pouco. O Cam­in­ho da Mata Atlân­ti­ca é uma tril­ha muito grande, são 4.300 quilômet­ros (km). A gente já tem 800 km sinal­iza­dos, hotéis e guias cadastra­dos como par­ceiros ofi­ci­ais para apoio do Cam­in­ho, mas como é um que­bra-cabeças de várias tril­has já exis­tentes, pode ser feito com­ple­to se alguém quis­er”, afir­mou.

Já o Cam­in­ho do Recôn­ca­vo da Gua­n­abara, seguin­do Schnoor, é basea­do em ini­cia­ti­va com a pos­si­bil­i­dade de um traça­do que ain­da não foi mapea­do. Nesse caso, é pre­ciso faz­er primeiro uma prospecção de cam­po, antes de se ter uma prospecção de pes­soas. A próx­i­ma é ver­i­ficar a rota que pode ser real­iza­da entre a Reser­va Ecológ­i­ca de Guapi­açu (Regua), em Cachoeiras de Macacu, e a Ecov­i­la El Nagual, em San­to Aleixo, em Magé.

Cachoeiras de Macacu (RJ), 28/03/2023 - Vista de parte do Parque Estadual dos Três Picos a partir da Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), Cachoeiras de Macacu, Região Serrana do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Cachoeiras de Macacu (RJ), 28/03/2023 — Vista de parte do Par­que Estad­ual dos Três Picos a par­tir da Reser­va Ecológ­i­ca de Guapi­açu (REGUA), Cachoeiras de Macacu, Região Ser­rana do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil — Tânia Rêgo/Agência Brasil

Acessibilidade

A definição das tril­has pas­sa ain­da pelo grau de difi­cul­dade que ela rep­re­sen­ta. Enquan­to uma pode ser de fácil aces­so aos vis­i­tantes, out­ra pode apre­sen­tar desafios, prin­ci­pal­mente a quem não está acos­tu­ma­do a faz­er as cam­in­hadas. São obstácu­los que se apre­sen­tam na tra­jetória como atrav­es­sar rios, desviar de tron­cos caí­dos ou andar em mata fecha­da e em áreas enchar­cadas. Podem incluir tom­bos e escor­regões. Em alguns lugares, a colo­cação de cor­das ou pas­sare­las sobre os rios pode­ria facil­i­tar muito a cam­in­ha­da.

Para Thi­a­go Valente, ger­ente de pro­je­tos da Fun­dação Boticário e líder do Movi­men­to Viva Água Baía de Gua­n­abara, o princí­pio para garan­tir a aces­si­bil­i­dade nas tril­has é deixar claro o nív­el de difi­cul­dade. Na visão do biól­o­go, muitos lugares ain­da são explo­rados de for­ma arte­sanal, com um guia que con­hece o local, o cânion ou a cachoeira, mas mes­mo em áreas for­mal­mente pro­te­gi­das, como os par­ques nacionais e estad­u­ais, des­ti­nadas ao uso públi­co, há carên­cia grande de inves­ti­men­tos que con­sigam dar condição mín­i­ma aos vis­i­tantes de for­ma segu­ra.

“Isso pre­ocu­pa não só a gente, mas as pes­soas que tra­bal­ham com o tur­is­mo. É difer­ente de país­es como os Esta­dos Unidos, que enten­dem a opor­tu­nidade e oper­am hoje uma indús­tria bil­ionária, que rep­re­sen­ta, por exem­p­lo ‚uma fatia do Pro­du­to Inter­no Bru­to (PIB) norte amer­i­cano. No Brasil, esse poten­cial está ain­da adorme­ci­do”, disse Valente, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

A aces­si­bil­i­dade den­tro de unidades dos gov­er­nos fed­er­al e estad­u­ais depende de inves­ti­men­tos públi­cos, mas segun­do o biól­o­go, vem crescen­do o inter­esse em pro­je­tos pri­va­dos, que, acred­i­ta, podem tam­bém ser desen­volvi­dos por meio de parce­rias públi­co-pri­vadas. Nesse caso, os inves­ti­men­tos caberi­am aos empreende­dores.

“Para esse impul­so ini­cial, pode ser um cam­in­ho inter­es­sante aprox­i­mar o setor pri­va­do, investi­dores que estão olhan­do para pro­je­tos com poten­cial de ger­ar esse impacto social ou ambi­en­tal pos­i­ti­vo. O gar­ga­lo da infraestru­tu­ra geral­mente é o mais sim­ples de se resolver do pon­to de vista dos inves­ti­men­tos. Faz­er estu­dos de aces­si­bil­i­dade, con­stru­ir infraestru­turas que facilitem a chega­da dos tur­is­tas para que eles pos­sam ter uma exper­iên­cia com­ple­ta e sem riscos. Real­mente, há casos em que as pes­soas vão e se deparam com uma estru­tu­ra bas­tante precária. Nesse ter­ritório da Baía de Gua­n­abara, nós esta­mos bus­can­do for­t­ale­cer as alianças e crian­do diál­o­go com o poder públi­co. Mes­mo que seja uma atribuição, acho que podemos tratar isso como um desafio cole­ti­vo”, comen­tou.

Magé (RJ), 27/03/2023 - Trilha para a cachoeira Monjolo, na reserva Ecovila El Nagual, Magé, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Magé (RJ), 27/03/2023 — Tril­ha para a cachoeira Mon­jo­lo, na reser­va Ecov­i­la El Nagual, Magé, Região Met­ro­pol­i­tana do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil — Tânia Rêgo/Agência Brasil

A repórter e a fotó­grafa da Agên­cia Brasil via­jaram em um grupo con­vi­da­do pela Fun­dação Boticário.

Edição: Graça Adju­to

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Aquário de São Paulo anuncia nascimento de seu primeiro urso-polar

Nur é o primeiro caso de reprodução de ursos-polares na América Latina Guil­herme Jerony­mo — …