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quinta-feira ,28 março 2024
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Psicólogos da Uerj recomendam formas de aprimorar rendimento de atleta

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Repro­du­ção: © Jon­ne Roriz/COB/Direitos reser­va­dos

Estudo é do Núcleo Aplicado de Psicologia do Esporte


0 Por Ala­na Gan­dra — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

O Núcleo Apli­ca­do de Psi­co­lo­gia do Espor­te (Nape), do Ins­ti­tu­to de Psi­co­lo­gia da Uni­ver­si­da­de do Esta­do do Rio de Janei­ro (Uerj), dedi­ca­do ao estu­do de atle­tas de alto ren­di­men­to, mos­tra que a psi­co­lo­gia pode con­tri­buir para o apri­mo­ra­men­to da per­for­man­ce des­ses atle­tas em dife­ren­tes for­mas de atu­a­ção. “Essa é a ideia cen­tral do nos­so labo­ra­tó­rio, que exis­te há seis anos na Uerj”, dis­se à Agên­cia Bra­sil o coor­de­na­dor do Nape, pro­fes­sor Alber­to Fil­guei­ras. Alguns atle­tas que estão dis­pu­tan­do os Jogos Olím­pi­cos, no Japão, par­ti­ci­pa­ram dos estu­dos.

A pri­mei­ra fren­te de pes­qui­sas para auxi­li­ar os atle­tas a ter melhor ren­di­men­to diz res­pei­to às fun­ções exe­cu­ti­vas e ao espor­te. “Fun­ções exe­cu­ti­vas são um gru­po de pro­ces­sos da nos­sa men­te, ou for­mas de pen­sar, que nos aju­dam a ren­der melhor em todos os aspec­tos da vida”. No caso espe­cí­fi­co do espor­te, Fil­guei­ras dis­se que é fun­da­men­tal ter boas fun­ções exe­cu­ti­vas, no sen­ti­do de exe­cu­tar bem algu­ma coi­sa.

Os pes­qui­sa­do­res do Nape des­co­bri­ram que a capa­ci­da­de de tomar boas deci­sões em uma com­pe­ti­ção, ou duran­te uma dis­pu­ta, está asso­ci­a­da com melho­res níveis de fun­ções exe­cu­ti­vas. A memó­ria de cur­to pra­zo, ou memó­ria de tra­ba­lho, faz par­te des­sas fun­ções. “Ela é fun­da­men­tal para espor­tes viso-espa­ci­ais, como fute­bol e vôlei.

Um tipo de fun­ção exe­cu­ti­va é o cha­ma­do con­tro­le ini­bi­tó­rio, que é a capa­ci­da­de de ini­bir dife­ren­tes estí­mu­los que cau­sam algum tipo de dis­tra­ção. Nes­se caso, fala-se de espor­tes de resis­tên­cia, de pro­vas lon­gas, como mara­to­na e mara­to­na aquá­ti­ca. Por últi­mo, tem a fun­ção de fle­xi­bi­li­da­de cog­ni­ti­va, que é a capa­ci­da­de de pen­sar estra­té­gi­as dife­ren­tes para a vida e para o espor­te, em espe­ci­al. Isso é vis­to em atle­tas de luta e em espor­tes que bus­cam fazer pon­tos con­tra os adver­sá­ri­os, a exem­plo de vôlei, vôlei de praia e do bas­que­te.

Flexibilidade

A estra­té­gia para ven­cer o adver­sá­rio depen­de mui­to des­sa fle­xi­bi­li­da­de cog­ni­ti­va, afir­mou o pro­fes­sor. “A gen­te sabe, con­cre­ta­men­te, que quan­do com­pa­ra­dos a pes­so­as nor­mais, os atle­tas de eli­te têm até 30% mais essas fun­ções exe­cu­ti­vas do que nós, meros mor­tais. Os atle­tas con­se­guem ini­bir dis­tra­ções 30% melhor, con­se­guem reter infor­ma­ções na memó­ria 30% a mais e tam­bém con­se­guem pen­sar em dife­ren­tes estra­té­gi­as, ou seja, ser mais cri­a­ti­vos, 30% mais do que nós”, acres­cen­tou.

O estu­do des­co­briu tam­bém que quan­do esses atle­tas não estão bem em ter­mos de saú­de men­tal, o ren­di­men­to cai. “E cai jun­to a per­for­man­ce em fun­ções exe­cu­ti­vas”, des­ta­cou Fil­guei­ras. Quan­do o atle­ta está mal do pon­to de vis­ta da saú­de men­tal, ele é melhor do que uma pes­soa comum ape­nas fisi­ca­men­te, por­que está mais bem pre­pa­ra­do. Com­pa­ra­do, porém, com outros atle­tas que têm a saú­de men­tal em dia, seu ren­di­men­to espor­ti­vo é pior, bem como as fun­ções exe­cu­ti­vas. “O que nos ligou um aler­ta é que, do pon­to de vis­ta de saú­de men­tal, atle­tas de alto ren­di­men­to podem che­gar a ter até três vezes mais pre­va­lên­cia de trans­tor­nos de ansi­e­da­de e depres­são do que a popu­la­ção em geral”.

Alber­to Fil­guei­ras infor­mou que, em geral, atle­tas de alto ren­di­men­to vivem, em média, cin­co anos a mais que a popu­la­ção em geral. “São mais lon­ge­vos e têm mui­to menos doen­ça car­día­ca ou vas­cu­lar. Ou seja, fazer espor­te de alto ren­di­men­to é algo bené­fi­co à saú­de físi­ca. Porém, não é bené­fi­co à saú­de men­tal. Do pon­to de vis­ta psi­co­ló­gi­co, essas pes­so­as apre­sen­tam pio­res níveis de bem-estar, qua­li­da­de de vida e saú­de men­tal quan­do com­pa­ra­dos com o res­tan­te da popu­la­ção. Isso vale um aler­ta. É uma espé­cie de com­pen­sa­ção, de equi­lí­brio”.

Soluções

O labo­ra­tó­rio bus­ca tam­bém solu­ções para os pro­ble­mas. Segun­do os pes­qui­sa­do­res, há qua­tro dis­tin­tas téc­ni­cas que são efi­ca­zes para a melho­ra de ren­di­men­to e per­for­man­ce de atle­tas. Uma delas é a ima­gem men­tal, que envol­ve a visu­a­li­za­ção e todas as estru­tu­ras sen­so­ri­ais, como olfa­to, tato, pala­dar. Ela ser­ve para dimi­nuir a ansi­e­da­de do atle­ta e para melho­rar o apri­mo­ra­men­to da téc­ni­ca e da estra­té­gia de com­pe­ti­ção. Outra boa téc­ni­ca é o esta­be­le­ci­men­to de metas. “Não é esta­be­le­cer qual­quer meta, nem fazer de qual­quer manei­ra. É neces­sá­rio ter um ajus­te fino para cada atle­ta, para que se pos­sa esta­be­le­cer a meta cor­re­ta para cada um e que seja atin­gí­vel, por­que se um deter­mi­na­do atle­ta não se con­si­de­ra capaz, ele pode aca­bar des­mo­ti­va­do. Se, por outro lado, é dada a outro atle­ta uma meta fácil, ele tam­bém pode aca­bar des­mo­ti­va­do”.

O fun­da­men­tal, na opi­nião de Fil­guei­ras, é que a meta não pode estar atre­la­da a um resul­ta­do. Isso se expli­ca por­que o resul­ta­do na com­pe­ti­ção não está total­men­te sob o con­tro­le do atle­ta. O pro­ces­so de pre­pa­ra­ção aumen­ta a chan­ce de alcan­çar o resul­ta­do final, mas não garan­te o resul­ta­do final. “A gen­te já per­ce­beu que esse é um pro­ble­ma”. A meta deve estar atre­la­da ao dia a dia do atle­ta.

Outra téc­ni­ca psi­co­ló­gi­ca é a cons­tru­ção de time, em que se faz inter­ven­ções em gru­pos para que seus inte­gran­tes pas­sem a ter os mes­mos valo­res inter­nos e os mes­mos obje­ti­vos. A ten­dên­cia é ter o mes­mo nível de coe­são. “A gen­te sabe que a coe­são de um gru­po está asso­ci­a­da ao nível de ren­di­men­to des­se gru­po em com­pe­ti­ções”.

Diálogo interno

A últi­ma téc­ni­ca é o diá­lo­go inter­no. “A nos­sa men­te vai aon­de ela quer e não para onde a gen­te quer que ela vá”, obser­vou o pro­fes­sor. A psi­co­lo­gia está aí para ensi­nar às pes­so­as a lidar com esses pen­sa­men­tos, de for­ma a cons­truir um diá­lo­go inter­no que seja o tem­po todo posi­ti­vo e foca­do no que a pes­soa tem que fazer duran­te a com­pe­ti­ção. O Nape ensi­na a subs­ti­tuir pen­sa­men­tos nega­ti­vos por outros que são mais úteis para o ren­di­men­to do atle­ta. Para evi­tar que a saú­de men­tal do atle­ta seja afe­ta­da, é neces­sá­rio fazer um tra­ba­lho para ele con­ver­sar melhor con­si­go mes­mo na par­te pes­so­al, e não se sin­ta cul­pa­do por tomar um sor­ve­te, por exem­plo.

Os psi­có­lo­gos do Nape cha­mam o diá­lo­go inter­no de rees­tru­tu­ra­ção cog­ni­ti­va, que é a modi­fi­ca­ção ou subs­ti­tui­ção de um pen­sa­men­to anti­fun­ci­o­nal, isto é, que não fun­ci­o­na, por outro fun­ci­o­nal. A difi­cul­da­de é que cada pes­soa vai ter um pen­sa­men­to subs­ti­tu­ti­vo dife­ren­te. “Não dá para che­gar com aque­las fra­ses pron­tas, os cha­ma­dos valo­res do espor­te, que não fun­ci­o­nam para todos os atle­tas”, adver­tiu Alber­to Fil­guei­ras. Por isso, ele dis­se ser fun­da­men­tal que o pro­fis­si­o­nal que faz o trei­na­men­to téc­ni­co sai­ba como fazer a modi­fi­ca­ção des­ses pen­sa­men­tos, para que eles sejam ade­qua­dos àque­le indi­ví­duo.

Edi­ção: Gra­ça Adju­to

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