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Público terá acesso a acervo digitalizado de Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes
Repro­du­ção: © Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Moraes/Direitos reser­va­dos

Obras do poeta serão disponibilizadas a partir de hoje


Publi­ca­do em 27/05/2021 — 06:30 Por Ala­na Gan­dra — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

Todo o acer­vo da vida e obra do poe­ta e diplo­ma­ta Vini­cius de Mora­es (1913–1980), que se encon­tra no Arqui­vo-Museu de Lite­ra­tu­ra Bra­si­lei­ra, da Fun­da­ção Casa de Rui Bar­bo­sa, pode­rá ser aces­sa­do a par­tir de hoje (27), às 8h, de for­ma vir­tu­al e gra­tui­ta no site http://acervo.viniciusdemoraes.com.br.

Des­de 1992, o acer­vo está aber­to para con­sul­ta públi­ca pre­sen­ci­al na ins­ti­tui­ção, mas só ago­ra a VM Cul­tu­ral, empre­sa cri­a­da pelos filhos de Vini­cius para fazer a ges­tão de sua obra e dos direi­tos auto­rais, digi­ta­li­zou as infor­ma­ções, visan­do não só a pre­ser­var os docu­men­tos, mas tam­bém a demo­cra­ti­zar seu con­teú­do para pes­qui­sa­do­res e o públi­co em geral.

Até o final da déca­da de 80, o acer­vo esta­va na casa da famí­lia do poe­ta, na Gávea, bair­ro da zona sul cari­o­ca, onde foi cui­da­do por suas irmãs Lygia e Lae­ti­tia de Mora­es. São 6 mil regis­tros envol­ven­do mais de 11 mil docu­men­tos ori­gi­nais, entre manus­cri­tos e dati­lo­gra­fa­dos, que tota­li­zam qua­se 35 mil ima­gens digi­ta­li­za­das.

Em 1987, o acer­vo aca­bou doa­do ao Arqui­vo-Museu da Fun­da­ção Casa de Rui Bar­bo­sa, loca­li­za­do em Bota­fo­go, na zona sul do Rio de Janei­ro. Ele inclui poe­mas, tex­tos em pro­sa, letras de músi­ca, peças tea­trais, rotei­ros de fil­mes, dis­cur­sos, notas e car­tas, ago­ra dis­po­ní­veis para con­sul­ta onli­ne.

Dois eixos

O pro­je­to de digi­ta­li­za­ção foi ide­a­li­za­do pela neta do poe­ta, Julia Mora­es, sob a coor­de­na­ção téc­ni­ca do desig­ner Mar­cus Mora­es, sobri­nho-neto de Vini­cius. Em entre­vis­ta à Agên­cia Bra­sil, Mar­cus dis­se que o pro­je­to, como qual­quer outro de ciên­cia da infor­ma­ção, tem dois eixos, que são pre­ser­var e dis­po­ni­bi­li­zar a infor­ma­ção. “Tem dois obje­ti­vos prin­ci­pais: a pre­ser­va­ção dos docu­men­tos; quan­do você digi­ta­li­za, faz uma cópia digi­tal, e você, que só tinha aces­so pre­sen­ci­al à Casa de Rui, ago­ra bas­ta ter aces­so à inter­net para con­sul­tar os docu­men­tos”.

Mar­cus Mora­es expli­cou que, em com­pa­ra­ção com outros, o acer­vo de Vini­cius “é bem par­ru­do, bem gran­de”. Obser­vou que como ele con­tém mate­ri­al de ter­cei­ros, alguns manus­cri­tos se acham em pro­ces­so de auto­ri­za­ção, por­que “são con­teú­dos de outras pes­so­as. Quan­do foi doa­do o mate­ri­al, tinha coi­sas que não eram somen­te de Vini­cius e estão sen­do auto­ri­za­das. A mai­o­ria das pes­so­as con­tac­ta­das está auto­ri­zan­do, mas outros ain­da pas­sam por esse pro­ces­so. Esta­mos fazen­do tudo com o pro­ces­so jurí­di­co cor­re­to”, afir­mou.

Processo de criação

Acervo Digital Vinicius de Moraes/Direitos reservados

Repro­du­ção: Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Moraes/Direitos reser­va­dos — Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Moraes/Direitos reser­va­dos

Além da diver­si­da­de de mate­ri­al, o acer­vo digi­ta­li­za­do mos­tra dados des­co­nhe­ci­dos pelo gran­de públi­co, como o pro­ces­so de cri­a­ção de um poe­ma ou com­po­si­ção, com seus diver­sos ras­cu­nhos. Para o sobri­nho-neto de Vini­cius, a par­te mais inte­res­san­te é “ver o pro­ces­so cri­a­ti­vo. É como se Vini­cius abris­se o seu cader­no de notas, a sua gave­ta de rabis­cos para o públi­co. É mui­to inte­res­san­te ver como ele tra­ba­lha­va pala­vras; ele rabis­ca­va, fazia uma nova ver­são do poe­ma, uma coi­sa mui­to metó­di­ca, deta­lhis­ta, per­fec­ci­o­nis­ta mes­mo. Esse pro­ces­so é fas­ci­nan­te. Tem isso tan­to nos poe­mas, quan­to nas letras de músi­cas. É fas­ci­nan­te ver o cui­da­do dele com as rimas, com a melo­dia, com a repe­ti­ção, para ter uma métri­ca boa, para ser fácil de can­tar deter­mi­na­do ver­so. Isso é mui­to curi­o­so de ver”.

Mar­cus Mora­es afir­mou que o acer­vo do “poe­ti­nha”, como Vini­cius era cha­ma­do, não con­tém mate­ri­al ico­no­grá­fi­co. “Mas é mui­to rico. Dá para se diver­tir bas­tan­te no site”. As fotos colo­ca­das ser­vem ape­nas para ilus­trar, “para dar um colo­ri­do”. Ele expli­cou que o site esta­rá em per­ma­nen­te atu­a­li­za­ção, incluin­do futu­ra­men­te novos con­teú­dos.

A Casa de Rui Bar­bo­sa tem mui­tos recor­tes de jor­nal sobre o poe­ta, que deve­rão ser incluí­dos em uma segun­da eta­pa. “Serão atu­a­li­za­ções. Vini­cius está mui­to vivo ain­da, gra­ças a Deus. Tem mui­ta coi­sa dele na área: está com peça na Bro­adway, tem livro sen­do ree­di­ta­do em vári­as lín­guas. Ele é mui­to popu­lar mes­mo. A gen­te fica mui­to feliz de ampli­ar isso”, acres­cen­tou o sobri­nho-neto do diplo­ma­ta.

Memória

O acer­vo digi­ta­li­za­do de Vini­cius de Mora­es con­si­de­ra a rele­vân­cia da pre­ser­va­ção da memó­ria da cul­tu­ra naci­o­nal, ao mes­mo tem­po em que per­mi­te o aces­so a um núme­ro ili­mi­ta­do de pes­qui­sa­do­res, pro­fes­so­res, escri­to­res, músi­cos, artis­tas e do públi­co em geral. O Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Mora­es tem patro­cí­nio do Minis­té­rio do Turis­mo e do Itaú.

De acor­do com os orga­ni­za­do­res, a tra­je­tó­ria múl­ti­pla de Vini­cius atra­ves­sa os mais diver­sos ambi­en­tes cul­tu­rais e inte­lec­tu­ais, que vão des­de Mãe Meni­ni­nha do Gan­tois a Orson Wel­les; de Baden Powell a Pablo Neru­da; pas­san­do por cida­des como o Rio de Janei­ro, São Pau­lo, Sal­va­dor, Ouro Pre­to, Mon­te­vi­déu, Bue­nos Aires, Paris, Oxford e Los Ange­les.

A neta do poe­ta, Julia Mora­es, des­ta­ca que “do pon­to de vis­ta de quem quer enten­der os pro­ces­sos lite­rá­rio e cri­a­ti­vo, o acer­vo é mui­to rico. É um mapa da cri­a­ção. Não são só acer­tos, ali estão os erros tam­bém. Acre­di­to que isso valo­ri­ze todos os artis­tas”.

O acer­vo está divi­di­do em três gran­des séri­es: Cor­res­pon­dên­ci­as, Pro­du­ção Inte­lec­tu­al e Docu­men­tos Diver­sos. Os docu­men­tos pode­rão ser con­sul­ta­dos por meio de um sis­te­ma de bus­cas onli­ne. O inven­tá­rio com­ple­to do acer­vo está dis­po­ní­vel gra­tui­ta­men­te para down­lo­ad em PDF, per­mi­tin­do tam­bém uma bus­ca offli­ne.

Destaques

Na série Cor­res­pon­dên­ci­as, há car­tas de par­cei­ros musi­cais de Vini­cius, entre os quais Baden Powell, Car­los Lyra e Tom Jobim, e dos ami­gos estran­gei­ros Orson Wel­les, Gabri­e­la Mis­tral, Pablo Neru­da e Wal­do Frank. Há tam­bém car­ta de Char­les Cha­plin agra­de­cen­do o envio da pri­mei­ra edi­ção da revis­ta Fil­me, fun­da­da por Vini­cius em Los Ange­les.

Na série Pro­du­ção Inte­lec­tu­al, a docu­men­ta­ção reve­la o cam­po exten­so de ati­vi­da­des de Vini­cius ao lon­go da vida, com poe­sia, tex­tos em pro­sa, arti­gos, peças, letras de músi­ca, shows, rotei­ros de cine­ma, dis­cur­sos, entre­vis­tas e tra­du­ções. O públi­co pode­rá conhe­cer, por exem­plo, as dife­ren­tes ver­sões do rotei­ro de Les Amants de la Mer e deta­lhes da pro­du­ção, até o rotei­ro final, de Garo­ta de Ipa­ne­ma, bem como o rotei­ro decu­pa­do do fil­me Orfeu Negro, diri­gi­do pelo cine­as­ta fran­cês Mar­cel Camus.

Acervo Digital Vinicius de Moraes/Direitos reservados

Repro­du­ção: Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Moraes/Direitos reser­va­dos, por Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Moraes/Direitos reser­va­dos

Na área musi­cal, mais de 260 letras estão reu­ni­das no acer­vo, algu­mas com mais de uma ver­são, como acon­te­ce em rela­ção aos poe­mas. Des­ta­cam-se Insen­sa­tezChe­ga de Sau­da­deCan­to de Ossa­nha (qua­tro ver­sões), Can­ção do Ama­nhe­cer (nove ver­sões), Por Toda a Minha VidaTar­de em Ita­poãSam­ba da Bên­ção e A Minha Namo­ra­da. Outro des­ta­que é a Sin­fo­nia da Alvo­ra­da, poe­ma sinfô­ni­co de Vini­cius e Tom Jobim, fei­to a pedi­do do pre­si­den­te Jus­ce­li­no Kubits­chek e de Oscar Nie­meyer para a inau­gu­ra­ção de Bra­sí­lia.

Na pro­du­ção tea­tral, podem ser encon­tra­dos o ori­gi­nal de Orfeu da Con­cei­ção, as ver­sões incom­ple­tas do 1º e do 2º atos do espe­tá­cu­lo, as pro­vas tipo­grá­fi­cas e o tex­to impres­so sobre a peça na revis­ta Anhem­bi (1954), além de notas sobre gas­tos, rotei­ro de luz e bilhe­tes de pré-estreia. Há o tex­to dati­lo­gra­fa­do incom­ple­to de Ópe­ra do Nor­des­te, tra­gé­dia musi­cal com can­ções de Vini­cius e Baden Powell. Pode ser con­sul­ta­da ain­da a peça Os Três Amo­res, de 1927, que con­sis­te em uma imi­ta­ção de A Ceia dos Car­de­ais, de Júlio Dan­tas, com uma obser­va­ção de Vini­cius: “Foi fei­to com a ida­de de 14 anos. Peço, pois, ao lei­tor ser bon­do­so comi­go.”

Livros

A VM Cul­tu­ral lem­bra que todos os livros de poe­sia de Vini­cius de Mora­es estão dis­po­ní­veis para lei­tu­ra, bem como manus­cri­tos, ver­sões dati­lo­gra­fa­das, pro­vas tipo­grá­fi­cas, emen­das, cor­re­ções e tex­tos com mais de uma ver­são. Alguns tra­zem uma apre­sen­ta­ção com deta­lhes de cada publi­ca­ção. Nes­se tópi­co, des­ta­que para O Cami­nho para a Dis­tân­cia, pri­mei­ro livro publi­ca­do, em 1933; Poe­mas, Sone­tos e Bala­das (com 47 poe­mas, entre eles Sone­to de Fide­li­da­de e Sone­to de Sepa­ra­ção) e Rotei­ro Líri­co e Sen­ti­men­tal da Cida­de do Rio de Janei­ro, obra ina­ca­ba­da e publi­ca­da pos­tu­ma­men­te, que é uma decla­ra­ção de amor ao Rio.

Vini­cius escre­veu ain­da crô­ni­cas, crí­ti­cas de cine­ma e tex­tos sobre músi­ca popu­lar em jor­nais e revis­tas, nos anos de 1940 e 1950. Mui­tos des­ses tex­tos foram reu­ni­dos em dois livros de crô­ni­cas cujos ori­gi­nais, além dos diá­ri­os sobre as obras, estão dis­po­ní­veis. São eles: Para Viver um Gran­de Amor (1962) e Para uma Meni­na com uma Flor (1966).

Já em Docu­men­tos Diver­sos, estão reu­ni­dos folhe­tos, cader­nos de ano­ta­ções, car­tões de visi­ta, con­vi­tes e docu­men­tos impor­tan­tes para o esta­be­le­ci­men­to da his­tó­ria do cine­ma no Bra­sil. Há um dos­siê sobre a cri­a­ção do Ins­ti­tu­to Naci­o­nal do Cine­ma, além de rela­tó­ri­os sobre os fes­ti­vais inter­na­ci­o­nais de cine­ma e atas das reu­niões do Pri­mei­ro Fes­ti­val Inter­na­ci­o­nal de Cine­ma no Bra­sil.

Podcast e mini-doc

Estão dis­po­ní­veis no site o pod­cast (con­teú­do em áudio) Cader­no de Lei­tu­ras Vini­cius de Mora­es e o mini-doc Acer­vo Digi­tal Vini­cius de Mora­es, cri­a­dos para o pro­je­to. Publi­ca­do em 2009, pela Com­pa­nhia das Letras, o Cader­no de Lei­tu­ras Vini­cius de Mora­es con­vi­da os lei­to­res a entra­rem na poe­sia de Vini­cius, em tex­tos escri­tos por Euca­naã Fer­raz, Noe­mi Jaf­fe, Ana Lucia Sou­to Mayor e Maria do Car­mo Cam­pos. Em sua ver­são pod­cast, cada capí­tu­lo ganhou um epi­só­dio com nar­ra­ção da can­to­ra Mari­a­na de Mora­es, neta de Vini­cius, e do jor­na­lis­ta e pes­qui­sa­dor Pedro Pau­lo Mal­ta, que tam­bém assi­na a adap­ta­ção e o rotei­ro. Com músi­cas de Vini­cius de Mora­es, a tri­lha sono­ra foi cri­a­da e mon­ta­da por Mario Adnet.

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