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Quase quatro em cada dez escolas de capitais não têm área verde

Estudo aponta vulnerabilidade climática de colégios das capitais

Fabío­la Sin­im­bú – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 27/11/2024 — 13:28
Brasília
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Repro­dução: © Arquivo/Tânia Rêgo/Agência Brasil

Um estu­do sobre as esco­las de edu­cação infan­til e ensi­no fun­da­men­tal nas cap­i­tais, divul­ga­do nes­ta quar­ta-feira (27), apon­tou que seis em cada dez insti­tu­ições pesquisadas (64% ) estão em locais onde a tem­per­atu­ra é pelo menos 1 grau Cel­sius (°C) maior que a média da região. Além dis­so, 37,4% dos locais não têm áreas verdes, 11,3% ficam em fave­las e 6,7% estão em áreas de risco de desas­tres nat­u­rais.

A pesquisa O Aces­so ao Verde e a Resil­iên­cia Climáti­ca nas Esco­las das Cap­i­tais Brasileiras, pro­movi­da pelo Insti­tu­to Alana, con­cluiu tam­bém que 370 mil estu­dantes em 20.635 esco­las públi­cas e pri­vadas estão em áreas de risco climáti­co. Na práti­ca, são cri­anças e ado­les­cente que podem ter a edu­cação bási­ca com­pro­meti­da por incên­dios flo­restais, tem­pes­tades ou desliza­men­tos.

“Isso pode sig­nificar sem­anas e sem­anas sem aula, como a gente viu acon­te­cer lá em Por­to Ale­gre, viu acon­te­cer em out­ros lugares. No esta­do de São Paulo tam­bém, no litoral, e resul­ta muitas vezes em aban­dono esco­lar, porque quan­do as cri­anças ficam muito tem­po sem poder fre­quen­tar as aulas, elas muitas vezes não voltam”, expli­ca Maria Isabel Bar­ros, espe­cial­ista em cri­ança e natureza do Insti­tu­to Alana.

De acor­do com os pesquisadores do Map­bio­mas, insti­tu­to que desen­volveu o estu­do, no ano de 2023 em que os dados foram lev­an­ta­dos, a região que mais con­cen­trou esco­las com tem­per­atu­ra aci­ma da média do perímetro urbano onde estão inseri­das, foi a Região Norte, onde os esta­dos de Man­aus (97%), Macapá (93%) e Pal­mas (91,5%) reg­is­traram os maiores per­centu­ais de insti­tu­ições nes­sa situ­ação. A exceção foi Belém, que de todas as cap­i­tais reg­istrou o menor per­centu­al, 33,2% de esco­las mais quentes.

“A gente tam­bém vem assistin­do um impacto muito forte das ondas de calor no dia a dia das cri­anças nas esco­las. Então, as cri­anças não con­seguem se con­cen­trar para apren­der, e muitas vezes não tem aces­so ao recreio, porque está muito, muito quente”, diz Maria Isabel. Para a espe­cial­ista, ess­es dados estão dire­ta­mente asso­ci­a­dos à ausên­cia de áreas verdes nas esco­las.

Áreas verdes

O estu­do con­sta­tou que nas esco­las estu­dadas, ape­nas 26,6% na média de toda a área ocu­pa­da era de veg­e­tação:

“Já tem muitas pesquisas que com­pro­vam que cri­anças que têm pátios esco­lares mais verdes, mais nat­u­ral­iza­dos, desen­volvem um brin­car mais ati­vo. Elas desen­volvem uma socia­bil­i­dade mais bené­fi­ca, brin­cam com mais com­plex­i­dade, enfim, uma série de bene­fí­cios para o seu desen­volvi­men­to inte­gral e para a sua saúde”, expli­ca a espe­cial­ista.

Segun­do Maria Isabel, tam­bém é impor­tante con­sid­er­ar que a pre­sença dessas áreas verdes nas esco­las não sig­nifi­ca que ess­es espaços ten­ham um aproveita­men­to inten­cional para resil­iên­cia climáti­ca e apren­diza­do. Quan­do isso ocorre, as ativi­dades tam­bém são real­izadas do lado de fora dos pré­dios, em salas aber­tas e nas áreas som­breadas pela própria veg­e­tação:

“É uma coisa que tec­ni­ca­mente se chama solução basea­da na natureza. O som­brea­men­to é uma delas, que nos aju­dam a mit­i­gar os efeitos das ondas de calor e out­ros even­tos climáti­cos e a nos adap­tar.”

Quan­do os pesquisadores obser­varam as áreas que cer­cam as esco­las, tam­bém con­cluíram que em todo o país ape­nas 1,9% dos espaços de até 500 met­ros das insti­tu­ições são praças e par­ques.

Cap­i­tais da região Norte tam­bém tiver­am o pior desem­pen­ho neste que­si­to, com Por­to Vel­ho (0,6%) e Macapá (1,2%) apre­sen­tan­do as menores pro­porções de par­ques praças nas prox­im­i­dades das esco­las.

Desigualdades

Um recorte das esco­las local­izadas em fave­las e comu­nidades urbanas tam­bém lev­am a um per­centu­al maior que a média nacional (11,3%) nas cap­i­tais da Região Norte.

Man­aus é a cidade que mais con­cen­tra insti­tu­ições de ensi­no infan­til e fun­da­men­tal em fave­las, onde mais da metade, 53%, ficam nes­sas áreas, e Belém é a segun­da cap­i­tal nes­sa situ­ação, com 41% das insti­tu­ições em fave­las e comu­nidades.

A exceção na Região Norte é a cap­i­tal Boa Vista, onde não foi iden­ti­fi­ca­da nen­hu­ma esco­la em favela. Já no Cen­tro-Oeste, ape­nas 1% das esco­las fica em fave­las nas cap­i­tais Goiâ­nia e Cam­po Grande.

Quan­do o mes­mo recorte é real­iza­do para esco­las em áreas de risco para desas­tres nat­u­rais, cap­i­tais do Nordeste apre­sen­taram a maior con­cen­tração de insti­tu­ições nes­sa situ­ação. Em Sal­vador, 50% das esco­las estão em áreas de risco, e em Vitória e Recife o número é de aprox­i­mada­mente 25%.

Ao apro­fun­darem o recorte das esco­las em áreas de risco para um olhar racial sobre a vul­ner­a­bil­i­dade dos estu­dantes, os pesquisadores con­cluíram que 51% das esco­las nes­sa situ­ação têm maio­r­ia de estu­dantes negros, e ape­nas 4,7% têm maio­r­ia de estu­dantes bran­cos.

“Os dados com­pro­vam as desigual­dades ter­ri­to­ri­ais, raci­ais e socioe­conômi­cas que a gente já vem obser­van­do na dis­tribuição do verde e tam­bém em relação ao risco na cidade de modo ger­al aqui no Brasil. As esco­las repro­duzem essas desigual­dades que a gente enx­er­ga ness­es indi­cadores”, con­clui a espe­cial­ista.

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