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Queda na doação de sangue devido à pandemia preocupa hemocentros

Doadores no centro de coleta da Fundação Pró-Sangue Hemocentro São Paulo
© Rove­na Rosa/Agência Brasil

Ministério da Saúde estima redução de 15% a 20%


Pub­li­ca­do em 06/01/2021 — 06:00 Por Alex Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

Pre­ocu­pa­dos com os níveis dos esto­ques de sangue e de hemod­eriva­dos, hemo­cen­tros de difer­entes regiões do Brasil estão ten­tan­do sen­si­bi­lizar a pop­u­lação para a importân­cia da doação de sangue.

A habit­u­al pre­ocu­pação com os esto­ques, prin­ci­pal­mente durante o perío­do de fes­tas de fim de ano e férias de verão, este ano foi poten­cial­iza­da pelas mudanças com­por­ta­men­tais impostas pela pan­demia da covid-19, que afas­tou muitos doadores ao lon­go do ano pas­sa­do.

O Min­istério da Saúde ain­da não tem os números con­sol­i­da­dos, mas esti­ma que, em 2020, o medo da doença que, no Brasil, matou 197,7 mil pes­soas até essa terça-feira (5), pode ter cau­sa­do uma diminuição da ordem de 15% a 20% no total de doações de sangue em com­para­ção a 2019.

No Rio de Janeiro, mes­mo com todos os esforços e cam­pan­has para atrair novos vol­un­tários, o HemoRio (Insti­tu­to Estad­ual de Hema­tolo­gia Arthur de Siqueira Cav­al­can­ti) con­tabi­li­zou uma que­da de 4,4% no número de bol­sas de sangue cole­tadas: foram cer­ca de 78.400 unidades, em 2020, con­tra aprox­i­mada­mente 82 mil bol­sas, em 2019.

Segun­do o Min­istério da Saúde, não hou­ve reg­istros de desabastec­i­men­to ao lon­go de 2020. Fato que, segun­do rep­re­sen­tantes de hemo­cen­tros con­sul­ta­dos pela Agên­cia Brasil, pode ter ocor­ri­do dev­i­do à adoção de medi­das pre­ven­ti­vas, como a sus­pen­são tem­porária de cirur­gias ele­ti­vas. Mes­mo assim, hou­ve situ­ações em que o min­istério pre­cisou acionar o plano nacional de con­tingên­cia e trans­ferir mil­hares de bol­sas de sangue de unidades da Fed­er­ação em situ­ação mais fol­ga­da para out­ras onde o nív­el dos esto­ques era con­sid­er­a­do críti­co.

“O prin­ci­pal risco deste cenário seria um pos­sív­el desabastec­i­men­to de sangue e o con­se­quente com­pro­me­ti­men­to da assistên­cia”, infor­mou o min­istério em nota envi­a­da à Agên­cia Brasil. O desabastec­i­men­to colo­caria em risco a vida de pes­soas que pre­cisam rece­ber trans­fusão de sangue ao serem sub­meti­das a trata­men­tos, cirur­gias e pro­ced­i­men­tos médi­cos com­plex­os, ou que tratam os efeitos de ane­mias crôni­cas, com­pli­cações da dengue, da febre amarela ou de câncer.

Na nota que envi­ou à reportagem, o min­istério tam­bém garan­tiu que está acom­pan­han­do a situ­ação nos maiores hemo­cen­tros estad­u­ais para, se necessário, ado­tar as medi­das que min­i­mizem “o impacto de even­tu­ais desabastec­i­men­tos de sangue”.

“Através das ações e providên­cias já tomadas pelo min­istério, jun­to com as ações locais real­izadas pelos esta­dos, como a mobi­liza­ção e sen­si­bi­liza­ção de doadores e estraté­gias para a redução do con­sumo de sangue, a situ­ação tem se man­ti­do estáv­el”, garan­tiu a pas­ta – que afir­ma ter investi­do, em 2020, R$ 1,680 mil­hão em pro­je­tos de ampli­ação, refor­ma e qual­i­fi­cação da rede de sangue e hemod­eriva­dos, além da com­pra de medica­men­tos e equipa­men­tos. Em 2019, foram investi­dos R$ 1,548 mil­hão.

Amazonas

Após cole­tar, em 2020, 4,6% menos bol­sas de sangue do que em 2019 (foram 51.800 doações con­tra 54.300), a Fun­dação Hos­pi­ta­lar de Hema­tolo­gia e Hemo­ter­apia do Ama­zonas (Hemo­am) começou o ano com metade do vol­ume que con­sid­era ide­al em ter­mos de estoque.

A maior pre­ocu­pação é com o vol­ume armazena­do de sangue do tipo O+, que rep­re­sen­ta cer­ca de 70% da deman­da estad­ual, e com todos os de fator RH neg­a­ti­vo, menos comuns entre a pop­u­lação brasileira e, por­tan­to, mais difí­ceis de obter.

“A pan­demia afas­tou sig­ni­fica­ti­va­mente as pes­soas [dos pos­tos de cole­ta], prin­ci­pal­mente em mea­d­os de março, abril e maio [de 2020], quan­do o estoque caiu cer­ca de 40%”, infor­mou a Hemo­am à Agên­cia Brasil. “Para dar con­ta de toda deman­da diária, pre­cisamos do com­parec­i­men­to de 200 a 250 doadores por dia. Ulti­ma­mente esse número está na média de 100 doadores”, acres­cen­tou o órgão em uma men­sagem divul­ga­da pelas redes soci­ais.

Respon­sáv­el por dis­tribuir sangue para 27 unidades de saúde públi­cas e pri­vadas de Man­aus e para 42 out­ras cidades ama­zo­nens­es, a fun­dação tem mais de 500 mil vol­un­tários cadastra­dos; mas ape­nas 150 mil dessas pes­soas doam sangue reg­u­lar­mente.

Ceará

Dev­i­do às restrições de segu­rança, como o dis­tan­ci­a­men­to social, a maio­r­ia dos hemo­cen­tros do país ado­tou medi­das como o agen­da­men­to prévio de doações, além de reforçarem os cuida­dos com a higiene dos pos­tos de cole­ta de sangue. Ain­da assim, o impacto da pan­demia se fez sen­tir.

O Cen­tro de Hema­tolo­gia e Hemo­ter­apia do Ceará (Hemoce), por exem­p­lo, rece­beu, em 2020, 92.524 doações de sangue, enquan­to, em 2019, foram cole­tadas 101.066 bol­sas de sangue. O Hemoce garante que o menor número de doadores em função da pan­demia não chegou a com­pro­m­e­ter o atendi­men­to das cer­ca de 480 unidades de saúde cearens­es, e que chegou até mes­mo a fornecer bol­sas de sangue para out­ros esta­dos, como Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Sergipe.

Emb­o­ra, atual­mente, os esto­ques se encon­trem den­tro do que o cen­tro clas­si­fi­ca como “margem de segu­rança” para atendi­men­to, o Hemoce segue usan­do as redes soci­ais para incen­ti­var as doações.

Distrito Federal

No Dis­tri­to Fed­er­al, os níveis dos esto­ques da Fun­dação Hemo­cen­tro de Brasília de dois dos oito tipos san­guí­neos mais comuns são con­sid­er­a­dos críti­cos. “O ano de 2021 começou com os esto­ques de O pos­i­ti­vo e O neg­a­ti­vo em níveis baixos”, infor­mou o órgão respon­sáv­el por garan­tir o fornec­i­men­to de sangue e seus com­po­nentes para a rede de saúde públi­ca local. A quan­ti­dade de sangue tipo B- disponív­el nes­sa segun­da-feira (4) tam­bém era con­sid­er­a­da baixa.

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(Repro­dução)

Segun­do a fun­dação, entre janeiro e dezem­bro de 2020, os pos­tos de cole­ta rece­ber­am pouco mais de 47,5 mil doações de sangue. Menos que as 51 mil doações reg­istradas no mes­mo perío­do de 2019. Já trans­fusões foram real­izadas 72 mil no ano pas­sa­do, con­tra 76 mil em 2019.

A fun­dação afir­ma ter “esto­ques estratégi­cos” para abaste­cer toda a rede públi­ca e os hos­pi­tais con­ve­ni­a­dos do Dis­tri­to Fed­er­al por até sete dias, depen­den­do do hemo­com­po­nente (hemá­cia, plas­ma ou pla­que­ta) em caso de fal­ta de doadores.

São Paulo

Vin­cu­la­da ao Hos­pi­tal das Clíni­cas da Fac­ul­dade de Med­i­c­i­na da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP) e respon­sáv­el por abaste­cer a mais de 100 insti­tu­ições de saúde da rede públi­ca paulista, a Fun­dação Pró-Sangue cole­tou, em 2020, 108.707 bol­sas de sangue. O resul­ta­do é não só infe­ri­or ao reg­istra­do em 2019, quan­do foram cole­tadas 114.050 bol­sas, como man­tém a tendên­cia de que­da dos últi­mos cin­co anos.

Ano Cole­ta de bol­sas de sangue (Fun­dação Pró-Sangue)
2015 131.068
2016 124.063
2017 123.851
2018 118.997
2019 114.050
2020 108.707

A pre­ocu­pação da fun­dação é que, geral­mente, em janeiro, o número de doações caem ain­da mais, poden­do chegar a um resul­ta­do 30% infe­ri­or à média men­sal por con­ta das férias de verão. Neste iní­cio de 2021, os níveis dos esto­ques de sangue do tipo B- e O- já estão em situ­ação críti­ca, enquan­to os dos tipos O+ e A- colo­caram a fun­dação em aler­ta.

“Os tipos O- e O+ estão sem­pre críti­cos”, acres­cen­tou a Pró-Sangue, em nota em que expli­ca que o sangue do tipo O+ é o mais deman­da­do, por ser o mais comum entre a pop­u­lação brasileira e com­patív­el com todos os out­ros tipos pos­i­tivos. Já o O‑, além de menos comum, é muito usa­do em atendi­men­tos médi­cos emer­gen­ci­ais por ser com­patív­el com out­ros tipos san­guí­neos, inde­pen­dente de serem pos­i­tivos ou neg­a­tivos.

Segurança

O Min­istério da Saúde garante que os hemo­cen­tros de todo o país estão prepara­dos para rece­ber os doadores com segu­rança, sem aglom­er­ações, e em con­formi­dade com as recomen­dações das autori­dades san­itárias. A maio­r­ia, senão a total­i­dade dos pos­tos de cole­ta, está fun­cio­nan­do com atendi­men­to pré-agen­da­do, de maneira que vale a pena o inter­es­sa­do con­sul­tar, na inter­net, a pági­na ou as redes soci­ais do hemo­cen­tro do esta­do em que reside.

Para doar, o can­dida­to tem que ter entre 16 e 69 anos de idade — menores de 18 anos pre­cisam do con­sen­ti­men­to for­mal dos respon­sáveis. O vol­un­tário deve pesar mais que 50 kg e apre­sen­tar-se munido de doc­u­men­to ofi­cial com foto. Pes­soas com febre, gripe ou res­fri­a­do, diar­reia recente, grávi­das e mul­heres no pós-par­to não podem doar tem­po­rari­a­mente.

O pro­ced­i­men­to para doação de sangue é sim­ples, rápi­do e total­mente seguro. Não há riscos para o doador, porque nen­hum mate­r­i­al usa­do na cole­ta do sangue é reuti­liza­do, o que elim­i­na qual­quer pos­si­bil­i­dade de con­t­a­m­i­nação.

Cada vol­un­tário pode doar sangue até qua­tro vezes ao ano, no caso de home­ns, e três vezes caso se trate de uma mul­her, com inter­va­l­os mín­i­mos de, respec­ti­va­mente, dois e três meses. Para checar out­ras restrições, recomen­dações e infor­mações, acesse a pági­na do Min­istério da Saúde.

Edição: Fábio Mas­sal­li

Agên­cia Brasil / EBC


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