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Queijo de búfala, tesouro da Ilha do Marajó, ganha mercado no país

Repro­dução: © Divulgação/Caminhos da Reportagem

Certificado, o produto começa a ser vendido para fora do Pará


Pub­li­ca­do em 15/11/2022 — 11:40 Por Flávia Grossi — Repórter da TV Brasil — Rio de Janeiro

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Envol­ta por um mar de águas, a Ilha do Mara­jó, no Pará, guar­da­va um seg­re­do que, aos poucos, ultra­pas­sa os lim­ites do arquipéla­go e chega a out­ras regiões do país. O quei­jo do Mara­jó, pro­duzi­do com leite de búfala des­de o iní­cio do sécu­lo 20, é pre­mi­a­do, apre­ci­a­do por tur­is­tas e moradores, mas, até 2020, ain­da não podia ser com­er­cial­iza­do fora do esta­do.

Com apoio de insti­tu­ições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque­nas Empre­sas (Sebrae) e a con­quista do Selo de Indi­cação Geográ­fi­ca em 2021, no Insti­tu­to Nacional da Pro­priedade Indus­tri­al (INPI), o quei­jo foi recon­heci­do como úni­co e tem sua tradição históri­ca e cul­tur­al preser­va­da. O pro­du­to entrou no roteiro turís­ti­co do Mara­jó e gan­ha mer­ca­do em todo o país.

O selo abrange pro­du­tores cer­ti­fi­ca­dos em sete municí­pios da Ilha de Mara­jó: Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Pon­ta de Pedras, Sal­vater­ra, San­ta Cruz do Arari e Soure. Ape­nas quem pro­duz nes­sa área geográ­fi­ca, de for­ma arte­sanal e respei­tan­do as especi­fi­cações téc­ni­cas em todas as eta­pas da pro­dução — da cri­ação de búfa­los até a com­er­cial­iza­ção —, tem o dire­ito de usar o títu­lo de quei­jo do Mara­jó.

“Foi feito um tra­bal­ho de capac­i­tação dos empresários para que eles pudessem olhar seus pro­du­tos como algo que pode ser ven­di­do em qual­quer super­me­r­ca­do do Brasil”, disse o super­in­ten­dente do Sebrae no Pará, Rubens Mag­no. Antes, os pro­du­tores esbar­ravam em nor­mas san­itárias que reg­u­lam o comér­cio de ali­men­tos de origem ani­mal feitos de for­ma arte­sanal. Ape­nas em 2013, com uma por­taria estad­ual, a ven­da do quei­jo se esten­deu para todo o Pará. Out­ras regiões, no entan­to, só con­hece­r­am o quei­jo do Mara­jó em 2020, com a cri­ação do chama­do Selo Arte, volta­do para pro­du­tos feitos de for­ma arte­sanal.

Capital brasileira do búfalo

Segun­do reg­istros históri­cos, os primeiros búfa­los chegaram ao Mara­jó em 1895, impor­ta­dos por um fazen­deiro chama­do Vicente Cher­mont, e encon­traram no arquipéla­go as condições ideais para viv­er e se mul­ti­plicar. A região de cli­ma quente, úmi­do e chu­voso, com áreas ala­gadas e zonas de som­bra cri­adas pela veg­e­tação, ofer­ece o con­for­to tér­mi­co que o ani­mal procu­ra, expli­ca pro­du­tor de quei­jo e agrônomo Ton­ga Gou­vêa. “Eles têm pou­cas glân­du­las sudorí­paras e col­oração escu­ra, com poucos pelos. Então, absorvem muito a luz solar e pre­cisam faz­er a trans­fer­ên­cia de calor.”

Fortes, os búfa­los são usa­dos em muitas cul­turas no trans­porte de car­ga e, no Mara­jó, estão em toda parte. “Aqui nós chamamos de Cap­i­tal Brasileira do Búfa­lo, toda a nos­sa econo­mia gira em função do búfa­lo”, disse Ton­ga.

Hoje, o esta­do do Pará con­ta com o maior reban­ho bubali­no do Brasil, equiv­a­lente a 38% do total nacional, segun­do o Cen­so Agro 2017 do Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE). “O que aju­da a explicar esse pro­tag­o­nis­mo [do búfa­lo] é jus­ta­mente o aproveita­men­to do leite para a pro­dução de quei­jo”, afir­ma o pro­fes­sor de Geografia da Uni­ver­si­dade Estad­ual do Pará Bened­i­to Ely Valente da Cruz.

Cremoso e suave

O queijo do Marajó
Repro­dução: As duas var­iedades do quei­jo do Mara­jó, creme e man­teiga, têm a mes­ma base: mas­sa coal­ha­da e leite — TV Brasil/Divulgação

O quei­jo, de tex­tu­ra cre­mosa e pal­adar suave, tem duas var­iedades: creme e man­teiga. A base dos dois é a mes­ma, mas­sa coal­ha­da e leite. A difer­ença é que o tipo creme leva creme de leite no preparo e o man­teiga, man­teiga de gar­rafa. Os dois ingre­di­entes são obti­dos do próprio soro que sai como sub­pro­du­to da coal­ha­da. Em vez do proces­so de cura ou mat­u­ração por que pas­sam muitos quei­jos, o do Mara­jó é cozi­do, num proces­so que se chama “frit­u­ra”.

Gabriela Gou­vêa, que é pro­du­to­ra de quei­jo assim como o pai, Ton­ga, expli­ca que a suavi­dade do pro­du­to do Mara­jó vem da com­posição físi­co-quími­ca do leite, que tem teo­res de pro­teí­nas supe­ri­ores, de min­erais, como cál­cio, fer­ro, e isso tem toda uma relação na pro­dução do deriva­do.

Além de pro­pri­etária da Fazen­da Miron­ga, Gabriela está à frente da Asso­ci­ação de Pro­du­tores de Leite e Quei­jo do Mara­jó. Jun­tos, os pro­du­tores tra­bal­ham para que o quei­jo mara­joara ten­ha destaque nos roteiros turís­ti­cos de quem visi­ta a região. A chama­da Rota do Quei­jo sug­ere ao tur­ista serviços e roteiros que se rela­cionam à pro­dução do lat­icínio, pas­san­do por quei­jarias, cafés, restau­rantes e sorvet­e­rias.

“Havia restau­rantes que servi­am pratos com quei­jo do Mara­jó, mas não desta­cavam o ingre­di­ente no cardá­pio. É um tra­bal­ho de val­oriza­ção do pro­du­to”, enfa­ti­za Gabriela. A Miron­ga tam­bém recebe gru­pos de tur­is­tas para a chama­da Vivên­cia, em que os vis­i­tantes são con­vi­da­dos a con­hecer a história da família, dos búfa­los e do quei­jo; a tocar os ani­mais; e a degus­tar os lat­icínios da fazen­da.

Há 25 anos no mer­ca­do, o pro­du­tor Prudên­cio Paixão não tira os olhos da pro­dução: vigia o leite dia e noite para acom­pan­har o momen­to exa­to em que o pro­du­to coal­ha, de for­ma total­mente nat­ur­al. Em sua casa, o ofí­cio é pas­sa­do de ger­ação em ger­ação, e hoje ele se orgul­ha de mudar a vida de out­ras famílias da região. “O meu son­ho é ver todos os pro­du­tores de quei­jo aqui no Mara­jó cer­ti­fi­ca­dos e venden­do um pro­du­to de qual­i­dade.”

O episó­dio Uma Fatia de Mara­jó, do pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, da TV Brasil, foi ao ar no últi­mo domin­go (13). Con­fi­ra:

Edição: Nádia Fran­co

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