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Racionais são primeiros negros a receber título honorário da Unicamp

Repro­dução: © Fer­nan­do Eduardo/Wikimedia Com­mo

Álbum do grupo é leitura obrigatória para entrada na universidade


Pub­li­ca­do em 08/12/2023 — 20:11 Por Daniel Mel­lo – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Em 35 anos de car­reira, os Racionais MC’s que­braram diver­sas bar­reiras ao faz­er com que o rap pro­duzi­do nas per­ife­rias de São Paulo chegasse a todo o país. Críti­cas à vio­lên­cia poli­cial, à desigual­dade social e ao racis­mo foram ouvi­das nas rádios e na tele­visão, por jovens, tra­bal­hadores e tam­bém pelos que tin­ham poder de decisão. Os qua­tro inte­grantes do grupo abri­ram mais uma por­ta, ao se tornarem os primeiros negros e os primeiros músi­cos a rece­ber o títu­lo de doutores hon­oris causa pela Uni­ver­si­dade Estad­ual de Camp­inas (Uni­camp).

O pare­cer recomen­dan­do a con­cessão da hon­raria inclui os rap­pers Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay entre os “maiores int­elec­tu­ais da con­tem­po­ranei­dade brasileira”. A dis­tinção foi aprova­da pelo con­sel­ho uni­ver­sitário da insti­tu­ição no final de novem­bro.

“Tra­ta-se de uma unidade ref­er­en­ci­a­da pela cole­tivi­dade. E que em suas letras e práti­cas públi­cas devolve à cole­tivi­dade um sen­ti­do de história par­til­ha­da e asso­cia­ti­va, que bus­ca tocar ime­di­ata­mente a audiên­cia de pobres e negros per­iféri­cos. Mas, a par­tir deste lugar, fala sobre e para o Brasil, mais amp­lo que aque­la audiên­cia”, diz o pro­fes­sor Mário Medeiros, do Depar­ta­men­to de Soci­olo­gia do Insti­tu­to de Filosofia e Ciên­cias Soci­ais e pres­i­dente da comis­são de espe­cial­is­tas for­ma­da para avaliar a per­t­inên­cia da con­cessão do títu­lo ao grupo.

Formação teórica

A ideia de con­ced­er o títu­lo de doutores hon­oris causa aos Racionais surgiu em uma dis­ci­plina de grad­u­ação min­istra­da pela pro­fes­so­ra Jaque­line dos San­tos, que tam­bém é pesquisado­ra de Geledés Insti­tu­to da Mul­her Negra. A orga­ni­za­ção foi fun­da­men­tal na for­mação políti­ca do grupo. Foi lá que, no iní­cio da déca­da de 1990, os músi­cos se aprox­i­maram de temas como o fem­i­nis­mo negro.

“O Geledés era nos­so pon­to de encon­tro na época, a gente se encon­tra­va para tro­car infor­mações, ideias e livros, falar sobre os livros, as leituras. Era um pon­to de encon­tro – a [escrito­ra e ativista antir­racis­mo] Sueli Carneiro era tipo a chefe. Dali começou a sur­gir todo um movi­men­to, uma história de escr­ev­er as letras e de praticar as coisas que Mal­colm X [ativista dos dire­itos humanos e defen­sor do nacional­is­mo negro nos Esta­dos Unidos, mor­to em 1965] fala­va. Dali a gente des­per­tou o inter­esse pela leitu­ra”, relem­brou Kl Jay em aula públi­ca na Uni­camp, em novem­bro de 2022.

Segun­do o pro­fes­sor Mário Medeiros, a pro­pos­ta tam­bém foi pen­sa­da em con­jun­to com out­ras insti­tu­ições como o Núcleo de Pesquisa e For­mação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro Cebrap) e a Uni­ver­si­dade Estad­ual de Lon­d­ri­na.

Leitura obrigatória

A primeira incursão for­mal dos Racionais na Uni­camp, no entan­to, foi em 2020, quan­do o livro Sobre­viven­do no Infer­no pas­sou a ser de leitu­ra obri­gatória para o vestibu­lar de ingres­so na uni­ver­si­dade. A pub­li­cação traz as letras do álbum lança­do em 1997 pelo grupo.

O dis­co tem algu­mas das músi­cas mais con­heci­das do grupo, como Diário de um Deten­to. “Após o lança­men­to da músi­ca, diver­sos gru­pos de rap começaram a sur­gir den­tro dos presí­dios, como 509‑E, Deten­tos do Rap e Liber­dade Condi­cional, entre out­ros, que viram no gênero musi­cal uma saí­da para trans­for­mar suas vidas”, diz o sobre os impactos da pro­dução do grupo.

Medeiros enx­er­ga o títu­lo dado aos músi­cos como uma for­ma de abrir as por­tas da uni­ver­si­dade para val­oriza­ção de gru­pos até hoje sub-rep­re­sen­ta­dos na insti­tu­ição. “A Uni­camp poderá ini­ciar um ciclo dis­tin­ti­vo e dis­tin­to em sua tra­jetória, em que int­elec­tu­ais negros, mul­heres int­elec­tu­ais e int­elec­tu­ais dos povos orig­inários pos­sam ser recon­heci­dos e rep­re­sen­ta­dos como sujeitos val­oriza­dos por uma reno­ma­da insti­tu­ição de con­hec­i­men­to e saberes, em que sua con­tribuição para pro­dução de con­hec­i­men­to sobre a sociedade é legit­i­ma­da”, enfa­ti­za.

Além dis­so, o pro­fes­sor espera que a hon­raria se esten­da a toda as comu­nidades que, no mun­do, “com­par­til­ham com o grupo as exper­iên­cias e mar­cas soci­ais históri­c­as comuns”. “O efeito irra­di­ador de sen­ti­dos pos­i­tivos, políti­co e cul­tur­al, é muito amp­lo”, afir­ma.

Edição: Nádia Fran­co

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